31.12.06

Algumas músicas para acabar o ano de 2006

Para rematar o ano de 2006 deixo aqui algumas músicas que ainda me marcam, me fazem sonhar e abrem o horizonte para novos projectos...

Atenção: esta escolha esteve condicionada aos meios disponíveis na net; além disso, outras músicas e outros géneros musicais, desde os instrumentais até à música antiga, não são menos valiosos para quem gosta de música e dos sons.

Esperamos que no próximo ano a música e a arte tenham um lugar destacado neste blogue até porque como já devem ter percebido só entendo a validade da intervenção social e ecológica com uma forte componente cultural, sob pena daquele empenhamento se esvaziar numa simples luta pela mudança de estruturas e não envolver também uma mudança de atitude.
Porque o nosso lema (e de muitos outros, antes de nós) é transformar a sociedade, mas ainda mudar o modo de vida no quotidiano das pessoas.


Ma solitude ( G. Moustaki)






Ma solitude (G. Moustaki)

Pour avoir si souvent dormi
Avec ma solitude
Je m'en suis fait presqu'une amie
Une douce habitude
Ell' ne me quitte pas d'un pas
Fidèle comme une ombre
Elle m'a suivi ça et là
Aux quatre coins du monde

Non, je ne suis jamais seul
Avec ma solitude

Quand elle est au creux de mon lit
Elle prend toute la place
Et nous passons de longues nuits
Tous les deux face à face
Je ne sais vraiment pas jusqu'où
Ira cette complice
Faudra-t-il que j'y prenne goût
Ou que je réagisse?

Non, je ne suis jamais seul
Avec ma solitude

Par elle, j'ai autant appris
Que j'ai versé de larmes
Si parfois je la répudie
Jamais elle ne désarme
Et si je préfère l'amour
D'une autre courtisane
Elle sera à mon dernier jour
Ma dernière compagne

Non, je ne suis jamais seul
Avec ma solitude
Non, je ne suis jamais seul
Avec ma solitude





Where have all the flowers gone
(Joan Baez)






WHERE HAVE ALL THE FLOWERS GONE
(letra de Pete Seeger)


Where have all the flowers gone?
Long time passing
Where have all the flowers gone?
Long time ago
Where have all the flowers gone?
Girls have picked them every one
When will they ever learn?
When will they ever learn?

Where have all the young girls gone?
Long time passing
Where have all the young girls gone?
Long time ago
Where have all the young girls gone?
Taken husbands every one
When will they ever learn?
When will they ever learn?

Where have all the young men gone?
Long time passing
Where have all the young men gone?
Long time ago
Where have all the young men gone?
Gone for soldiers every one
When will they ever learn?
When will they ever learn?

Where have all the soldiers gone?
Long time passing
Where have all the soldiers gone?
Long time ago
Where have all the soldiers gone?
Gone to graveyards every one
When will they ever learn?
When will they ever learn?

Where have all the graveyards gone?
Long time passing
Where have all the graveyards gone?
Long time ago
Where have all the graveyards gone?
Covered with flowers every one
When will we ever learn?
When will we ever learn?




Les anarchistes (Léo Ferré)




Les anarchistes (Léo Ferré)


Y'en a pas un sur cent et pourtant ils existent
La plupart Espagnols allez savoir pourquoi
Faut croire qu'en Espagne on ne les comprend pas
Les anarchistes

Ils ont tout ramassé
Des beignes et des pavés
Ils ont gueulé si fort
Qu'ils peuv'nt gueuler encore
Ils ont le cœur devant
Et leurs rêves au mitan
Et puis l'âme toute rongée
Par des foutues idées

Y'en a pas un sur cent et pourtant ils existent
La plupart fils de rien ou bien fils de si peu
Qu'on ne les voit jamais que lorsqu'on a peur d'eux
Les anarchistes

Ils sont morts cent dix fois
Pour que dalle et pour quoi ?
Avec l'amour au poing
Sur la table ou sur rien
Avec l'air entêté
Qui fait le sang versé
Ils ont frappé si fort
Qu'ils peuvent frapper encor

Y'en a pas un sur cent et pourtant ils existent
Et s'il faut commencer par les coups d'pied au cul
Faudrait pas oublier qu'ça descend dans la rue
Les anarchistes

Ils ont un drapeau noir
En berne sur l'Espoir
Et la mélancolie
Pour traîner dans la vie
Des couteaux pour trancher
Le pain de l'Amitié
Et des armes rouillées
Pour ne pas oublier

Qu'y'en a pas un sur cent et pourtant ils existen
tEt qu'ils se tiennent bien le bras dessus bras dessous
Joyeux, et c'est pour ça qu'ils sont toujours debout
Les anarchistes


Look What They've Done to My Song ( Melanie Safka)





Look What They've Done to My Song (Melanie Safka)

Look what they've done to my song, Ma
Look what they've done to my song
Well it's the only thing I could do half right
And it's turning out all wrong, Ma
Look what they've done to my song

Look what they've done to my brain, Ma
Look what they've done to my brain
Well they picked it like a chicken boneA
nd I think I'm half insane, Ma
Look what they've done to my song

I wish I could find a good book to live in
Wish I could find a good book
Well, if I could find a real good book
I'd never have to come out and look at
What they've done to my song

La la la...
Look what they've done to my song

But maybe it'll all be all right, Ma
Maybe it'll all be OK
Well, if the people are buying tears
I'll be rich some day, Ma
Look what they've done to my song

Ils ont changé ma chanson, Ma
Ils ont changé ma chanson
C'est la seule chose que je peux faire
Et çe n'est pas bon, Ma
Ils ont changé ma chanson

Look what they've done to my song, Ma
Look what they've done to my song
Well they tied it up in a plastic bag
And turned it upside down
Look what they've done to my song

Ils ont changé ma chanson, Ma...
Look what they've done to my song, Ma
Look what they've done to my song
Well it's the only thing I could do all right
And they turned it upside down
Look what they've done to my song





El Desierto (Lhasa de Sella)






El Desierto (voz de Lhasa de sella)

He venido al desierto pa irme de tu amor
Que el desierto es más tierno y la espina besa mejor
He venido a este centro de la nada pa gritar
Que tú nunca mereciste lo que tanto quise dar
Que tú nunca mereciste lo que tanto quise dar
He venido al desierto pa irme de tu amor
Que el desierto es más tierno y la espina besa mejor
He venido a este centro de la nada pa gritar
Que tú nunca mereciste

He venido yo corriendo olvidándome de ti
Dame un beso pajarillo no te asustes colibrí
He venido encendida al desierto pa quemar
Porque el alma prende fuego cuando deja de amar
Porque el alma prende fuego cuando deja de amar

He venido yo corriendo olvidándome de ti
Dame un beso pajarillo y no te asustes colibrí
He venido encendida al desierto pa quemar
Porque el alma prende fuego

He venido yo corriendo olvidándome de ti
Dame un beso pajarillo y no te asustes colibrí
He venido encendida al desierto pa quemar
Porque el alma prende fuego cuando deja de amar
Porque el alma prende fuego cuando deja de amar

He venido al desierto pa irme de tu amor
Que el desierto es más tierno y la espina besa mejor
He venido a este centro de la nada pa gritar
Que tú nunca mereciste lo que tanto quise dar
He venido yo corriendo olvidándome de ti
Dame un beso pajarillo y no te asustes colibrí
He venido encendida al desierto pa quemar
Porque el alma prende fuego

A minha cidade - Porto

Também aproveitando as despedidas do ano velho trago para aqui 3 fotografias da cidade do Porto que retirei de outros tantos blogues cuja consulta recomendo pelo seu interesse:
.











Os autocolantes da nossa Revolução de Abril

Não posso terminar este ano sem deixar de fazer uma referência a um blogue que me leva a reviver a Revolução de Abril de 1974-75.
Um blogue de onde retirei dois exemplares de autocolantes, mas que poderiam ser muitos mais.
Por isso é que vale bem uma ( ou várias) visitas.
Ver
aqui.

E com a devida condescendência do autor do blogue reproduzo a seguir dois autocolantes que se revestem de um significado especial para mim...

30.12.06

Acções de rua contra a agressão publicitária

Acções não-violentas contra a agressão publicitária
e a invasão do espaço público pela publicidade
(em Paris)

Contra a invasão da publicidade no espaço público, a publicidade sexista, e a manipulação mental feita pelas empresas publicitárias que arrecadam milhões com esta poluição mental e visual.

Existem vários colectivos anti-publicidade desde as feministas ( que visam sobretudo a publicidade sexista), os ecologistas (que defendem as paisagens naturais e querem salvaguarda-las da intromissão publicitária), até aos activistas não-violentos que levam a cabo acções de desobediência civil à imagem de Gandhi, os anarquistas e libertários, e finalmente os auto-designados «electrões livres» que pretendem investir com arte o espaço público

Ver o vídeo (em francês) que mostra acções de rua em Paris contra os placards publicitários que representam uma invasão do espaço público pela publicidade agressiva e psicologicamente violenta.






