15.8.06

As últimas notícias da utopia

«As utopias são como a linha do horizonte: eu dou um passo e ela afasta-se um passo; dou dois passos e ela afasta-se cinco ou mais passos; dou dez passos e ela afasta-se outros dez. Quanto mais caminhamos mais ela se afasta.
Então para que é que servem as utopias?
Para isso mesmo, para fazer-nos caminhar.»





Como será a sociedade do futuro? ...As últimas notícias da utopia!


Em Agosto de 2005 cerca de sessenta pessoas – militantes políticos, escritores, jornalistas , sindicalistas – receberam por correio electrónico um convite irresistível. Michael Albert, próximo de Noam Chomsky, e animador da rede Znet (1), propunha aos destinatários da sua mensagem, muitos deles colaboradores daquela rede, encontrarem-se em casa dele dez meses mais tarde, ou seja, em Junho de 2006, durante cinco dias. Objectivo? As discutir as formas que as sociedade do futuro poderá tomar.

A proposta tinha os seus perigos. Lançado com um ano de avanço, corria o risco de tropeçar com um uso de tempo demasiado sobrecarregado. O seminário seria mesmo organizado às portas do Verão num local agradável (Woods Hole, em Cape Cod, a uma centema de quilómetros de Bóston, na costa leste dos Estados Unidos), junto à praia e com possibilidade de excursões…Já mais a sério a reunião permitiria aos colaboradores da Znet, se bem que alguns deles pouco implicados nessa rede, de se conhecerem. E de reflectirem em conjunto, na companhia de Noam Chomsky, Barbara Ehrenreich, Arundhati Roy, Naomi Klein, etc, que também marcariam presença.

O convite comportava uma vantagem suplementar: a própria formulação do projecto. Com efeito, Michael Albert escrevia: «Imaginai cada sessão corresponderia a uma exposição sobre a visão do futuro, a estratégia, o programa – e não tanto s obre o que corre mal na actual sociedade, as opressões, etc – e que essa exposição esteja estruturada a partir de um texto distribuído previamente que seria comentado por uma pessoa, também escolhida de antemão, e tudo isso conduzisse a uma discussão colectiva.» Para os convidados, no seio dos quais se contavam os velhos frequentadores dos Fóruns Sociais e dos seus discursos estereotipados, repetidos sucessivamente de Porto Alegre a Atenas, tal seria uma forma de ultrapassar a litania dos sermões acusadores contra o ultraliberalismo e os seus sequazes.

Nesse ponto a promessa foi cumprida. É certo que nem Chomsky, nem Ehrenreich, nem Roy, nem Klein apareceram: os mais conhecidos são os mais anunciados, mas também os mais desistentes. E se em matéria de «programa» ou de «estratégia» as coisas não foram tão satisfatórias, a verdade é que, em contrapartida, não faltou capacidade de imaginação e de antecipação. Com uma meteorologia uniformemente má, refeições tomadas em grupo numa cantina de empresa, um programa cheio de exposições e de debates – ao longo das manhãs, tardes e noites – tudo isso fazia com que cada um escolhesse fixar a sua atenção sobre uma problemática, cuja actualidade não era particularmente grande, sobretudo nos Estados Unidos: na suposição de que o capitalismo não existisse («suponha que…» é uma das figuras retóricas preferidas por Michael Albert, que a ela recorre, de resto, mais do que uma quarenta vezes, no seu último livro, «Realizing Hope»), como se pareceria a sociedade ideal?

Michael Albert tem como se calcula uma pequena ideia sobre o assunto. Recorde-se que ele se insere na tradição libertária, no sentido mais amplo do termo (2). Elaborou até, mais do que Chomsky, um modelo alternativo de sociedade que rompia simultaneamente com o capitalismo ( a regulação pelos mercados é rejeitada) e com o socialismo ( que gere inevitavelmente uma vanguarda autoritária e uma classe de «coordenadores»).
Desenvolvida desde há una quinze anos, juntamente com Robin Hahnel, este projecto de «economia participativa» ( «participatory economics» ou Parecon em inglês, ou «participalismo» em francês) iria servir de referencial ao longo dos cinco dias do seminário. As obras de Michael Albert estão traduzidas em numerosos países, mas o seu impacto é demasiado modesto para que uma explicação, ainda que sucinta, do seu programa – da sua «utopia» -seja completamente supérflua (3).

Apesar de «igualitária», «solidária» e «autogerida», a economia participativa não se reclama da iguadade absolutta dos salários, e menos ainda da ideia, julgada irrealista, do «cada um segundo as suas necessidades». Ela adopta como critério de remuneração «o esforço e o sacrifício» na «produção de bens socialmente úteis». Quem trabalha mais, e mais duramente, em condições mais difíceis, receberá mais. Em contrapartida, quem, pelo único efeito do destino ou do nascimento, beneficiar de máquinas ou de tecnologias mais avançadas, ou de dons artísticos, físicos ou intelectuais, não será por isso melhor remunerado.Michael Albert é sensível, mais do que ninguém, à injustiça dos rendimentos imobiliários até porque o valor da casa que serve de quartel general às operações «participalistas» foi multiplicado por nove em catorze anos. Prova suficiente, ironiza ele, de que em regime capitalista «uma massa inerte pode trazer mais trabalho aos seus proprietários que uma vida de trabalho».

A economia participativa reprova a organização social que fixa tarefas de execução, de limpeza a uns, e reserva as missões de enquadramento, de criação a outros. Comabeta o modelo industrial baseado na especialização fordista. Se nos países capitalistas, tal como nos países «socialistas» (stakhanovismo), um tal modelo favorecer a produtividade, isso foi à custa de uma organização de trabalho alienante e «desgastante» (como é o caso da cadeia de montagem automóvel). Mas foi, segundo Albert, a consolidação de uma terceira «classe», os coordenadores», que teria entrado em contradição como o esquema marxista de uma sociedade que tinha como dialéctica principal a oposição entre os detentores do capital e os que vendem a sua força de trabalho.

Cauteloso em evitar a sobrevivência –ou o regresso, uma vez passada a euforia revolucionária – desses especialistas, quadros, tecnocratas, e do seu desdém social e do seu autoritarismo legitimado pela sua «competência», os participalistas propõem que em cada actividade profissional, o conjunto das tarefas sejam redefinidas de modo a misturar as tarefas de execução e de concepção. Essa Seia a única forma aceitável de distribuir os benefícios e os constrangimentos do trabalho social. Tal significaria que o patrão da General Electric encarregar-se-ia por vezes da limpeza do elevador, ou da recepção do correio, enquanto que a sua empregada de limpeza verificaria as contas? Não será bem assim, porque nem na General Electric nem em nenhuma outra parte, haveria «patrão» ou «empregada de limpeza», mas antes actores iguais com «conjuntos equilibrados de tarefas» ( balanced Job complexes) concebidos graças a negociações e discussões prévias.

Utopia prometaica à escala de um país gigantesco e de uma economia diversificada como a dos Estados Unidos, o projecto já encontrou, no domínio privado, a partilha de tarefas doméstica por (modesto) antegozo. E tal não é anedótico nem secundário pois tudo deve estar lgado:«O prgresso numa certa esfera deve ir concetado com o avanço numa outra esfera». Um participalismo que já rege, aliás, algumas das empresas cooperativas. As quais, pela sua própria existência, prefiguram a utopia autogestiono presente. «Incorporam as sementes dofuturo desconhecido nos nossos comportamentos imediatos».

A casa editorial «South End Press» que Michael Albert criou com outros em plenos anos 60 e a imensa efervescência progressista que ela gerou na sociedade norte-americana, inspirou-se em alguns daqueles princípios enunciados. A recusa de separação entre funções de execução e funções de direcção foi tal que South End Press ( quatro empregados) decidiu, pelo menos uma vez, excluir da cooperativa um dos seus membros que, por receio de tomar um dis uma decisão prejudicial ao colectivo, recusava ser responsável pelas escolhas editoriais. Reclamando querer manter-se num posto subalterno, ele confessava-se satisfeito em contribuir assim para um objectivo comum. A resposta que recebeu é que uma conduta desse género era inaceitável: a lei do participalismo era para se cumprir…

A situação inversa é mais fácil de imaginar: a do caso em que o editor ou um autor hesitam em abandonar os trabalhos de pesquisa e de escrita para reservar algumas horas do dia aos trabalhos domésticos, ao conserto de sapatos ou a descida a um poço ( a polivalência requerida deve abranger diversos sectores de actividade). Susan George apresentou uma objecção por via de uma interrogação «antropológica»: terá existido na história da humanidade uma sociedade sem classes, principalmente quando a definição das classes passa, para além da propriedade dos meios de produção, pela incorporação do saber dos «coordenadores»? Pouco convincente ( e convicta) da resposta, ela concluiu: «Desde que se sejamos altamente qualificados no que fazemos, devemo-nos poder consagrar inteiramente e a fundo nisso». Um veredicto contrário à utopia defendida por Michael Albert e partilhada pela maior parte dos presentes.

Mesmo supondo que o princípio-chave da economia participativa não seja posto em causa, a verdade é que as questões só agora começam. Quem estabelece a remuneração dos esforços e do sacrifício? Quem reorganiza o trabalho em torno dos conjuntos equilibrados de tarefas? Quem fixa o nível e o tipo de oferta ( da produção)? E como se irão prever as reacções da procura ( dos consumidores)? Resposta: o que o mercado ( desigualitário e fonte de injustiças) e os coordenadors centrais ( presumivelmente, autoritários) fariam seria realizado pela «planificação participativa». Mas o que é que isto vêm a ser? «Conselhos alargados e abrangentes» ( nested councils) descentralizados, compostos por actores sociais implicados que tenham uma palavra a dizer em função das consequências, que as opções a tomar, lhes possam afectar; e que todos tenham acesso a uma informação de qualidade, sejam devidamente formados, e tenham confiança nas suas competências e estejam motivados para as desenvolver, comunicar e exprimir as suas preferências.»

