30.7.07

Lançado o Pica Miolos de Agosto de 2007


Foi lançado e já está disponível mais uma edição do Pica Miolos, desta vez relativa ao mês de Agosto de 2007. Com uma excelente apresentação gráfica e um conteúdo de fácil leitura, este número inclui um cd com gravações de algumas bandas e músicos que passaram pela CasaViva.

O Pica Miolos é gratuito e está disponível na CasaViva, Praça Marquês de Pombal, 167, Porto











Editorial do Pica-Miolos sob a forma de apresentação da publicação com o título:

O porquê do Pica-miolos


Mais do que um espaço, a CasaViva é um meio de provocação. Nunca foi um projecto meramente artístico ou cultural. Muito menos uma ideia comercial ou pretensão de figurar no mapa da noite portuense. A CasaViva é um esforço de cidadania, um espaço de activismo, com aspiração a anfetamina que combata a letargia e a incapacidade de indignação. Para contrariar esta instituiçãodepensar, ser e conformadamente estar e viver.
Se o espaço é temporário, o projecto não quer ser efémero. Razão destas folhas de opiniões e notícias e que nos vão chegando e tocando mais profunda e especialmente.
Segue um critério necessariamente tendencioso, como todos os critérios editoriais de todos os media que se dizem imparciais. Objectivo: picar miolos. E, assim, participar na revolução das mentalidades desta sociedade acrítica e bem comportada e demonstrar de que lado do activismo a CasaViva vive e resiste.



Sumário-índice:

- O G8 come tudo, tudo. A EU come tudo o que puder. A polícia acha que ainda bate pouco.

- 4 anos de ocupação, 4 anos de resistência: mentira como técnica de governação

- A informação é mercadoria?

- 25 de Abril 2007, em Lisboa: Manifs sim, se cheirosas e bem vestidas

- Debate na CasaViva: Basta de cerejas, que é feito do bolo? (conversa vadia sobre o que é então a cultura e para que serve afinal)

- Pelo direito à habitação e ao lugar: a Plataforma Artigo 65 quer transformar a política de habitação

- Foi bonito, pá . A primeira marcha global pela marijuana no Porto

- Mais vale que arda a STCP

- Curtas notícias

Mais um suplemento com um Glossário Pica-Miolos

… e a acompanhar tudo isto um cd sob o simbólico título «A Vizinha queixou-se deste barulho» !



CASAVIVA167 - projecto multicultural de ocupação temporária de uma casa no Porto

Fanfarra Recreativa Improvisada Colher de Sopa (F.R.I.C.S.)

Fanfarra Recreativa Improvisada Colher de Sopa (F.R.I.C.S.) é uma banda que pratica música improvisada nos locais mais improvisados possíveis, mas que já têm um cd-r gravado de seu nome «Abraço Vivo»

A banda é constituída pelos seguintes elementos:

Sr. Almeida - Trompetes, Assobios

Sr. Costa - Percussões
Sr. Fernandes - Contrabaixo
Sr. Martins - Saxofone
Sr. Ricardo - Sintetizador Analgico
Sr. Saldanha - Bombardino, Trombone
Sr. Silva - Xilofone, Organeta
Dr Hostilino - Tele-Maestro

Consultar:
www.myspace.com/fanfarraimprovisada


Próximas actuações da FRICS ( Fanfarra Recreativa Improvisada Colher de Sopa)

01 Agosto/August - Sociedade Harmonia Eborense, Évora


15 Agosto/August - Festival de Paredes de Coura

Actuação da F.R.I.C.S. no Café Floresta ( Bragança) tocando em troca de bagaço na 4ª paragem da Capitais de Distrito Tour por ordem alfabética (26/05/07)

Nota: Floresta é um café snack bar em Bragança

1


2



3

A sétima arte de Ingmar Bergman


"Ingmar Bergman is probally the only genius in cinema" (Woody Allen)

Ingmar Bergman, homem do teatro e do cinema, morreu na sua casa nas ilhas Faro . Bergman ajudou a muitos a compreender o que é a sétima arte, se bem que tenha sempre confessado a sua predilecção pela arte dramática. Não se cansou de abordar a condição humana. Filmes como O Ovo da serpente sobre a besta nazi, e Cenas da Vida Conjugal sobre o universo familiar marcam qualquer cinéfilo.

Ernst Ingmar Bergman (Uppsala, 14 de Julho de 1918 — Fårö, 30 de Julo de 2007) foi um dramaturgo e cineasta sueco. Estudou na Universidade de Estocolmo, onde se interessou por teatro, e mais tarde, por cinema. Iniciou a sua carreira em 1941, escrevendo a peça de teatro "Morte de Kasper" e, em 1944, escreveu o primeiro argumento para o filme "Hets". Realizou o primeiro filme em 1945, "Kris".
Os seus filmes lidam geralmente com questões existenciais como a mortalidade, solidão e fé. As suas influências literárias vêm do teatro: Henrik Ibsen e August Strindberg.

Dentro da sua extensa filmografía podemos distinguir varios períodos, pela sua temática e pela sua estética:
1946-1950: Aprendizagem
1951-1955: Primeiras obras
1957-1960: Maturidade
1961-1980: Moderno
1982- : Fora de parâmetros

Consultar:
http://www.bergmanorama.com/

http://film.guardian.co.uk/bergman/story/0,,2137813,00.html

http://www.filmref.com/directors/dirpages/bergman.html


Filmografia
• 2003 - Saraband (cinema digital)
• 2002 - Anna (TV)
• 2000 - Bildmakarna (TV)
• 1997 - Larmar och gör sig till (TV)
• 1995 - Sista skriket (TV)
• 1993 - Backanterna (TV)
• 1992 - Markisinnan de Sade (TV)
• 1986 - Documentário sobre Fanny and Alexander
• 1984 - Efter repetitionen (Depois do ensaio)
• 1983 - Karins ansikte
• 1982 - Fanny och Alexander (Fanny e Alexander)
• 1980 - Aus dem Leben der Marionetten (Da vida das marionetes)
• 1979 - Farödokument 1979
• 1978 - Höstsonaten (Sonata de outono)
• 1977 - Das Schlangenei (O ovo da serpente)
• 1976 - Ansikte mot ansikte (Face a face)
• 1974 - Trollflöjten (A flauta mágica )
• 1973 - Scener ur ett Äktenskap (Cenas de um casamento)
• 1972 - Viskningar och rop (Gritos e sussurros)
• 1971 - Beroringen (A hora do amor)
• 1969 - Farödokument
• 1969 - Ritten (O rito)
• 1969 - En passion (A paixão de Ana)
• 1968 - Skammen (Vergonha)
• 1968 - Vargtimmen (A hora do lobo )
• 1967 - Stimulantia
• 1966 - Persona (Quando duas mulheres pecam)
• 1964 - For att inte tala om alla dessa kvinnor (Para não falar de todas essas mulheres)
• 1963 - Tystnaden (O silêncio)
• 1962 - Nattvardsgästerna (Luz de inverno)
• 1961 - Sason I em spegel (Através de um espelho)
• 1960 - Djavulens oga (O olho do diabo)
• 1959 - Jungfrukällan (A fonte da donzela)
• 1958 - Ansiktet (O rosto)
• 1957 - Nära livet (No limiar da vida)
• 1957 - Smultronstallet (Morangos silvestres)
• 1956 - Det sjunde inseglet (O sétimo selo)
• 1955 - Sommarnattens leende (Sorrisos de uma noite de amor)
• 1955 - Kvinnodröm (Sonhos de mulheres)
• 1954 - En lektion I kärlek (Uma lição de amor)
• 1953 - Gycklarnas afton (Noites de circo)
• 1952 - Sommaren med Monika (Monika e o desejo)
• 1952 - Kvinnors väntan (Quando as mulheres esperam)
• 1951 - Sommarlek (Juventude, divino tesouro)
• 1950 - Sant händer inte här (Isto não aconteceria aqui)
• 1949 - Till glädje (Rumo à Felicidade)
• 1949 - Torst (Sede de paixões)
• 1949 - Fängelse (Prisão)
• 1948 - Hamnstad (Porto)
• 1948 - Musik I moker (Música na noite)
• 1947 - Skepp till India land (Um barco para a Índia)
• 1946 - Det regnar pa var kärlek (Chove em nosso amor)
• 1945 - Kris (Crise)

Entrevista a Ingmar Bergman -1


Entrevista a Ingmar Bergman -2




Os 50 anos do sétimo selo
http://www.the-seventh-seal.co.uk/


O sétimo selo
(excerto)





Persona (excerto)



Morangos silvestres (excerto)


O Condomínio da Terra - um livro de Paulo Magalhães

Foi recentemente editado um livro de leitura quase que obrigatória para todos os interessados nestes assuntos ( da ecologia ao direito ao ambiente) : O condomínio da Terra, das alterações climáticas a uma nova concepção jurídica do planeta, de Paulo Magalhães, jurista que trabalhou com a Quercus.