Paco Ibañez canta em memória de José Couso


Em memória de José Couso, operador de tv, galego de nascimento, assassinado pelo exército norte-americano em Bagdad quando o Iraque foi invadido pelos Estados Unidos da América.

No dia 8 (20 h.) de cada mês há sempre uma concentração em frente da embaixada dos Estados Unidos da América, em Madrid, a exigir que se faça Justiça.

2007 será outro ano de luta a reclamar e exigir que se faça justiça!

http://www.josecouso.info/


A galopar (poema de Rafael Alberti, e voz de Paco Ibañez)


Foucault e Chomsky debatem o poder e o funcionamento das nossas sociedades

Dois dos mais importantes pensadores do nosso tempo (Michel Foucault e Noam Chomsky) debatem no vídeo seguinte como a sociedade capitalista funciona e como o poder se exerce e se reproduz, mantendo a dominação social.

Infelizmente a linguagem utilizada é o francês e o inglês. De qualquer modo serve para despertar o interesse pelas suas obras e pensamento.

Curiosa e importante é a maneira como os dois abordam a questão da suposta «natureza humana» e do poder. Para um o poder está centralizado, para o outro o poder é difuso. Mas ambos questionam a legitmidade desse mesmo poder.


29.12.06

Viver a Utopia


Documentário-vídeo sobre o anarquismo e a revolução espanhola de 1936

Vídeo-documentário da TVE ( televisão espanhola), realizado em 1997, por Juan Gamero, e durante o qual se explica o ideal anarquista vivido durante a revolução espanhola de 1936.

Trata-se de um notável documentário falado em castelhano que aborda de uma forma objectiva a realidade do anarquismo espanhol naquela época, bem assim a filosofia e as práticas libertárias.

Duração do vídeo: 1 hora e 34 minutos.







A vida depende da agitação que é realizada por alguns indivíduos excêntricos. Em homenagem a essa vida, a essa vitalidade, a comunidade deve aceitar certos riscos, deve admitir uma porção de heresia. Deve viver perigosamente, caso queira viver.
Herbert Read.



Herbert Read (inglês, 1893-1968) foi um poeta e crítico inglês. A sua experiência na frente da I Guerra Mundial impregna grande parte da sua vida. Na sua faceta de crítico de arte ganhou prestígio e destacou-se como defensor da tese da importância da arte para a educação e a aprendizagem, e cujas obras se tornaram de leitura obrigatória quer na área da educação quer na arte em geral.

Anarquismo y poesía (fragmento), por Herbert Read

" Aunque ello pueda parecer fuera de razon a quienes esten ajenos al quehacer poetico, el poeta exige un tipo de sociedad en el que el recogimiento, el retiro, sea un derecho natural. Exige la posibilidad de meterse entre la muchedumbre y salir de ella con la misma facilidad con que entra y sale de su casa. Acusa al mundo moderno de haber invadido su rincon de soledad, de haberlo llenado de preocupaciones y de rumores, de haber introducido en el la politica y las guerras totalitarias. En consecuencia, el poeta se ve obligado a exigir, por razones poeticas, que se transforme el mundo. Y no cabe afirmar que tal exigencia sea desmedida: constituye la condicion primera de su existencia.

(...)

Resulta muy dificil para el artista aceptar en el seno de la sociedad esta tarea, que no le comporta agradecimiento alguno: mantenerse aparte y, sin embargo, actuar como intermediario; comunicar a la sociedad algo que le es tan esencial como el pan y el agua y, sin embargo, poder hacerlo solo desde una posicion de aislamiento y desapego. La sociedad nunca llegara a comprender y amar al artista, porque nunca llegara a estimar su indiferencia, su asi llamada objetividad. Mas el artista debe aprender a amar y comprender a la sociedad que lo rechaza. Debe aceptar tan dura experiencia y apurar, como Socrates, la copa mortal. "

Retirado de:

http://elblogdelalucha.blogspot.com/

Hoje nova Bicicletada no Porto e Lisboa


Hoje realiza-se como é habitual na última sexta-feira de cada mês um passeio em grupo de bicicleta às 18.30 nas cidades do Porto e Lisboa e integrado no movimento internacional MASSA CRÍTICA que visa propor alternativas de transporte amigas do ambiente.


A propósito passam-se dois videos transmitidos pelos dois principais canais de televisão portugueses sobre a MASSA CRÍTICA e o meio alternativo de deslocação dentro da cidade.

Reportagem 'de Bicicleta Para o Trabalho' (SIC - 28 Maio 2006)



Reportagem 'uso da bicicleta no dia-a-dia' (RTP - 24 Maio 2006)

28.12.06

Para combater o frio, vai um pezinho de dança?

Festival Fim d'Ano (com concerto de passagem do ano)
de 29 de Dezembro a 1 de Janeiro
na Cripta do Marquês
( situada atrás da Igreja do Marquês ( à Pr. do Marquês de Pombal, no PORTO)

Concertos e danças de músicas étnicas e tradicionais:

SEXTA-FEIRA, 29 DEZEMBRO

22H00 Mú

24H00 Monte Lunai


SÁBADO, 30 DEZEMBRO

18H00 Mosca Tosca acústico (bar)

22H00 Zef

23H45 Show de Dança Oriental

24H00 Uxu Kalhus

DOMINGO, 31 DEZEMBRO

18H00 Uxu Kalhus acústico (bar)

22H00 Naragonia (Bélgica)

24H00 Zef (França)

SEGUNDA-FEIRA, 1 JANEIRO

16H00 Naragonia

Encontro em Lisboa ( 3 de Janeiro) sobre a Comuna de Oaxaca

A Comuna de Oaxaca e os movimentos sociais no México

Quarta-feira, 3 de Janeiro, pelas 15 horas

Rua Monte do Olivete, 30-A (ao Príncipe Real), Lisboa

Encontro com Quim Sirera e Sara Manchado,do Colectivo Etcétera, de Barcelona

Quim Sirera e Sara Manchado estiveram recentemente no México durante dois meses para conhecer in loco diversos aspectos das profundas lutas sociais que estão a decorrer neste país, em particular no estado de Oaxaca, vizinho de Chiapas, onde eclodiu na passada Primavera a insurreição que ficou conhecida pelo nome de «Comuna de Oaxaca» e cuja população, como em Chiapas, é em grande parte indígena.O movimento de protesto subsequente a mais uma fraude eleitoral (técnica usual e antiga do partido que se encontra no poder no México) converteu o recente processo pós-eleitoral num amplo movimento de base, acentuando assim as fortes contradições sociais e políticas que estão a abalar o México desde a insurreição zapatista de 1994 e através das quais se desenham perspectivas universais de luta, em particular com base nas práticas comunitárias indígenas.

Curso Teórico-Prático de Recuperação de Fauna Silvestre

12 a 14 de Janeiro de 2007
nas Caldas da Rainha - Tornada

Toda a informação em
http://www.aldeia.org/

Sexta-feira, 12 de Janeiro
17:00 - Abertura do secretariado e recepção dos participantes
18:00 – Abertura, apresentação do curso e das associações organizadoras
18:30 -
Módulo 1
- Identificação da Fauna Silvestre Portuguesa
- Espécies mais frequentes em centros de recuperação
- Causas de ingresso mais comuns para cada espécie
- Particularidades e características relevantes para os procedimentos de recuperação
20:30 – Fim dos trabalhos



Sábado, 13 de Janeiro
9:30 –
Módulo 2
– Introdução e Princípios Básicos
- Centros de Recuperação de Fauna Silvestre em Portugal
- Conceitos gerais básicos sobre a Recuperação de Fauna silvestre
- Aspectos relacionados com a Gestão e Funcionamento de um Centro de Recuperação
- Desenho e Estruturação de Instalações
- Potencialidades e Responsabilidades de um Centro de Recuperação
- Recursos Bibliográficos, Internet e Oportunidades de Formação
11:45 – Pausa para café
12:00 - Módulo 3
– Manipulação de Animais Silvestres
- Captura, contenção e manuseamento de animais selvagens
- Aspectos relacionados com a Segurança e Protecção de animais e pessoas
- Particularidades relevantes de cada espécie que condicionam as técnicas utilizadas
13:00 – Pausa para Almoço
15:00 – Módulo 3
– Manipulação de Animais Silvestres (cont.)
- Treino de técnicas em animais mortos (cadáveres de várias espécies) e vivos (irrecuperáveis)
16:30 – Pausa para Café
17:00 – Módulo 4 –
Exame Físico
- Aspectos anatómicos
- Aspectos fisiológicos
- Protocolos e sistematização de procedimentos
- Treino de diferentes técnicas "
19:00 – Discussão e esclarecimentos de dúvidas
19:30 – Fim dos trabalhos



Domingo, 14 de Janeiro
10:00 – Módulo 5 – Ligaduras
- Tipos de ligaduras e indicações para diferentes casos clínicos e diferentes espécies
- Treino das diferentes técnicas de aplicação de ligaduras
- Problemas e dificuldades mais frequentes
13:00 – Pausa para Almoço
15:00 – Módulo 6
– Fluidoterapia e Administração de Medicamentos\n
- A importância da avaliação de grau de desidratação e administração de fluidos
- Cálculo de doses
- Técnicas e vias de administração
- Riscos e problemas mais frequentes \n\n
16:30 – Pausa para Café
17:00 – Módulo 7
– Alimentação e Maneio em Cativeiro\n
- Alimentação em função da espécie e caso clínico
- Conceitos e técnicas de disponibilização de alimento\n
- Problemas mais frequentes
- Técnicas e dicas para minimização de lesões durante o processo de recuperação
- Protecção e Reparação de penas danificadas \n
18:30 – Esclarecimento de dúvidas
19:00 – Encerramento do curso


PREÇOS*:
Até 3 de Janeiro:
- Sócios da PATO e ALDEIA: 80€ -
Não sócios: 90€
Após 3 de Janeiro:
- Sócios da PATO e ALDEIA: 90€
- Não sócios: 100€
* Inclui:
- Participação no curso e respectivo certificado
- CD com a documentação
- Jantar de Sábado, 13 de Janeiro



Fonte: http://anoitecido.blogspot.com/

O estranho programa do Governo Sócrates...


