16.5.08

Dia internacional das histórias de vida (16 de Maio): um dia para celebrar a importância de compartilhar histórias de vida!


http://www.museu-da-pessoa.net/
(em Portugal)

http://www.museudapessoa.net/


Em nome da Rede Internacional de Museus da Pessoa (Brasil, Portugal, EUA e Canadá) e do Center for Digital Storytelling (EUA) foi lançado um apelo para se apoiar o Dia Internacional de Histórias de Vida, que acontece hoje, dia 16 de Maio de 2008. O dia será uma oportunidade para que pessoas de todo o mundo se encontrem em locais públicos, praças, salas de aula, teatros ou até mesmo em ambientes virtuais para compartilhar as suas histórias de vida uns com os outros.


Trata-se de um movimento internacional de pessoas e organizações que acreditam que ouvir, coleccionar e compartilhar histórias de vida, são parte de um processo crítico para a democratização da cultura e promoção da transformação social. Queremos que este dia seja especialmente dedicado à celebração e à promoção de projectos voltados à preservação das memórias e histórias de vida, que tenham provocado mudanças em bairros, comunidades e na sociedade como um todo.


Encorajamos a participação no Dia Internacional de Histórias de Vida de diversas formas, por meio da promoção ou presença em eventos, a criação de Círculos de histórias em locais públicos, escolas, casas, centros comunitários, ambientes virtuais etc.;


• Espaços abertos para performances diversas para se contarem histórias;


• Exposições de histórias de vida em locais públicos utilizando os mais diversos formatos (fotografias, textos, vídeos, áudios, etc.);


• Eventos homenageando contadores de histórias locais, mestres da cultura popular, griôs, além de organizações e projetos de memória e histórias de vida;• Promoção de eventos diversos abertos ao público que tenham como base o compartilhamento de histórias de vida;


• Reuniões virtuais simultâneas para promoção de trocas de histórias de vida;


• Difusão de histórias de vida e de documentários sobre histórias orais e temas relacionados nos mais diversos meios de comunicação: jornais, revistas, rádios, televisão etc.;


. Se você quiser apoiar esta idéia, por favor, escreva para internacional@museudapessoa.net.

O Museu da Pessoa é uma rede internacional de museus virtuais de histórias de vida, localizados no Brasil, Canadá, Portugal e EUA


A sua missão é contribuir para que a história de vida de cada pessoa seja valorizada pela sociedade.Center for Digital Storytelling


O Center for Digital Storytelling é uma organização sem fins lucrativos, que trabalha auxiliando pessoas a contarem histórias significativas de suas vidas usando medias digitais. Com sede em Berkeley, na Califórnia, desenvolve projectos e realiza pesquisas em comunidades, escolas e empresas, utilizando a metodologia e os princípios do Workshop de Histórias Digitais – Digital Storytelling.


Para conhecer as organizações e pessoas que já apoiam o Dia Internacional de Histórias de Vida, clique aqui em Endorsements. Se você tem dúvidas, comentários ou quer declarar seu apoio ao Dia Internacional de Histórias de Vida, preencha o formulário em Contact ou escreva diretamente para internacional@museudapessoa.net.




Video Promocional do Dia Internacional de Histórias de Vida

O espírito libertário de Maio de 68




Artigo de Tito Cardoso e Cunha*

Publicado na edição de 7 de Maio de 2008 do JL, Jornal das Letras, Artes e Ideias, que contém um dossier sobre os acontecimentos de Maio de 1968

http://www.bloguedeletras.blogspot.com/



Um novo espírito libertário


por Tito Cardoso e Cunha

Maio 68 foi certamente um acontecimento relevante, antes do mais para os franceses, mas foi também e sobretudo um sintoma de toda uma época e do ar do tempo que então se respirava. A francofonia era nesse tempo, particularmente entre nós, uma área cultural de grande influência e que delimitava os interesses e a atenção de sectores sociais com grande visibilidade politica e cultural.


Passados 40 anos, a francofonia não ocupa mais esse lugar, o que torna possível, hoje, reavaliar e recentrar a relevância daquilo de que Maio 68 foi sintoma. E foi sintoma sobretudo do estado de espírito de uma geração, nascida imediatamente depois da guerra e que se confrontava com uma cultura tradicionalmente patriarcal e autoritária. Nuns casos mais do que noutros. Mais entre nós, que vivíamos em ditadura, esquecido que tinha sido, pelos aliados, o ímpeto libertador anti-fascista no fim das hostilidades, em nome da nova guerra fria.

Maio 68 foi o sintoma sobretudo de um novo espírito libertário e anti autoritário que se exprimira também filosoficamente num existencialismo como o sartriano para o qual Maio representou, a nosso ver, o apogeu e simultaneamente o canto do cisne.