Consultar:
http://www.earth-condominium.com/intro.html

Organizar a Vizinhança Global

A nossa época é a época das alterações climáticas. É a época em que a humanidade se defronta com uma colisão massiva e sem precedentes, entre a nossa civilização e o planeta que habitamos. E no jogo entre probabilidades, incertezas e eventuais certezas, entre a pedagogia da catástrofe e o cepticismo, parece que nos resta apenas a convicção que nos enganámos completamente em relação ao ambiente. As alterações climáticas trouxeram consigo a definitiva certeza de que a estratégia de “ver para crer”, de “provar para validar”, falhou na rede de complexidade da natureza.

Só quando os efeitos do aquecimento global se exercem já de forma concreta, e tornam as eventuais medidas de correcção incertas e de limitada eficácia, é que se toma consciência de que este é um processo que está fora das nossas jurisdições. Lidamos com um sistema complexo, cumulativo e intricadamente interdependente. Sabemos hoje que globalização, interdependência e complexidade sempre existiram na natureza, e que esta não esperou que o homem as decifrasse para interagir como um único corpo vivo. O que se discute hoje já não é se o planeta está ou não a aquecer, mas sim se as águas vão subir um ou cinco metros, em dez ou cinquenta anos, por hipótese. Parece que o que é relevante é a que velocidade e a forma como aquece, e não o facto, já aceite de estar a aquecer. Mais uma vez, a mesma lógica de domínio e controlo do tempo e da realidade parece sobrepor-se ao único trabalho que podemos realmente fazer, que é organizar a nossa vizinhança e interdependência global, e conferir sustentabilidade organizacional a um futuro que exige a prossecução de interesses comuns.

Se é necessária uma outra revolução industrial, que passa obrigatoriamente pela descarbonização da economia, parece-nos que os ajustes tecnológicos sem mais, não resolvem um problema de base. A partir do momento em que sabemos que entre o espaço físico da crusta terrestre, o mar, a atmosfera e os seres vivos existem essas profícuas e intricadas interligações que sustentam a vida e que fazem o planeta funcionar como um único organismo vivo, tal facto transforma o nosso ultrapassado conceito de vizinhança fronteiriça numa vizinhança verdadeiramente global. Todos somos funcionalmente dependentes de bens que circulam de forma algo peregrina a nível planetário, e em que nenhum cidadão ou estado se pode excluir do seu consumo, e todos nós os podemos afectar de forma positiva ou negativa.

A “tarefa monumental” que séc. XXI nos impõe será de a conseguirmos definir o interesse comum, definir quem o defenderá, sob que autoridade e com que meios. Esta mútua interdependência funcional de bens globais requer uma inevitável administração comum.

O CONDOMÍNIO DA TERRA tem como objectivo conciliar uma primária necessidade humana de existência de um espaço vital, a territorialidade, com a unidade interdependente do planeta que os homens habitam, possibilitando a coexistência de soberanias autónomas num espaço colectivo, ou seja, um poder político, supremo e independente, relativo à fracção territorial de cada estado, e partilhado, no que concerne as partes insusceptíveis de divisão e que por isso são inevitavelmente comuns.



Do prefácio de autoria de Viriato Soromenho-Marques:

Fazer do perigo o que salva, tal é o famoso lema imortalizado num grande poema de Hölderlin. É a aceitação desse repto o que encontramos nesta obra do jurista e ambientalista Paulo Magalhães, sob a forma de um duplo desafio.
Desafio para o pensamento, na medida em que o autor nos propõe um olhar renovado sobre o sistema internacional, sobre a relação entre Estados e sistemas políticos, face ao desafio da crise global do ambiente.

Desafio para a acção, pois este livro não nos ilude quanto à urgência das tarefas políticas, jurídicas e económicas que temos de levar a cabo, se quisermos evitar o colapso de uma civilização que tarda em compreender que o único modelo para as sociedades humanas se relacionarem duradouramente com os ecossistemas não é o da dominação, mas sim o da habitação.

As alterações climáticas são o factor catalisador da crise global do ambiente, simultaneamente da sua centralidade e da sua visibilidade para o cidadão comum, que a entrada em cena da tecnociência como principal acelerador da história moderna transformou na realidade incontornável, na questão axial do nosso tempo, na causa definitiva da nossa época.

Paulo Magalhães explora, com ousadia intelectual, um caminho de analogia teórica. E se pensássemos a Terra como um imenso condomínio? Se em vez de uma crepuscular “soberania absoluta”, que apenas sobrevive ainda nas páginas envelhecidas de Jean Bodin e Hugo Grotius, colocássemos a possibilidade de uma “soberania complexa”? Se em vez duma ordem jurídica e política que fecha os olhos perante a autofagia da nossa morada planetária por uma economia predadora e ruinosa, erguêssemos os alicerces de uma economia de simbiose e solidariedade? Se em alternativa a uma visão territorial de justiça, fôssemos capazes de nela integrar a responsabilidade pelo tempo e pelas gerações futuras?

Partindo da inspiração de grandes pensadores, clássicos e contemporâneos, mas avançando sempre no fio articulado de uma reflexão amadurecida e comprometida pelo seu próprio percurso de vida e pensamento, Paulo Magalhães abre, neste ensaio, uma janela de luz e esperança para todos aqueles que não se resignaram à condição de sermos a primeira geração, à escala global, a quem o futuro ameaça ser roubado.
Viriato Soromenho-Marques




Os 10 Princípios do Condomínio da Terra:

1 – Temos de encarar a crise ambiental mundial, não como um problema do ambiente, mas como um problema da Comunidade dos Homens.

2- Para resolver a crise ambiental mundial, temos de resolver o problema jurídico da coordenação duma multitude de soberanias (Estados) exercidas sobre um bem materialmente indiviso (Terra), conformado por componentes insusceptíveis de divisão jurídica, mas dos quais todas as soberanias são funcionalmente dependentes.

3 – Só na definição e prossecução do interesse comum (Terra), será possível continuar a garantir, a cada Estado, os seus direitos - sob pena de estes brevemente deixarem de ter objecto.

4 – Um projecto “Condomínio da Terra” tem que distinguir as fracções estaduais das partes comuns: cada condómino é soberano dentro do seu território e, ao mesmo tempo, detentor de uma soberania partilhada das partes comuns do planeta.

5 – As partes comuns são constituídas pelas partes que, de um ponto de vista ambiental, são: a) necessariamente comuns (a Atmosfera e Hidrosfera), e b) presumidamente comuns (a Biodiversidade).

6 - Existirá um regulamento do Condomínio da Terra que disciplina o uso, fruição e conservação das partes comuns, e uma Administração que será eleita em Assembleia de Condóminos (Estados).

7 - Existe um direito/dever igual per capita no uso/conservação dos bens comuns; logo a votação relativa de cada condómino deverá ser aferida em função do número de habitantes de cada soberania.

8 - Cada condómino comparticipará nas despesas necessárias à conservação ou fruição das partes comuns, de forma equitativa, em função do número de habitantes ou do uso efectivamente realizado de partes comuns, quando este for determinável, no sentido de garantir a coincidência entre o óptimo social e o óptimo ecológico.

9 - Competirá ao Administrador do Condomínio receber todas as verbas provenientes dos Condóminos e promover projectos de conservação e melhoramento das partes comuns, bem como, compensar todos os condóminos que no seio dos seus estados contribuam para a sua manutenção e melhoramento.

10 – Compete ao Condomínio da Terra descobrir formas de compatibilizar os sistemas jurídico e económico com o Sistema Natural Terrestre.




Qual é o problema Jurídico?

O sistema de organização dos povos retalhou o planeta em soberanias e respectivos domínios delimitados por fronteiras, zonas económicas exclusivas e espaços aéreos (que as poluições atravessam, independentemente das linhas que traçamos nos mapas). Estas delimitações, às quais atribuímos uma dimensão jurídica, não deixam por isso de serem válidas apenas entre nós, e esquecem toda a realidade física e biológica do planeta.

Não é que as abstracções jurídicas territoriais não sejam necessárias para a organização interna dos grupos humanos, o problema surge quando confundimos as nossas abstracções com uma realidade que é a biosfera, regida por leis que já existiam antes de nós existirmos e continuarão a existir depois de deixarmos de existir 1 e que, em grande parte, desconhecemos.