Como julgamos da maior actualidade e pertinência transcrevemos aqui o estranho programa do actual Governo sob a forma de «Contos de Natal do XVII Governo Constitucional» que retiramos da sua fonte original:
.
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“Perdi os professores, mas ganhei a população”
Ministra da Educação

“Perdi os militares, mas ganhei um F-16 em segunda mão” (por manter o bico calado nos voos da CIA). Ministro da Defesa


“Perdi o dossier dos voos secretos da CIA, mas ganhei um convite para visitar a quinta do Bush”Ministro dos Negócios Estrangeiros


“Perdi o Rivoli, mas ganhei bilhetes para o fim-de-ano na Casa da Música”
Ministra da Cultura

“Perdi o processo Apito Dourado, mas ganhei a Carolina Salgado”
Ministro da Justiça

“Perdi a população, mas ganhei um apartamento na Quinta do Lago”
Ministro das Finanças

“Perdi a confiança dos eleitores, mas ganhei uma conta na Suíça”
Ministro da Economia

“Perdi o respeito das forças policiais, mas ganhei um novo sistema de alarme para o meu gabinete”
Ministro da Administração Interna

“Perdi os subsídios, mas ganhei um jipe novinho em folha para passear na Zambujeira do Mar”
Ministro da Agricultura

“Perdi cinco quilos, mas ganhei ao Carmona Rodrigues na II Meia Maratona de Lisboa”
Primeiro-Ministro
“Perdi tudo, mas ganhei o meu ‘príncipe"
Floribella

27.12.06

Activistas distribuíram abraços grátis pelas ruas do Porto

Imagem retirada de: http://gaia.org.pt/


Activistas da associação ambiental Gaia, da cidade do Porto, realizaram na semana passada uma acção de rua que visava sensibilizar as pessoas para viverem um Natal mais ecológico e menos consumista. Foram realizados vários workshops em plena Rua de Santa Catarina sobre modos e atitudes alternativas ao estilo de vida dominante.
Na mesma acção de rua foram também distribuídos abraços grátis pelas pessoas e simples transeuntes, à imagem do que já se vai passando por várias cidades do mundo com o Movimento «Abraços Grátis» (Free Hugs)


Em Lisboa uma acção do mesmo género já fora realizada no Rossio no passado dia 9 de Dezembro por um grupo de pessoas que se decidiu juntar-se e oferecer uma tarde de abraços a todos os que por lá passaram e desejaram receber um abraço.
Informação em:









Movimento Abraços Grátis (Free Hugs)


Recorde-se que o Movimento Abraços Grátis (Free Hugs)consiste num conceito revolucionário que visa romper com o individualismo reinante nas nossas sociedades contemporâneas e a inibição larvar que impede as pessoas de conviverem entre si.
O Movimento nasceu em 2001 com Jason Hunter depois do falecimento da sua mãe, uma mulher que abraçava toda a gente, sem se importar com a raça, o sexo ou a idade. Simultaneamente, noutro parte do mundo, em Sidney, passava-se algo de semelhante. Um jovem australiano regressa a casa, depois de um período de vida a residir em Londres. O regresso é, no entanto, marcado por uma grande solidão pois os seus pais tinham-se divorciado, a sua avó estava muito doente, e acabava de romper com a sua namorada. Para contrariar essa solidão decide ir então a uma festa onde uma desconhecida subitamente o abraçou. «Senti-me como um rei. Foi o melhor que me podia acontecer», disse ele algum tempo depois ao descrever a situação por ele vivida. Foi assim que decidiu ele próprio sair para a rua e começar a distribuir abraços grátis às pessoas que passavam por uma das ruas mais movimentadas de Sidney, a Pitt Mall Street. Juan Mann - era como esse jovem se apresentava, e que resulta do jogo de palavras em inglês para designar «um homem – continuou a sair todas as quintas feiras à tarde para distribruir abraços, sempre no mesmo local.
Entretanto, Shimon Moore gravou aquele singular acto de um pessoa que abraçava quem assim desejasse, muito embora uma tal atitude tenha sido proibida pela polícia australiana, o que motivou uma petição e uma bem sucedida campanha contra essa estúpida proibição. Passaram-se anos até quando Juan Mann sofreu uma perda irreparável que muito o deprimiu: a morte da sua avó. Foi então que Shimon Moore editou as imagens que gravara, deu-lhe de prenda o filme que fizera a propósito do seu acto, e decidiu enviá-lo para o Youtube. Foi assim que aquela simples atitude se tornou mundialmente conhecida e desencadeou um movimento à escala internacional dos «Abraços grátis» que não pára de crescer um pouco por todo o lado, baseado sempre na intenção de fazer passar a mensagem de uma comunicação pacifista, de reciprocidade e de solidariedade entre as pessoas, pretendendo além disso que a atitude de abraçar resulte sempre de actos espontâneos por parte dos intervenientes, e a constituir-se sempre como um verdadeiro happening informal, sem rituais nem convencionalismos.



As regras a seguir são extraordinariamente simples:
1) Os abraçadores-activistas devem levar um cartaz onde se possa ler «Abraços Grátis»
2) Nunca se deve dar abraços a quem não quer receber. Apenas oferecemos abraços e ninguém é obrigado a abraçar.
3) A atitude de abraçar deve revestir-se de cordialidade e amabilidade entre os intervenientes.
4) Os abraçadores-activistas nunca devem rejeitar um abraço, estando dispostos a abraçar quem queira recebe o seu abraço.

ATENÇÃO: Trata-se de um gesto fortemente adictivo, que pode repetir-se indefinidamente…




Dia Mundial do Abraço – 30 de Dezembro

Entretanto, corre na Internet uma Convocatória para que o próximo dia 30 de Dezembro seja o Dia Mundial do Abraço de modo a que em todo o mundo às 18 horas desse dia toda a gente se abrace, onde quer que se encontrem.


Consultar para mais info:
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Muda de atitude, e mudarás o mundo

Livros para crianças e jovens

É pelas crianças que tudo começa. Daí a importância da literatura infanto-juvenil como factor estruturante das sociedades. E nunca é demais criar hábitos de leitura junto dos mais novos. São eles que amanhã estarão algures a (re)construir o nosso mundo.

Chamava pois a atenção para dois livros para crianças e jovens

O primeiro é «O Homem-golfinho» (editado pela Campo das Letras) da Sofia Vilarigues e trata-se de um livro de aventuras, que fala dos golfinhos do Sado e dos oceanos. A autora é engenheira do ambiente e jornalista ambiental, e já tem vários livros seus editados na área da literatura infanto-juvenil, um deles premiado.
Para mais informações consultar:
aqui e aqui





O outro livro é «Estrela Voadora» ( editado pela edições Sempre em Pé) de Ursula Wolfel, uma das escritoras alemãs mais bem sucedidas de livros para crianças e jovens.

Estrela Voadora é um dos mais belos livros de Ursula Wölfel, grande escritora alemã de literatura para crianças e jovens. Com enorme intuição e uma linguagem que as crianças entendem, descreve a vida de dois rapazinhos, Estrela Voadora e Pássaro-da-Erva, num acampamento de Índios. Conta como eles receberam de presente o seu primeiro cavalo e como foram aceites no círculo dos rapazes mais crescidos, depois de terem mostrado a sua coragem. Os dois amigos decidem ir ter com os homens brancos, junto dos quais ficam a saber porque é que eles desembarcaram na terra dos Índios, porque construíram o caminho de ferro e afugentaram os búfalos, o que faz reinar a fome no acampamento.
A autora consegue evocar poderosamente a situação dos Índios ameaçados de extinção e genocídio e fazer os jovens leitores penetrar naturalmente na dimensão da solidariedade humana, da compreensão entre as raças, da unidade com a natureza e do anseio de dignidade e paz por parte de todos os povos.
As ilustrações de Katrin Engelking exprimem com rara felicidade e colorido a ternura, humor e humanidade que atravessam toda a narrativa.