Com a sua filosofia libertária, decifrando a existência como um constante exercício da escolha livre do indivíduo, único responsável de si mesmo, Sartre tinha fornecido o background ideológico que iria lançar toda uma geração ao assalto das autoridades e dos seus dispositivos de obediência. Tudo o que vem a seguir, pelo menos em França, Foucault, Barthes, Levy-Strauss, Althusser, etc., já pertence a um outro mundo então nascente.

Hoje, à distância de 40 anos, torna-se no entanto claro que o sintoma Maio 68 foi apenas um elo numa cadeia mais vasta do que aquilo que o etnocentrismo francês poderia fazer crer. Maio 68 começou muito antes e muito longe dos acontecimentos parisienses. Mesmo entre nós que, não nos esqueçamos, vivíamos sob o então mais feroz e simultaneamente mais serôdio dos autoritarismos europeus, a geração do pós- -guerra já tinha iniciado a sua luta seis anos antes, na chamada crise académica de 1962, com todos os seus prolongamentos até 1968-69, em Coimbra. Aí se atingiram níveis de combatividade raramente até então conhecidos com a ocupação policial da Universidade e a greve aos exames.

A nível global não se pode esquecer o que pouco antes, em 1964, se passava na distante Califórnia, então governada pelo conservador Ronald Regan. Aquele que ficou conhecido como Free Speech Movement, desencadeou na sua Universidade, em Berkeley, uma luta pela liberdade de expressão contra o autoritarismo universitário conservador que deixou marcas e teve repercussões em quase todo o mundo estudantil da época. A guerra do Vietnam, então no auge, viria a ser, também na Europa, o leit motiv de todas as reivindicações anti-autoritárias. Era igualmente na Califórnia, bem perto de Berkeley, na cidade de San Francisco, contemporaneamente a Maio 68, que florescia o movimento hippy, na esteira e no lugar de eleição da sua antecedente beat generation.

Mesmo na Europa, Paris não foi o único centro da batalha. Na Alemanha as universidades também se mobilizavam contra os autoritarismos, nomeadamente em torno do emblemático Rudi Dutschke e fazendo circular entre fronteiras personalidades igualmente emblemáticas, como Sartre ou Cohn-Bendit. Sem esquecer, naturalmente, outros nomes de referência como um Herbert Marcuse, este fazendo a ponte entre a Califórnia e a Alemanha, passando pelo resto da Europa.

Foi da Alemanha que saiu também uma das consequências mais gravosas de todo esse movimento geracional, sob a forma militarizada da Rote Armee Fraktion (RAF). Não único, aliás, porque contemporâneas são ainda as Brigate Rosse italianas, se não mesmo a ETA basca, na sua fase anti-franquista.

Uma referência caberá também aos Weather Underground que nesse terreno privilegiado da Califórnia então representaram uma vontade mais violenta de afrontar o establishment e que ainda hoje alguns dissabores causam, ao que parece, à candidatura do senador Barak Obama.
Outros casos houve na Europa, no mesmo ano de 1968, de que pouco se fala, mas cujas consequências ainda hoje persistem e estão activas. É o caso da Bélgica, onde a crise académica de 68, em torno da Universidade de Lovaina, tomou contornos de início semelhantes a todo o restante movimento geracional mas, com o andar dos tempos, inscreveu-se na main stream politics ao ponto de poder ser hoje vista como um momento chave na história da reivindicação nacional(ista) flamenga.

Nessa época, outros fenómenos mais longínquos não deixavam de ter algum eco no espírito combativo e reivindicativo do(s) movimento(s). Era o caso do que se passava, por exemplo, em África com as lutas anti-coloniais, na América Latina com o guevarismo e até no mais que longínquo Império do Meio com a celebrada Grande Revolução Cultural Proletária, então percebida como uma manifestação de anti-autoritarismo em que a juventude rebelde partia ao assalto do quartel general, na florida linguagem dos «guardas vermelhos», guiados pela estátua impávida do Grande Timoneiro.

Tudo isto de certo modo estava presente e se confundia no Paris de Maio 68, bem como em todos os outros campos da batalha anti-autoritária que então percorria o mundo e muito especialmente, se não mesmo exclusivamente, os campus universitários.

Tudo era também sintoma de uma mutação fundamental no campo político da esquerda saído da II Guerra Mundial, pelo menos no que diz respeito ao espaço europeu. De uma esquerda hegemonizada pelos partidos comunistas no imediato pós-guerra, a baby boom generation iria, nos anos 60, fragmentar esse espaço politico sobretudo sob influência de um certo espírito libertário. No então chamado Bloco de Leste, o acontecimento mais emblemático foi certamente Praga 68, que só veio reforçar ainda mais a referida fragmentação politica à esquerda.