Os vários direitos de soberania têm servido de álibi socialmente legitimado para perpetuar a devastação estrutural de todo o futuro da vida que nela possa irromper. Todos os estados estão em contacto directo com partes que são insusceptíveis de divisão e apropriação jurídica, e que circulam por todo o planeta: a atmosfera e hidrosfera. O problema não está no funcionamento dos sistemas naturais, o problema está no homem e numa deficiente adaptação das sociedades humanas às circunstâncias impostas pelo planeta que habitam, o qual é dominado por profundas e intricadas interrelações naturais.

Por outro lado, a nossa proposta de conexão entre a complexidade objectiva da natureza e a nossa capacidade subjectiva de a representar, no nosso sistema social, não pode nunca desvalorizar as funções primordiais da territorialidade como conceito angular da paz social.

Chegamos, portanto, a uma situação de impasse e teremos mesmo que saber lidar com o chamado paradoxo da racionalidade:

1. Por um lado, é racional a manutenção das divisões internas da sociosfera, uma vez que os equilíbrios geopolíticos entre os vários grupos humanos são precários e foram fruto de um aturado processo de afirmações e reconhecimentos. A posse de um território bem definido, é reconhecida pela psicologia ambiental como uma necessidade biológica básica de qualquer indivíduo ou comunidade. Neste sentido, será insustentável pretender tornar comunitário um sistema em que a sua própria segurança depende destas divisões internas.

2. Por outro lado, dado o carácter complexo da profunda imbricação dos efeitos combinados e das suas implicações globais e duradouras na biosfera, é irracional pensar que poderemos continuar a sobrepor a lógica destes equilíbrios internos da sociosfera à necessária gestão comum da biosfera como um Bem Comum Universal.
Será possível resolver este paradoxo?

Analisemos esta pergunta sob o ponto de vista jurídico e coloquemos a questão central: Qual o problema jurídico de base que continua por resolver?

É um problema de gestão, coordenação e conciliação de uma multitude de domínios humanos, exercidos sobre um bem materialmente indivisível e, por isso, requer uma administração comum. Mais, se a hipotética separação jurídica destes diferentes domínios é possível sobre um dos elementos constitutivos deste bem, fisicamente inseparável, a Crusta Terrestre, relativamente aos elementos Água e Ar, dado seu carácter peregrino a nível planetário, até mesmo a sua hipotética separação jurídica é inviável, uma vez que a utilização destes bens, por parte de um estado ou indivíduo, pode provocar efeitos imediatos ou mediatos em todos os outros estados e em todos os outros indivíduos, e nenhum está em posição de se auto-excluir do seu consumo.

Ora, o problema da conciliação dos diferentes e aparentemente opostos interesses em questão, não é a primeira vez que se coloca às ciências jurídicas, e foi resolvido através de uma figura “ definidora da situação em que uma coisa materialmente indivisa, ou com estrutura unitária, pertence a vários contitulares mas tendo cada um deles direitos privativos ou exclusivos de natureza dominial sobre fracções determinadas (…) sendo ainda comproprietários das partes do edifício que constituem a sua estrutura comum”. Esta figura jurídica dá pelo nome de “Condómino”.

Se no direito internacional do ambiente nos parece ser este o problema de base, tentemos então adaptar este conceito, que está internacionalmente experimentado e validado à escala planetária, ao nosso edifício comum que é o Planeta Terra. E como o faremos? Criando um sistema que divide o que poderá ser objecto de uma divisão jurídica e que constituem as soberanias estaduais (litosfera) e que mantêm comum e que não se pode reduzir à dimensão da organização estatal (atmosfera e hidrosfera).



Economia de Simbiose

Se o documentário de Al Gore, “Verdade Inconveniente”, promoveu a entrada da problemática das alterações climáticas em toda a sociedade, no dia 21 de Outubro de 2006, o economista Nicholas Stern, ao apresentar os resultados do estudo encomendado pelo governo britânico sobre a Economia das Alterações Climáticas, tocaria no argumento mais eficaz, e promovia assim a entrada deste assunto na Real Politic. O relatório não será mais do que o momento em que se apresenta a factura. Os resultados são desoladores: uma quebra de 5% do PIB mundial que pode atingir os 20%, se não forem tomadas medidas drásticas e praticamente imediatas.

Interessa agora questionar como foi anteriormente possível analisar a economia global, ou formular alguma teoria económica sem ter em conta o cenário em que essa economia se desenrola. Se a própria palavra eco (Casa)+nomos (lei de gestão), significa a gestão da casa, então o que hoje existe será uma economia, no sentido semântico da palavra, ou será antes um sistema financeiro completamente desconectado da casa? Não sabemos todos nós que o uso e a manutenção de uma casa têm custos? Aquilo que fizermos à casa-planeta vai, ou não, inevitavelmente repercutir-se no sistema financeiro? Aquilo que fizemos à nossa habitação individual, reflecte-se ou não na economia familiar de cada um de nós?

O que existe actualmente a nível planetário é uma gestão em que os custos do “uso casa” não são assumidos.

Se antes se poderia justificar uma “economia sem casa” pelo desconhecimento das interligações globais cumulativas e duradouras e pela dificuldade de valorar e incorporar os custos ambientais no processo produtivo, será hoje possível continuar a considerar como inexistente o que por enquanto ainda é de difícil mensuração e contabilização?

Como poderemos continuar a admitir que uma floresta como a Amazónia, por mero exemplo, só tenha valor económico quando as árvores são cortadas? As relações que a crise ambiental nos revelou, tornaram as relações entre sociosfera e biosfera obrigatórias e íntimas, e não apenas relações de cooperação que poderão ser mutuamente vantajosas. Cada estado está funcionalmente dependente do uso de áreas comuns como a atmosfera e hidrosfera, e que estão ao serviço de todos os outros estados, e essa é uma condição obrigatória à qual nenhum se pode excluir.

A poluição, no seu sentido mais amplo, revela-se como uma das mais importantes manifestações da relação entre a actividade económica produtiva e a Biosfera. Será precisamente a propósito da poluição, que os economistas se apercebem, pela primeira vez, que em todo o cálculo económico há uma série de efeitos “externos” ao sistema interno da Sociosfera, mas “internos” do supra-sistema Biosfera, da qual aquela depende. “Quer dizer, uma actividade económica não se processa em laboratório, protegida por paredes artificiais do mundo que a rodeia, dos outros seres humanos e do outro mundo em que ela se insere, e o raciocínio económico abstracto que referi, que é do sujeito racional, esquece, minimiza, sobretudo, despreza o lado externo da actividade económica e esse lado externo existe quase sempre.” (1)

Estas externalidades negativas em economia, usualmente chamadas de “disfunções ambientais”, são na realidade “disfunções económicas”, uma vez que o problema encontra-se na deficiente adaptação da economia à realidade biológica do planeta. São os efeitos da desarticulação entre os sistemas jurídicos e económicos humanos e o sistema natural terrestre. E a sociosfera não encontrou ainda um sistema organizacional que incorpore a necessária unidade interdependente e cumulativamente global da biosfera, e em que o uso e cuidado dos bens globais seja valorado no sistema de trocas humanas.

Em biologia, quando os organismos agem activamente em conjunto para proveito mútuo, o que pode acarretar especializações funcionais de cada espécie envolvida, diz-se que existe uma relação simbiótica. A simbiose implica uma inter-relação de tal forma íntima entre os organismos envolvidos que se torna obrigatória, quando não existe obrigatoriedade na relação, dever-se-á falar apenas de protocooperação. A intricada interdependência global, depois de descoberta e vivida, tem de ser valorizada jurídica e economicamente.

Isto é, as inter-relações globais impostas pelo Sistema Natural Terrestre ao sistema económico e ao sistema jurídico, são obrigatórias, íntimas e interdependentes. Então uma economia de simbiose será aquela que aceita esta obrigatoriedade íntima, e que valora no sistema financeiro humano o custo do uso do Sistema Natural Terrestre. Nada de novo do que é já preconizado na economia ambiental, só que, desta feita, estruturada com um sistema jurídico de condomínio que garante a existência de uma “instituição de troca onde o sujeito que afecta positivamente outro(s) receba uma compensação por isso ou o sujeito que afecta negativamente outro(s) suporte o respectivo custo”.(2)

A Economia de simbiose será aquela que assume estas interdependências globais, e em articulação com um sistema jurídico de condomínio, contabiliza e organiza o uso de destes bens comuns universais, através de uma instituição de troca que recebe de quem usa os bens comuns para lá dos limites equitativos, e compensa quem os afecta de forma positiva. Essas serão uma das funções essenciais da Administração do Condomínio.

