8.11.06

Contra a vídeovigilância e a sociedade de controle






«Para sua segurança, este local encontra-se equiapdo com câmaras vídeo», «Local vigiado por sistema de vídeo», «Sorria, está a ser filmado» - anúncios/avisos do género multiplicam-se hoje por toda a parte: «shoppings», aeroportos, estradas, edifícios, fábricas, escolas, estádios, ao mesmo tempo que uma câmara oculta de TV pode estar em qualquer lugar à espreita…Um imenso «bufo» electrónico, ao serviço de uma difusa e inverificável autoridade, segue cada um dos nossos passos, cada um dos nossos gestos, cada um (como na vigilância informática na Net) dos nossos pensamentos e desejos, sem, ao contrário dos seus congéneres humanos, qualquer escrutínio moral ou jurídico, antes suportado num discurso securitário que é o paroxismo do panopticismo benthaminano feito ideologia. Agora são as auto-estradas que, a partir do próximo ano serão equipadas com 510 câmaras capazes de registas todos os «comportamentos fora do padrão». A Brisa terá ainda acesso aos dados da DGV e Direcção-Geral de Registos e Notariado. Como no panóptico de Bentham, o guarda invisível nem precisa já de estar lá. Basta sabermos que somos observados para nos transformarmos nós mesmos em guardas da nossa conformidade ao «padrão» e ao que o «big brother» espera de nós.
(crónica de Manuel António Pina, publicada no Jornal de Notícias de 6 de Nov. de 2006, sob o título «Policia-te a ti mesmo» )