As crianças índias presentes no livro são testemunhas de um modo de viver ao de leve sobre a terra, sem grandes destruições e estragos, que tem muito a ensinar à nossa actual civilização mergulhada em problemas ambientais de difícil desenlace. Não podemos aqui deixar de evocar o famoso testamento do Chefe Índio Seattle, tão conhecido e utilizado nos meios afectos à educação ambiental.



Para além disso, a aventura de Estrela Voadora e Pássaro-da-Erva oferece a possibilidade de iniciar as crianças, gradualmente e de forma natural, na compreensão das diferenças entre culturas, modos de vida e civilizações, numa possível e original iniciação à antropologia ou à etnologia, bem como ao respeito das diferenças.



Finalmente, abre perspectivas para a compreensão de certos fenómenos da história moderna como a colonização dos novos continentes, o genocídio que em parte a acompanhou e a manchou e o desejo de respeito e paz entre os povos que alguns, quer vencidos quer vencedores, retiraram como conclusão dessa tragédia.
Tudo isto é sugerido sem alarde e com um profundo pudor lírico e um humor discreto mas divertido, que certamente não deixará de apelar fortemente ao sentimento e à imaginação de crianças e jovens. As ilustrações de Katrin Engelking exprimem com rara felicidade e colorido a ternura, humor e humanidade que atravessam toda a narrativa

Mais info aqui

Dependurou-se na ponte a favor dos sem-abrigo

No passado dia 21 de Dezembro um homem simples dependurou-se do tabuleiro da ponte 25 de Abril, em Lisboa, para chamar a atenção para a causa dos sem-abrigo, tendo estado dependurado quase toda a tarde, desde as 13 horas, por um corda, e com um cartaz onde se podia ler «Sem amor, sem abrigo».
A sua atitude provocou o congestionamento da Ponte 25 de Abril e chegou a causar filas de trânsito com cerca de 14 quilómetros nos acessos Sul e Norte ao tabuleiro da ponte.
«Uma equipa de resgate foi ao local dar apoio nas cordas, pois havia o perigo de o homem cair ao rio», explicou um agente da polícia.
Só ao fim de várias horas é que os polícias conseguiram convencer o sem-abrigo voluntário a desistir do protesto.

23.12.06

Give peace a chance (John Lennon)

Dêem uma oportunidade à paz

(fechem as academias militares, acabem com o comércio de armas, despeçam os especialistas de geopolítica e de armamento, reformem os generais e coronéis, e parem com as guerras entre Estados e os Exércitos...e, depois de todos os profissionais da guerra se «civilizarem», dêem então uma oportunidade à paz nas relações entre todos os povos)


Give Peace A Chance (Lennon & McCartney), voz de John Lennon

Two, one two three four

Ev'rybody's talking about
Bagism, Shagism, Dragism, Madism, Ragism, Tagism
This-ism, that-ism, is-m, is-m, is-m.

All we are saying is give peace a chance
All we are saying is give peace a chance

C'mon
Ev'rybody's talking about Ministers,
Sinisters, Banisters and canisters
Bishops and Fishops and Rabbis and Pop eyes,
And bye bye, bye byes.

All we are saying is give peace a chance
All we are saying is give peace a chance

Let me tell you now
Ev'rybody's talking about
Revolution, evolution, masturbation,
flagellation, regulation, integrations,
meditations, United Nations,
Congratulations.

All we are saying is give peace a chance
All we are saying is give peace a chance

Ev'rybody's talking about
John and Yoko, Timmy Leary, Rosemary,
Tommy Smothers, Bobby Dylan, Tommy Cooper,
Derek Taylor, Norman Mailer,
Alan Ginsberg, Hare Krishna,
Hare, Hare Krishna

All we are saying is give peace a chance
All we are saying is give peace a chance
etc.

Quem são os anarquistas? ( documentário-vídeo explicativo)

Aqui e agora - Documentário da federação anarquista (em francês)


O anarquismo nasce da revolta moral contra as injustiças sociais


A anarquia é a ordem, mas sem coerção!


Ao declararmo-nos anarquistas nós proclámamos desde já que renunciamos a tratar os outros da mesma maneira como não gostaríamos que os outros nos tratassem; que não toleramos mais as desigualdades que permitem a alguns exercer a sua força, manipularem e enganarem os demais, tal como não gostaríamos que isso acontecesse connosco.
Igualdade é sinónimo de equidade, da própria anarquia.

Kropotkine ( in A Moral anarquista)

Happy Xmas (WAR IS OVER) - por John Lennon

Feliz Natal ( A GUERRA ACABOU)!
- canção de John Lennon
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Ver o vídeo ( imperdível) - clicar no botão a meio da imagem e aguardar até que comece a mover-se...


Letra em inglês da canção Feliz Natal (A GUERRA ACABOU), de John Lennon:

So this is Christmas

And what have you done

Another year over

And a new one just begun

Ans so this is Christmas

I hope you have fun

The near and the dear one

The old and the young

A very merry Christmas

And a happy New Year

Let's hope it's a good one

Without any fear

And so this is Christmas

For weak and for strong

For rich and the poor ones

The world is so wrong

And so happy Christmas

For black and for white

For yellow and red ones

Let's stop all the fight

A very merry Christmas

And a happy New Year

Let's hope it's a good one

Without any fear

And so this is Christmas

And what have we done

Another year over

And a new one just begun

Ans so this is Christmas

I hope you have fun

The near and the dear one

The old and the young

A very merry Christmas

And a happy New Year

Let's hope it's a good one

Without any fear

War is over over

If you want it

War is over

Now...

22.12.06

Manifestação hoje em Lisboa de solidariedade por Oaxaca

Mobilização Mundial Por Oaxaca ( 22 de Dezembro)

É urgente que se continuem a denunciar as graves violações de direitos humanos que acontecem diariamente no México. É também necessário dizer ao governo mexicano que estamos atentos e exigimos:

- O reaparecimento, com vida, das pessoas desaparecidas;
- A Liberdade de todos os detidos;
- A saída de Oaxaca de Ulisses Ruiz (Governador de Oaxaca) e das Forças Federais;
- O julgamento e punição de todos os culpados pela tortura, violação e assassínio.
- Em suma: Liberdade, Democracia e Justiça para o povo de Oaxaca.

Todas as pessoas interessadas em participar nesta acção pacífica de solidariedade com o povo de Oaxaca devem contactar o 91907772 -
sergiorac@hotmail.com

A manifestação está marcada para as 13 horas, em frente à embaixada do México em Lisboa, Estrada de Monsanto, 78.

Vídeo bem didático explicando a situação de Oaxaca:





Consultar para mais info:
http://cml.vientos.info/

Jantar de confraternização do GAIA-Porto ( esta sexta-feira, 22 de Dez.)


O Jantar de confraternização é aberto a todos os interessados


Esta sexta, dia 22, há jantar do GAIA no restaurante Oriente no Porto

(R. de S.Miguel, perto do Museu da Fotografia - antiga cadeia da relação) na Coordoaria.

A ideia é o jantar começar por volta das 20h30. Apareçam!

O jantar é uma boa oportunidade para conhecerem a malta do GAIA, se ainda não conhecem!

Se estiveres a pensar vir ao jantar agradece-se um contacto (telefone, e-mail, etc)

( que é para ver quantos lugares se reservam. Se não conseguires avisar também não faz mal, apareçe na mesma que serás bem-vindo.)

Qualquer dúvida, podes telefonar para 937267541

A batalha do Cambedo(1946) e a solidariedade galego-portuguesa anti-franquista


A BATALHA DO CAMBEDO


Foi em 20 de Dezembro de 1946 que se travou a batalha entre guerrilheiros galegos anti-franquistas, que actuavam na fronteira contra o regime do caudilho, e a GNR, PIDE e exército português na aldeia raiana de Cambedo, Trás-os-Montes, com alguns mortos de parte a parte e que revelou a coragem e o heroísmo dos anti-fascistas. São excertos do excelente livro, já citado anteriormente, Guerrilheiros Antifranquistas em Trás-os-Montes de Bento da Cruz, editora Âncora, 2003.

Vejamos o que se passou no Cambedo na madrugada de 20 de Dezembro de 1946. Antes de mais é preciso tentar compreender como é que a presença dos guerrilheiros naquela povoação chegou ao conhecimento das autoridades.


A título de simples curiosidade, transcrevo a versão dada pelo guerrilheiro asturiano Manuel Zapico Terente. Diz ele: «Chegámos a Casaio. Ali soubemos que uma tal Remédios, conhecida do Girón, se passara ao serviço da polícia e fora a causadora da morte do guerrilheiro Bernardino e de um outro na fronteira portuguesa, perto de Chaves.» Também Francisco Martínez López (Quico), se refere a este episódio e acrescenta que, gorada a operação que ali os levara, os guerrilheiros assaltaram os armazéns da empresa e distribuíram todos os víveres pelos trabalhadores a quem explicaram quem eram e os ideais por que lutavam. Acabou tudo numa grande festa, com os trabalhadores a cantar a Internacional e aos vivas aos guerrilheiros e à República. A guarda-civil, que estava perto e foi avisada do que se estava a passar, não se atreveu a intervir. Propriamente da empresa, para além de algumas armas que encontraram, os guerrilheiros não trouxeram nada. Nem uma peseta 1).