Um vasto programa - não há dúvida -, tanto mais que ele pressupõe certas condições prévias que dizem respeito quer ao saber partilhado, à consciência política, à motivação e à informação democrática. Não será muito surpreendente que uma tal visão de conjunto não deixe de suscitar algumas dúvidas, menosprezo até, e reiterados pedidos de aclarações. (4). Um dos objectivos do seminário organizado por Michael Albert era reforçar o ptencial do modelo através da indicação de exemplos que de um modo ou de outro pudessem evocar o género de estrutura autogerida atrás descrita.

Agora sobre a América do Sul, comecemos com a Argentina em que, há alguns anos atrás, foi submergida com a exclamação «que se vayan todos!» e um movimento de recuperação de 180 fábricas abandonadas pelos seus proprietários, assim como por cooperativas, trocas, sistemas de trocas locais (SEL), de autogestão, e assembleias de bairro. (5). Desconfiança em relação a todas as instituições ( a que não foi estranho a espectacular falência que atingiu a Argentina), recusa da delegação de poderes e da recuperação: o questionamento da propriedade dos meios de produção que então se registou não poderia deixar de encantar os anarquistas. Até parecia que, conforme ironizou um dos intervenientes do seminário, Marie Trigona, ela «nos iria conduzir à utopia, como no filme de René Char de 1931, A nous la liberte, quando a fábrica começou a funcionar por si mesma, enquanto os operários divertiam-se, pescavam, dormiam a sesta ou faziam um pique-nique».


Poesia cinematográfica aparte, essas estruturas autogeridas já constituíram uma «rede internacional de solidariedade que reúne 300 empresas recuperadas da Argentina, Venzuela, Brasil e uruguai».Em Novembro de 2005 realizaou-se em Caracas uma conferência destas unidades de produção e de outras na Europa ( estiveram então representadas 135 dessas empresas). Exemplo de entre-ajuda entre elas é o facto de um jornal argentino autogerido publicar gratuitamente os anúncios das agências de viagens venezuelanas; em troca, os trabalhadores desse jornal passaram férias no mar das Caraíbas. Trocas deste género são tanto mais valiosas quanto, por falta de infra-estruturas e de tecnologias adaptadas, a maior parte das cooperativas operárias, de dimensão modesta ( a mais importante na Argentina é uma fábrica de cerâmica de 470 assalariados) não suportariam o impacto do mercado capitalista. De resto, alguns dos fornecedores ou clientes habituais hesitam em trabalhar com empresas com um estatuto legal incerto.

E este não é mais do que um dos muitos problemas. Os outros são a família,o Estado, a «visão prospectiva». Relativamente à família, segundo Marie Trigona, «desde que os trabalhadores tomaran o controle do hotel Bauen, a cooperativa recrutou 85 pessoas. Quase todos eram filhos, filhas, mães, pais, irmãos e irmãs dos trabalhadores». Ou seja, o perigo de uma forma de nepotismo pesa sobre a nova utopia.
Depois há o Estado. As autoridades políticas argentinas nunca encorajaram a recuperação das fábricas abandonadas, se bem que não tivessem lançado as forças de ordem contra a maior parte das cooperativas.No total, o movimento sobrevive num vazio jurídico – com a ajuda funanceira, por vezes, do Estado – e não se alastra.Michael Albert, que se deslocou à Argentina, confessou a sua decepção sobre este ponto: os assalariados das empresas recuperadas não se dedicavam a propagar as suas conquistas às outras empresas. Apesar de se mostrarem orgulhosos da sua nova organização de trabalho, eles não conseguiam «ver que o que faziam era muito mais importante daquilo que produziam».
Ausência de consciência revolucionária, de visão prospectiva? Susan George avançou uma outra interpretação. Algo cansada das batalhas de aparelho em que a sua associação Attac está envolvida, ela recordou a objecção que Oscar Wilde (1854-1900) tinha apresentado ao socialismo na sua época: « Isso exige muitas reuniões». E acrescenta num murmúrio: « as pessoas cansam-se rapidamente, e não têm desejos de consagrar todo o seu tempo livre a assembeis intermináveis e a um trabalho de evngelização». O reparo visava indirectamente o participalismo e os seus conselhos de bairro e de empresa, cada qual com 25 a 50 membros, que deliberam muito para que todos os perticipantes possam estar a par do que está em causa nas questões que lhes digam respeito. E delegam num dos seus, revocável a todo o momento, para estar presente numa assembleia mandatada para arbitrar qualquer questão que ulrapasse a competência do grupo de base ( num período de gripe aviaria, por exemplo, uma pequena comunidade não poderia decidir sozinha sobre o que fazer das suas aves doentes). E assim continuamente…até ao sexto nível: um Parlamento para o conjunto de população mundial. O projecto pode parecer complicado, a jurisdição dis diversos conselhos é bastante delimitada.Mas não passa de um esquema e a sua execução não é para amanhã…
No caso da Argentina a incapacidade aparente das cooperativas em irradiar a sua prática de autogestão ao conjunto da sociedade explica-se também pela consciência dos riscos de repressão que os operários passavam a estar sujeitos caso a sua experiência se alastrasse. Esticar a corda poderia significar perder tudo, inclusive o seu pequeno paraíso. Ou seja, mais valia ter a seu favor as autoridades nacionais, do que estarem estas contra, não obstante pouco ou nada fazerem para apoiarem as experiências. Quanto aos patrões o modelo argentino era um pouco sui generis: os trabalhadores não se tinham defrontado com os seus empregadores , uma vez que estes os abandonaram.É difícil imaginar que a Ford, Total, Mittal abandonassem o seu património.

Quando se começa e enumerar as vantagens das cooperativas nos Estados Unidos ou na Argentina a primeira coisa que se nota é o impacto reduzido que tais estruturas têm no modo de produção dominante. O qual sabe perfeitamente adaptar-se à situação, tal como prova o que aconteceu com os media alternativos, as transgressões culturais, a gestão feminina de um departamento de Estado ou a presença de locutores negros na televisão. «São interessantes, mas completamente anedóticas», ouviu-se dizer uma voz na sala, quando se estava a expor uma outra experiência anti-autoritária.

Um interveniente argentino, Ezequiel Adamovsky, tinha participado no levantamento populat de Buenos Aires em Dezembro de 2001. Tinha verificado que «os movimentos que rejeitam todo o contacto com a política nacional são incapazes de estabelecer laços com a maioria da população. Porque o que nós propomos não era percepcionado como preferível ou realizável.As regras e as instituições que organizam a opressão são também as que organizam a vida social.». Por conseguinte, se é importante, segundo ele, saber responder à questão «o que é que nós propomos?», de repetir que a pobreza e o racismo existem, e que é preciso lutar, de que é possível a vitória contra o sistema, não é menos importante deixar de imaginar de que uma ordem espontânea vai surgir do caos. E saber precisar como e por quem as propostas vão ser apresentadas. Certamente que os partidos políticos procurarão colonizar os movimentos sociais e impor-lhes as suas regras de funcionamento hierárquico e autoritário…Mas isso não nos deve fazer esquecer que também existe frequentemente «a tirania da ausência de estruturas».

A mensagem que poderia ter passado por iconoclasta numa tal assembleia não suscitou praticamente nenhuma reacção. Provavelmente, porque depois de uma dezena de anos de retórica das soluções parciais, de comunidades em rede, do «mudar o mundo sem tomar o poder», tais fórmulas comecem a cansar (6). Demasiadas palavras, de «narcissismo anti-autoritário» ( nas palavras de um interveniente anarquista), de mediatização sem fim: demasiados efeitos face a um capitalismo talentoso na arte de recuperar o que o ameaça. (7)

Apercebemo-nos já deste cansaço – ou desta lucidez – em certos ecologistas europeus. Um dos animadores do movimento francês para o decrescimento, Vincent Cheynet, interpela alguns dos seus amigos: «Ainda que perturbadora, a mensagem da simplicidade voluntária (…) pode rapidamente converter-se numa legitimação do ultra-liberalismo. Os seus apóstolos indicam que isso é a prova de como o sistema deixa a cada um a liberdade de viver como quiser. Notemos, por exemplo, a importância da comunidade amish nos Estados Unidos: cerca de 250.000 pessoas vivem sem carro, sem tv, sem telemóvel. Apesar da sua existência, esta comunidade parece não ter contrariado a expansão do modelo consumista no país (…) A máscara do espírito libertário é utilizado, em contradição com o seu conteúdo histórico, para defender um ultraliberalismo puro e duro, e uma incapacidade profunda em pensar o colectivo. O ultraliberalismo gerou verdadeiras crianças soldados, não somente dentro das multinacionais, como no seio da sua própria contestção»(8)

Autores que giram em torno do movimento libertário formulam o mesmo tipo de impaciências.Ainda que dirigidas aos altermundialistas e aos seus Fóruns Sociais, a admoestações de Jean-Pierre Garnier poderiam também ser aplicadas a alguns anarquistas: «Não mais organizações hierárquicas e centralizadas, mas sim um “movimento de movimentos” estruturado em rede; não mais um quadro nacional previamente fixado para se constituir em força política, mas sim um activismo transnacional; não mais uma classe operária compacta e disciplinada, mas sim “cidadãos” com forte capital cultural, zelosos em preservar a sua autonomia e individualidade; não mais “uma grande noite”, “amanhãs que cantam”, mas sim “alternativas concretas” e “utopias realistas” (…) Esta “figura moderna” não é outra coisa que um neoreformismo que abre caminho à promoção de uma globalização que seja “democrática”, “justa”, “solidária” e “ecológica” (9)

A maior parte dos conferencistas de Woods Hole não eram reformistas nem – muito menos – adeptos do oximoro de uma globalização «democrática». Não obstante, certas consideraçõesde Jean-Pierre Garnier não deixavam de os interpelar, pelo menos em certos aspectos. Na verdade, colocavam-se problemas como se já estivessem resolvidos, ou como se a prefiguração de uma utopia «libertária» ( a cooperativa em Boston, o movimento indígena em Chiapas, um squat em Amsterdam) e o estabelecimento de «laços» (links) diversos ( Internet, Fóruns mundiais) entres estas ilhotas participativas pudessem dar lugar a alguma estratégia política. Como se as experiências locais que são enaltecidas não fossem tributárias de decisões nacionais e internacionais ( nível de vida, fiscalidade, acordos de livre-troca, moeda, guerras,..) que proíbem a construção das pequenas utopias «sem tomar o poder». Como se um internacionalismo legítimo pudesse esquecer que certos Estados-nações constituíram campos de luta, de solidariedade, e permitiram garantir conquistas operárias que a «globalização» se tem empenhado em quebrar em eliminar.Como se, na coligação imaginada dos explorados, das vítimas, a subtracção não levasse a melhor à adição, em especial, à medida que as regressões religiosas e os fechamentos identitários ganhassem um ascendente sobre as solidariedades económicas.

