10.2.05

Not in our name - Declaração contra a guerra e a repressão

Não Em Nosso Nome

Declaração contra a guerra e a repressão (Jan/2005)



"Nenhuma eleição, seja justa ou fraudulenta, pode legitimar guerras criminosas em países estrangeiros, torturas, violação total dos direitos humanos e o fim da ciência e da razão."


A nova declaração Não em Nosso Nome (www.nion.us) foi assinada por 10 000 pessoas e apareceu na Times a 23 de Janeiro de 2005.
A declaração foi assinada por conhecidas personalidades norte-americanas das artes, academia e política entre as quais Russell Banks, Judith Butler, Ramsey Clark, Noam Chomsky, John Cusack, Angela Davis, Daniel Ellsberg, Eve Ensler, Andre Gregory, Bill T. Jones, Barbara Kingsolver, Congressista Jim McDermott, Walter Mosley, James Stewart Polshek, Francine Prose, Wallace Shawn, Alice Walker, Immanuel Wallerstein, Cornel West, Howard Zinn

Agora que G.W.Bush foi investido num segundo mandato, que ninguém diga que o povo dos Estados Unidos consentiu em silêncio nesta vergonhosa coroação da guerra, da ganância e da intolerância. Ele não fala por nós. Ele não nos representa. Ele não actua em nosso nome.
Nenhuma eleição, seja justa ou fraudulenta, pode legitimar guerras criminosas em países estrangeiros, torturas, violação total dos direitos humanos e o fim da ciência e da razão.
Em nosso nome, o governo Bush justifica a invasão e ocupação do Iraque com pretextos grosseiramente falsos, causando destruição indescritível, horror, miséria e a morte de mais de 100.000 iraquianos. Ele manda a nossa juventude destruir cidades inteiras em nome das chamadas eleições democráticas, enquanto intimida e retira direitos de cidadania a dezenas de milhares de afro-americanos e outros eleitores na sua terra.
Em nosso nome, o governo Bush despreza tanto a lei internacional como a opinião mundial. Levou a cabo torturas e detenções sem julgamento por todo o mundo e propõe novas investidas aos nossos direitos à privacidade, à expressão e à associação na sua terra. Já despojou dos seus direitos Árabes, Muçulmanos e Sul-Asiáticos nos E.U., negando-lhes aconselhamento jurídico, estigmatizando-os e detendo-os sem motivo. Milhares foram deportados.
Enquanto são postos a circular novos "balões de ensaio" sobre invasões da Síria, Irão ou Coreia do Norte, sobre o abandono das Nações Unidas, sobre políticas de "detenção vitalícia", nós dizemos que em nosso nome não aceitamos que se cometam crimes contra nações ou indivíduos considerados como obstáculos no caminho do objectivo de supremacia mundial inquestionável.
Poderíamos imaginar há alguns anos que princípios básicos como a separação da igreja e do estado, os processos judiciais justos, a presunção de inocência, a liberdade de expressão e o habeas corpus seriam postos de lado tão facilmente? Agora, qualquer um pode ser declarado "inimigo a combater" sem reparação significativa, ou opinião independente, por um presidente que está a concentrar poderes no ramo executivo. O seu escolhido para o lugar de Procurador-Geral da República é o arquitecto legal da tortura que foi levada a cabo em Guantanamo, Afeganistão e Abu Ghraib.
O governo de Bush pretende impor uma versão política tacanha e intolerante de fundamentalismo Cristão como programa de governo. Já não sendo marinal ao poder, este movimento extremista aspira a despojar as mulheres dos seus direitos reprodutivos, a excluir da vida pública gays e lésbicas e reenviá-los para a clandestinidade. Pretende misturar experiência espiritual e verdade científica. Nós não vamos entregar aos extremistas o nosso direito a pensar. A SIDA não é um castigo de Deus. O aquecimento global é um perigo real. A evolução deu-se. Cada um deve ser livre de encontrar sentido e sustento em qualquer forma de crença espiritual ou religiosa por si escolhida. Mas a religião nunca pode ser obrigatória. Estes extremistas podem pretender construir a sua própria realidade, mas não lhe consentiremos que façam a nossa.
Milhões de nós trabalhámos, falámos, marchámos, recenseamo-nos, pagámos impostos, votámos, fizemos todo o possível por derrotar o governo de Bush nas últimas eleições. Foi um esforço massivo, produzindo nova energia, nova organização e novo empenhamento na luta pela justiça. Seria um terrível erro se deixássemos que o malogro de não termos conseguido impedir a reeleição de Bush, nos levasse ao desespero e à inacção. Pelo contrário, esta mobilização em grande escala de pessoas empenhadas num mundo mais justo, mais livre e mais pacífico tem de avançar. Não podemos nem iremos esperar até 2008. A luta contra o segundo governo de Bush tem de começar agora.
O movimento contra a guerra do Vietname nunca ganhou uma eleição presidencial. Mas bloqueou comboios de tropas, fechou centros de instalações, desfilou, falou às pessoas porta a porta -- e ajudou a acabar com uma guerra. O Movimento pelos Direitos Cívicos nunca se ligou a um candidato presidencial; sentou-se na rua, fez rodas pela liberdade, travou batalhas legais, encheu prisões e mudou a face de uma nação.
Temos de mudar a realidade política deste país mobilizando as dezenas de milhar que compreendem com a cabeça e com o coração que a "realidade" do regime de Bush não é senão um pesadelo para a humanidade. Isto requer coragem e criatividade, acções de massas e actos individuais de coragem. Temos de nos juntar sempre que pudermos e actuar sozinhos sempre que seja necessário.
Recebemos inspiração dos soldados que recusaram lutar nesta guerra imoral. Aplaudimos os bibliotecários que recusaram entregar as listas das nossas leituras, os alunos das secundárias que exigem que lhes ensinem a evolução, aqueles que trouxeram a público as torturas do exército dos E.U. e os protestos massivos que deram voz à oposição internacional à guerra do Iraque. Estamos ao lado de pessoas comuns que levam a cabo actos extraordinários. Tentamos criar uma comunidade de apoio aos actos corajosos de resistência. Estamos com as pessoas que em todo o mundo lutam todos os dias pelo direito a criar o seu próprio futuro.
É nosso dever impedir o regime de Bush de seguir este rumo desastroso. Acreditamos que a história nos julgará severamente se deixarmos de agir com decisão.