A prevalência da atitude crítica não era apenas no campo politico que se fazia sentir. Também culturalmente as correntes libertárias fortemente se manifestavam. O então chamado Internacional Situacionismo, com Guy Debord como figura carismática, teve uma influência relevante no espírito de Maio e mesmo entre nós também.

Os mais célebres slogans que Paris consagrou, como por exemplo «É proibido proibir!» ou «Sejam realistas, peçam o impossível!», reflectiam de algum modo um estado de espírito que abarcava domínios do quotidiano, não propriamente políticos no sentido estreito do termo, como sejam a famosa «revolução sexual», civilizacionalmente permitida e induzida pela descoberta e generalização dos meios contraceptivos e o surgimento dos feminismos, americanos e europeus, onde a figura de Simone de Beauvoir, muito apoiada no pensamento sartriano, desempenhou um papel de relevo com o seu célebre Deuxième Sexe.

Sendo os campus universitários, na Europa como nos Estados Unidos, um terreno privilegiado para toda essa agitação que percorre os anos 60, a própria instituição universitária se posicionava como alvo central da inquietação estudantil, bem como da sua atitude crítica. A organização interna das academias, estruturada em torno do chamado mandarinato, sofreu um inevitável abanão. Nada, no entanto, que não lhe tenha sido permitido recuperar posteriormente, até por via dos mais jovens lobos que a vieram a integrar.

Aliás, de alguma pertinência é hoje a pergunta inevitável sobre o que dos anos 60 vai restando. Poderá haver quem se lamente do afastamento da juventude relativamente a um certo empenhamento social e politico que então era proverbial. Nada disso poderá ser motivo de espanto. Cada geração só pode recordar e de algum modo integrar o que constitui a sua experiência vivida. E as vivências são sempre diferentes de geração para geração. O que para uns foi profundamente existencial para outros é apenas História e as duas coisas não são o mesmo.

Algumas diferenças existenciais são profundamente marcantes. Os que nos anos 60 eram jovens e frequentavam as universidades (muito antes da explosão demográfica que mais tarde teve lugar, particularmente entre nós) sabiam que nenhuma incerteza de fundo lhes toldava o horizonte. É claro que corriam riscos. No caso português, a prisão fora de qualquer protecção legal séria, as incertezas do exílio ou a guerra colonial que já então se percebia estar condenada ao desastre, eram ameaças muito reais. Mas, de uma maneira geral, o jovem universitário sabia que mais cedo ou mais tarde, com as suas qualificações, a vida lhe asseguraria uma estabilidade reconfortante e muito provavelmente no domínio de actividade da sua eleição.

Bem diferente será a situação actual. Para os jovens de hoje a liberdade é já de tal modo adquirida que nenhuma resistência se lhe opõe. O problema deixou de ser esse, em qualquer das formulações que nos anos 60 ele tinha, político, artístico, sexual ou outro. Em contrapartida, o horizonte é que se fechou. Em liberdade mas sem perspectivas numa vida condenada à precariedade, ao provisório, à instabilidade em contraste com os seus maiores que, porventura sem liberdade, tinham mesmo assim como horizonte a perspectiva securizante de um destino que eles próprios poderiam construir. É isso que hoje falha. A ansiedade, não pela falta de liberdade, mas pela falta de futuro, que era o que antes abundava, terá necessariamente consequências gravosas em termos políticos e até civilizacionais. Quais elas venham a ser, ignoramos. Mas podemos vir a esperar o pior.

Um outro aspecto faz divergir radicalmente a situação actual do que então se experimentava no quotidiano. Em 1968 ainda eram os jornais o principal meio de comunicação social. Os movimentos estudantis exprimiam-se sobretudo através da escrita, se bem que a rádio tivesse tido algum papel no caso parisiense. Mas a rádio era então um meio de comunicação de controle sobretudo governamental e a televisão, se bem que já existisse, não tinha ainda a proeminência que veio a ter. Pode-se imaginar o que teria sido todo esse movimento sob o império do lixo televisivo tal como hoje a conhecemos: um imenso reality show maximamente espectacularizado.

Quando se tenta hoje em dia interrogar o alheamento da juventude, dever-se-ia também ter em mente esse império televisual que quotidianamente manieta os espíritos. Se, como diz Niklas Luhman, «o que sabemos acerca da nossa sociedade , ou mesmo o mundo em que vivemos, sabemo-lo através dos meios de comunicação de massa»1 (mormente da televisão, poder-se-ia acrescentar), compreende-se que a mentalidade reinante seja feita de alheamento e fait divers, porque é esse o enquadramento do real que tais meios nos comunicam. l

*Prof. da Un. de Coimbra, Nova Lisboa e actualmente da Beira Interior. Doutorado em Lovaina com a tese "Estrutura e Existência"

Notas: (1)Niklas Luhman, The Reality of The Mass Media. Stanford University Press, 2000.

