8.11.06

Dia Mundial contra a Shell ( 10 de Nov ) - sessão promovida pelo GAIA na Casa Viva ( no Porto ), às 21 horas.



A 10 de Novembro de 2006, no espaço CASA VIVA
(Praça do Marquês de Pombal, 167, Porto)

será relembrado o assassinato do activista ambiental Ken Saro-Wiwa

e a problemática das alterações climáticas no
Dia Mundial Contra a Shell



Ken Saro-Wiwa assumiu funções de presidente do Movimento para a Sobrevivência do Povo Ogoni (MOSOP), uma das etnias que vivem no delta no rio Níger: Wiwa lutou pela defesa dos direitos dos 550 mil habitantes da região.
Um projecto de extracção de petróleo da Shell, implantado no país em 1958, destruiu os meios de sobrevivência deste povo indígena.
Saro-Wiwa juntou 300 mil pessoas numa marcha de protesto, exigindo à Shell o pagamento de indemnizações e a reparação dos danos ambientais causados. No ano seguinte, o líder do movimento é preso, junto com outros dirigentes, acusados da morte de quatro líderes Ogoni. A Amnistia Internacional considera Saro-Wiwa, defensor da não-violência, um “prisioneiro de consciência”. Um tribunal militar condena Saro-Wiwa por homicídio. Governos e organizações de todo o mundo acusam o tribunal de fraude, apelam à libertação do líder e ecologista e tentam levar a Shell a intervir. Sem êxito.
A 10 de Novembro, Saro-Wiwa e os oito dirigentes do movimento são enforcados.

Olhando do espaço, conseguimos distinguir na Terra miríades de pontos luminosos na superfície. Uns são facilmente preceptiveis como sendo cidades. Porém, uma parte substancial são impressões digitais de crimes. Não são mais do que queimadas realizadas nas zonas florestais do planeta.
Cada ponto luminoso, das centenas que podem ser avistados diariamente, corresponde à pira funerária de milhares de árvores, em queimadas megalómanas, patrocinadas por empresas petrolíferas como a Shell.
A destruição das florestas naturais e a libertação de grandes quantidades de dióxido de carbono pelos automóveis e máquinas afins que utilizamos, têm vindo a intensificar a concentração deste gás na atmosfera.
Como consequência, temos vindo a assistir por todo o planeta ao chamado aquecimento global: um aumento da temperatura média superficial global que se têm registado nos últimos 150 anos.
Embora a Shell alegue estar a reduzir as suas emissões de dióxido de carbono (o principal causador das alterações climáticas), a quantidade de dióxido de carbono produzida pelo petróleo da Shell excede a produzida pelo Brasil.
A Shell pretende aumentar a sua produção de petróleo para além dos 100 milhões de barris por dia nos próximos 10 a 15 anos.
Simultaneamente, procura aumentar a dependência mundial do gás natural, que também contribui para o aquecimento global.
Como membro do American Petroleum Institute, a Shell continua a fazer um lobby feroz contra as medidas para mitigar as alterações climáticas, incluindo o Protocolo de Quioto.


Assim, por um mundo melhor,
em colaboração com o Espaço CASA VIVA,
o GAIA apresenta:
o filme,
A Herança – “O Mundo dos Nossos Filhos”

21:00
A Hora do Chá: Um Momento de Meditação por um Mundo Melhor e por aqueles que lutam para que esse mundo “aconteça”;

22:00
Documentário sobre as Alterações Climáticas;

23:00
Tertúlia dinâmica sobre as Alterações Climáticas e a Procura de Soluções para o problema;

00:00
Música, Actividades Interactivas e Convívio.

Cantos de Maldoror, de Isidore Ducasse ( breves citações)



Que a tua graça multiplique por dez as minhas forças naturais
In Cantos de Maldoror, de Isidore Ducasse


Quando estiveres na cama e ouvires o uivar dos cães no campo, esconde-te debaixo dos cobertores, não te rias do que eles fazem; eles têm sede insaciável de infinito, como tu, como eu, como os restantes humanos, de rosto pálido e comprido
In Cantos de Maldoror, de Isidore Ducassé


Vai realizar-se em Barcelona (22 a 25 de Novembro) um Colóquio Internacional sobre Lautréamont. Ver:
http://www.maldoror.org/Programme_Barcelone.rtf

Ver ainda:

http://www.maldoror.org/
.
Ler artigo de R.Vaneigem sobre Lautréamont em:
http://library.nothingness.org/articles/SI/fr/display/72

Chico Science, os «Nação Zumbi» e a Mangue beat




Francisco de Assis França, mais conhecido pela alcunha de Chico Science (13/3/1966- 2/2/1997) foi um cantor e compositor do Recife (Pernambuco, Brasil), e um dos principais colaboradores do movimento Manguebeat em meados da década de 90.