Mais de dez mil pessoas assinaram esta declaração.Entre os signatários iniciais encontram-se:

James Abourezk, antigo senador dos EU
Janet Abu-Lughod, professora emérita, New School
As`ad AbuKhalil, California State University, Stanislaus
Michael Albert
Edward Asner
Ti-Grace Atkinson
Michael Avery, presidente da National Lawyers Guild
Russell Banks
Amiri Baraka
Rosalyn Baxandall, administradora da American Studies/Media and Communications, State University of New York at Old WestburyMedea Benjamin, cofundador de Global Exchange and Code PinkPhyllis BennisLarry Bensky, Pacifica radioMichael BergJessica Blank and Erik JensenWilliam Blum, escritor, US foreign policySt. Clair BourneJudith Butler, escritora e professora, University of California at BerkeleyJulia Butterfly, directora de Circle of Life FoundationLeslie Cagan, coordenador nacional de United for Peace and JusticeKathleen & Henry ChalfantNoam Chomsky, MITRamsey Clark, antigo Procurador-Geral dos EUMarilyn Clement, coordenador nacional Campaign for a National Health Program NOWRobbie Conal, artistaPeter CoyoteJohn CusackAngela DavisDiane di Prima, poetRonnie Dugger, co-fundador de Alliance for DemocracyMichael Eric DysonNora Eisenberg, autora de War at Home and Just the Way You Want MeDaniel Ellsberg, ex-funcionário dos Departamentos de Defesa e do EstadoEve EnslerLawrence FerlinghettiCarolyn ForchéMichael FrantiBoo FroebelPeter GeretyJorie Graham, Harvard UniversityAndré GregoryJessica Hagedorn, escritoraSuheir HammadSam Hamill, Poets Against the WarDanny Hoch, argumentista/actorMarie HoweAbdeen M. Jabara, antigo president do American-Arab Anti-Discrimination CommitteeJim Jarmusch, produtorBill T. JonesRickie Lee JonesBarbara KingsolverC. Clark Kissinger, Refuse & Resist!Evelyn Fox Keller, Professora de História da Ciência, MITHans Koning, escritorDavid KornDavid C. KortenRabbi Michael Lerner, editor, TIKKUN magazine & Rabbi, Beyt Tikkun Synagogue , SFPhil Lesh, Grateful DeadStaughton LyndReynaldo F. Macías, administrador de National Association for Chicana & Chicano StudiesDave MarshMaryknoll Sisters, Western RegionJim McDermott, Membro do Congresso, State of WashingtonRobert Meeropol, director executivo de Rosenberg Fund for ChildrenAnn MessnerRobin Morgan, escritor e activistaWalter MosleyJill Nelson, escritorOdettaRosalind Petchesky, Distinto Professor de Ciências Políticas, Hunter College & the Graduate Center - CUNY
Jeremy Pikser, argumentista (Bulworth)Frances Fox Piven
James Stewart Polshek, arquitecto
William Pope LFrancine Prose
Jerry Quickley, poeta
Michael Ratner, presidente do Center for Constitutional Rights
David Riker, produtor
Larry Robinson, Presidente da Câmara de Sebastopol, CA
Stephen Rohde, advogado
Matthew Rothschild, editor, The Progressive magazine
Luc Sante
James Schamus
Roberta Segal-Sklar, director de comunicações de National Gay and Lesbian Task ForceF
rank Serpico
Wallace Shawn
Gregory Sholette
Zach Sklar
Peter Sollett
Starhawk
Tony Taccone
Alice Walker
Naomi Wallace
Immanuel Wallerstein
Leonard Weinglass
Peter Weiss, presidente Lawyers Committee on Nuclear Policy
Cornel West
C.K. Williams, poeta, Princeton University
Saul Williams
Krzysztof Wodiczko, director do Center for Advanced Visual Studies, MIT
Damian Woetzel, bailarino principal, New York City Ballet
David Zeiger, Displaced Films
Zephyr
Howard Zinn, historiador