(1) FRANCO, A.S. (1994) – Ambiente e Economia – Centro de Estudos Judiciários, Textos, Actividade económica e Direito do Ambiente – http://www.diramb.gov.pt/ , Texto 7525.
(2) DIAS SOARES, C. A. (2001) , O Imposto ecológico – Contributo para o estudo dos instrumentos económicos de defesa do ambiente, Coimbra, Universidade de Coimbra, Coimbra Editora,p.81 – sublinhado nosso.

Durante as nossas acções de divulgação do projecto CONDOMÍNIO DA TERRA, oferecemos simbolicamente frascos com as partes comuns do nosso planeta. A hidroesfera e a atmosfera, e com os seguintes textos:


Atmosfera

Respiramos atmosfera 25 vezes por minuto. A atmosfera é um bem comum, pois ninguém pode ser excluído do seu consumo: os seus danos ou benefícios afectam todos a nível global. O Administrador do Condomínio receberá de quem usa a atmosfera para lá dos limites equitativos e compensará quem cuide deste bem comum.


Hidrosfera

Uma molécula de água permanece em média 2500 anos no oceano e 10 dias na atmosfera - é elemento vital em todas as formas de vida. É um bem comum, pois ninguém pode ser excluído do seu consumo: os seus danos ou benefícios afectam todos a nível global. O Administrador do Condomínio receberá de quem usa a hidrosfera para lá dos limites equitativos e compensará quem cuide deste bem comum.

http://www.earth-condominium.com/intro.html

Objectivos do milénio para 2015 ou será para 3015?

Em Setembro de 2000, chefes de Estado e de Governo de 189 países, incluindo Portugal, reuniram-se nas Nações Unidas. Ali assinaram a Declaração do Milénio, comprometendo-se a lutar contra a pobreza e fome, a desigualdade de género, a degradação ambiental e o vírus do VIH/SIDA. Assumiram ainda o compromisso de melhorar o acesso à educação, a cuidados de saúde e a água potável. Para avaliar o cumprimento daquele compromisso, estabeleceram 8 Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), a alcançar até 2015.

2015 ou 3015?


A Social Watch considera que, ao ritmo actual, os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) só serão alcançados por todos dentro de cem anos. Para esta rede internacional de organizações da sociedade civil, os principais responsáveis pelo atraso são os países desenvolvidos, que não cumprem os compromissos assumidos quanto à ajuda para o desenvolvimento.

A Social Watch baseia esta leitura pessimista no seu Índice de Capacidades Básicas.
Consultar:




A Millennium Campaign – Campanha do Milénio das Nações Unidas – foi lançada em 2002. Procura inspirar os cidadãos em países ricos e em países pobres no sentido de exigirem aos seus líderes políticos o cumprimento, até 2015, dos compromissos assumidos na Declaração do Milénio. Ou seja, procura incentivar políticas públicas, tanto em países ricos como em países pobres, que tenham impacto positivo no desenvolvimento sustentável dos países mais desfavorecidos. A Campanha do Milénio das Nações Unidas está presente em 24 países africanos e asiáticos, bem como em seis países na Europa e América do Norte.Em Portugal, a Campanha quer inspirar todos os cidadãos e organizações que acreditam que o Governo Português deve conceder mais e melhor ajuda públicapara o desenvolvimento (APD).Em 2006, Portugal investiu 0,21% do seu Rendimento Nacional Bruto em APD. O compromisso assumido foi o de investir 0,7% até ao ano 2015.

Para saber mais, contacte-nos para o e-mail info@objectivo2015.org

ou adire à campanha aqui.


http://www.objectivo2015.org/

8 perguntas para entender o que se passa com a Terra e o que se pode fazer pelo Mundo

Consultar:


8 perguntas para entender o que se passa com a Terra e o que pode fazer pelo Mundo

1. O que é o clima?
2. O que são alterações climáticas?
3. O que é o efeito de estufa?
4. O que é o aquecimento global?
5. Porque devo preocupar-me?
6. Quem é mais afectado?
7. Quem é responsável?
8. O que podemos fazer?


O que é o clima?

Vento, chuva, neve – estes são alguns dos fenómenos climáticos que definem o estado do tempo todos os dias. O clima é o comportamento mais comum do tempo meteorológico para uma determinada região durante um período alargado (cerca de 30 anos). O clima resulta das interacções que se estabelecem entre os cinco componentes do sistema climático: a atmosfera, os oceanos, a biosfera terrestre e marinha, a criosfera (água em estado sólido) e a superfície terrestre.
O que são alterações climáticas?

O clima sempre variou ao longo do tempo em função de causa naturais: alterações na radiação solar, erupções vulcânicas que podem cobrir a Terra com poeiras que reflectem o calor do sol de volta para a espaço e ainda variações naturais no próprio sistema climático. Mas nos últimos séculos juntaram-se às causas naturais as causas humanas. Desde que se iniciou a industrialização, o clima da Terra tem sofrido alterações climáticas, sob a forma de mudanças na atmosfera que se adicionam às que o planeta sempre sofreu de forma natural.

O que é o efeito de estufa?

A temperatura média da Terra poderia ser bem menos amena, caso não existissem na atmosfera certos gases. O dióxido de carbono (CO 2), o óxido nitroso, o ozono e o metano são os principais gases que impedem que todos andemos bater o dente com frio: sem eles, a temperatura média à superfície da Terra andaria pelos -15ºC. Estes gases deixam passar a radiação do sol rumo à superfície do planeta, mas absorvem parte do calor – radiação infravermelha – que a Terra devolve para a atmosfera, aumentando deste modo a temperatura. A esta contenção do calor chama-se efeito de estufa.

O que é o aquecimento global?

Quanto maior for a concentração de gases com efeito de estufa (GEE) na atmosfera, maior será a quantidade de calor que eles impedem de regressar ao Espaço, causando a subida da temperatura à superfície da Terra. Nos últimos séculos, a temperatura tem aumentado a um ritmo crescente, devido a cada vez maiores emissões de GEE para a atmosfera, sobretudo de CO 2. Estas emissões resultam da queima de combustíveis fósseis –tipo petróleo e carvão – e atingiram os níveis mais altos de sempre na década de 90 do século passado, causando um aumento da temperatura na Terra de cerca de 0,5ºC desde o início do século. Caso as emissões não sejam bastante reduzidas, em menos de cem anos o aquecimento global poderá ir até aos 5,8ºC.

Porque devo preocupar-me?

O aquecimento global tem causado a subida do nível das águas do mar (devido ao degelo dos glaciares), ameaçando as populações em zonas costeiras e certas ilhas; o aumento da intensidade das chuvas, provocando mais inundações e erosão dos solos; o crescimento da frequência de fenómenos meteorológicos extremos, como furacões, que devastam vastas regiões, tornando-as ambientes propícios a epidemias; o avanço das regiões áridas e semi-áridas, mais vulneráveis a incêndios florestais e ainda a alteração dos habitats de numerosas espécies, colocando-as no caminho da extinção. Tudo isto irá continuar por pelo menos mais cem anos, garantidos pelos GEE já enviados para a atmosfera. O economista Nicholas Stern demonstrou que, caso nada seja feito, a economia mundial poderá entrar numa recessão sem precedentes – com os jovens na linha da frente dos desempregados. Ou seja, o mal já está feito; resta-nos adaptar-nos e evitar que cresça para um mal maior.

Quem é mais afectado?

Os países pobres/em desenvolvimento, embora sejam quem menos polui, mostram-se mais vulneráveis às alterações climáticas, pois dispõem de menos meios para se adaptarem e para enfrentarem as consequências dessas mudanças. Em África – o continente mais afectado pela fome – a produção agrícola é muito sensível às variações no clima e as economias estão muito dependentes do sector agrícola. Além disso, os desastres naturais e as secas reduzem o tempo de que rapazes e raparigas dispõem para frequentar a escola. As alterações climáticas podem agravar as desigualdades existentes entre homens e mulheres nestes países: aumentarão as dificuldades no acesso aos recursos, especialmente à água e à lenha, o que implicará um acréscimo de trabalho para as mulheres; forçarão mais migrações masculinas em busca de trabalho, com a consequente carga adicional nas responsabilidades e tarefas femininas. As alterações climáticas foram ainda responsáveis no ano 2000 por aproximadamente 2,4% dos casos de diarreia em todo o mundo e por 6% dos casos de paludismo em alguns países em desenvolvimento. Muitas doenças infecciosas, como a malária e a febre amarela, ou transmitidas por alimentos e água, como a diarreia e a cólera, são sensíveis a mudanças nas condições climáticas. Em algumas regiões, o risco estimado de diarreias para o ano 2030 é 10% maior do que na ausência de alterações climáticas. O acréscimo no número de inundações trará consigo um aumento no risco de afogamentos, diarreias e doenças respiratórias, bem como fome e subnutrição. Considerando os cenários previstos de emissões de GEE, também aumentarão as doenças derivadas da contaminação do ar nas grandes cidades nos países em desenvolvimento. Nestes, a escassez de combustíveis “limpos” – como a energia solar – afecta directamente as habitações das zonas rurais, que dependem da lenha, do estrume, dos resíduos das colheitas e do carvão para a cozinha e para o aquecimento. A contaminação do ar em lugares fechados derivada da queima deste tipo de combustíveis causa por ano mais de 1,6 milhões de mortes, principalmente entre mulheres e crianças.