Implicados numa infinidade de combates muito actuais e muito concretos – sindicalismo britânico, pacifismo americanos, altermundialismo europeu, software livre, solidariedades com a Venezuela, direito das mulhees no Afeganistão, etc – os presentes no Seminário, organizado põr Michael Albert avalaliaram as dificuldade concretas. Naõ eram ingénuos nem fechados sobre si mesmos. Não ignoraram que mesmo depois do capitalismo, numa hipotética sociedade sem classes, numerosas questões ficarão sem resposta: o direito das crianças, a legalização da droga, a pornografia, a prostituição, a liberdade religiosa quando contrária à igualdade de género, a alocação de recursos médicos dispendiosos, o tratamento dos animais, a clonagem, a eutanásia (10)…

Como explicou o escritor do Quebéc, Normand Baillargeon, «a anarquia é a possibilidade de organizar uma sociedade muito complexa com um mínimo de autoridade». E o seu camarada sérvio Andrej Grubacic acrescentava: «A era das revoluções não terminou. O movimento revolucionário do século XXI não será socialista, mas anarquista». Grubacic declara-se inspirado pela economia participativa, «uma visão económica anarquista, por excelência», mas também pelas «municipalidades autónomas de Chiapas», e pela «procura de consensos característica dos quakers norte-americanos». Contudo, para ele, «os grandes recrutadores anarquistas em países como os Estados Unidos foram escritoras feministas como Starhawk e Ursula K.. LeGuin».

Há, no fundo, tantas anarquias quantos anarquistas.Alguns reclamam-se de socialistas pré-marxistas como Charles Fourier ou Robert Owen, que não es esqueceem que as marmitas do futuro aquecem-se sempre no fogo dos sonhos. Em 1949, um pensador de direita incitava os seus adeptos, evangelistas do mercado, a terem «coragem de serem utópicos», tal como os socialistas: « O que nos falta – escrevia von Hayek (1899-1992), teórico do liberalismo – é que uma utopia liberal não se limite àquilo que é politicamente possível hoje». Mudem o adjectivo e a frase continuará a apontar para a mesma direcção.

Texto de autoria de Serge Halimi, publicado na edição de Agosto de 2006 do Le Monde Diplomatique.

Notas:
(1)
www.zmag.org/ Trata-se de uma publicação, Z Magazine ( com 10.000 exemplares), um centro de formação audiovisual, Zmedia Institue, e um boletim quotidiano electrónico, em que um especialista analisa uma tema ligado à actualidade ( 150.000 subscritores recebem Zet por 30 a 120 dólares por ano, conforme os rendimentos)
(2) Um dos participantes, o ´servio Andrej Grubacic, resumia assim os «princípios de base» do anarquismo: «Descentralização, associações voluntárias, apoio mútuo, modelo em rede, e, acima de tudo, recusa da ideia de que os fins justificam os meios, e que um objectivo revolucionário pode apoiar-se do poder do Estado para em seguida impôr a sua visão com uma arma na mão»
(3) O livro mais conhecido e traduzido em várias línguas de Michael Albert é Parecon, Elementos de economia participalista. O seu último livro é «Realizing Hope: Life beyond capitalism», Z Books, Londres, 2006, de onde foram retiradas a maior parte da citações do presente artigo. Para uma exposição detalhada da teoria, consultar Michael Albert e Robin Hahnel, The Political Economy of Participatory, Princeton Press, Princeton (New Jersey), 1991
(4) Um debate muito vivo e completo opôs David Scweickart e Michael Albert, consultável em
www.zmag.org.org/debateschw.html
(5) Ler Cécile Raimbeau, «En Argentine, occuper, résister, produire», Le Monde Diplomatique, Septembre 2005
(6) Um dos intervenientes, Greg Wilpert sugeriu o sentimento que lhe inspira as teorias de John Holloway, autor do livro com data de 2002, «Change the world without taking power: the meaning of revolution today» (Pluto press), ao titular o seu livro, recentemente editado pela Verso (Londres), «ChangingVenezuela by taking power: the history and policies of the Chavez government»
(7) Ler «Eternelle récupération de la contestation», Le Monde Diplomatique, Avril 2001
(8) Vincent Cheynet, «our en finir avec l’altermonde»,La Décroissance nº 32,Lyon, Juin 2006
(9) Jean-Pierre Garnier, «L’altermondialisme: un internationalisme d’emprunt», Utopie critique nº37, Paris, 2º trimestre de 2006
(10) Esta lista retoma no essencial a de Stephen Shalom que está resumida em «Realizing Hope», p. 23-24

A actual vaga massificadora do turismo sexual

A miséria económica dos países do Sul
e a miséria afectiva dos países do Norte





Face ao mal-estar das sociedades de consumo das economias industrializadas ( como é o caso de Portugal), que pouca importância conferem à vida intelectual, ética e espiritual, e que condena o quotidiano dos «cidadãos» a un estilo de vida gelatinoso e a uma frugal vida de aparências, quantas vezes ocupada em hipermercados, centros comerciais e cabeleireiras, oferecendo subprodutos de escaparate, transformando as pessoas vulgares em «clientes» passivos, anulando a sua capacidade activista de, como sujeitos, traçarem o seu próprio destino, já para não falar dos efeitos induzidos do assalariamento desresponzabilizante do trabalho por conta e sob a direcção de outrem, assim como da alienação televisiva ( com telenovelas, concursos, espectáculo,…) que empurra e promove a passividade amorfa do telespectador de sofá – face a esta triste realidade do seu quotidiano, os cidadãos dos países industrializados do Norte sentem cada vez mais a necessidade de preencherem o seu vazio existencial e «fugirem» para o ambiente «quente» e muito mais «humano» e afectivo das sociedades do Sul, nem que para isso tenham de recorrer ao seu enorme poder de compra de consumidores, comprando os mais variados serviços, sejam eles de carácter turístico ( viagens de avião, por exemplo), de carácter afectivo ou até mesmo sexual.

Trata-se, no fundo, de estratégias comportamentais para satisfazar necessidades existenciais que não encontram satisfação nas nossas sociedades desenvolvidas em que predomina os feitiches e os gadgets do consumismo paralisante e amorfo, o frio formalismo burocrático da modernidade, e a espectacularidade dos media ( com a TV à frente) que tudo converte em realidade catódica pronto a ser servida à hora do jantar…

É neste contexto societário que se insere, e que se pode explicar, a actual e crescente vaga de turismo sexual realizado por indivíduos dos países industrializados do hemisfério Norte em direcção aos países pobres do hemisfério Sul.

Um turismo sexual que não é exclusivo dos homens mas que também envolve cada vez mais mulheres que se dirigem para estas últimas sociedades em busca de satisfações afectivas e sexuais que não encontram nas suas terras de origem e que, habitualmente, passa pelo pagamento monetário destes serviços, mas que pode em alguns casos não ser assim, uma vez que nessas sociedades a monetarização das relações sociais ainda não é completa e as relaçõe afectivas e sexuais naquelas culturas indígenas poderem ser regidas por outros padrões que não decorram do uso de moeda, ao contrário do que acontece nas nossas sociedades de consumo onde as relações sociais estão completamente mercantilizadas e que são intermediadas pelo omnipotente ( e existencialmente absorvente) dinheiro.

Desgraçadamente já se tornou um hábito assistirmos( sobretudo nos períodos de férias), a uma sucessiva hemorragia de turistas europeus em direcção a países como Marrocos, Brasil, Tailândia, Filipinas,etc. Uma vez chegados ao destino, num qualquer balcão de ocasião, não escondem o que realmente procuram e querem obter:

- «Um postal e uma puta, se faz o favor!» (para os homens)
ou
- «Uma bebida e um macho amável, por favor!» (para as mulheres)


Reproduz-se a seguir o texto publicado no Le Monde Diplomatique de Agosto de 2006, com o título «Para uma massificação do turismo sexual? » ( Vers un tourisme sexuel de masse?) e de autoria de Franck Michel


As indústrias de viagem e do sexo partilham entre si interesses comuns ao converterem o mundo num gigantesco parque de atracções. Assente no tradicional universo da prostituição, o turismo sexual estende-se ao ritmo da crescente mobilidade e globalização turística. Nos países onde a constante é a pobreza, ele afecta centenas de milhares de seres humanos, em que as crianças são uma parte não negligenciável.

No seguimento do turismo clássico chegou agora o turismo sexual a conhecer actualmente a «democratização». Cada vez mais se assiste à emergência de uma prostituição «à la carte», uma tendência que segue, aliás, de perto o que se passa com as viagens à medida…Não é raro encontrar em Phuket ou em Ko Samui, só para evocar o caso da Tailândia, um motoqueiro ocidental a transportar, atrás de si, na sua moto uma «namorada», designação oficial e mais aceitável que prostituta, e que ele alugou para uma semana ou um mês.

O turismo sexual conhece hoje uma autêntica «bola de neve» e que se está a tornar numa verdadeira massificaçã. Ainda na Tailândia, os novos clientes são cada vez mais jovens ocidentais em busca de aventuras e de sensações fortes. Tais jovens estão a substituir os velhos turistas alemães, japoneses ou norte-americanos, os quais já tinham substituído os militares que estavam colocados naquela região, aquando da guerra do Vietname. Por outro lado, uma nova clientela faz a sua aparição nas praias e nos bares: os malaios, chineses, sul-coreanos…

A prostituição «turística» afecta muito os países do hemisfério Sul: aí as raparigas ( e os rapazes) são jovens, ppbres,pouco instruídos e facilmente exploráveis. Entram de uma forma mais ou menos forçada na prostituição, «ofício» este que não têm vontade de exercer. À busca de sexo fácil e barato os turistas sexuais estrangeiros afluem à procura de carne fresca, disponível e submissa. Numerosos deles, para a sua boa-consciência, apontam mil e umas razões para se auto-convencer que não abusam da miséria dos jovens. Segundo eles,mais não fazem que ajudar, apoiar e contribuir para o desenvolvimento do país….