As Farpas (excerto)

«O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo! Toda a vida espiritual, intelectual, parada. O tédio invadiu todas as almas. A mocidade arrasta-se envelhecida das mesas das secretarias para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, cresce. As falências sucedem-se. O pequeno comércio definha. A indústria enfraquece. A sorte dos operários é lamentável. O salário diminui. A renda também diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. Neste salve-se quem puder a burguesia… explora. A ignorância pesa sobre o povo como uma fatalidade. A intriga política alastra-se. O país vive numa sonolência enfastiada.»

( transcrição do início do primeiro livro das Farpas, escrito por Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão e publicado no dia 17 de Junho de 1871)

A pedagogia de Montessori

Maria Montessori (1870-1952), foi a primeira médica italiana. Leccionou Higiene no Colégio das Mulheres de Roma e Antropologia, também em Roma, na Universidade, durante 4 anos, de 1904 até 1908. Montessori considerava o ensino do seu tempo monótono e repressivo. Pretendia criar ambientes de liberdade, capazes de permitirem a livre expressão das capacidades infantis. Funda a "Casa dei Bambini", (Casa das Crianças), a primeira em 1906, em Roma. Publica em 1909 Il Metodo della Pedagogia Scientifica, e em 1913 organiza em Roma o I Congresso Internacional do Método. O seu método de ensino espalhou-se rapidamente um pouco por todo o mundo.


Sete aspectos fundamentais balizam o método Montessori:

1º Promover o conhecimento científico da criança;
2º Estabelecer um ambiente de liberdade e respeito pela criança;
3º O ambiente educativo deve ser esteticamente belo;
4º A criança deve ser activa;
5º A criança deve poder auto-educar-se;
6º A criança deve corrigir-se, não cabendo a correcção ao professor;
7º O professor deve, essencialmente, observar.

Note-se que se lhe atribui a ideia da miniaturização do mobiliário.Existe material para a educação motriz, sensorial e da linguagem. Executam-se exercícios manuais simples como a jardinagem bem como a ginástica e movimentos rítmicos. O asseio pessoal é mantido.

Nos seus jardins, as crianças chegavam de manhã, comiam duas refeições, tomavam banho regularmente, tinham acesso a cuidados médicos. Ao fim da tarde, deixavam o jardim. Ao lembrarmos os aspectos fundamentais das propostas de Maria Montessori entendemos por que razão, durante um longo período do Século XX português, este tipo de propostas não teve aceitação, apesar de Luísa Sérgio ter escrito sobre ele, nos anos 20. Há poucos anos, em muitas aldeias portuguesas, as crianças não comiam duas refeições; hoje, tais fenómenos transferiram-se para as cidades. Mas isso é já outra questão.