Quem é responsável?

Os países ricos/desenvolvidos foram responsáveis por quase 80% da queima de combustíveis fósseis de 1900 a 1999. Mas alguns países pobres/em desenvolvimento, como a China e a Índia, estão a aumentar rapidamente as suas emissões devido ao forte crescimento económico. Enfim, há responsabilidades partilhadas, mas diferenciadas: são os países mais ricos, entre os quais Portugal, quem tem maior responsabilidade na redução das emissões e em ajudar os países pobres a adaptarem-se às consequências das alterações climáticas.

O que podemos fazer?

Algumas das medidas para reduzir as emissões para a atmosfera de gases com efeito de estufa são:
• a redução do consumo de combustíveis fósseis (mediante a utilização de energias mais limpas, coma a solar, ou poupando energia);
• o incentivo à utilização eficiente da energia;
• a captação do metano emitido pelas lixeiras para posterior queima ou para utilização como biogás;
• o desenvolvimento da captação de carbono através actividades como a gestão florestal (pois os bosques são captadores naturais de CO 2).
Existem ainda numerosas opções para uma melhor adaptação às alterações climáticas e para minimizar os seus danos previsíveis:
• desenvolvimento de medidas de protecção face à subida do nível das águas do mar;
• melhoria dos sistemas de saúde;
• conservação e recuperação de ecossistemas naturais (como p.e. os mangais, que actuam como barreiras contra tempestades e inundações);
• desenvolvimento de infraestruturas adaptadas a fenómenos meteorológicos extremos;
• adaptação da agricultura a condições climáticas difíceis (como p.e. a utilização de espécies resistentes e o acesso melhorado a seguros agrícolas);
• ordenamento dos recursos hidrológicos de modo a garantir o acesso à água e a minimizar os riscos de secas e de inundações;
• em geral, incluir os riscos climáticos nos planos de ordenamento do território.

Nenhuma destas medidas é possível sem um compromisso dos Governos. Enquanto cidadãos dos países mais desenvolvidos, temos uma responsabilidade acrescida para exigir aos nossos governantes que façam mais pelo nosso mundo. Em especial, temos de exigir-lhes que não só façam melhor aqui, mas também que ajudem os governos dos países mais vulneráveis a responder às consequências das alterações climáticas. Temos de exigir-lhes que concedam mais Ajuda Pública para o Desenvolvimento de modo a que os países pobres consigam atingir os 8 Objectivos do Milénio e ainda que libertem fundos adicionais para que esses países possam apostar num desenvolvimento limpo.

26.7.07

A utopia ecológica de William Morris


Pintor pré-rafaelista, desenhador ( de telas e papel pintado), magnífico tipógrafo ( a edição da sua responsabilidade dos Contos de Canterbury, ilustrada por Burne-Jones é considerada um jóia mundial), William Morris é um polifacetado escritor e artista inglês do século XIX ( nasceu em Walthamstow, 1834-Kelmscott House 1896) e uma figura importante do que se convencionou chamar socialismo utópico, sendo justamente considerado o mais importante escritor utópico do séc. XIX da Inglaterra.

Nasceu numa família endinheirada e teve uma infância privilegiada, junto da natureza rural e campestre e do que de melhor esta podia oferecer. Depois de um período onde frequenteu o Marlbrough College, de que foi expulso por indisciplina, entra em 1853 no Exeter College ( Oxford) onde recebe a influência de John Ruskin, célebre estudioso de arte e reconhecido reformador social, que defende a ligação entre a vida, a arte e o trabalho, e acaba por se reunir ao círculo artístico dos pré-rafaelitas. Consagra-se ao fabrico de móveis, dando primazia à reabilitação dos estilos medievais, ao mesmo tempo que trabalha iluminuras de livros, na decoração de vidros coloridos e na escultura em madeira.

Em 1861 é criada a sociedade Morris and Co que se dedica à produção de mobiliário e de peças para decoração interior e que, em breve, se tornou conhecida pelo seu elevado nível de tal modo que as suas criações têm um lugar central no então nascente movimento Arts and Crafts.
A partir dos anos de 1870 Morris interessa-se pela acção política, começa a dar conferências, quase sempre para auditórios operários, onde não se cansa de defender a ligação entre arte e trabalho no seio de uma sistema socialista. O socialismo de Morris é, pois, fortemente influenciado pela estética e pela criatividade individual, e a importância que ele confere à necessidade de embelezar todos os momentos do quotidiano. Harmonizar a cidade e o campo é outra das suas preocupações constantes e sonha transformar a Inglaterra num «jardim», preconizando restringir a selvagem industrialização que a paisagem inglesa estava a sofrer e que, segundo ele, não respondia a nenhuma necessidade. Apesar de extremamente crítico para com a maquinaria industrial, e a divisão de trabalho que engendrava, William Morris não defendia a supressão total das máquinas, antes desejando que estas apenas fossem utilizadas quando se mostrassem como benéficas para tornar menos pesado e enfadonho o trabalho humano. ( ver as suas conferências de 1884 intituladas « Trabalho inútil contra pena inútil» e « A fábrica tal como deve ser»).


O livro mais conhecido dele, editado em 1891, e que relata uma utopia, tem por nome «Notícias de lugar nenhum» (News from nowhere). Alguns anos antes, Em 1888 publica a novela «O sonho de John Ball» onde mistura utopia, sonho e uma viagem na história, e por onde perpassa um certo pessimismo sobre a liberdade, a igualdade dos trabalhadores e a justoça social . O narrador da novela é transportada para uma pequena aldeia em plena Idade Média inglesa, que luta pelos seus direitos e liberdade contra os seus senhores. A revolta popular é liderada por um clérigo sábio e atrevido, de seu nome John Ball, e com quem o narradar entabula uma conversa nocturna, sob o tecto de uma igreja medieval, acerca da liberdade humana, a igualdade dos trabalhadores e a justiça social. Aquela revolta fracassa, mas da conversa se deduz que outras surgirão face a um sistema social injusto ( o capitalismo ) que não deixará de manter e perpetuar a exploração do homem pelo homem, do humilde pelo poderoso, dos que nada têm pelos possidentes. Uma visão pessimista do futuro mas que não deixa aos homens outra solução que não seja irem à luta no decurso dos séculos em que reinar a iniquidade. Agora e sempre o homem deve procurar uma solução. John Ball deve assim marchar sobre Londres, não obstante a probabilidade de acabar na forca por desobediência ao rei. A novela acaba com uma lenda de rei húngaro Mattias Corvinas que deixa pairar uma vaga desesperança, mas serve também para Morris retratar os usos e costumes, o ambiente social da época medível, de que o autor se sente próximo, em contraste com a pérfida evolução a que assiste por efeito da industrialização das cidades e do campo da sua região.

Morris demora-se particularmente em descrever a beleza artesanal daquela época e não se cansa em elogiar o artesanato, a arte e o labor artesanal. Na injusta Idade Média havia mais gente feliz que no industrializado século XIX, para além das coisas estarem muito melhor feita que na era da produção industrial em série


Mas o livro mais conhecido dele, editado em 1891, e que relata uma utopia, tem por nome «Notícias de lugar nenhum» (News from nowhere). Trata-se de uma crítica em forma de romance utópico contra a obra de Edward Bellamy (1850-1898) , Looking Backward 2000-1887(Revendo o futuro) de 1888, considerada por Morris como uma utopia cockney ( com esta expressão pretende o autor designar tudo o que é prejudicial e negativo para Londres).
Na sua utopia Bellamy leva ao extremo as tendências então emergentes de centralização e de mecanização, num pano de fundo igualitário, onde os cidadãos mais se assemelham a soldados de um quartel vocacionado para a produção industrial ( o exército de trabalho é literalmente constituído graças ao princípio do recrutamento obrigatório), ou então a peças de uma enorme engrenagem social segundo o modelo da modernidade burocrática, enformando toda uma rígida estrutura social fechada que para se manter precisa de valorizar o desporto que se constitui assim como uma forma de evasão do ambiente totalitário em que estão encerrados os indivíduos. Em contraste, Morris esboça uma utopia claramente anticentralizadora que logo ganha as simpatias dos seus amigos anarquistas.

