10.2.05

A capital da Etiópia, Addis-Abeba, celebrou o culto de Bob Marley ao som de reggae

Cerca de 300.000 pessoas assistiram no Domingo passado (6/2/2005) ao concerto gigante organizado para festejar o 60º aniversário da morte em 1981 do músico jamaicano Bob Marley (1945-1981) que escolhera a Etiópia do Imperador Hailé Sélassié para a «Terra Prometida» dos descendentes de escravos africanos.

Para os rastas Hailé Sélassié, Imperador etíope, era o «Rei dos reis», leão conquistador da tribo de Judah, eleito de Deus, imperador da Etiópia, e considerado como o Messias negro.

Bob Marley desejava – a acreditar nas letras das suas canções e como afirma um dos princípios do movimento rastafariano, de que ele era o mais célebre adepto - participar no grande regresso dos descendentes de escravos à Etiópia, vista como a «Terra Prometida» africana, se um cancro não o tivesse ceifado aos 36 anos. Mas, talvez, hoje o cantor jamaicano não deixasse de se divertir pelas faustosas cerimónias organizadas para celebrar o 60º aniversário do seu desaparecimento na Meskel Square, a maior praça de Addis Abeba, capital dessa mítica Etiópia.

A praça imensa adequa-se bem aos concertos como este, e que a viúva do cantor, Rita Marley, decidiu organizar, convidando artistas da Jamaica, da Etiópia e de todo o continente negro, a fim de comunicar com o resto do mundo sob o tema da unidade de África (Africa Unite, segundo o título de uma sua célebre canção inserida no seu álbum mais politizado de 1979, Survival ). A iniciativa inclui ainda debates, exposições, projecções, e até uma partida de futebol que o músico era um ferrenho adepto.

Antes de ser um herói, Bob Marley fou um rebelde: esteve preso na prisões jamaicanas e teve de exilar-se depois de uma tentativa de assassinato. Mas também é verdade que admirava o Imperador da Etiópia, Hailé Selassié que, tal como todos os rastas, era visto como um deus vivo. O próprio Imperador visitará a Jamaica e, compadecido com as miseráveis condições de vida do povo, ofereceu terras etíopes a quem decidisse pôr em prática o mandamento do «regresso a África». A comunidade aí constituída não ultrapassou, no entanto, a fasquia dos mil, tendo sido sempre vista com desconfiança e antipatia pelas poderosas comunidades cristãs coptas e muçulmanas que sempre rejeitaram a pretensa divindade de Selassié, tal como o uso sacramental da marijuana, «a erva da sabedoria».

Bob Marley tornou-se entretanto um ícono mundial do Terceiro Mundo, com rentabilidade comercial assegurada que fez ( e continua fazendo) as delícias à indústria discográfica

Bob Marley era conhecido pelas suas atitudes machistas e violentas que, uma vez atingida a fama, levo-o a ir viver logo para uma mansão em Kingston longe da mulher e rodeado de amantes.

Rita Marley escreveu há alguns anos atrás uma autobiografia «No woman, no cry» que traduz bem todo o ambiente em que o casal vivia, e as características da personalidade difícil de Bob Marley.