Retirado de:
http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=3670

Lutas sociais dos assalariados

Cerca de 70 trabalhadores das Confecções Oliveira & Borges,Lda de Vila das Aves no concelho de Santo Tirso iniciaram uma greve pelo pagamento dos seus salários em atraso e para denunciar a fuga do patrão que, desde o início de Fevereiro, se encontra em parte incerta.
Também os trabalhadores da Casa do Douro se manifestaram em Vila Real junto dos candidatos do PSD, quando este se dedicavam a fazer campanha eleitoral, protestando contra o não cumprimento de compromissos governamentais assumidos pelo governo PSD/PP relativos ao apoio e financiamento à Casa do Douro.
Médicos do Centro Hospitalar de Coimbra continuam em greve reivindicando o pagamento de horas extraordinárias em atraso.
Por sua vez os trabalhadores da Indesit realizaram uma concentração pública para denunciar o despedimento colectivo de 100 trabalhadores por esta empresa italiana sob pretexto de deslocalizarem as suas instalações para outros países.

Como se vê por estes exemplos, a luta dos trabalhadores assalariados pela defesa dos seus direitos ( direito ao trabalho e direito à remuneração) é uma constante face à desregulamentação neoliberal da actual fase do processo de acumulação do capital.



A capital da Etiópia, Addis-Abeba, celebrou o culto de Bob Marley ao som de reggae

Cerca de 300.000 pessoas assistiram no Domingo passado (6/2/2005) ao concerto gigante organizado para festejar o 60º aniversário da morte em 1981 do músico jamaicano Bob Marley (1945-1981) que escolhera a Etiópia do Imperador Hailé Sélassié para a «Terra Prometida» dos descendentes de escravos africanos.

Para os rastas Hailé Sélassié, Imperador etíope, era o «Rei dos reis», leão conquistador da tribo de Judah, eleito de Deus, imperador da Etiópia, e considerado como o Messias negro.

Bob Marley desejava – a acreditar nas letras das suas canções e como afirma um dos princípios do movimento rastafariano, de que ele era o mais célebre adepto - participar no grande regresso dos descendentes de escravos à Etiópia, vista como a «Terra Prometida» africana, se um cancro não o tivesse ceifado aos 36 anos. Mas, talvez, hoje o cantor jamaicano não deixasse de se divertir pelas faustosas cerimónias organizadas para celebrar o 60º aniversário do seu desaparecimento na Meskel Square, a maior praça de Addis Abeba, capital dessa mítica Etiópia.

A praça imensa adequa-se bem aos concertos como este, e que a viúva do cantor, Rita Marley, decidiu organizar, convidando artistas da Jamaica, da Etiópia e de todo o continente negro, a fim de comunicar com o resto do mundo sob o tema da unidade de África (Africa Unite, segundo o título de uma sua célebre canção inserida no seu álbum mais politizado de 1979, Survival ). A iniciativa inclui ainda debates, exposições, projecções, e até uma partida de futebol que o músico era um ferrenho adepto.

Antes de ser um herói, Bob Marley fou um rebelde: esteve preso na prisões jamaicanas e teve de exilar-se depois de uma tentativa de assassinato. Mas também é verdade que admirava o Imperador da Etiópia, Hailé Selassié que, tal como todos os rastas, era visto como um deus vivo. O próprio Imperador visitará a Jamaica e, compadecido com as miseráveis condições de vida do povo, ofereceu terras etíopes a quem decidisse pôr em prática o mandamento do «regresso a África». A comunidade aí constituída não ultrapassou, no entanto, a fasquia dos mil, tendo sido sempre vista com desconfiança e antipatia pelas poderosas comunidades cristãs coptas e muçulmanas que sempre rejeitaram a pretensa divindade de Selassié, tal como o uso sacramental da marijuana, «a erva da sabedoria».

Bob Marley tornou-se entretanto um ícono mundial do Terceiro Mundo, com rentabilidade comercial assegurada que fez ( e continua fazendo) as delícias à indústria discográfica

Bob Marley era conhecido pelas suas atitudes machistas e violentas que, uma vez atingida a fama, levo-o a ir viver logo para uma mansão em Kingston longe da mulher e rodeado de amantes.

Rita Marley escreveu há alguns anos atrás uma autobiografia «No woman, no cry» que traduz bem todo o ambiente em que o casal vivia, e as características da personalidade difícil de Bob Marley.