Morris sabe que as utopias de reconstrução à maneira da de Bellamy mais não servem para reorganizar as tendências industrializadoras que cada vez mais se acentuavam na Inglaterra e que a dignidade do homem não está tanto na obediência cega como na sua capacidade criativa. Por isso a sua obra, «Notícias de lugar Nenhum», transporta-nos para um mundo oposto àquele que ele via todos os dias a nascer em Londres, para um mundo onde se questiona o crescimento e a eficácia industrial, assim como o gigantismo da produção e das cidades. Um mundo onde o homem é a medida de todas as coisas, se afirma a relação entre o homem e o ambiente, e o comércio não é aquela actividade impessoal e predatória da natureza e da vida das pessoas. Porque o alheamento entre o ser humano e o real criara o desaparecimento do saber-fazer artesanal e os homens alienados encontravam-se à mercê de um meio social artificial, Morris profetiza um regresso ao trabalho manual, à habilidade do homo faber que permitiria a reintrodução da estética na vida diária uma vez que exigência de beleza deveriam presidir ao fabrico dos objectos e artefactos.

A história começa com um despertar estranho do narrador, numa Casa de Hóspedes, que se surpreende a viver dois séculos depois do tempo a que estava habituado, um futuro socialista que se lhe oferece radioso face à brutal realidade inglesa do século XIX industrial. Nesse futuro tudo seria embelezado e purificado, desde os rios ( que inclui o convite de um barqueiro para um mergulho matinal do Tamisa), as pessoas , os locais ( com uma toponímia renovada) até ao sistema político e social, para surpresa e satisfação do personagem-narrador ao longo de um passeio a que ele se entrega através de Londres e do vale do rio Tamisa a montante da cidade. As roupas, por exemplo, seriam feitas em casa à imagem e inspiradas na época medieva. As mulheres, por seu turno, eram não só iguais aos homens, como livres de fazer aquilo que mais gostassem de fazer, para além de exibirem um vigor atlético e uma saúde física dignos de registo. A dimensão de Londres era mais reduzida, cheia de bosques e prados, ao passo que as aldeias ao seu redor teriam adquirido uma dimensão que as tornavam auto-sustentáveis. Já a aquitectura feita de materiais tradicionais tinha superado a lúgubre arquitectura industrial caracterizada pelo vasto uso do aço e a construção de monumentos já passar para o tempo passado pois eram símbolos imóveis de um inócuo pretensiosismo de morte (as Casas do Parlemento inglês estavam agora convertidas em armazém de estrume) Na utopia morrisiana não há compras nem vendas no sentido comercial, mas antes mercados regulados por acordos locais, de controles regulares, mas cuja regulação é desprovida de sanções punitivas. Os crimes desapareceriam com a abolição da propriedade privada, e os criminosos seriam vistos não como delinquentes mas como amigos tresmalhados. Os usos e costumes prevalecem face à lei. A tolerância e o respeito pela diferença e pela individualidade de cada um primava nas relações sociais, pelo que a opinião mnoritária não deixaria de ser respeitada e não seria esmagada peloa maioria. A criatividade estava omnipresente em tudo o que dissesse respeito ao trabalho num espantosa harmonia entre beleza artística e o trabalho. Enquanto na outra época se falava da necessidade de trabalho, da dignidade e do heroísmo do trabalhador, os trabalhadores imaginados de «Notícias de lugar nenhum» descobrem a beleza do trabalho tranquilo, realizado com habilidade e perícia manual próprio dos artesãos criadores. Curiosamente não deixam de existir indivíduos insatisfeitos: um, é um velho que se dedica à história e confessa a sua nostalgia pela era de cocorrência, e outro, é alguém que compara a literatura utópica com aquela que estava repleta de enredos, paixões e desgraças e conclui que a primeira é mais dócil. Mas, no fundo, a única contrariedade que econtramos nos habitantes da Londres imaginada pelo autor são os desgostos de amor, em relação aos quais nada nem ninguém é imune.

O regresso à natureza preconizado por William Morris significa uma recuperação da simplicidade, da acção directa e da beleza natural, uma reinvenção da harmonia e do equilíbrio entre homem e natureza, longe de qualquer forma de ascetismo e de maniqueísmo, e até muito mais próximo da vida prática ideal.

Bibliografia:

- L’utopie ecologique de William Morris, Michel Louve, artigo publicado na colectânea «Utopia, mitos e formas», compilação das comunicações apresentadas no Colóquio com o mesmo título, sob a coordenação de Yvette Centeno e promovido pelo Acarte, da fundação Calouste Gulbenkian em colaboração com o gabinete de estudos de simbologia da Universidade Nova de Lisboa

- La pensée utopique de William Morris, Paris, 1972

- Dictinonnaire des utopies, Michèle Riot-Sarcey, Thomas Bouchet, Antoine Picon, Larousse, 2002



Sobre os múltiplos encontros a realizar este ano sobre William Morris:
http://www.morrissociety.org/index.html







O comércio ético é apenas uma outra forma de mostrar que se é rico

O consumismo verde não salvará a biosfera

(Ethical shopping is just another way of showing how rich you are)
Artigo de George Monbiot, publicado no jornal The Guardian (24 de Julho)
(tradução livre)

Aconselhar a comprar orgânico, sazonal, local, sustentável e reciclado não adianta nada se não apostarmos na redução drástica do consumo

As classes médias gostam de mostrar e congratular-se pelas suas atitudes e pelo seu modo de vida verde, quando na verdade elas viajam, compram e voam hoje muito mais do que no passado.



As coisas podem não ser como estão a acontecer. Os cientistas do clima dizem-nos que os nossos Invernos se tornarão mais húmidos e os nossos Verões cada vez mais secos. Sendo assim não posso dizer que estas inundações foram causadas pelas mudanças do clima, ou que são consistentes com os modelos. Mas tal como o fantasma do Natal, ainda por vir, elas oferecem-nos um vislumbre do possível ambiente invernal que nós habitaremos caso não o evitemos a tempo.

Com o aumento do nível do mar e o aumentos das chuvas de Inverno – sem esquecer que, quando as árvores estão despidas e os solos saturados, há poucos lugares para onde ir a água da chuva - bastará haver uma coincidência entre um forte caudal de água e uma maré alta para termos reunidas todas as condições para um enorme desastre. Nós estamos a ver agora como as inundações podem inutilizar serviços essenciais e bloquear a acção dos bombeiros e dos encarregados da emergência civil. Mas os acontecimentos deste mês não devem ser colocados ao mesmo nível de algumas das previsões que circulam em jornais de referência. Os nossos esforços políticos devem ser antes de mais para impedir o desaparecimento das grandes massas de gelo do Árctico e da Greenland. A única interrogação sobre as mudanças climáticas que agora vale a pena é saber como podemos fazer isso.

Dúzias de livros novos parecem dar uma resposta: nós podemos salvar o mundo adoptando «melhores, e mais ecológicos, estilos de vida». Na última semana, por exemplo, o jornal The Guardian publicou um extracto do livro A Slice of Organic Life escrito por Sheherazade Goldsmith – casada com o abastado e riquíssimo ecologista Zac – e no qual ela nos ensina “a viver dentro dos limites da natureza”. Fácil, não é? Basta fazermos o nosso próprio pão, manteiga, queijo, geleia, e pickles, ter uma vaca para ordenha, alguns porcos, cabras, gansos, patos, galinhas, beehives, jardins e pomares. Tudo tão fácil que dá vontade para perguntar o que é que você está ainda à espera?

O livro contém abundantes conselhos úteis, e a autora parece ser sincera, modesta e estar bem informada. Mas sobre as acções para operar a mudança política, não há uma única palavra. Dá a impressão que o palenta pode ser salvo a partir da sua própria cozinha - se você tiver, claro está, os recursos e todo o tempo do mundo. Quando eu estava a ler o livro no comboio, um outro passageiro perguntou-me se poderia dar uma olhadela ao livro. Ele deu-lhe uma vista de olhos e resumiu depois o problema em poucas palavras: «Isto é para as pessoas que não trabalham.»

A obsessão dos media para com a beleza, a prosperidade e a fama impede qualquer alternativa que belisque naqueles valores, considerados intocáveis, tal como acontece com a política ambientalista. Há um conflito inerente entre um estilo de jornalismo que faz os leitores sentirem-se bem consigo próprios e que consegue vender cozinhas rústicas e promover o aumento da procura ambientalista segundo a qual nós devemos consumir menos. «Nenhuma dessas mudanças representa um sacrifício», diz-nos Goldsmith, a autora do livro. «Ser mais consciencioso não é desistir das coisas.» Mas se é assim, podemos então possuir mais do que uma casa quando outros não têm nenhuma. Por mais incómodo que isto seja para os media e os seus publicitários, desistir das coisas é uma componente essencial da atitude comportamental verde. Na secção de comércio ético no livro de Goldsmith recomenda-se comprar produtos locais, orgânicos, reciclados, sustentáveis e da estação do ano. Mas nada diz sobre a necessidade de se comprar menos.