A tal Remédios trabalhava na lavaria de uma exploração de volfrâmio. Mas, quando os guerrilheiros, chefiados por Manuel Girón, lá chegaram, ela tinha desaparecido... Decorria o ano de 1951. A imprensa da época (1946) dá-nos outra versão. Que após os crimes cometidos em Barroso por «uma quadrilha de bandoleiros espanhóis e portugueses que actuavam na raia seca, uns quatro elementos da pide, disfarçados de contrabandistas e negociantes do «mercado negro», se infiltraram, com a colaboração da guarda-republicana, entre as populações raianas, na mira de localizar os «meliantes» 2).


No entanto, e no meu fraco entender, a fonte mais fidedigna e de maior interesse para o encadeamento dos sucessos relacionados com a repressão aos guerrilheiros antifranquistas na zona fronteiriça de Trás-os-Montes durante o ano de 1946, são os arquivos da GNR. Aí encontramos uma: «Cópia da Nota Confidencial Nº.2, de 11 de Março de 1946, (como se vê, muito anterior aos crimes cometidos em Barroso ) expedida pela Rp. Adjunta do CG da GNR.
Para conhecimento de V. Exa. e execução transcrevo o despacho de S. Exa. o GCG exarado num ofício, dirigido a este comando pelo Ministro do Interior.
Continuam a verificar-se actos de banditismo nas regiões fronteiriças de Trás-os-Montes. As autoridades espanholas solicitam a cooperação das portuguesas e o Governo Português interessa-se pelo assunto.»



De seguida a nota indica as aldeias suspeitas e acrescenta:


«Compete ao Bat. 4 limpar essas zonas. ... Solicitar-se-á a cooperação da Guarda Fiscal, da PIDE e outros elementos. ..."Máximo segredo"...Não utilizar o telefone. ... «Contar com a colaboração de toda a Guarda-civil do Comando de Orense».


E agora chamo a atenção para o último parágrafo da referida Nota Confidencial: Deve-se contar que, em caso de encontro, os bandidos se defendem bem, pois são guerrilheiros profissionais (itálico meu) dextros em toda a espécie de ciladas e ardis. O GCG confia absolutamente no valor e desembaraço das forças do Bat. 4, designadamente da 6ª. e 7ª. Companhias – o 2º. Comandante Geral - (a) Rogério Tavares -Coronel.»


Nas primeiras páginas deste trabalho, ao referir-me à suposta protecção dada às carreiras, tive oportunidade de me referir à hipocrisia da GNR durante a ditadura. Aqui está mais uma prova dessa hipocrisia. Em público, nunca a GNR admitiu que os «espanhóis» refugiados em Trás-os-Montes durante o ano de 1946, fossem «guerrilheiros». Nas «notas internas» reconhecia que eles eram «guerrilheiros profissionais» e recomendava «cautela» com eles.


A 15 de Março o Comando de Bragança responde a esta Nota Confidencial do dia 11, dizendo que «Nada se fez por não constar haver na área do Posto de Vinhais foragidos espanhóis ou salteadores portugueses.» E acrescenta:


«Houve, é certo, desde fins de 1943 uma quadrilha conhecida por Os Cucos, que actuando em colaboração com elementos espanhóis foragidos da Guerra Civil de Espanha, praticavam assaltos à mão armada na região de Vinhais. Desde então essa quadrilha, composta de oito indivíduos, tem sido alvo de uma perseguição sem tréguas e teve o seguinte destino (cito os seus nomes porque alguns deles, como o Cuco , Liró , e os irmãos Veiga figuram em documentos de autoridades espanholas, que os conhecem e que certamente se regozijarão com a sua captura): 1 -António dos Santos, o Cuco e 2 - seu irmão Manuel; 3 -José Gomes Júnior, o Chuche ; 4- António Augusto Pais, o Mofra ; 5 -António Veiga, o irmão do Boina s; 6 -Silvério Veiga; 7 – João Manuel, o Boina s; 8- Manuel dos Santos, o Liró .»


Segundo a mesma fonte, tiveram o seguinte fim: o Cuco, o Liró, o Chuché, o Boinas e seu mano António, foram todos presos durante o ano de 1943 e metidos na cadeia de Vinhais, donde se evadiram por duas vezes: uma por arrombamento do soalho, outra por serração das grades. Presos pela terceira vez, foram transferidos para Chaves. O irmão do Cuco, o Manuel, morto pela GNR no acto da captura. Silvério Veiga, preso pelas autoridades espanholas.


Para este êxito, e à semelhança do que atribuíam aos guerrilheiros, também a GNR recorreu a ardis: praças disfarçadas de raparigas de campo, outras de camponeses de foice, pau, chapéu de palha e sacola como se fossem segadores. Citam, embora o não identifiquem, um guerrilheiro que concebeu um esconderijo na parede à qual recostou a cama. Quando a GNR aparecia, ele passava do leito para o esconderijo e a mulher fingia-se doente. Um dia os guardas prenderam a mulher e encaminharam-se com ela para Vinhais. O guerrilheiro saiu-lhes ao caminho e apresentou-se.


«As regiões fronteiriças portuguesas estão limpas de bandidos» – concluía o comandante da GNR de Bragança. As autoridades espanholas insistiam e provavam que não. E como o «Governo Português se interessava pelo assunto», a GNR resolveu actuar.


«Quartel em Bragança, 29 de Abril de 1946.
O Comandante da Companhia
Herculano São Boaventura de Azevedo, Capitão
ORDEM A
1 - Situação – Notícias vindas de Espanha dão como certa a existência de bandidos na Região da Lomba do Concelho de Vinhais, nomeadamente nas povoações de Pinheiro Novo e Pinheiro Velho.
2 -Os bandidos são guerrilheiros profissionais, bem armados, dextros em todas as espécies de ciladas e ardis, a quem o terreno favorece e devem encontrar-se, além das povoações já referidas, nas de Cisterna, Vilarinho da Lomba, Sernande, Edroso e Carrascal, situado a N da foz da Ribeira que fica a 1300 m a SO da povoação de Contim.»



A mesma ordem manda concentrar todas as forças da GNR do distrito de Bragança, no lugar de Seixas, Vinhais, na madrugada do dia 30 de Abril de 1946.


Nos dias seguintes o comandante elabora um relatório a dar conta dos resultados desta batida feita de colaboração com a Guarda-Civil, que guarneceu a fronteira do lado espanhol. Diz que a diligência teve início de madrugada e terminou às 18 horas do dia 1 de Maio de 1946, sempre debaixo de chuva. Que bateram todas as povoações e ribeiras da região e não encontraram nada. E a modos de justificativo, acrescenta:


«A maior parte da população presta-se a encobri-los, não sei se por receio, se por ganância, ou se por qualquer outra circunstância, mas em qualquer dos casos dão sempre o carácter de humanidade. Assim, nenhuma dúvida tenho de que o facto de ter sido nulo o resultado da batida, não se justifica que amanhã não se encontrem na região citada foragidos, pois passam com toda a facilidade a fronteira e, então, podem agora estar em Espanha e muito pouco tempo depois em Portugal. Todavia estes não serão capturados pelos processos de batidas até agora usados, pela muita facilidade que têm em se deslocarem em terrenos quase inacessíveis e de serem informados, mesmo à última hora, de qualquer movimento de tropas.»


Por um relatório do comandante da Batalhão 4 ficamos a saber que no mesmo dia 1 de Maio de 1946, se realizou idêntica diligência na região de Chaves.


Diz o relatório:
«Esta batida começou a ser preparada em 11 de Março, em colaboração com a Guarda-Fiscal, a PIDE e Guarda-Civil espanhola que foi quem marcou o dia que mais lhe convinha – 1 de Maio. No dia 30 de Abril findo concentrei em Chaves o pessoal dos postos de Santa Marta de Penaguião, Sabrosa, Vila Real, Vila Pouca de Aguiar, Pedras Salgadas, Vidago, Montalegre, Boticas e Valpaços, com o qual, reunido aos elementos do Posto de Chaves, se constituíram dois Pelotões comandados pelos tenente Álvaro Henriques Antunes e alferes José Maria de Mota Freitas, comandantes das Secções de Chaves e Vila Real, respectivamente.
O pelotão do tenente Álvaro foi enviado para o Mosteiro e região compreendida entre o rio Rabaçal e Travancas: S. Cornélio, Dadim, Bolideira; o do Alferes Mota de Freitas para o Cambedo, Couto de Ervededo, S. Caetano, Bustelo e região compreendida entre o rio Tâmega e os limites do concelho de Montalegre.
Prenderam, no Couto, o espanhol Sérgio Bramonde, o Vicente, por se encontrar indocumentado; em Bustelo, um português condenado em Montalegre por roubo. Do resto, mais nada. Tudo bem.