Nesses países , após a vaga do turismo de massas, o desenvolvimento do sector informal da prostituição verificou-se com a chegada dos turistas individuais. Pode-se estabelecer uma cartografia do turismo sexual: as mulheres vão a Goa ( na Índia), à Jamaica, à Gambia; enquanto os homens preferem os países do Sudeste asiático, Marrocos, a Tunísia, o Senegal, a República Dominacana, Cuba, Panamá, Suriname, México, sem esquecer, é claro, o Brasil, onde se estima que haja 500 mil crianças a prostituírem-se (1)

O turismo sexual de massas desenvolve-se assim no cruzamento de diversos mobilidades turísticas. Para muitos ocidentais, ele representa uma nova forma de colonizaçãoadaptada à nossa época. Há quem queira estabelecer uma distinção entre prostituição forçada e a prostituição voluntária ou «livre». Sob o pretexto de que em certas cidades dos países do Norte – ou nos enclaves abastados dos países deserdados – a prostituição de luxo, dita «livre», poderá permitir a certas raparigas ( que tenham escapado ao controle dos proxenetas) de «dispôs livremente do seu corpo». Esses mesmo admitem, no entanto, que na maior parte dos países do Sul – tal como nos enclaves miseráveis das cidades dos países do Norte ou do Leste – a prostituição é uma actividade exercida sob um apertado controle ( com proxenitismo, violências, violações) (2). Mas como combater a prostituição nos países pobres do Sul, se se pretende que ela é, nos países do Norte, o resultado de opções individuais.

Industrialização dos corpos

Outros insistem para que não se confunda a prostituição infantil e a prostituição dos adultos. A insistência nesta diferença acaba por ser algo suspeita. Tanto mais que o consenso estabelecido para condenar o abuso sexual de crianças já não é fácil para a condenação do abuso dos adultos ( mulheres e homens), que é visto e admitido como uma deriva, presumida como inevitável, no mundo em que vivemos. Como consequência, a prostituição infantil incómoda todos, mas cada qual vai acomodando-se à prostituição «clássica».

Numa tal atmosfera o turismo sexual é objecto, de alguma forma, de uma desresponsabilização e desculpabilização. Tanto mais que a prática se inspira nas indústrias clássicas do sexo: pornografia e prostituição. Uma prostituição que não seria mais do que aquilo que é proposto pela pornografia (3). Estes dois universos convergem para instrumentalizarem os seres humanos e industrializarem os corpos. O aparelho mediático e publicitário aparecem a preparar o terreno visando reforçar o reconhecimento oficial da indústria do sexo. A violência sexual é assim celebrada, ao mesmo tempo que ele surge em tudo o que é media, mesmo quando é para ser alvo de denúncia. Um paradoxo e uma confusão que é bem a imagem da nossa cultura porno chic e soft que consagra a dominação do macho, numa época em que a sua virilidade parece estar em declínio.

A procura sexual é encorajada e estimulada por uma oferta em alta. O mercado estende-se e diversifica-se: uma internacionalização da oferta, com raparigas cada vez mais jovens, provenientes dos quatro cantos do mundo, atrai novos clientes (4). Com este afluxo de emigrantes do sexo, alimentado pela sede de consumo, a rotação das raparigas está garantida. Objecto de todas as espécies de tráficos, os corpos ficam disponíveis. A tarifas que não param de deixar por causa da dura concorrência.

O sucesso crecente do turismo sexual feminino mostra que a mulher vai a par com o homem, reiterando e reproduzindo as representações do poder, da dominação e da exploração. A esse respeito, não é inútil a aproximação – no plano essencialmente simbólico – entre, por uma lado, o «turismo organizado», confiado a uma agência ou a um operador, e, do outro, o «turista sexual».

O turista organizado afasta, frequentemente, toda a responsabilidade desde o momento em que ele desembarca no destino da sua viagem de férias. Expressão disso são as palavras do viajante, acabado de desembarcar no aeroporto de Hanói: « Eis que acabei de chegar de avião, a partir de agora confio a minha sorte nas próximas semanas ao meu guia, pois estou fatigado de mais do meu emprego e agora não quero mais pensar,mas apenas deixar-me levar». Não há aqui, certamente, qualquer referência sexual explícita, mas outros farão a devida associação de ideias, e não deixarão de dar o passo que falta…

Com efeito, no fim do mundo, tudo se torna possível, nomeadamente quebrar certos interditos. Outro exemplo: um turista perdido no meio do seu grupo confiará talvez o seu destino ao guia ou à agência de viagens, permitindo práticas que seriam objecto de reprovação ou de proibição ao pé da sua porta. Como banhar-se nu numa praia da Malásia, rodeado de pescadores muçulmanos, ou namorar uma miúda que se aproxima para vender cigarros ou bugigangas num restaurante do Vietname.

É quase sempre desta forma que o turista ordinário, longe da sua casa, começa a praticar actos que seriam totalmente impensáveis na sua própria região habitual de residência. Esta aspiração à transformação de si é tanto mais fácil para os turistas – organizados ou não – quanto mais tiver se instalado na sua mente a perda de responsabilidade que ocorre durante a viagem… Para o turista organizado, o Outro – o “indígena”, dizia-se no tempo das colónias – é o servidor turístico, cujo papel consiste em ser explorado.
O turista sexual livra-se com frequência de toda a responsabilidade humana, uma vez que, por meio de uma transacção financeira, sente-se liberto da necessidade de se preocupar com o Outro. Ele não se sente mais nem na obrigação de respeitar a sua (ou o seu) parceiro efémero, nem de lhe proporcionar prazer. Ao pagar por um serviço – no caso, sexual – ele está comprando a liberdade de uma pessoa sobre a qual, por um tempo determinado, tem todos os direitos. Inclusive o de reduzir esta pessoa ao estado de “produto mercantil”, de mercadoria.
Ele não precisa de poupar sua presa, forçada à submissão, da qual pode dispor como bem entende, sem ter medo de ser expulso ou castigado por uma autoridade. O cliente é rei. Em férias, muito particularmente. O cliente-turista é o único a mandar a bordo, uma vez que o Outro foi relegado à condição de escravo sexual, pouco importando, aliás, que ela (ele) seja bem ou mal tratada pelo seu mestre do momento.
É visível as grandes diferenças entre o turista organizado e o turista sexual, mas a passagem de um para o outro por vezes vem a ser surpreendentemente fácil. “Em geral”, explica Paola Monzini, “o sexo pago tornou-se uma componente mais ou menos visível do turismo de massa (5)”. Contudo, a maioria dos turistas sexuais opera de modo solitário. Essencialmente por duas razões: o medo de chamar a atenção e ser denunciado, e o egocentrismo evidente do abusador.
Pode um turista organizado transformar-se num turista sexual? Sim, caso ele se acomode com muito facilidade à tendência actual de ficar ligado na moda do momento – que celebra o culto do corpo e o do rejuvenescimento, tendo como pano de fundo a apetência sexual e o mal-estar da civilização (6). Encontramos, por exemplo, o arquétipo desse veraneante no personagem central do romance “Plataforma”, de Michel Houellebecq, no qual o mergulho no sexo e na viagem permite ao turista vulgar ter a impressão de ser alguém diferente daquele que está empregado e é submisso, enfim, no homem sem qualidades que ele é na sua morna vida quotidiana. No Ocidente, o turismo sexual continua sendo representado de duas maneiras muito simplistas e incompletas demais: de um lado a miserabilidade, e do outro o angelismo.
Cinco causas principais estão na origem da expansão sem precedente do turismo sexual de massa: a pauperização crescente; a liberalização dos mercados sexuais, que incentiva mais ou menos directamente o tráfico de mulheres para fins de prostituição; a persistência de sociedades patriarcais e sexistas; a deterioração da imagem da mulher, tendo como pano de fundo a violência sexual generalizada e banalizada; e a explosão do turismo internacional e dos fluxos de migrantes de todo tipo.
Esta expansão foi estimulada por duas características das nossas sociedades: em primeiro lugar, a ‘democratização’ dos fluxos de viajantes (massas de turistas que circulam por todo lado); em segundo lugar, a hiper-sexualidade dos jovens, cultivada por meios de comunicação obcecados pela violência sexual. Ela alimenta-se também da convergência entre a miséria e a beleza do mundo. Miséria e beleza atestam o corte que rege a ordem desigual do planeta. Uma miséria afectiva nos países do Norte, e uma miséria económica nos países do Sul e no Leste; “beleza” dos bens materiais de consumo no Norte, beleza das paisagens e das pessoas, assim como da espiritualidade, do modo de vida e das “tradições” no Sul e no Leste.
Na sequência da publicação da Declaração da Organização Mundial do Turismo (OMT) sobre a prevenção do turismo sexual organizado (9), adoptada no Cairo em Outubro de 1995, que sensibilizou os agentes do turismo e o conjunto dos clientes-viajantes para este flagelo global (que não diz respeito apenas às crianças), a luta contra “o turismo sexual de massa” começou a organizar-se melhor..

Blair e Bush foram para férias, depois de anunciarem ao mundo a iminência dos maiores ataques terroristas desde a II Guerra Mundial…!!!





A propósito dos perigosos atentados terroristas que, segundo o governo inglês de Blair, se preparavam para serem cometidos contra vários aviões, e que obrigou ao desencadeamento do estado de alerta mais elevado, o que significa a iminência de um ataque, e à adopção de medidas drásticas não só nos aeroportos britânicos como em todos os aeroportos mundiais, na passada semana, com os consequentes atrasos e os enormes transtornos já conhecidos, provocando um verdadeiro caos nos aeroportos britânicos, e de muitos outros países, ameaças de atentados esses que levaram mesmo Bush a lembrar, numa alocução televisionada, que os Estados Unidos estavam em guerra contra fascistas islâmicos, a imprensa mundial mas especialmente a imprensa inglesa começam agora a interrogar-se sobre a verosimilhança dessa propalada ameaça terrorista…

Com efeito, o jornal inglês Daily Mirror informa ontem que o primeiro-ministro Tony Blair não demorou uma hora para partir de férias, depois de ter discursado ao país para alertar do perigo e da iminência dos atentados terroristas, e cuja ameaça, nas suas palavras, seria a maior desde a II Guerra Mundial…

O mesmo se terá passado com Bush que não interrompeu as férias, continuando a trabalhar para o bronze…

!!!

