2.3.05

Ecologistas versus conservacionistas



Os ecologistas distinguem-se dos conservacionistas ( e preservacionistas) com quem têm apesar de tudo, muitas coisas em comum.
Para os primeiros as respostas aos problemas ambientais não passam apenas pela adopção de legislação e da criação de reservas e parques,ou aumentar o controle e fiscalização da poluição.

Os desequilíbrios e os graves problemas ambientais com que o planeta se defronta não se resolvem com simples preocupações em salvaguardar o que resta da natureza ou em prevenir riscos para a sobrevivência da vida. A exploração e a depredação da natureza levada a cabo pelo homem chegou a tal ponto que só uma inflexão e uma verdadeira mudança de atitude ( política, económica e individual) para com o meio ambiente poderá dar resposta à evolução suicidária deste capitalismo predatório.

Assim, e ao contrário do que defendem os conservacionistas, os ecologistas afirmam claramente que são imprescindíveis e fundamentais mudanças no modelo económico «produtivista» e industrial de forma a alterar substancialmente a relação entre o homem e a natureza que foi seguida até agora, e que implica necessariamente profundas mudanças na forma como a sociedade está organizada e se estrutura economicamente. Só assim será possível recentrar o homem dentro da natureza, e não concebê-lo como inimigo e dominador-explorador da natureza, superando algumas dualidades cartesianas e a ideologia dominante da razão economicista e produtivista.

Por isso mesmo é que os ecologistas contestam o darwinismo e a defendem o mutualismo, isto é, a teoria de afirma a interdependência de todas as coisas.
O fundador da economia, o liberal Adam Smith, assim como o famoso Malthus, acompanham Darwin nacrença comum que e competição e «a luta pela sobrevivência» são a tendência natural entre os seres vivos, e que explicaria o progresso industrial, tecnológico e humano.

Ora o pensamento ecologista desenvolveu-se em grande medida como reacção a esta perspectiva. Considerar a competição como a força ubíqua que explica a evolução das espécies e a estrutura da biosfera é certamente um exagero. Daí a necessidade de uma visão holística e eco-sistémica que supere as concepções mais reducionistas, responsáveis pela multiplicação de especialistas que quanto mais afunilam o seu conhecimento especializado mais denunciam a sua incapacidade de entenderem a complexidade sistémica da vida.

Poema-Cigano

Nós, ciganos, temos uma só religião: a da liberdade
Em troca desta renunciamos à riqueza, ao poder, à ciência e à glória
Vivemos cada dia como se fosse o último
Quando se morre, deixa-se tudo: um miserável carroção como um grande império
E nós cremos que nesse momento é muito melhor ser cigano do que rei.
Nós não pensamos na morte. Não a tememos – eis tudo.
O nosso segredo está no gozar em cada dia as pequenas coisas que a vida nos oferece
e que os outros homens não sabem apreciar; uma manhã de sol, um banho na torrente, o contemplar de alguém que se ama
É difícil compreender estas coisas, eu sei
Nasce-se cigano.
Agrada-nos caminhar sob as estrelas.
Contam-se estranhas histórias sobre ciganos
Diz-se que lemos nas estrelas e que possuímos o filtro do amor
As pessoas não acreditam nas coisas que não sabem explicar-se
Nós, pelo contrário, não procuramos explicar as coisas em que acreditamos.
A nossa vida é uma vida simples, primitiva: basta-nos ter por tecto o céu, um fogo para nos aquecer e as nossas canções quando estamos tristes.

Vittorio Pasqualle Spatzo (poeta cigano)

A sociedade industrial ameaça...a noite e as estrelas!!!

Para a maior parte da população dos países industrializados, e para uma boa fatia da população mundial a Via Lactea tornou-se invisível a olho nu!!! A responsabilidade pelo facto cabe inteiramente à poluição luminosa das nossas mega-cidades e à profusão de fontes artificiais de iluminação que tornam invisíveis as estrelas! Quem as quiser observar tem de se deslocar para o campo e a montanha, e mesmo assim a proliferação da luz eléctrica ( basta recordarmo-nos da rápida e fácil venda de materiais de iluminação para uso privado) ameaça perigosamente a observação do céu celestial, além de constituir um verdadeiro foco de perturbação para a fauna.

Para mais informações consultar o site da International Dark-Sky association:

www.darksky.org

2 livros a ler

O primeiro livro a ler, sem demoras, é “Portugal, Hoje - O Medo de Existir” (edição da Relógio de Água) do filósofo contemporâneo português José Gil que nos fala do medo “…de existir, de afrontar as forças do mundo desencadeando as suas próprias forças de vida. Medo de agir, de tomar decisões diferentes da norma vigente, medo de amar, de criar, de viver...” A isto não é estranho, claro está, a grande noite ditatorial que entravou a sociedade portuguesa.
O autor, a dado passo do livro, escreve: “vive-se e pensa-se pequeno, a pequenez é a negação do excesso, e a nossa maneira de "estar certo" ou "ser certinho" - o nosso "justo meio". (...) Não vemos mais longe do que a ponta do nariz, quer dizer, mais longe do que as nossas fronteiras, a nossa região, a nossa cidade, a nossa família e, por fim, mais longe do que os limites do nosso corpo. Não vemos mais longe do que a vida imediata, colados a um falso presente sem passado”.


O outro é a biografia do livre pensador renascentista Giordano Bruno de autoria de Francesca Caroutch com o título “O Homem do Fogo” (edição Ésquilo), que foi condenado à morte na fogueira pela Inquisição clerical por ter ousado questionar a ideologia religiosa dominante e defender uma concepção holística do mundo, na sua pluralidade, sem centro nem periferia. E é com o mesmo arrojo que defende a sua visão do mundo que se dirige aos seus juízes:
“…Vós, que pronunciais essa sentença estareis, porventura, mais assustados do que eu, que a cumprirei…”
O pensamento de Bruno era holista, naturalista e espiritualista. Entre as suas ideias especulativas, destaca-se a percepção de uma sabedoria que se exprime na ordem natural, onde todas as coisas estão interligadas e se interrelacionam de maneira mais ou menos subtil (holismo); a pluralidade dos mundos habitados, sendo a Terra apenas mais um de vários planetas que giram em volta de outros sistemas, etc. Por tudo isso, por essa ousadia em pensar, Bruno - que estava séculos à frente do seu tempo - pagou um alto preço. Mas sua coragem serviu de mola e incentivo ao progresso científico e filosófico posterior.
Fiel aos seus ideais, mártir da liberdade de pensamento, Giordano Bruno morre queimado na pira da Inquisição em 1600, na cidade de Roma. Ridicularizou os milagres de Cristo e outras dogmas católicos, como a aceitação da virgindade de Maria. Antes de morrer cospe no crucifixo.