Para Einstein a religião é um «produto da debilidade humana» e a biblía não era mais que uma recolha de «lendas infantis»

Numa carta até agora pouco conhecida, Albert Einstein, o célebre cientista que foi autor da teoria da relatividade, confessa que para ele a religião se baseia em lendas «bastante infantis» e que é um «produto da debilidade humana». A carta tem data de 3 de Janeiro de1954 e está escrita em alemão, uma vez que é dirigida ao filósofo Eric Gutkind.

Com pais judeus, Einstein foi educado, no entanto, num colégio católico onde tinha aulas particulares sobre a religião judaica. Durante a infância, Einstein levava a sério as suas obrigações religiosas, que começou a questionar quando cumpriu os seus 12 anos, idade a partir da qual questiona o judaísmo e rejeita a pretensa superioridade do povo judeu que o judaísmo pregava.

Einstein escreveu ainda: «Para mim, a religião judaica, como as outras religiões, é uma incarnação das superstições mais infantis», e acrescenta, «o povo judeu, que gosto de pertencer e com quem tenho uma profunda afinidade, não tem nenhuma outra qualidade que não tenham os outros povos. Pelo que a minha experiência me diz, não são melhores que os outros grupos humanos, apesar de estarem protegidos dos piores males em resultado da sua falta de poder. Além disso, não vejo neles não vestígio de serem o povo eleito.»

A carta foi escrita pouco mais de uma ano antes da sua morte.


Informação recolhida do jornal The Guardian:
aqui

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Reprodução integral do artigo original publicado no The Guardian:

Childish superstition: Einstein's letter makes view of religion relatively clear

Science without religion is lame, religion without science is blind." So said Albert Einstein, and his famous aphorism has been the source of endless debate between believers and non-believers wanting to claim the greatest scientist of the 20th century as their own.

A little known letter written by him, however, may help to settle the argument - or at least provoke further controversy about his views.

Due to be auctioned this week in London after being in a private collection for more than 50 years, the document leaves no doubt that the theoretical physicist was no supporter of religious beliefs, which he regarded as "childish superstitions".

Einstein penned the letter on January 3 1954 to the philosopher Eric Gutkind who had sent him a copy of his book Choose Life: The Biblical Call to Revolt. The letter went on public sale a year later and has remained in private hands ever since.

In the letter, he states: "The word god is for me nothing more than the expression and product of human weaknesses, the Bible a collection of honourable, but still primitive legends which are nevertheless pretty childish. No interpretation no matter how subtle can (for me) change this."

Einstein, who was Jewish and who declined an offer to be the state of Israel's second president, also rejected the idea that the Jews are God's favoured people.

"For me the Jewish religion like all others is an incarnation of the most childish superstitions. And the Jewish people to whom I gladly belong and with whose mentality I have a deep affinity have no different quality for me than all other people. As far as my experience goes, they are no better than other human groups, although they are protected from the worst cancers by a lack of power. Otherwise I cannot see anything 'chosen' about them."

The letter will go on sale at Bloomsbury Auctions in Mayfair on Thursday and is expected to fetch up to £8,000. The handwritten piece, in German, is not listed in the source material of the most authoritative academic text on the subject, Max Jammer's book Einstein and Religion.

One of the country's leading experts on the scientist, John Brooke of Oxford University, admitted he had not heard of it.

Einstein is best known for his theories of relativity and for the famous E=mc2 equation that describes the equivalence of mass and energy, but his thoughts on religion have long attracted conjecture.

His parents were not religious but he attended a Catholic primary school and at the same time received private tuition in Judaism. This prompted what he later called, his "religious paradise of youth", during which he observed religious rules such as not eating pork. This did not last long though and by 12 he was questioning the truth of many biblical stories.

"The consequence was a positively fanatic [orgy of] freethinking coupled with the impression that youth is being deceived by the state through lies; it was a crushing impression," he later wrote.

In his later years he referred to a "cosmic religious feeling" that permeated and sustained his scientific work. In 1954, a year before his death, he spoke of wishing to "experience the universe as a single cosmic whole". He was also fond of using religious flourishes, in 1926 declaring that "He [God] does not throw dice" when referring to randomness thrown up by quantum theory.

His position on God has been widely misrepresented by people on both sides of the atheism/religion divide but he always resisted easy stereotyping on the subject.

"Like other great scientists he does not fit the boxes in which popular polemicists like to pigeonhole him," said Brooke. "It is clear for example that he had respect for the religious values enshrined within Judaic and Christian traditions ... but what he understood by religion was something far more subtle than what is usually meant by the word in popular discussion."
Despite his categorical rejection of conventional religion, Brooke said that Einstein became angry when his views were appropriated by evangelists for atheism. He was offended by their lack of humility and once wrote. "The eternal mystery of the world is its comprehensibility."