Patti Smith contra os massacres provocados pelos bombardeamentos de Israel




A conhecida cantora e compositora nova-iorquina Patti Smith acabou de compor uma canção sobre o massacre de Qana e os bombardeamentos israelitas sobre os bairros civis e a população libanesa e que se pode encontrar no seu website:
http://www.pattismith.net/news.html



Qana


There’s no one
in the village
not a human
nor a stone
there’s no one
in the village
children are gone
and a mother rocks
herself to sleep
let it come down
let her weep

the dead lay in strange shapes

Some stay buried
others crawl free
baby didn’t make it
screaming debris
and a mother rocks
herself to sleep
let it come down
let her weep

the dead lay in strange shapes

Limp little dolls
caked in mud
small, small hands
found in the road
their talking about
war aims
what a phrase
bombs that fall
American made
the new Middle East
the Rice woman squeaks

the dead lay in strange shapes

little bodies
little bodies
tied head and feet
wrapped in plastic
laid out in the street
the new Middle East
the Rice woman squeaks

the dead lay in strange shapes

Water to wine
wine to blood
ahh Qana
the miracle
is love


A cantora faz a seguir algumas observações:


The Israeli practice of collective punishment is a war crime under the Geneva Convention. Why are they allowed to do this? Because they have our permission?

We send over four billion dollars in aid and weapons to Israel every year. We are paying for this devastation. The slaughter of children. The country in ruins.We are paying for this. George Bush willfully rejected a truce and now we have the Qana massacre on our head. Thirty seven of the dead were children.Qana is considered by some as the location of the first miracle of Christ. Turning water into wine. There is no wine flowing in Qana today. Only blood. Only blood.




Dá-me Cá os Braços Teus

(letra e música de Vitorino)


Se tu és o meu amor
Dá-me cá os teus braços teus
Se não és o meu amor
Vai-te embora adeus, adeus

Diz oh sol que alumia a gente
Por onde andará o meu bem
Terra estranha nunca foi quente
Quem me dera estar mais além

Mais além mais ao pé do monte
Onde nasce o rosmaninho
Muito padece quem está longe
Já me cansa de estar sozinho

Vendo a força do meu trabalho
Ruim paga me dão aqui
Vou-me embora sempre mais valho
Lá na terra onde nasci

Lá na terra onde nasci
Os campos são de toda a gente
Não há donos nem capatazes
Vou-me embora e vou contente

13.8.06

Guy Debord, o irrecuperável




A recente publicação das Obras Completas, com cerca de 2.000 páginas, de Guy Debord (1931-1994) fornece-nos uma excelente ocasião para uma viagem para além da sua legenda situacionista e que permita observar a prodigiosa coerência de um pensamento que, por nunca ter renegado a sua dimensão revolucionária, oferece-nos as melhores chaves para compreender o nosso tempo


Situação paradoxal é a de Guy Debord no panorama intelectual francês: por um lado, toda a gente o cita, lhe faz referência, inclusivé os próprios agentes do espectáculo, de que ele foi adversário durante toda a sua vida; por outro, fica-se chocado com a estranha discreção da imprensa face à edição do conjunto das suas obras. Um livro que reúne todas as suas obras publicadas, e que inclui ainda toda uma recolha de cartas, directivas, intervenções, artigos de revista, notas inéditas, é, sem dúvida, um acontecimento: permite simultaneamente esclarecer o trajecto deste pensamento, ano após ano, e observar a sua impressionante coerência. Mas na realidade tudo se passa como se o pensamento de Debord ficasse reduzido a clichés, a fórmulas estereotipadas, e mais que estafadas, sobre a «sociedade do espectáculo»; e isso em detrimento do posicionamento indefectivelmente revolucionário daquele que não teve outro objectivo, tanto nos seus textos como na sua vida, senão de perturbar a rdem estabelecida – ou, pelo menos, de não lhe fazer concessões.

No início dos anos 1950, Debord está no centro de um pequeno grupo de jovens que se empenham, na linha de certas vanguardas do início do século, a defender que a arte morreu enquanto entidade «separada», que a poesia deve Dora em diante passar a ser vida. Dada, pensam eles, quis suprimir a arte sem a realizar; o surrealismo quis realizar a arte sema suprimir; ora é este antagonismo que é preciso superar. Cada vida deve ser inventada e não sofrida; a cidade ( neste caso, Paris) é o território das «derivas», das aventuras ( daí o escândalo fomentado, por exemplo, contra Le Corbusier, responsável, segundo eles, de apoiar uma concepção de urbanismo visando a «destruir a rua»). O objectivoé criar situações – o que implica um desprezo para com a arte existente, e mais grealmente contra toda a cultura «alienada», separada da experiência directa. Quando muito pode-se agir na «decomposição» desta cultura, e imaginar ( com Lautréamont) nas técnicas que permitam subvertê-la….

Num segundo perído (correspondendo, de grosso modo, à passagem da Internacional letrista para a Internacional Situacionista), Debord vai muito claramente alargar o campo de acção – isto é, politizá-lo. A contestação à cultura desemboca logicamente na contestação à sociedade. O encontro com Marx era inevitável – ainda que se tratasse, no caso pendente, de um marxismo heterdoxo, nos antípodas do comunismo oficial ( para Debord e os seus amigos, foi a «contra-revolução» que triunfou no século XX, quando o Estado totalitário substituiu na Rússia o poder dos sovietes, ou quando os levantamento libertários da guerra civil espanhola foram esmagados pela burocracia estalinista).

No essencial, Debord apercebeu-se do segunte: a lógica da «mercadoria», que Marx tinha analisado, ligada ao sistema de produção, estendeu-se entretanto a todos os aspectos da vida quotidiana; o lado do «lazer», produzido pela evolução técnica, longe de suscitar liberdades acrescidas, redunda na expansão do espectáculo, propulsionando necessidades fictícias, renovadas sem cessar, e que submetem as nossas vidas a representações manipuladas e falsificadas, e que vão-se tornar na nossa relação com o mundo. É a época, para Debord, de novas cumplicidades internacionais, de alianças tácticas, traduzidas em «manifestos» ( o grupo não pára de se recompor) e também de uma intensa elaboração teórica – o levará tudo isto à edição em 1967 do livro decisivo que é A Sociedade do Espectáculo, implacável conjunto de textos impecavelmente escritos.

«O espectáculo – escreve Debord – não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediatizada pelas imagens»; «a sociedade do espectáculo» não é somente a hegemonia do modelo mediático ou publicitário, mas, para além disso, o «reinado autocrático da autonomia mercantil que acedeu a um estatuto de soberania irresponsável, e o conjunto de novas técnicas de governo que acompanham esse reinado». A sequência é conhecida: propagação subterrânea destas teses, a sua ramificação no meio estudantil de Strasbourg a Nanterre, para acabar com a explosão de Maio de 68, cujo espírito situacionista surge como o segredo vivo, irradiante, talvez menos por influência directa ( nomeadamente, na Sorbonne, sobre o Comité para a manutenção e defesa das ocupações), do que por inspiração difusa. É ele que vibra e que se ouve nos slogans, nos cartazes, nas inscrições murais que invadem as ruas.

A continuação é mais sombria. Debord, depressa, dá-se conta de que aquilo que inspirou arrisca-se, por extensão, a converter-se em lugar comum, ou seja, a ficar diluído numa contestação banalizada, conformista. Donde a dissolução da sua «Internacional» ( que nunca teve mais do que quinze elementos), o seu auto-encolhimento, os exílios voluntários ( nomeadamente em Itália, ocasião que lhe serviu para demonstrar a verdadeira natureza do «compromisso histórico» proposto pelos comunistas, e apontar, com um enorme lucidez, a manipulação e a infiltração das Brigadas Vermelhas pelo poder do Estado).

Dá-se então o encontro com um mecenas, Gérard Lebovici, cuja editora publicará os autores predilectos de Debord ( de Gracián a Orwell), e que consagrará um sala à difusão exclusiva dos seus filmes ( pois que toda a sua aventura será pontuada por uma singular actividade cinematigráfica, visando a destruir o espectáculo desde o seu interior, com as suas próprias armas subvertidas). Lebovici aparecerá assassinada certo dia em circunstância mal elucidadas. Debord, que se torna cada vez mais irredutível, cada vez mais isolado na sua radicalidade, no momento em que a maior parte dos jovens dos anos 60 aderem à ordem liberal estabelecida, consagrará os seus últimos esforços a ripostar às imagens ( caluniosas, muitas vezes) que são postas a circular da sua pessoa e das suas obras.

Empenhado numa escrita, simultaneamente clássica e subversiva, soberana, condensada, depurada, não hesitando ( recorde-se o prodigioso Panegírico) a evocar a sua própria experiência na primeira pessoa – não por narcissismo ( até porque o narcissismo +e também um dos ingredientes do espectacular ), mas antes para sugerir que a resistência ao mundo completamente mercantilizado obriga a afirmar, apesar dele e contra tudo, que uma outra forma de vida é possível para além da que nos é imposta.

O livro maior deste último período é, sem dúvida,os Comentários sobre a sociedade do espectáculo, com data de 1988, em que Debord alarga e aprofunda as suas análises de 1967, fazendo-nos um agudo diagnóstico quer sobre o mundo contenporâneo quer sobre os meios que permitam compreênde-lo. Um ano antes da queda do muro de Berlim, ele pressente que a oposição entre a forma «concentrada» do espectáculo (os regimes comunistas) e a sua forma «difusa» ( o capitalismo ocidental) está prestes a ser ultrapassada na forma de uma « espectacularidade integrada» que reinará sem rival em todo o planeta. Quais são os seus traços carecterísticos? A «renovação tecnológica incencessante» ( por exemplo, a imposição da mercadoria informática, convertendo todo o utilizaodr em cliente submisso); a «fusão económico-estatal» ( a absorção do Estado no mercado); o «segredo generalizado» ) as verdadeiras decisões são inacessíveis, o modelo mafioso triunfa na instância política); o «falso sem réplica» ( pela primeira vez, os mestres do mundo são também os das suas representações); o «presente perpétuo» ( abolição de toda a consciência histórica).