Pelos habitantes da região foi dito que não têm aparecido por ali espanhóis indesejáveis a não ser um de nome Salgado, (o Juan) o qual assassinou um guarda-fiscal há meses. Mas que esse mesmo já há muito não consta que por aqui apareça, parecendo-lhes que deve estar em Espanha.» Que eu saiba, esta batida de 1 de Maio, a qual, pelos dados de que dispomos, mobilizou mais efectivos e teve maior envergadura do que a de 20 de Dezembro do mesmo ano, não suscitou grandes parangonas na imprensa, nem tempos de antena na rádio. E a diferença é esta. A de 1 de Maio não deu em nada. A de 20 de Dezembro deu em quatro mortos e alguns feridos. E deu porquê? O Juan se precipitou. Se, em vez de sair para a rua aos tiros, se esconde e se deixa estar quieto, o mais provável é que o resultado da segunda tivesse sido igual ao da primeira. Por estes elementos respigados nos arquivos da GNR, que estão longe de ser exaustivos, ficamos a saber que as autoridades de um e de outro lado da raia estavam a par, da presença dos guerrilheiros nas regiões fronteiriças, desde princípios de 1946 3). Não vejo onde caiba a denúncia da tal Remédios. Também me parece pouco provável que as autoridades tivessem conhecimento da concentração dos guerrilheiros no Cambedo, ou, mais propriamente, no monte das Choias, a que o Demétrio se referiu 4).



O certo é que, nessa madrugada do dia 20 de Dezembro, uma sexta--feira, os moradores do Cambedo acordaram estremunhados com todos os cães da aldeia a ladrar a rebate à porta dos pátios. Assomaram às janelas e viram guardas-republicanos por todos os cantos e esquinas.
Era o prelúdio da famigerada Batalha do Cambedo, cujas sequelas ainda hoje perduram.
Três dos cinco agentes da PIDE que nela tomaram parte, Hélder Cordeiro Alves, Otelo Puga e Vasco Guerra, enviaram, logo nos dias 22, 23 e 26 respectivamente, relatórios ao comando daquela corporação, todos eles a dizer que fizeram e aconteceram, de modo a encarecer o peixe aos olhos dos superiores.



Deles me sirvo para uma tentativa de encadeamento cronológico das contas deste rosário de sangue e lágrimas.


Como atrás se disse, logo após os sucessos de Negrões, PIDE, GNR e Guarda-Fiscal bateram os concelhos de Montalegre, Chaves, Valpaços e Vinhais à cata do que eles taxavam de «bandoleiros» ou «malfeitores» e de quem os apoiava e iam fornecendo o que conseguiam apurar ao comandante da Companhia da GNR de Vila Real. Este, quando se julgou suficientemente esclarecido, marcou o dia 20 de Dezembro para o início das diligências.
Às zero horas desse dia concentraram-se no posto de Chaves uns duzentos guardas-republicanos vindos do Porto, da Régua e de Vila Real.



O comandante dividiu-os em grupos e destinou um para cada uma das seguintes povoações: Nantes, Mosteiró de Cima, Sanfins de Castanheira, Sanjurge, Couto e Cambedo.
Partiram às três da madrugada.



O do Cambedo era chefiado pelo alferes Mota de Freitas. Nele iam integrados os pides Otelo Puga e Joaquim Alves, aquele vindo do Porto e este a prestar serviço no posto de Vila Verde da Raia.
Até Vilarelho, foram de camião. Daqui para a frente, a butes.
Chegaram às seis. O alferes Mota de Freitas postou o pessoal à entrada e à saída da povoação, na frente e nas traseiras das casas suspeitas, a saber: a da Escolástica, a do Adolfo, a do Mestre, a do Silvino e a da Engrácia.
Mas o pessoal de que dispunha não chegava para as encomendas. Na da Engrácia, a primeira à direita de quem entra no povoado, no sentido sul-norte, ficou apenas o pide Otelo Fuga de vigia à porta da rua e um guarda-republicano nas traseiras.
Pelas sete horas, o alferes Mota de Freitas e o pide Joaquim Alves, vêm comunicar que está tudo apostos para um ataque surpresa ao romper o dia.



Eles nisto, ouvem-se tiros nas traseiras da casa da Engrácia. Acodem todos ao local.
Otelo Puga vangloria-se de, e passo a citar «por intuição defensiva, fi-lo, por nossa felicidade, recuando e de pistola-metralhadora aperrada. Pelo que, depressa me apercebi de que dois indivíduos, com carabinas em bandoleira e com pistolas na mão, fugiam por entre umas pilhas de achas de pinho, que se encontravam a cerca de trinta metros de nós, juntas a umas medas de palha, num quinteiro defronte da casa de onde tinham partido os primeiros tiros».



Desfecha-lhes uma rajada. Os fugitivos atiram-se ao chão e ripostam.
Mota de Freitas, Joaquim Alves e o guarda-republicano entrincheiram-se atrás de uma parede e atiram também.



Nisto, a palha começa a arder e um dos fugitivos tenta a fuga. Joaquim Alves e o guarda-republicano lançam-se-lhe no encalço.
Otelo Puga continua a metralhar e sítio onde o outro se atirara ao chão, não fosse ele alvejar os colegas pelas costas.



Num gesto rápido, o primeiro fugitivo volta-se e mete dois tiros numa perna ao Joaquim Alves. O guarda-republicano recua e protege-se. Os outros acodem. Como o segundo fugitivo não tugisse nem mugisse, avançam para ele. Não encontram ninguém. Acorrem a prestar os primeiros socorros ao Joaquim Alves.


Mota de Freitas aproveita para despachar um estafeta ao Couto pedir a comparência das forças para ali destacadas e um outro a Chaves a comunicar ao comandante da Companhia o ocorrido e a pedir o envio de mais forças.
Otelo Puga obriga a Engrácia a abrir a porta e a fornecer a identidade dos fugitivos. Ela jura que, lá de casa, não saíra ninguém. Prendem-na 5).



Neste interim, grande alarido lá para a coroa do povo. Mota de Freitas envia dois guardas-republicanos a ver o que se passa.
Eles estugam o passo, rua acima. À curva da capela deparam com um grupo quase bíblico: um camponês com um macho pela arreata; um outro em cima do macho, escachapernado na albarda, com uma garotita nos braços; em redor, populares aos gritos.



Os GNRs interceptam-nos e inquirem. Falam todos ao mesmo tempo. Que a garota está ferida. Que é preciso levá-la ao hospital.
E mostram a perna da menina (6) com a tíbia e o perónio fracturados e expostos, envoltos numa toalha ensanguentada.



E o homem da arreata, pai da menina, explica. Estava ele a aparelhar o macho debaixo da varanda, quando uma saraivada de balas varreu a casa, a toda a largura. Ele cosera-se instintivamente com um poste de pedra. O macho fugira, espavorido. Mas a menina, que estava na varanda a atirar migalhas de pão às pitas, no suflagrante de se recolher dentro da cozinha, tombara na soleira da porta.


Os guardas duvidam. A casa atingida ficava bem à coroa do povo, a uns duzentos metros ou mais da casa da Engrácia, donde se haviam disparado os únicos tiros.
Os populares insistem na urgência de levar a menina ao hospital, antes que se escoe em sangue.
Os guardas-republicanos deixam passar o trio do macho. Os outros que fossem para casa.
Havia ordens de, genericamente, deter todos aqueles que tentassem entrar ou sair da aldeia. Mas este era um caso imprevisto.



Levam os dois camponeses e a menina ao comandante. Este reúne o estado-maior. Discutem demoradamente o assunto. Por fim acordam deixar, por especial favor, prosseguir a enferma e os dois acompanhantes caminho de Chaves, a umas três horas de jornada pedestre.
E com isto se derretem uns cinquenta minutos, findos os quais se ouvem tiros lá para a fronteira, a cerca de um quilómetro de distância, costa arriba.



A operação Cambedo havia sido montada de súcia entre as autoridades portuguesas e espanholas. Mota de Freitas sabia que a raia estava guardada por um forte contingente de guardas-civis. Conjecturou logo que os fugitivos (nessa altura ainda se supunha que fossem dois) haviam esbarrado nas armas espanholas e retrocedido. Ordena a um grupo de guardas-republicanos que bata a colina subjacente à fronteira.


E que os outros não descurem as entradas e saídas da povoação.
Acabavam de evacuar o pide Joaquim Alves, vem de lá, do fundo de um ribeiro que flanqueia o Cambedo pelo poente, no sentido norte-sul, o eco de um tiro. Mota de Freitas envia um GNR a saber o que se passa. O emissário vai a passo e regressa a correr, todo alvoroçado. Que um dos fugitivos fora morto. Quedam todos entre espantados e surpreendidos. No fundo ninguém ia a contar com mortes.



Mota de Freitas pergunta se alguém conhece o defunto. Todos o conheciam. Era o Juan, ou Facundo .
Neste comenos, chegam os vinte guardas-republicanos que haviam sido destacados para o Couto, sob o comando do sargento Meireles. Pelas onze horas principia a revista às casas. A primeira é a da Engrácia. Não topam nada de especial.