O consumismo verde está a transformar-se numa peste para o planeta. Se simplesmente trocássemos os bens prejudiciais nós compramos por bens menos prejudiciais, eu era o campeão. Dois mercados paralelos estão em franco crescimento - um para produtos anti-éticos e um outro para produtos éticos, e a expansão do segundo faz pouco para travar o crescimento do primeiro. O que me parece é que estou a afogar-me numa onda do eco-lixo (ecojunk). Há seis meses os nossos «coats pegs» passaram a estar revestidos com sacos orgânicos de algodão, que - enchidos com pacotes de sais de banho jojoba e de chá ginseng - são agora as prendas obrigatórias em qualquer encontro ou reunião ambientalista. Tenho diversos carregamentos para canetas de esfera, feitas com papel reciclado, e meia-dúzia de mini-carregadores solares para dispositivos que não possuo.


Na última semana o jornal The Telegraph telégrafo disse aos seus leitores para não abandonar a luta para conservar o planeta. «Há ainda uma esperança, e as classes médias, com os seus compostos e os seus eco-aparelhos, estão a mostrar o caminho a trilhar.» Algumas sugestões úteis foram dadas, tais como «um modelo de carro de competição a hidrogénio», que, por 74.99 libras, pode ter um painel solar, um «electrolyser» e uma célula combustível. Sabe-se lá com que metais raros e processos intensivos de energia foram usados para o produzir. Em nome da consciência ambiental o que estamos a criar é simplesmente novas oportunidades para o aumento dos lucros do capital.

O comércio ético está em vias de se transformar em outro indicador de status social. Conheço pessoas que compraram painéis solares e turbinas de vento antes de isolarem as suas casas, em parte porque adoram aparelhos electrodomésticos, mas também porque, como eu suspeitava, querem mostrar a todos como não só são conscienciosos como ricos e abastados. Afirmamos frequentemente que a compra de tais bens promove uma mentalidade mais aberta acerca dos desafios ambientais, mas também é verdade que esse é o caminho mais curto para a despolitização. Com efeito, o consumismo verde é outra forma de atomização, um substituto da acção colectiva. Nenhuma mudança política pode acontecer por via da simples comercialização de produtos verdes.

As classes médias exibem o seu modo de vida verde e congratulam-se com ele apesar de se deslocarem, comprarem e voarem mais hoje em dia do que em tempo algum. É fácil pintar um retrato da situação em que todo o mundo compre produtos verdes enquanto as emissões de carbono não param de aumentar.


Como muitos ecologistas argumentam, é certo que a maioria de pessoas encontram na vida verde uma aspiração mais atraente que o sujo puritanismo. Mas isso também pode ser alienante. Conheço muitos agricultores e proprietários de terras que se mostram desesperados para começar uma exploração agrícola mas que se sentem excluídos e preteridos por aquilo se chamam a “horsiculture” (cultura do cavalo): as parcelas pequenas de terra agrícola são compradas para serem convertidas em prados do póneis e quintas de entretenimento dos tempos livres. Locais como Surrey e New Forest o preço dos terrenos subiu para cima de 30,000 libras o acre, e bónus da City são oferecidos para comprar modos de vida orgânicos. Quando os proprietários novos se vestem como funcionários do leite, e quando se dizem então excluídos de fazer a manteiga, correm então o risco de virarem para o ambientalismo fantasioso das elites.

Contestar e criticar o novo consumismo verde novo pode valer alguns dissabores como ser acusado de pedante e pateta, o bode expiatório eleito para o mau gosto dos visados. Contra o brilhante novo mundo de expectativas orgânicas, somos forçados a levantar restrições igualitárias monótonas e aborrecidas: racionar o carbono, restringir e aproveitar, regulamentos mais rígidos dos edifícios e faixas de autocarros. Nenhum suplemento colorido cairá sobre isso. Nenhuma estrela de rock poderá viver confortavelmente dentro do racionamento de carbono.

Mas estas medidas, e uma dura e longa batalha política para as aplicar, são infelizmente necessárias para impedir a catástrofe que as recentes inundações são um presságio – de preferência a esta brincadeira de fingir que se é verde. Só quando aquelas medidas forem adoptadas é que o consumismo verde substituirá as despesas consumistas e deixarão de ser mais um suplemento destas. São mais difíceis de se venderem, é certo, mas não porque não podem ser comprados nos catálogos enviados por correio. As difíceis escolhas políticas terão que ser feitas e assumidas, e a elite económica, e respectivos hábitos despesistas, devem ser questionados, em vez de serem elogiados e promovidos. Os multimilionários que aderiram à agenda verde devem urgentemente repensar no que andam a fazer e colarem-se a uma outra causa.


(tradução livre)

www.guardian.co.uk/comment/story/0,,2133110,00.html?gusrc=rss&feed=11

http://www.monbiot.com/

http://en.wikipedia.org/wiki/George_Monbiot

24.7.07

Acampamento pela acção em defesa do clima (14 a 21 de Agosto junto do aeroporto de Heathrow, Londres)

Junto de uma das fontes responsáveis pelas alterações climáticas – o aeroporto londrino de Heathrow - vai-se realizar no próximo mês de Agosto entre os dias 14 e 21 um acampamento pela acção em defesa do clima. Serão 8 dias cheios de debates e reuniões sobre o assunto, num ambiente convivial, cujo impacto no meio ambiente se pretende que seja mínimo, para além de algumas acções directas a serem organizadas no local.

Temos de agir para evitar mudanças catastróficas no clima. Por isso devemos agir contra os piores poluidores e ensaiar, desde já, a criação de futuros sustentáveis.


Vídeo sobre o acampamento do ano passado




Links:
http://www.climatecamp.org.uk/
http://www.climatechangenews.org/
http://earthfirst.org.uk/actionreports/climatechaos
http://www.realclimate.org/
http://climatejustice.blogspot.com/
http://www.climate.org/CI/europe.shtml
http://www.stopclimatechaos.org/
http://www.campaigncc.org/
http://coinet.org.uk/


http://www.airportwatch.org.uk/


Outro fim do mundo é possível!




















Encontro de leitores vadios no dia 4 de Agosto para conversar sobre o livro História das Utopias de Lewis Mumford

Os leitores Vadios estão de volta no próximo dia 4 de Agosto, Sábado, às 21h30 no bar-livraria Gato Vadio, na Rua do Rosário 281, Porto

Desta vez o tema é o livro recentemente editado de Lewis Mumford, História das Utopias, e contamos com a presença, para animar a conversa, de António Alves da Silva e do arquitecto- urbanista João Soares

Apareçam. Tragam ideias. Principalmente se o topos da vossa utopia não estiver em cabeças alheias

As Utopias

Com o anunciado fim d aHistória vem de brinde a premissa que chegámos ao fim das utopias. O embrulho esconde muitas vezes o que se pretende dizer e fazer crer: que vivemos o estado definitivo da sociedade. Fechamos a porta, enfiamos as pantufas e vamos todos dormir em paz que o nosso mal é o sono.
De olhos bem abertos, o livro História das Utopias de Lewis Mumford é uma reflexão sobre as utopias históricas e sobre o seu papel enquanto objecto literário e projecto social, não descurando o autor uma análise ao perigo dos seus desvios político-sociais. O percurso de vida e o olhar lúcido do escritor norte-americano foram um contributo positivo e humanista para várias áreas como o urbanismo, a filosofia, a antropologia, a arquitectura e a ciência política, e ,talvez por isso, Mumford no primeiro livro que publicou ( em 1922) não se limite a descrever as utopias como ideias puras – da República de Platão à Utopia de More, da Cidade Sol de Campanella ao Falanstério de Fourier –mas problematize a utopia como projecto de intervenção, nomeadamente na criação das cidades e no planeamento urbanístico.
E serve a obra e o exemplo de Munford para nos interrogarmos se hoje não estaremos docilmente a fazer parte dessa mal-dita última utopia: não só transformar cada ser humano numa máquina de produzir e consumir mas, mais perverso e subtil, transformar cada homem num anti-utópico?
Órfãos ou não das grandes e pequenas utopias – para o bem e para o mal – é difícil prever a criação de um mundo mais humano se cada indivíduo perder a capacidade de imaginar a utopia.