Mangue – Em rápidas palavras, foi um movimento que surgiu no Recife (Pernambuco, Brasil) nos primeiros anos da década de noventa. Trabalhando em cooperativa, dois grupos desconhecidos, Chico Science e Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, juntaram-se a alguns jornalistas, designers e desempregados, para tentar criar uma cena artística capaz de quebrar o marasmo que dominava a vida local. O termo é inspirado nos manguezais, a vegetação que dominava boa parte da área sob a qual foi construído o Recife. A ideia era gerar uma cena tão rica e diversificada quanto esse ecossistema, de modo a abranger toda a complexidade embutida potencialmente na vida de uma cidade grande.
A empreitada foi um sucesso: em poucos anos, centenas de bandas estavam actuando em bares, casas nocturnas e garagens, e a agitação havia se espalhado para o cinema, as artes plásticas e a moda. Recife, desde então, passou a ser conhecida como a “Manguetown”.


Chico Science

Líder da banda Nação Zumbi e principal expoente do movimento mangue beat de Pernambuco, teve sua carreira precocemente abortada por um acidente de carro. Chico Science participava de grupos de dança e hip hop em Pernambuco no início dos anos 80. No final da década integrou algumas bandas de música como Orla Orbe e Loustal, inspiradas na música soul, no funk e no hip hop.
A fusão com os ritmos nordestinos, principalmente o maracatu, veio em 1991, quando Science entrou em contacto com o bloco afro Lamento Negro, de Peixinhos, subúrbio de Olinda. Misturou o ritmo da percussão com o som de sua antiga banda e formou o Nação Zumbi.
A partir daí o grupo começou a apresentar-se em Recife e Olinda e iniciou o "movimento" mangue beat, com direito a manifesto ("Caranguejos com Cérebro"). Em 1993 a sua apresentação por São Paulo e Belo Horizonte chamou a atenção dos principais media. O primeiro disco, "Da Lama ao Caos", projectou a banda nacionalmente. O segundo, "Afrociberdelia", mais pop e electrónico, confirmou a tendência inovadora de Chico Science e Nação Zumbi, que viajaram e apresentaram-se então pela Europa e Estados Unidos. O Nação Zumbi lançou um CD duplo em 1998, depois da morte do líder, com músicas novas e versões ao vivo remixadas por DJs.


Monólogo ao Pé do Ouvido (Chico Science)

Modernizar o passado
É uma evolução musical
Cadê as notas que estavam aqui?
Não preciso delas!
Basta deixar tudo soando bem aos ouvidos
O medo dá origem ao mal
O homem coletivo sente a necessidade de lutar
O orgulho, a arrôgancia, a glória
Enche a imaginação de domínio
São demônios os que detroem o poder
Bravio da humanidade
Viva Zapata!
Viva Sandino!
Viva Zumbi
Antônio conselheiro!
Todos os panteras negras
Lampião sua imagem e semelhança
Eu tenho certeza eles também cantarm um dia.



Os grandes marcos do mangue beat

Há alguns anos, em Recife (PE), Fred Rodrigues Montenegro encantava-se com Jorge Ben e a sua mistura de samba, rhythm'n'blues e baião. Ainda adolescente, foi convidado para tocar guitarra. O seu primeiro grupo, ainda no início dos anos 80, chamava-se Trapaça. Influências de bandas paulistas provocaram o surgimento de uma segunda banda, os Serviço Sujo, em cuja formação Fred tinha o cognome de "Rato". Em 1984, dos restos das bandas punks, surge o mundo livre S/A e seu cognome definitivo: Zero Quatro. Enquanto isso, na mesma cidade... Francisco de Assis França era daqueles músicos que não estudaram em conservatórios, mas que ouviam de tudo. Frequentava festas funk e os seus ídolos eram James Brown, Grandmaster Flash e Kurtis Blown. Nos anos 90, Francisco, ou melhor, Chico Science, descobriu o Lamento Negro, um grupo de samba-reggae. Impressionado com o som, chamou dois colegas do Loustal, o seu anterior grupo de hip hop e funk, para formar, o Chico Science e Lamento Negro no início de 1991. Aí, começa a história...
No início da década de 90, Zero Quatro, Chico Science e amigos em comum - entre eles futuros integrantes da Nação Zumbi - encontravam-se com regularidade. Foi este convívio que deu origem ao movimento que ficou conhecido como mangue beat. Em 1994 foram lançados os discos Da Lama ao Caos, de Chico Science & Nação Zumbi, e Samba Esquema Noise, do MLS/A .
O famoso manifesto dos "Caranguejos com cérebro" foi escrito por Zero Quatro. Segundo o jornalista e escritor Renato L, o texto era, na verdade, um release, um "book do mangue" para acompanhar os shows. Quando chegou à imprensa, passou a ser considerado um manifesto. Talvez eles não imaginassem que aquele texto, utópico, iria mudar a cara da música pernambucana e elevar o estado nordestino a um dos mais criativos e efervescentes da cultura brasileira. Passada mais de uma década, o mangue beat continua influenciando as novas gerações com seu som e sua ideologia. Ao fim de 10 anos foi organizada uma exposição com acervo de Chico Science, que morreu em Fevereiro de 1997 num acidente de carro. Passada a morte do vocalista, os Nação Zumbi pararm por um tempo e só voltaram depois com Jorge Du Peixe na voz. Saiu um livro e um cd por essa altura.