Tudo isso cria um universo de servidão voluntária sem rpecedentes ( a verdadeira novidade do espectáculo, segundo Debord, é «de ter podido levar uma geração a vergar-se às suas leis»): «Quem olhar sempre, para saber a continuação, nunca agirá, e esse será o espectador». O momento, como é evidente, não é para grandes utopias colectivas, pois o espectáculo tudo invadiu, absorveu tudo, incluindo as crítcas parcelares, localizadas do sistema, e que não produzem senão efeitos periféricos –não é mais possível recusar radicalmente este sistema: O que em Debord não exclui uma certa tonalidade de nostalgia: a regressão é tal, de ora avante, que pode ser revolucionário retomar certos aspectos do passado – aqueles justamente que o espectáculo neutralizou…

Em suma, um livro apaixonante, no qual se pode seguir o percurso de debord ao longo de todas as suas etapas – em que nenhuma renega as precedentes. Saliente-se a fulgurância de certos textos publiados, até agora inéditos, ou desaparecidos. Por exemplo: «Adresse aux révolutionnaires d’Álgerie», de 1965, na época do golpe de Houari Boummedienne que derrubou Bem Bella; ou aquele espantoso artigo de 1967 sobre a revolução cultural chinesa, analisada em todas as suas contradições; ou ainda, mais perto de nós, as «Notas inéditas sobre a questão dos imigrados» ( Dezembro de 1985) – em que Debord coloca a questão desarmante que é a de saber qual a integração que esperam os imigrantes no momento em que o espectáculo está em vias de americanizar o que resta da França…

Tantas análises precisas, clarividentes, antecipadoras, que não cedem ao lugar comum, em especial, ao estereótipo e à cegueira da esquerda conformista. Não se trata aqui de salientar o facto de Debord nunca ter manifestado a mínima condescendência para com o «campo socialista» ou as ditaduras do terceiro mundo; ou de interrogramo-mos porque é que nele a procura do ponto de vista mais revolucinário gera, em todos os assuntos, o máximo de inteligência e de lucidez.

A notar também o extraordinário interesse dos seus textos cinematográficos. Pois que se tratava, para ele, de destruir esse código a partir do seu interior ( rompendo com toda a fascinação espectacular, e sistematicamente dissocia a imagem e o som, afirmando o primado do pensamento sobre o «visual», frequentemente graças a imagens documentários ou a planos subvertidos), paraalém de que não é menos certo que os filmes de Debord ( principalmente a sua obra-prima que é «In girum imus nocte et consumimur igni) representam uma tentativa inaudita de projectar do lado da consciência ( histórica e subjectiva) uma arte votada em princípio ao seu esvaziamento. Daí que os seus filmes sejam simultaneamente ensaio, confissão, mediação e compreensão do mundo através das suas imagens e que não se comparam a quaisquer outros– a não ser, talvez, às últimas realizações de Jean-Luc Godard ( e não deixa de ser lamentável que qualquer diálogo não tenha havido entre ambos, que se detestavam cordialmente entre si). (2)

Certamente que é legítimo não aderir cegamente a tudo o Debord escreveu. Considerar excessiva e injusta, por exemplo, o seu repúdio a toda a arte e literatura do seu tempo – quando é nítido que é justamente toda a efevercênscia criativa do século XX que o espectáculo tende destruir, ou a tornar «ilegível». Ou ainda que não deixa de ser algo suspeito a tendência de Debord a desecadear, nos grupos em que esteve, rupturas, exclusões, epurações, visando até os que lhe eram mais próximos, apoucando a dimensão colectiva ( logo, política) das suas posições. Mas talvez isso não seja mais do que a consequência forçada da sua intransigência, da sua exigência quase absoluta de radicalidade – ele que sabia que todo o grupo subversivo deve prever que seja sucessivamente «enganado, provocado, infiltrado, manipulado, usurpado, revolvido».

É esta radicalidade, em suma, que permite que o pensamento de Debord hoje em dia seja o único a dar conta de forma crítica de todos os aspectos da mercantilização do mundo, e da «falsa consciência» que daí se alastrou. Por isso mesmo é que Debord permanece, não obstante todos os efeitos efémeros das modas que convertem o seu pensamento inofensivo, profundamente irrecuperável. «É notório – escreve ele – que em nenhuma parte fiz concessões às ideias dominantes da minha época». Essa é, na verdade, a grande lição que ele nos legou – e que é preciso saber, como ele fez, passar para as nossas vidas.



Autor do texto: Guy Scarpetta
Texto publicado no Le Monde Diplomatique de Agosto de 2006


(1) Guy Debord, Oeuvres, Gallimard,Paris, 2006: edição estabelecida e anotada por Jean-louis Rançon, com a colaboração de Alice Debord.
(2) A proximidade contraditória entre Debord e godar foi muito bem apontada por Cécile Guilbert ( «Pour Débord», Gallimard, Paris, 1996) num dos melhores ensaios jamais escritos a seu respeito.

5.8.06

O Movimento Slow ou o Elogio da Lentidão



Um movimento global está a desafiar o culto da velocidade!
Por que estamos sempre com pressa? Qual a solução para a falta de tempo?
É possível desacelerar e recuperar a qualidade de vida?
A pressa faz-nos passar ao de leve pelas coisas, sem as aprofundamente, sem realmente as entender.A cultura dominante diz-nos que mais rápido é melhor. Andamos tão apressados que tudo e todos os que nos atrasem se transformam no inimigo.
Enquanto não nos dermos conta de que o nosso ritmo é o ritmo da natureza, continuaremos como o Coelho de “Alice no País da Maravilhas”: de relógio na mão, atrasados, atrasados, atrasados. Sem tempo para tudo o que temos de fazer, sem tempo pessoal, num frenesim de actividades.
Carl Honoré, um jornalista canadiano, escreveu um livro, agora traduzido para português, sobre o movimento slow, já presente em vários países, e que desafia o culto da velocidade, mostrando que mais devagar é muitas vezes melhor.
O movimento Slow não defende fazer tudo a passo de caracol; significa viver melhor no frenético mundo moderno, encontrando um equilíbrio entre o rápido e o lento



Alguns websites ligados ao movimento slow :

Slowlondon

A group of young, dynamic urbanites who push the Slow creed in London with serious intent and a sense of humour. A number of public events are in the works, but in the meantime check out their splendid web site. It has tips on slowing down, links to like-minded groups, articles from the press, letters from Londoners, a commuter blogger and a dictionary of slow terms. There’s even an agony aunt called slowcoach. If only every city had a group like this. Now there’s an idea….
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One of the easiest and most pleasurable ways to slow down is with food, and this organization (80,000 members in 100 countries) is leading the charge. I visit the site to see what’s going on in the world of gastronomic slowness.
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Moving the Slow philosophy from the dinner table to the town hall. An offshoot of Slow Food that aims to take some of the excess speed and stress out of urban life. More than 30 Italian cities have been certified as "Slow," and the movement has spread into other countries, including Britain, Germany and Norway. One of my favourite Slow Cities is Orvieto in Umbria.
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New Urbanism

A movement dedicated to building North American neighborhoods that encourage walking and community spirit. My favourite New Urbanist development is Kentlands, a suburb near Gaithursburg MA in the US. If I ever return to North American suburbia (which is a pretty big ‘if’), this is the kind of neighbourhood I’d want to live in.
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Candle Night
http://candle-night.org/english/home.php

During the night of the summer solstice (June 21), people across Japan turn off the electricity for two hours. The idea is to do slow things by candle-light - read, eat together, meditate, whatever reconnets you with your inner tortoise.
Do something special--Read a book with your child by candlelight. Enjoy a quiet dinner with a special person.
This night can mean many things for many people.A time to save energy, to think about peace, to think about people in distant lands who share your planet.
Pulling the plug open the window to a new world.Awakens as to human freedom and diversity.
It is a process, finding a larger possibility of the human civilization.
By turning off lights for only two hours, we will be all loosely connected.
Let's make a "wave of darkness" spread over the globe together.
On the evening of Summer solstice, June 21st, for two hours from eight to ten p.m. Turn off the lights, take it slow.
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Journée de la Lenteur
http://journeelenteur.ca/

Montréal switches into tortoise mode on June 21, with loads of activities to help the locals slow down.
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The Society for the Deceleration of Time
http://zeitverein.com/

An Austrian-based group that promotes living, working and playing at the right pace. It has members all over central Europe. What I like best about them is their sense of humour. Sometimes they run speed-traps for pedestrians in city centres. Anyone caught walking too fast is pulled over and asked to explain their haste. The punishment is walking 50 metres while steering a tortoise marionette along the pavement. Most people love being stopped, and some even return later in the day to walk the tortoise a second time.
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You've heard of Speed Dating. Well, now the backlash has begun. Slow Dating has hit the ground running (slowly) in Montréal, Canada.
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Slow Life
http://slow-life.net/

Japan has a reputation as the home of speed, but the Japanese are coming round to the idea of slowness in a big way. This site is a good starting point for exploring the spread of the Slow movement in Japan.
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Diamond Light Tantra

We all laughed when Sting confessed to marathon Tantric sex sessions with his wife, but now couples of all ages are flocking to workshops to learn the art of slower love-making. Tantra is one way to decelerate in bed. I attended a Diamond Light workshop in London and, once I got over my inclination to giggle, found it quite moving.
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While researching my book, I met Alberto Vitale, a jet-setting web-designer from Bra, the headquarter city of Slow Food. He figured that what works at the dinner table might just work in the bedroom. So he became an apostle for erotic deceleration. This is his Italian-language site.
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Long Now Foundation

