6.7.05

10 regras para um conformista submisso


1 – Pense sempre em si, nada mais que isso.

2 – Pense também que a realidade em que vive é assim, e não se pode mudá-la por mais voltas que se lhe dê

3 – Aceite a miséria, as injustiças e as desigualdades como fatalidades, ou então como vontade de deus e da natureza

4 – Pense que o Estado, os tribunais, os parlamentos, os partidos políticos e tantas outras instituições foram todas elas criadas porque pessoas como você não sabem ou não podem governar-se a si próprias.

5 – Pense que é natural que haja pessoas que mandam, e outras que obedeçam, que é naturalíssimo que haja ricos e pobres, e que nada mais natural que sejam os ricos a mandar e os pobres a obedecer.

6 – Acredite em tudo o que ouça e veja na rádio e na TV, e em tudo o que leia nos jornais, não questionando qualquer notícia ou reportagem

7 – Acredite piamente que o seu patrão só está a ajudá-lo ao permitir que trabalhe para ele em troca de um salário.

8 – Acredita religiosamente que a polícia só tem como tarefa a segurança dos cidadãos, que os militares existem para proteger a pátria, e que a Igreja mais não faz que velar pelos pobrezinhos.

9 – Pense que só tem direitos a ter aquilo que pode comprar, ainda que não precise de muitos desses bens para viver.

10 – Aceite sem qualquer reticência que há pessoas que pensam por si, e que só isso é conveniente para si próprio.

O que é que mais nos espanta?

«O que espanta não é o facto de haver gente que rouba, de haver quem faça greve; mas sim o facto de haver esfomeados que não roubam, de haver explorados que não fazem greve.»

Wilhelm Reich

A vida de quem anda, às ordens de quem manda...


A vida de quem anda
às ordens de quem manda
já cheira que tresanda
não anda nem desanda

a vida de quem chora
À espera de uma aurora
Que leve a morte embora
Bem perde pela demora

A vida de quem cata
Pulgas numa barata
É tão longa e tão chata
Nem ata nem desata

Autor e cantor: Sérgio Godinho
(letra da canção a-e-i-o-u, do álbum Os Sobreviventes, de 1971)

Aviso a tempo por causa do tempo

Declara-se para que se saiba:

1º que não apoiamos qualquer partido, grupo, directriz política ou ideologia e que na sua frente apenas nos resta tomar conhecimento: algumas vezes achar bom outras achar mau. Quanto à nossa própria doutrina, os outros hão-de falar.

2º que não simpatizando com qualquer organização policial ou militar achamo-las no entano fruto e elemento exacto e necessário da sociedade – com quem não simpatizamos igualmente.

3º que sendo nós indivíduos livres de compromissos políticos permaneceremos em qualquer local com o mesmo há vontade. Seremos nós os melhores cofres-fortes dos segredos do estado: ignoramo-los.

4 º que sendo individualidades e portanto abjeccionalmente desligados das normas convencionais, temos o máximo regizijo em ver essas mesmas normas nos componentes da sociedade. Assim delas daremos por vezes testemunho e mesmo ensino.

5º que não somos assim contra a ordem, o trabalho, o progresso, a família, a pátria, o conhecimento estabelecido (religioso, filosófico, científico) mas que na e pela Liberdade, Amor e Conhecimento que lhes preside preferimos estes

6º que a crítica é a forma da nossa permanência.

Acreditamos que nestes seis pontos fundamentais vão os elementos necessários para que o Estado, os Governos, a Polícia e a Sociedade nos respeitem; nós há muito que nos limitamos neles e neles temos conhecido a maior liberdade. Não se têm do mesmo modo limitado o Estado, a Polícia e a Sociedade e muito menos o seu último reduto: a família. A eles permaneceremos fiéis pois todo o nosso próprio destino e não só parte dele a estes seis pontos andam ligados como homens, como artistas, como poetas e por paradoxo como membros da sociedade.

(texto datado de Julho de 1953)
António Maria Lisboa

Na sociedade capitalista tudo pode ser dito, excepto o que for importante


Ao que parece, nunca terá existido um sociedade com mais informação, e ao mesmo tempo com menos conhecimento, do que a sociedade capitalista actual. E deveras notável, apesar de todas as comunicações por satélite e das fibras ópticas que podem transmitir milhares de milhões de fragmentos de informação por segundo, que os trabalhadores russos e norte-americanos saiba, hoje em dia menos acerca uns dos outros do que um século atrás.