Passam à do João Valença, do outro lado da rua. Encontram o José Barroso, filho da Engrácia, deitado numa cama a fingir que ressona. Perguntam-lhe por que razão está a dormir em casa da vizinha, em vez de estar em casa da mãe. O rapaz não atina com uma resposta satisfatória. Prendem-no e passam à frente. Pelas treze horas, iam as buscas por alturas do quartel da guarda-fiscal, ouve-se de novo o ladrar duma pistola-metralhadora. Voltam-se todos para as bandas de onde os latidos tinham vindo. Vêem um guarda-republicano a tropeçar nas próprias pernas, olhos esbugalhados, lívido, sem fala. Rodeiam-no. Ele aponta o pátio da Albertina. Gagueja. Que haviam entrado três. Dois ficaram lá. Ele salvara-se por milagre.


E quem havia atirado? Não vira. Mas parecera-lhe que os disparos haviam saído de um palheiro.
Os guardas-republicanos e o pide ainda operacional quedam a olhar uns para os outros, atónitos, incrédulos, hesitantes. E agora?



Eis que chegam, vindos de Chaves, os guardas que haviam sido destacados para Nantes, sob o comando do tenente Santos. Com eles vinha o pide Vasco da Rocha Guerra. Parlamentam. Alguém levanta a hipótese de os sitiados se apoderarem das armas, ou mesmo das fardas, dos guardas mortos. Que fazer?


Prudentemente, por largo, a coberto de paredes e árvores, cercam um quarteirão de três casas que parecem comunicar umas com as outras.
A dada altura, assoma uma cabeça a uma janela. Otelo Fuga intima o curioso a recolher-se, se não quer ser alvejado. O curioso recolhe a cabeça, estende o braço e chispa fogo.
«Mais uma vez fui bafejado pela sorte...» – deixou escrito o Puga, muito ufano pela esperteza de se ter protegido com a umbreira de uma porta. Os outros protegem-se também. O caso estava a ficar sério.



Na bagagem dos recém-chegados de Chaves vinham algumas granadas de mão e bombas incendiárias. O tenente Santos manda incendiar o palheiro. Os engenhos são lançados. O palheiro, porém, resiste. Avançam as granadas de mão. Falham também. Então obrigam o Manuel Bárcia a incendiar o palheiro - «e em meia hora tudo ficou reduzido a cinzas, restando apenas de pé as paredes».7)


Já no pleno uso da língua, o guarda milagrosamente escapo, acusa uma das donas de casa de lhes ter dito que podiam entrar à vontade, que, ali, não estava ninguém. Trata-se de Manuela Garcia Álvarez, irmã do Demétrio e mulher do Manuel Bárcia. Prendem-na. Ela defende-se dizendo que não mentira. Que, em sua casa, não estava ninguém. Se houve tiros e mortes, isso foi no pátio da sua prima e vizinha Albertina Tiago. Perguntam-lhe pelo número de bandoleiros . Ela responde que ignora.


Obrigam de novo o Manuel Bárcia, como familiar e amigo dos espanhóis, a ir buscar os dois guardas mortos e respectivas armas.


Ele, de início, recusa. Ante a ameaça de fuzilamento, obedece.
Mas demora. Arrastar um cadáver ainda quente, de mais a mais de um guarda-republicano, não é tarefa agradável, nem fácil. Gritam-lhe que se mexa. Mas ele não tem pressa nenhuma.
Por fim aparece à cancela, às arrecuas, com o morto sopesado pelos sovacos, nádegas, pernas e botas a varrer o cisco do chão.
- Para aqui! - gritam-lhe detrás da esquina.



Ofegante, o Bárcia alija o cadáver no sítio indicado. Identificam-no. Trata-se do soldado de 1ª. classe do posto da GNR de Chaves, José Joaquim, de 34 anos, solteiro, natural da freguesia da Sé, Lamego. Está crivado de balas de alto a baixo 8).


Gritam de novo ao Mestre que se despache. Mas ele não se dá por achado. De vez em quando alija o cadáver e limpa o suor da testa ao canhão da véstia. Por fim, com um arranco de desespero e revolta, arrasta o outro cadáver para a rua principal, onde o comandante e respectivos lugar-tenentes o aguardam, cosidos com as paredes. Identificam-no: José Teixeira Nunes, 37 anos, natural da freguesia de Oliveira, Amarante, casado e pai de três filhos menores. Apresenta, na região posterior do tronco, nove orifícios correspondentes à entrada de outras tantas balas de calibre 9, disparadas à queima-roupa 9). Tratam de despachar os dois mortos para Chaves. O tenente Santos aproveita para pedir a comparência do comandante da Companhia e o envio de mais granadas.





Enquanto isto, o tiroteio continua. Impossibilitados de sair de casa, pessoas e animais desesperam. Assustadas, as crianças choram. Espavoridas, as aves fogem das árvores e as galinhas das eiras. Incomodados pelas bombas e pelos tiros, os cães uivam, incessantemente. Apreensivos e tristes com a morte dos dois companheiros, os guardas só desejam uma coisa, que os espanhóis se rendam e o tiroteio acabe. Mas eles não se renderam, tarde fora, até a noite cair.
Para evitar que eles se aproveitem das trevas para se evadirem, os sitiantes incendeiam duas medas de palha situadas defronte da casa da Albertina, do outro lado da rua.
Neste meio tempo, arribam os guardas-republicanos que haviam sido destacados para Sanfins de Castanheira, sob o comando do tenente Antunes. Com eles, o pide Hélder Cordeiro Alves 10).
Trazem dois projectores eléctricos. Colocam-nos de modo a iluminar as traseiras da casa da Albertina.



Entretanto, noite dentro, vão chegando: o comandante da Companhia, capitão Alexandre Medeiros; um destacamento da PSP do Porto, e, com ele, o pide Vitorino Antero Alves; um pelotão de Caçadores 10, de Chaves, especializado em morteiros de campanha.
Instalam o comando no quartel da guarda-fiscal, casa de loja e sobrado, com duas janelas. A do norte dá para uma travessa de três metros de largura. Do outro lado ficam duas cancelas contíguas. A primeira de acesso ao eido do Manuel Bárcia; a segunda ao quinteiro da Adelaide Teixeira, de onde, a espaços, vêm rajadas de pistola-metralhadora.
O comandante em campo ordena a um agente da PSP, vindo do Porto, que arremesse granadas de gás lacrimogéneo sobre o «covil dos bandoleiros» cujo número toda agente calcula serem seis ou mais.



Mas o vento pica do norte e vira o feitiço contra o feiticeiro. Desistem. A noite, sem lua, está gelada. Uns sopram às mãos, outros batem os pés no chão. Há quem, sorrateiramente, deslize para dentro dos pátios, dos estábulos, dos palheiros e se recoste às paredes, armas em descanso.
No quartel da guarda-fiscal há uma braseira. Os maiorais avivam as brasas e trocam opiniões. Todos concordam em que eles não têm qualquer hipótese. Ou se rendem ou morrem. É tudo uma questão de tempo.
Dos habitantes do Cambedo, raro é aquele que consegue pregar olho. Pelas cinco horas, o palheiro incendiado extingue-se de todo.



O comandante recorre de novo a um PSP perito em foguetes luminosos. Estes, porém, chegam ao fim e o dia não há meio de romper. Então o pide Vitorino Aires oferece-se para incendiar outra meda de palha existente no local. O comandante aceita o alvitre. Mas a tarefa não é fácil, dado que o alvo fica no raio de acção das balas inimigas. O Vitorino aproxima-se o mais que pode e lança um fachuco de palha embebido em petróleo. Com tão boa fortuna que a meda se incendeia.


A aurora encontra o Cambedo transformado em campo de batalha: quartel-general, elementos de ligação entre os vários sectores, tendas de campanha, trem de abastecimentos, apoios logísticos, posto de primeiros-socorros.
Aperta-se o cerco à antiga morada da família Bárcia, agora subdividida em três facções autónomas: a do Mestre , a da sua irmã Adelaide, casada com um guarda-fiscal de nome Octávio (11) e a da sua prima Albertina: todas elas contíguas e comunicantes entre si pelos respectivos quinteiros. 12)



O pide Vitorino Aires, um agente da PSP e um guarda-republicano conseguem entrar nos baixos da casa da Albertina. Mas ao tentarem subir ao primeiro piso, ouvem zunir as balas rente às orelhas e põem o corpinho a salvo.
Então o comandante manda evacuar todas as casas em volta do quarteirão dos Bárcia, que vai ser bombardeado.



Os soldados de Caçadores 10 instalam-se num morro rochoso sobranceiro à povoação, a uns cento e cinquenta metros para nascente, e despejam uns trinta morteiros sobre o alvo.
A folhas tantas, aparece um homem de pistola-metralhadora em punho em cima dum telhado. Os artilheiros apontam-lhe os canhões. O homem desaparece. Os morteiros calam-se. O silêncio no quarteirão é tão profundo e prolongado que todos se convencem de que os bandoleiros estão todos mortos.