One consequence of our hurry-up culture is a collective inability to see beyond the short term. To make the case for slowness and for thinking long-term, this group, which has many members from the IT industry, builds large clocks that measure time over 10,000 years. I was bowled over by the one at the Science Museum in London.
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One of the most engaging characters I met on my journey through the Slow movement was Uwe Kliemt. A Hamburg-based pianist, he is a leading light in Tempo Giusto, a loosely-knit group of musicians who argue that we play a lot of classical music too fast. I still listen to his slower renditions of Mozart and Beethoven. This is his site, parts of which are in English.
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The Sink

Wendel Messer, a driving instructor with a wry sense of humour, has written a novel satirizing Canadian driving culture – the mindless hurry, the rage. This is his site.
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International Meditation Centres

Learning how to still the mind is a big part of slowing down. I find meditation immensely relaxing. It also clears the head and gets the creative juices flowing during the workday. There are six IMC branches around the world, each offering retreats where anyone can learn Buddhist meditation. I attended the one in Wiltshire, England.
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Not all meditation comes with religious baggage. Over five million people worldwide use TM, including a couple of my friends, who swear by it.
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People all over the world are setting up personal websites to decry rushaholism and sing the praises of slowness. This is one of the more amusing ones. It also has a chat forum. It is the brainchild of an Englishman who lives in the U.S.
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So many children nowadays are hurried and over-scheduled. Some of my son’s classmates have diaries that would make a CEO go weak at the knees. This is one of many organizations that are helping parents help their children slow down and have more free time.
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Slow Now

Even outside the traditional Western world, people are waking up to the folly of relentless speed and busyness. This Warsaw-based group is bursting with ideas for how to promote the Slow movement in Poland. It also has an English-language chat forum.
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Part of slowing down is rethinking the way we make and interact with things, and how that affects our relationship with other people and the environment. This is a New York-based network of creative thinkers who apply the Slow philosophy to all aspects of design.
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ho says business can’t be Slow? Removing unnecessary hurry from the workplace can cut down on mistakes, boost creative thinking and raise productivity. This Toronto-based group promotes the idea that slowness has a role to play in the business world.
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An Italian organization that promotes the joys of living better by living more slowly.
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In October 2004, Canberra held its first Slow Festival. For a whole week, the Australian city played host to lunches, debates, concerts, walks, workshops and art exhibitions dedicated to exploring the benefits of deceleration. The plan is to make the festival an annual event. This is the official site.
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In a speech at The Royal Academy of Arts in London, Robert Hughes, the Time magazine critic, called for art that delivers more than just a quick thrill.
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Woody Tasch, a leading ethical investor, applies the Slow philosophy to business and the financial markets.
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A group dedicated to helping Australians rediscover their inner tortoise. Runs workshops on the art of slowing down in every walk of life, from parenting to working.
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A site all about escaping the rat race in Australia.
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Researchers are beginning to see the merits of taking their time in the hunt for data and trends.
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Longplayer is a piece of music that will run for 1,000 years. It started to play on January 1st, 2000 in London. You can read about and listen to the music on this site.
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A fascinating search for ways to bring the Slow ethos into the corporate boardroom.
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Ohad Fishof has turned walking very slowly into performance art. To celebrate the fifth anniversary of Longplayer (see other link), he crossed London Bridge at a glacial pace – it took him nine hours, 43 minutes and 25 seconds. I chatted with him on his lunch break. He told me that he plans to carry out Slow Walks in other cities around the world.
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As a leading proponent of downshifting, Tracey Smith writes, broadcasts and raises chickens. She is the driving force behind the annual National Downshifting Weeks in Britain and the United States.
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Laura Williams is a young English artist with a big idea. She plans to build the world’s first tidal-powered Moon Clock. Her aim is to make us rethink our relationship with time and the natural world.
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An international festival featuring one-minute films shot in slow-motion. The aim is to create meditative art that encourages viewers stop and smell the roses and experience time in a less hurried way.
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The name says it all. Based in British Columbia, this party calls on everyone to work less, consume less and live more. It even runs candidates in local elections.
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Slowing down and simplifying your life are often two sides of the same coin. This site is a gateway to the world of "voluntary simplicity."
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This is a nifty invention - a watch with variable speeds. The original purpose was to offer a gentle transition between time zones for international travelers. But the inventor tells me it has other uses in daily life: "You can use the watch to speed up time during a dull party or slow it down to prolong a pleasurable experience."
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An international foundation that works to improve the lot of under-privileged children, especially in developing countries. Its community projects make a real difference on the ground. I have never forgotten the months I spent working at a Terre Des Hommes centre for street children in Fortaleza, Brazil. We helped the kids create a shoe-shine cooperative.



Festivais/Festas que dá gosto e vontade em participar…

«Minha aldeia é todo o mundo.Todo o mundo me pertence. Aqui me encontro, e me confundo com gente de todo o mundo, que a todo o mundo pertence.»
António Gedeão


Sem prejudicar a nossa resolução de suspender a actualização do blog nos próximos tempos – e como não há regra sem excepção – inserimos alguns novos posts que consideramos oportunos ( por respeito aos amigos, companheiros e leitores que fazem questão de nos ler e acompanhar). É o caso deste que remete para um conjunto de festas e festivais de carácter alternativo que se realizam nesta altura do ano.

Na verdade, na avalanche massificadora de espectáculos e festivais para todos os gostos e feitios durante este mês de Agosto com óbvios efeitos turísitco-comerciais, ainda há iniciativas que dá gosto e em que vale a pena participar e assistir, para quem decida sair do seu local habitual de residência e sondar outros horizontes e ambientes.
Sem ser exaustivo indicamos aqui umas pistas para algumas Festivais/festas de carácter alternativo ao longo do mês de Agosto de 2006:


*** Festival Altitudes (em Campo Benfeito, Gosende, na Serra do Montemuro), organizado pelo Teatro Montemuro – 12 a 20 Agosto
Ver:
http://lobosnofojo.blogspot.com/


*** Festa das artes em Uzeste (15 a 20 de Agosto), Occitânia (sul de França, perto de Bordéus)
Ver
aqui



* Festival du bout su monde (Festival do fim do mundo), na Bretanha – 11 – 13 de Agosto
Ver
aqui




* Festival de Sziget, numa ilha a meio do Danúbio, perto de Budapeste, Hungria - 9 a 16 agosto
Ver:
http://www.sziget.hu/festival_english


* Boom festival ( 3 a 9 de Agosto) – em Idanha-a-Nova ( perto da cidade de Castelo Branco)
O Boom Festival é um festival de música trance realizado em Portugal durante o Verão. O festival tem evoluido, ao longo das últimas edições, para um espectáculo da áudio e visual com várias workshops, inédito no país e mesmo a nível internacional.
Ver:
http://www.boomfestival.org/boom2006/index.html



** Intercéltico de Sendim ( em Miranda do Douro, Trás-os-Montes)
(de 3 a 7 de Agosto)
Ver:
http://www.intercelticosendim.com/

* Festival de Teatro Clássico de Mérida ( 6 a 15 de Agosto)
Ver:
http://www.festivaldemerida.es/


**Andanças - Festival internacional de danças populares ( 31 de Julho a 6 de Agosto), em Carvalhais, S.Pedro do Sul
Ver
aqui


**Festas Populares de Madrid – festas populares durantes o mês de Agosto na região metropolitana de Madrid.
Ver:
http://www.fiestas-de-madrid.com/





Festival Altitudes
(em Campo Benfeito, Gosende, na Serra do Montemuro),
organizado pelo Teatro Montemuro – 12 a 20 Agosto


PROGRAMA
12 Sábado

15h Atelier de Lanternas, Helen Ainsworth
21h Caminhada de Lanternas Abertura Oficial Com a Música de Abelhões
22h Trechos Trovas e Trogloditas, Teatro Montemuro


13 Domingo0
9h30 Encontro de Pintura e Escultura
15h Atelier de Didgeridoo, Rodrigo Viterbo
17h Toques do Caramulo
21h30 Kansera, Teatro Mínimo
23h Tucanas


14 Segunda
15h Atelier de Didgeridoo, Rodrigo Viterbo
21h As Desventuras de Isabella, Casa da Comédia


15 Terça
15h Atelier de Percussão para Crianças, Kula
21h30 A viúva Astuta, Teatro Ao Largo
23h Lufa Lufa “Foledad”


16 Quarta15h Atelier de Percussão para Crianças, Kula
21h30 Clean Clown, Peripécia Teatro


17 Quinta
15h Atelier Cor da Madeira, Quiné
21h30 Babine o Parvo, Teatro Art´Imagem


18 Sexta
15h Atelier Cor da Madeira, Quiné
21h30 Gente Feliz com Lágrimas, Teatro O Bando
23h Orquestrinha do Terro


r19 Sábado
10h Atelier Cor da Madeira, Quiné
21h30 Don Quixote, Chapitô


20 Domingo1
5h Atelier Cor da Madeira, Quiné
17h Espectáculo Cor da Madeira resultante do Atelier
21h A Gargalhada de Yorick, Teatro Instável
23h Uxu Kalhus


www.teatrodomontemuro.com
www.lobosnofojo.blogspot.com

Travessa Principal nº1 Campo Benfeito 3600-371 Gosende
Perguntas ou comentários?
Envie-nos uma mensagem de correio electrónico para
teatromontemuro@gmail.com
ou
montemuro@mail.telepac.pt
ou ligue para
254 689 352 / 597





Festa das artes em Uzeste (15 a 20 de Agosto)
Festival convivial de artes, artistas e cidadãos em-jazz, e uma manifestação poiélítica numa pequena aldeia occitana (na actual Gironde francesa), a meio caminho entre Bordéus e Agen.

Participantes: La Compagnie Lubat de Gasconha, Marc Perrone, Edouard Glissant, Georges Didi Huberman, Benat Achiary,
Ursus Minor, Stokley Williams, Tony Hymas, Jef Lee Johnson, François Corneloup, Monique Chemillier-Gendreau, La Campagnie des Musiques à Ouïr, Pascal Convert, Michel Portal, Francis Marmande, Louis Sclavis, Régine Chopinot...