Todos os regimes da história tiveram de produzir e difundir a informação de que precisavam para sobreviver, numa tensão permanente entre manterem os povos ignorantes e dar-lhes a informação necessária à realização de tarefas. É sempre difícil, no entanto, garantir que uma tal informação não venha a ser utilizada contra si mesma; os gladiadores podem ser levados a matar-se um ao outro na arena, mas muitas vezes acontece que um tal exercício constitui o caminho para a revolta.

A censura foi a arma usada pela burguesia no século XIX; na «sociedade da informação» dos nossos dias, porém, a censura já assumiu outras formas. Inundando-nos com vagas de vagas informações, espera-se assim que os factos reais se desgastem ao baterem nos rochedos da insignificância, e fiquem esquecidos. A informação, tal como acontece com as vias de comunicação (estradas, vias aéreas e marítimas), só se torna disponível quando e onde o comércio precisar dela para realizar lucros, ou onde as pessoas, devido a condições locais, tenham posto em perigo esses lucros. Os canais de informação ( telefone, televisão, bancos de dados) funcionam do mesmo modo.

«A política da informação, escrevia Goebbels nos seus diários, é uma arma de guerra; o seu objectivo é levar a cabo a guerra, e não transmitir notícias». Referia-se isto aos sujos tempos de Belsen e Dachau, quando se tentou censurar algo tão enorme como o holocausto, conseguindo-se de resto até certo ponto e durante algum tempo. Nestes nossos dias mais limpos, se a informação de tal modo se tornou uma arma espectacular, é muito simplesmente porque ela é uma arma do espectáculo.

A «sociedade da informação» proclama pois haver hoje uma maior aceso à informação. Mas esta corriqueira ficção científica de jornalista omite, nisto, o ponto essencial, que é o seguinte: toda essa deformada informação é cuidadosamente produzida, sendo a sua produção cuidadosamente controlada. Uma tal ficção omite, ainda, o facto de a informação real ser hierarquicamente controlada.

Aquilo que é apresentado nos milhares de bancos de dados ( estações de TV, revistas e jornais, bibliotecas, sistemas de transmissões por cabos, sistemas de computarização de dados) é preparado segundo parâmetros cuidadosamente estudados. A informação fornecida através de sistemas públicos ( tanto na qualidade de serviços como na de mercadorias) é definida segundo determinados parâmetros de informação, ao passo que a informação de que precisam as grandes empresas ou os governos funciona em moldes muito diferentes. Os indivíduos que controlam os bancos de dados são a elite real – não tanto à maneira do Grande Irmão de 1984 que nos espia, mas mais à duma Esponja Gigantesca gotejando informação deformada.

A democracia do espectáculo insiste em que há hoje uma quantidade maior de informação disponível; mas a verdadeira natureza do poder hierárquico encerra a informação nos seus parâmetros próprios. O espectáculo da democracia significa que tudo isso é semelhantemente inútil – o resumo dum texto de Goethe, enviado para um computador doméstico por um outro computador, reduz Goethe e o seu tempo a uma banalidade.

O poder de quem decide que informação deve ser dada e qual convém omitir é igual ao poder dos detentores monopolistas de jornais ou de estações de televisão. Apesar de algumas destas coisas poderem ser corrigidas no interior do capitalismo, na medida em que se aperfeiçoar a tecnologia nesse sentido, o que subsiste e importa é a natureza hierárquica da informação.

Quando a informação deformada não é suficiente, invoca-se o sigilo, geralmente com uma justificação militar.

(texto publicado na revista Pravda nº 4 , Verão de 1986, das edições Fenda, e que foi extraído do livro «And Yet It Moves. The realization and suppression of science and technology» de Boy Igor)

O Espectaculotariado


O proletariado que apareceu com a Revolução Industrial já pouco tem de comum com o espectaculotariado dos nossos tempos. O reino da Mercadoria penetrou até ao fundo de todas as áreas do nosso modo de vida quotidiano: na informação, no ócio, na cultura, no sexo, na linguagem… Hoje, qualquer actividade humana gera uma enorme quantidade de Mais-Valia. Mas com a emergência do Espectáculo Global, isto é, do Estado Espectaculista, surge o espectaculotariado.


O proletariado bateu-se e envolveu-se historicamente na luta de classes

O espectaculotariado envolve-se por sua vez em muitas classes de luta

Face à histórica luta de classes, irrompem hoje muitas classes de luta
(extraído do nº 1 de «los plegos de La Infiltracion)