Aperta-se de novo o cerco. O pide Vitorino Aires e três polícias adiantam-se para o reconhecimento. São recebidos a tiro e recuam. Felizmente para eles, sem mazela de maior. Apenas um pequeno arranhão na face do pide, causado por uma pequena lasca de pedra que saltou sob o impacte de uma bala. À vista disto, o comandante manda alargar de novo o cerco. E os morteiros recomeçam.


A dado momento, grande alarido do outro lado da rua. O comandante manda fazer sinal aos soldados para suspenderem o bombardeamento e acorrem todos a ver o que era. Um rebo, que um morteiro fizera saltar de um muro, atingira um agente da PSP no peito.
Correm com ele em charola para o posto médico.
Reata-se o bombardeamento.
Ao cabo de uns setenta morteiros despejados sobre o quarteirão, dele não restam mais que ruínas fumegantes 13).



É tempo de apalpar de novo o terreno. Ansiosos por mostrar serviço e subir na hierarquia, os pides estão sempre na brecha. Vitorino Aires, acolitado por um grupo de agentes da PSP e guardas-republicanos mais afoitos, entra no pátio da Albertina e descarrega uma rajada de pistola-metralhadora contra uma porta que ainda se encontra intacta e fechada. Como ninguém responde, avança para ela.


De chofre, vem detrás da porta uma descarga traiçoeira. O pide dá um corcovo instintivo para o lado e corre para trás de uma parede (14) . Sente um arrepio na perna esquerda. Levanta a perna da calça para ver o que era. Uma bala que lhe varara a coxa de lado a lado, logo acima do joelho. «Olha que sorte!» -suspira ele, ao reparar em mais cinco buracos no sobretudo... Como certos animais que se encarniçam à vista de sangue, volta à carga, desta feita contornando o muro pelo lado de fora, não fosse o diabo tecê-las. Repara num rombo de morteiro na parede, que se lhe afigura no enfiamento da porta donde havia sido alvejado. Mete o cano da pistola-metralhadora no buraco e despeja o carregador.
Enquanto aguarda resposta, ouve alguém gritar:
- Lá vai um!



Volta-se e enxerga um indivíduo a fugir em direcção ao monte. Lança-se-lhe no encalço. Mas já um guarda-republicano traz o homem catrafilado pela gola do casaco. Apenas um pacífico habitante do Cambedo que, aterrorizado com tanto morteiro e tanto tiro, dera às de Vila Diogo.
Como a perna continuasse a sangrar, o pide requisita uma toalha e atalha. Os camaradas levam-no, quase à força, ao posto de primeiros-socorros. Um médico faz-lhe o primeiro tratamento e aconselha a evacuação para o hospital de Chaves. O ferido jura que não sai do Cambedo sem se vingar. E volta ao campo de operações.
Mas eis que a perna se lhe inteiriça e recusa a andar. Embora contrariado, o Vitorino Aires consente na evacuação 15).



A esse tempo, já os agentes da PSP especializados em bombas incendiárias haviam conseguido lançar fogo ao que restava do palheiro e afins. Do montão de ruínas restam apenas um lagar e um pequeno forno intactos, a poucos metros um do outro. Conseguem colocar metralhadoras no enfiamento dessas dependências. Estabelece-se um pingue-pongue de tiro vai, tiro vem, que parece nunca mais ter fim.


Pelas dezasseis horas surge, ao cimo das escadas da casa contígua à da Albertina, um sujeito de certa idade. Prendem-no. É Primitivo Garcia Justo, pai do Demétrio. Enquanto o interrogam, o ataque ao lagar e ao forno intensifica-se. Descargas de metralhadora, granadas de mão, bombas incendiárias, disparos de carabina. Os espanhóis vão respondendo. Parcimoniosamente, como quem poupa munições. Até que se calam de vez. Os atacantes suspendem o fogo e aguardam, prudentemente.


Nisto, aparece à boca do forno um lenço branco. Pouco depois sai o Demétrio, de mãos no ar. Primeiro algemam-no. Depois esbofeteiam-no. Perguntam-lhe pelos companheiros. Responde que lá dentro está só o cadáver do seu camarada Garcia, que se tinha suicidado.






Notas:
1) - Citados por Santiago Álvarez in "Memória da Guerrilha", Edicións Xerais de Galícia, 1991, pp 97 e seguintes.
2) - «Por determinação superior, encontrava-me desde o dia 26 de Outubro passado, na região de Vinhais, Chaves e Montalegre» - pide Hélder Cordeiro Alves, « in Relatório sobre o que se passou no Cambedo». Segundo o pide Vasco da Rocha Guerra declarou no Tribunal Plenário do Porto, «o sargento Prieto, da guarda-civil espanhola, colaborou com as autoridades portuguesas na captura dos elementos do bando.»
3 - A 14 de Junho de 1946, o capitão Herculano São Boaventura, comandante do Quartel de Bragança, envia um ofício ao Sr. Comandante do Batalhão n.º 4 da GNR do Porto, onde diz: «Há indicações de que na região da Lomba, do concelho de Vinhais, nomeadamente nas áreas de Sernande e Contim, estão aparecendo refugiados espanhóis e bandidos do mesmo país que auxiliados por um ou dois larápios portugueses permanecem naquela zona;» De seguida solicita carta branca para utilizar o camião afecto a «esta sub-unidade» na caça aos ditos refugiados.
Um outro ofício oriundo do Quartel da GNR do Porto, com data de 17 de Setembro de 1946, manda louvar os soldados da 7.ª Companhia em serviço no Posto de Vinhais, Alfredo Augusto, Aleixo Fernandes e Cândido Augusto Pires «porque conseguiram descobrir e capturar, no dia 28 do mês findo, o chefe da quadrilha, um foragido espanhol, que resistiu, conseguindo dominá-lo depois de o terem ferido gravemente numa perna, tendo-o levado para o hospital de Bragança… onde lhe foi amputada a perna direita...» «O ataque foi feito nas margens do rio Rabaçal, junto à povoação de Sernande...» «O preso vai ser entregue à Polícia de Vigilância.» Este ofício, que nem sequer identifica o preso, vem provar que ainda há muita coisa que nós ignoramos a respeito dos guerrilheiros e da repressão que lhes foi movida.
4) - Correu, por essa altura, não sei com que fundamento, o boato de que os guerrilheiros teriam agendado para o dia 21 o assalto ao palacete do senhor Domingos Veiga Calvão, em Vilela Seca.
5) - Interrogada a 21 de Janeiro de 1947, na PIDE do Porto, a Engrácia manteve-se numa negativa inexpugnável: «Que nesse dia não se encontrava qualquer indivíduo na sua residência.» «Mais uma vez aconselhada a dizer tudo o que sabe sobre o assunto, visto já estar provado que não está dizendo a verdade, respondeu: Que nada mais tem a dizer. E mais não respondeu.» Inquirida de novo em 6 de Fevereiro, acabou por admitir que na noite de 19 para 20 de Dezembro, o Juan dormira lá em casa.
6) - Silvina Fernandes Feijó, felizmente ainda viva, mas infelizmente ainda a manquejar da
, muito embora os peritos médicos a «dessem (ao fim de cento e dezoito dias de doença e impossibilidade de trabalhar) por completamente curada dos ferimentos descritos no exame directo deles não tendo resultado qualquer aleijão ou deformidade»...
7) - Depoimento do pide Otelo Fuga, no Plenário do Porto.
8) - Segundo o relatório da autópsia, umas treze ao todo.
9) - Do relatório da autópsia.
Para além deste dois, foram ainda feridos, com maior ou menor gravidade, cinco soldados da GNR, três dos quais, Jaime Ernesto Alves Leite, atingido por dois tiros num ombro, António Matias, a quem uma bala levou duas falanges do indicador direito e José da Fonseca Nunes, com escoriações no tórax e fractura duma costela por ter caído abaixo dum muro, foram para ao hospital de Chaves.
10) - «Em toda a parte de Castanheira, nomeadamente em Mosteiro, Sanfins, Santa Cruz e Cimo da Vila, foram revistadas todas as casas suspeitas nada sendo encontrado, mas foram feitas prisões dos indivíduos acusados de serem cúmplices dos malfeitores.», deixou escrito o Hélder.
11) - Após estes sucessos, o guarda-fiscal Octávio Augusto, a prestar serviço no posto do
Cambedo, foi transferido para o Gerês, onde acabou por se suicidar.
12) - Alguns relatórios afirmam, não sei com que fundamentos, que os guerrilheiros tinham feito buracos nas paredes meeiras de modo a transitarem de uma para as outras.
13) - A casa da Albertina Tiago foi a que mais sofreu com os bombardeamentos. Ainda hoje se encontra em ruínas.
14) - Manuel Afonso Pinho, do Cambedo, esclareceu no Tribunal Plenário do Porto, «que o agente Aires foi ferido em frente da adega do Bárcia e não da Albertina.» 15) - Ao cabo de quinze dias de convalescença, os médicos deram o Vitorino Aires como completamente curado do ferimento, do qual não resultou qualquer deformidade ou aleijão


retirado de:
http://osbarbaros.org/