Info aqui





Festival du bout su monde (Festival do fim do mundo), na Bretanha – 11 – 13 de Agosto
Realiza-se num local chamado landaouedc ( a meio caminho entre Brest e Quimper, na Bretanha: a 60 Km de Brest e a 60Km de Quimper)
Info:
www.festivalduboutdumonde.com/2006/pages/accueil3.htm


Programa

Vendredi 11 Août / A partir de 18 h
Robert Plant & the Strange Sensation - Grande-Bretagne

Ismaël Lô - Sénégal

Zita Swoon - Belgique
Goran Bregovic & l'Orchestre des Mariages & des Enterrements - Serbie

David Walters - Caraïbe / France

Gayane - Bretagne


Samedi 12 Août / A partir de 14 h 30

Steel Pulse - Grande-Bretagne

Souad Massi - Algérie

Paco Ibañez - Pays Basque / Espagne

Alan Stivell - Bretagne

Cheikh Lô - Sénégal

Danyel Waro - La Réunion

Amparanoïa - Espagne

Anis - France

Lila Downs - Mexique

Dupain - Marseille

Bonga - Angola

Lura - Cap Vert



Dimanche 13 Août / A partir de 14 h 30

Hubert Félix Thiefaine - France

Johnny Clegg - Afrique du Sud

Benabar - France

Rossy - Madagascar

Dub Incorporation - France

Mahala Raï Banda - Roumanie

Lo'Jo - France

Da Silva - France

Egschilglen - Mongolie

Jehro - France

Norkst - Bretagne

Enzo Avitabile & Bottari - Naples / Italie




Boom festival ( 3 a 9 de Agosto) – em Idanha-a-Nova ( perto da cidade de Castelo Branco)


Info:
http://www.boomfestival.org/boom2006/index.html

Boom Festival is a global art, music and culture gathering held every two years in Portugal’s sun-drenched countryside in a stunning outdoor location on the shore of the Lake Idanha-a-Nova.
Bringing together the latest in psychedelic audio and visuals, art installations and workshops this week-long event is a harmonic convergence of people, energy, information and philosophies from around planet Earth and beyond.
Synchronized multi-dimensionally with the full moon of August the next incarnation of the Boom is taking a bio-dynamic approach by incorporating a variety of sustainable techniques and Earth-based forms throughout its infrastructure.
Reflecting a harmonic balance of the organic and the cyber-technologic, Boom 06 maps the metaphysical framework in accordance with Peace, Love, Unity and Respect.
The tone is set for a transformative experience in celebration of the perpetual cycle creation and re-creation - from the Beginning of the Whole to the Eschaton.
Boom “city” is located at an unspoilt ranch on the shores of the amazing lake of Idanha-a-Nova. Boom “city” stretches for about 3km of the lake’s shore. So you can learn, dance, enjoy and swim simultaneously.
Set amongst the beautiful surroundings of the central north of Portugal, Idanha-a-nova village is just a few kilometres away from the lake.
A magic place filled with energy ready to become the active centre of the psy-community and ready to support the Boom “city”.
This magnificent place is characterized by its biggest asset: billions of fresh crystal clear water. This mountain top lake serves as a mirror to the sky’s full moon and also as a guarantee for the survival of the local agriculture and delicate nature. Granted the honour of being part of Natura 2000. Surrounded by endless fields and cork trees.
Historically this is the region with the oldest Portuguese culture. From the Boom location you can see in the horizon the oldest village in Portugal, Monsanto just 15 km away.
Idanha-a-Nova (a village with about 3000 residents) is 50 km from the Spanish border and 35 km from the city of Castelo Branco in Portugal. The Boom location is (by car) 288 km from the capital of Portugal, Lisbon.



Intercéltico de Sendim ( em Miranda do Douro, Trás-os-Montes)
(de 3 a 7 de Agosto)

Ver:
www.intercelticosendim.com/

Programa

Sexta, 4 de Agosto
Célio Pires (Miranda, Portugal)
Hexacorde (Castela-Leão)
Lunasa (Irlanda)

Sábado, 5 de Agosto
Mielotxin (Navarra)
Berroguetto (Galiza)
Hevia (Astúrias)
DRD (Astúrias


Ver:
http://www.gaitadefoles.net/noticias/intersendim2006.htm


Os irlandeses Lunasa são um dos regressos mais aguardados em Portugal.Em Sendim, no Planalto Mirandês, realiza-se pela sétima vez o Festival Intercéltico de Sendim, de 3 a 6 de Agosto.Para a edição de 2006, a programação surge com uma novidade; desta vez, o festival começa em Espanha, na localidade de Fermoselle, fazendo uma homenagem às relações transfronteiriças que sempre marcam a cultura dos povos da Raia - de que Miranda do Douro é um exemplo. Desde tempos que já se perdem nas memórias dos mais velhos, que as gentes de ambas as localidades se encontram regularmente, partilhando vivências e convívios. E sempre se estabeleceram entre ambas as comunidades as mais diversas relações económicas, culturais e sociais, potenciadas pela proximidade física (ambas se encontram em pleno coração das Arribas do Douro, no Parque Natural do Douro Internacional). No cartaz deste ano o prato forte são os grupos musicais provenientes de Espanha e da Irlanda: Tamborileiros de Fermoselle (Sayago); DRD (Astúrias); Célio Pires (Miranda, Portugal); Hexacorde (Castela-Leão); Lunasa (Irlanda); Mielotxin (Navarra); Berroguetto (Galiza) e Hevia (Astúrias).


Lunasa (Irlanda)Sexta, 4 de Agosto - Parque das Eiras
A partir de 2002, ano da edição do álbum Merry Sisters of Fate (gravado e editado pela Green Linnet, este disco foi premiado pela Association for Independent Music, sediado nos USA, como melhor álbum na categoria de “British/Celtic Music”), os Lúnasa passaram a editar com satisfatória regularidade os seus trabalhos discográficos, seguindo-se, em 2003, Redwood, que foi concebido em Outubro de 2001, durante a estadia do grupo num rancho californiano, pertencente a Matt Greenhill. A ideia era simples: documentar o impacto das actuações ao vivo na música do grupo. Este trabalho ficaria marcado por uma série de problemas com a editora norte-americana, a Green Linnet, tendo surgido com três edições: pela Green Linnet, por uma editora japonesa e pelo próprio grupo (na Compass Records), sendo esta ultima a versão que continua disponível.Entretanto, em 2004, seria publicado o extraordinário álbum The Kinnity Sessions, gravado no Kinnitty Castle (County Offaly), em Dezembro de 2003, a o vivo (para um publico convidado), mas tendo sido apagado para a edição final tudo quanto indiciasse tratar-se de um álbum gravado ao vivo. Trata-se de um trabalho que continua a fazer jus ao nome escolhido – que designa, também, em gaélico, o nome do mês de Agosto. Lugh, heróico guerreiro, poderoso mágico e deus solar, era também um excelente músico que, na harpa, executava com divinal mestria, as três melodias fundamentais da música irlandesa: melodias para chorar, melodias para adormecer e melodias para alegrar. Pelo que não surpreendem nem pecam por exageradas a palavras de apresentação insertas neste The Kinnitty Sessions: Preparem-se para experimentar a radical reinvenção da música tradicional irlandesa na sua forma mais pura – nada de overdubs, de truques de estúdio. Gravado na presença de um auditório de convidados no interior das supostamente assombradas paredes do Kinnitty Castle, na Irlanda. The Kinnitty Sessions documenta um grupo no auge dos seus poderes. Com a imaculada fidelidade de um álbum de estúdio e a tempestuosa intensidade do ambiente de um concerto, o virtuosismo instrumental, arranjos intrincados e a energia rítmica que definem Lúnasa, que foram elevados a um nível de urgência e de ousadia. Trata-se do seu mais dinâmico e imediato álbum: quem ainda não ouviu The Kinnitty Sessions ainda não ouviu, verdadeiramente, os Lúnasa!Entretanto, em Dezembro de 2004, Donog Hennessy saiu para trabalhar num projecto com Pauline Scanlon (ex-Sharon Shannon Band), sendo substituído por Paul Meehan, um guitarrista e tocador de banjo, natural de Middletown (County Armagh), que integrou a Karan Casey Band (criada pela cantora após a sua saída dos Solas). Paul Meehan participou na gravação dos dois primeiros álbuns do grupo North Cregg, tendo ainda colaborado com muitos outros artistas da folk. Finalmente (que não em definitivo!...), em Fevereiro de 2006 foi publicado o sexto álbum do grupo, intitulado Sé, um trabalho gravado em Amberville (Cullybacky, Irlanda do Norte) e nos Marguerite Studios (Dublin), com produção de Trevor Hutchinson e colaborações de Tim Edey (guitarra), Conor Brady, Pat Fitzgerald (teclados) e Karl Ronan (trombone).


Festivais e Encontros no Reino Unido:



*The Big Green Gathering ( 2 a 6 de Agosto), na Inglaterra
"The Big Green Gathering is for people who care about health, the environment, sustainability, our children's future and life in general. It is a celebration of our natural world and our place within it."
Ver:
www.big-green-gathering.com


* Earth First! Summer Gathering ( 16 a 20 de Agosto) no País de Gales

For anyone interested in direct action for people and planet. This is not a festival but a chance to meet, discuss and plan.
Food provided by Anarchist Teapot - 3 vegan meals for £4 a day. £15 to pay for running costs. There will be talks, stalls, workshops, kids space, teens space, camping areas. No dogs. If you would like to help with the gathering, give workshops, etc contact soon.

Para mais info:
www.earthfirstgathering.org.uk
email
efgathering@aktivix.org
phone 0845 223 5254



*Westcountry Storytelling Festival ( 27 a 29 de Agosto) – festival de contadores de histórias (Once upon a time in Devon... discover) the lost art of storytelling,
Ver:
www.weststoryfest.co.uk


Para mais informações, consultar:

www.londonfreelist.com (o roteiro de Londres)
www.festivals.co.uk ( festivais no Reino Unido)
www.thefestivalzone.com ( festivais em toda a Europa)
www.frootsmag.com/content/festivals ( festivais de música étnica e folk)
www.campscene-directory.co.uk ( festas e festivais hippies)
www.protest.net ( manifs e acções em todo o mundo)