MANIFESTO CARANGUEJOS COM CÉREBRO

Mangue --- O conceito
.
Estuário. Parte terminal de um rio ou lagoa. Porção de rio com água salobra. Em suas margens se encontram os manguezais, comunidades de plantas tropicais ou subtropicais inundadas pelos movimentos dos mares. Pela troca de matéria orgânica entre a água doce e a água salgada, os mangues estão entre os ecossistemas mais produtivos do mundo.
Estima-se que duas mil espécies de microorganismos e animais vertebrados e invertebrados estejam associados à vegetação do mangue. Os estuários fornecem áreas de desova e criação para dois terços da produção anual de pescados do mundo inteiro. Pelo menos oitenta espécies comercialmente importantes dependem dos alagadiços costeiros.
Não é por acaso que os mangues são considerados um elo básico da cadeia alimentar marinha. Apesar das muriçocas, mosquitos e mutucas, inimigos das donas-de-casa, para os cientistas os mangues são tidos como os símbolos de fertilidade, diversidade e riqueza.

Manguetown - A cidade

A planície costeira onde a cidade do Recife foi fundada, é cortada por seis rios. Após a expulsão dos holandeses, no século XVII, a (ex) cidade "maurícia" passou a crescer desordenadamente as custas do aterramento indiscriminado e da destruição dos seus manguezais.
Em contrapartida, o desvairio irresistível de uma cínica noção de "progresso", que elevou a cidade ao posto de "metrópole" do Nordeste, não tardou a revelar sua fragilidade.
Bastaram pequenas mudanças nos "ventos" da história para que os primeiros sinais de esclerose econômica se manifestassem no início dos anos 60. Nos últimos trinta anos a síndrome da estagnação, aliada à permanência do mito da "metrópole", só tem levado ao agravamento acelerado do quadro de miséria e caos urbano.
O Recife detém hoje o maior índice de desemprego do país. Mais da metade dos seus habitantes moram em favelas e alagados. Segundo um instituto de estudos populacionais de Washington, é hoje a quarta pior cidade do mundo para se viver.

Mangue --- a cena
Emergência! Um choque rápido, ou o Recife morre de infarto! Não é preciso ser médico pra saber que a maneira mais simples de parar o coração de um sujeito é obstruir as suas veias. O modo mais rápido também, de infartar e esvaziar a alma de uma cidade como o Recife é matar os seus rios e aterrar os seus estuários. O que fazer para não afundar na depressão crônica que paraliza os cidadãos? Como devolver o ânimo deslobotomizar e recarregar as baterias da cidade? Simples! Basta injetar um pouco da energia na lama e estimular o que ainda resta de fertilidade nas veias do Recife.
Em meados de 1991 começou a ser gerado e articulado em vários pontos da cidade um núcleo de pesquisa e produção de idéias pop. O objetivo é engendrar um "circuito energético", capaz de conectar as boas vibrações dos mangues com a rede mundial de circulação de conceitos pop. Imagem símbolo, uma antena parabólica enfiada na lama.
Os mangueboys e manguegirls são indivíduos interessados em: quadrinhos, tv interativa, anti-psiquiatra, Bezerra da Silva, Hip Hop, midiotia, artismo, música de rua, John Coltrane, acaso, sexo não-virtual, conflitos étnicos e todos os avanços da química aplicada no terreno da alteração e expansão da consciência
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Contra a vídeovigilância e a sociedade de controle






«Para sua segurança, este local encontra-se equiapdo com câmaras vídeo», «Local vigiado por sistema de vídeo», «Sorria, está a ser filmado» - anúncios/avisos do género multiplicam-se hoje por toda a parte: «shoppings», aeroportos, estradas, edifícios, fábricas, escolas, estádios, ao mesmo tempo que uma câmara oculta de TV pode estar em qualquer lugar à espreita…Um imenso «bufo» electrónico, ao serviço de uma difusa e inverificável autoridade, segue cada um dos nossos passos, cada um dos nossos gestos, cada um (como na vigilância informática na Net) dos nossos pensamentos e desejos, sem, ao contrário dos seus congéneres humanos, qualquer escrutínio moral ou jurídico, antes suportado num discurso securitário que é o paroxismo do panopticismo benthaminano feito ideologia. Agora são as auto-estradas que, a partir do próximo ano serão equipadas com 510 câmaras capazes de registas todos os «comportamentos fora do padrão». A Brisa terá ainda acesso aos dados da DGV e Direcção-Geral de Registos e Notariado. Como no panóptico de Bentham, o guarda invisível nem precisa já de estar lá. Basta sabermos que somos observados para nos transformarmos nós mesmos em guardas da nossa conformidade ao «padrão» e ao que o «big brother» espera de nós.
(crónica de Manuel António Pina, publicada no Jornal de Notícias de 6 de Nov. de 2006, sob o título «Policia-te a ti mesmo» )