O novo livro de Lewis Mumford "História das Utopias" já está à venda numa edição da "Antígona". A História das Utopias, escrita e editada em 1922 é uma obra singular, na qual Lewis Mumford faz a análise das utopias históricas, partindo da distinção entre utopias de escape e utopias de reconstrução, nestas incluindo a maioria das utopias literárias clássicas - de Platão a Edward Bellamy, passando por Thomas More, Bacon, Campanella e outros. Inspirado nos valores humanistas, Mumford adverte-nos das derivas autoritárias susceptíveis de desfigurarem na prática os ideais mais sublimes. No modo de vida utopiano, cada homem goza da possibilidade de ser um homem porque ninguém tem a possibilidade de ser um monstro. O principal objectivo do homem é crescer até atingir o limite da estatura da sua espécie.


Lewis Mumford é mundialmente conhecido como um dos maiores urbanistas do século XX, tendo sido membro dos principais institutos de arquitectura e de planificação urbana nos países de língua inglesa. Entre as suas obras mais importantes, destacam-se The Culture of Cities (1938), The Condition of Man (1944), Art and Technics (1952) e The City in History (1961). A História das Utopias (The Story of Utopias, 1922) foi um dos primeiros trabalhos de Mumford, e nele repassa o espírito de audácia juvenil com que foi escrito.


http://en.wikipedia.org/wiki/Lewis_Mumford

http://pt.wikipedia.org/wiki/Lewis_Mumford

http://library.monmouth.edu/spcol/mumford/mumford.html

http://www.albany.edu/mumford/

http://www.nd.edu/~ehalton/mumfordbio.html



FERVE promove esta semana uma oficina de Teatro do Oprimido


O FERVE - Fartos/as d'Estes Recibos Verdes promove, durante esta semana, uma oficina de Teatro do Oprimido à volta de histórias de precariedade e recibos verdes.


O Teatro do Oprimido (
http://www.theatreoftheoppressed.org/ ) é uma metodologia que usa a linguagem teatral para ensaiar a mudança social, permitindo-nos compreender melhor o mundo e as relações de opressão que nele existem.


A partir de situações concreta iremos fazer uma série de exercícios que nos permitirão partilhar estas situações e explorar os mecanismos que as perpetuam.

Durante as sessões, iremos trabalhar na construção de uma apresentação de teatro-fórum. Na sexta iremos para a rua apresentá-la e desafiar as pessoas a pronunciarem-se sobre o assunto.


No teatro-fórum, apresentamos ao público um problema para o qual não temos solução e pedimos que nos ajudem a encontrar as saídas possíveis. Mostrando – actuando – estratégias diferentes, os/as espectactores/as participam de forma directa na criação de um final ou de vários finais possíveis.

INFORMAÇÕES:

- Ensaios: 23 (2ª), 24 (3ª) e 25(4ª) de Julho, das 21h30 às - 24h00, no Espaço 555, situado na Rua do Almada, número 555, no Porto.


- Apresentação: 27 de Julho, Sábado, na Praça dos 'Leões', no Porto.


- A oficina, orientada por José Soeiro, é gratuita e aberta a todos/as, não sendo necessário que os/as participantes/as tenham qualquer preparação específica na área do teatro.


- Para participar, basta mandar um e-mail para grupoferve@gmail.com, para teatroforum.porto@gmail.com ou então, aparecer no 555, às 21h30.

A teoria de arte de Herbert Marcuse


Adorno parte do marxismo para teorizar sobre a arte, mas introduz não poucas contribuições que fazem da sua teoria sobre a arte uma nova perspectiva neste domínio. Para ele a arte moderna encontra-se numa situação «aporética», isto é, num beco sem saída. Na verdade, toda a obra de arte que procure inovar é revolucionária, mas justamente por isso é que a sociedade técnica – ou se se quiser, a sociedade de consumo – se empenha tanto em recuperá-la.


Marcuse encara, tal como fez Adorno, a questão da insuficiência da estética marxista, se bem que Marx e Engels, como todos sabem, nunca tiveram a intenção de construir uma teoria de arte. Isso não impede de Marcuse escrever: « O enunciado de Marx no fim da Introdução à Crítica da Economia Política não é convincente: não é possível explicar a atracão que ainda hoje exerce sobre nós a arte grega só pelo prazer de aí observarmos um quadro social da “infância da Humanidade”» (Marcuse, in «La dimension esthétique. Pour une critique de l’esthétique marxiste»)

Marcuse não dúvidas sobre este ponto: «inexoravelmente ligados, o castigo e a alegria, o desespero e a festa, Eros e tanathos não se dissolvem nos problemas da luta de classes» . Com a sua abordagem não pretende propor uma nova estética, mas tão-só questionar certas concepções erróneas, segundo ele, de um pretensa estética marxista. É que demasiados estudiosos marxistas da estética contentaram-se em interrogar os quadros ou os romances como se todos fossem documentos que exprimiam uma ideologia pela qual se reconhece uma visão do mundo. Foi o que fez Luckcs que ao ler Balzac, Zola ou Goethe procurava interrogar através das obras um universo ideológico, analisando a relação do escritor com a classe operária e ao capitalismo.

Ora segundo Marcuse a arte possui mais autonomia que as análises daquele tipo pressupõem. A arte não é uma superestrutura como as outras: ela possui uma autonomia em relação à sociedade, opondo-se a ela, ao mesmo tempo que transcende. Para ele a arte pode ser revolucionária não só pelo seu conteúdo ideológico revolucionário progressista, mas também pela sua própria forma, pela sua dimensão estética.

«O potencial político da arte reside na sua dimensão estética. A sua relação coma praxis é inevitavelmente uma relação indirecta, mediatizada e ilusória. Mais uma obra é imeditamente política mais ela perde o seu poder de descentramento e a radicalidade, a transcendência dos seus objectivos de mudança. Nesse sentido, pode acontecer que haja mais potencial subversivo na poesia de Baudelaire e de Rimbaud que nas peças didácticas de Brecht»

Marcuse quer reabilitar a subjectividade que não pode reduzir-se exclusivamente em termos de luta de classes, e critica no mesmo passo a estéril e redutora análise ideológica da estética. Escreve ele: «A função crítica da arte, a sua contribuição para a luta da libertação reside na forma estética. Uma obra de arte não é autêntica ou verdadeira nem devido ao seu conteúdo ( isto é, por ser uma representação «correcta» das condições sociais) nem por causa da sua «pura» forma, mas porque o conteúdo se tornou forma». Com isto o seu autor remete explicitamente para Nietzsche para quem «é-se artista sob condição de sentir isso como um conteúdo, como “a própria coisa”, aquilo que os não-artistas chamam a forma».

A arte é autónoma e se porventura se procurar abandonar essa autonomia para pretender ser, por exemplo, «a expressão da vida», acaba-se por abandonar com issso a forma estética pela qual se exprime a autonomia: sucumbe-se assim à realidade que se busca compreender e a denunciar. Com isto se critica a anti-arte. Se há diferença entre «arte» e «vida» ela não será abolida de modo algum pelo facto de se deixar as coisas, tais como são, chegar ao quadro ( pop arte, as propostas de Andy Warhol, etc) ou na sala de concertos ( ruídos, movimentos, conversas, etc). Expor uma lata de sopa em conserva, com faz Warhol, não é comunicar nada sobre a vida do trabalhador que a produziu, nem sobre o consumidor. Uma tal desublmação da arte acaba simplesmente por tornar supérfluo o artista, sem democratizar nem generalizar a criatividade.

Contra a anti-arte e ainda contra a estética marxista, que rejeita categoricamente a ideia do Belo ( este representaria um conceito-chave da estética burguesa), Marcuse não hesita em valorizar o Belo enquanto princípio do prazer, opondo-o ao princípio da realidade contemporânea, que é o da dominação.

Recorde-se que Marcuse retoma a distinção freudiana entre princípio da realidade e princípio do prazer, mas historicizando ambos os conceitos: o primeiro não é mais uma condição da civilização, mas antes um dado histórico destinado a ser ultrapassado, e o segundo vigorará numa futura sociedade, para a qual nos conduzirão as forças produtivas: « uma ordem não-repressiva é possível somente ao nível da maturidade máxima da civilização, quando todas as necessidades fundamentais estiverem satisfeitas com um gasto míimo de energia física e psíqquica…» ( in Eros e Civilização)

Nesta perspectiva a obra de arte desempenha um papel da maior importância: « A obra de arte realizada perpetua a recordação do momento da alegria. E a obra de arte é bela na medida em que opõe a sua própria ordem à da realidade – a sua ordem não-repressiva na qual a maldição fala em nome de Eros» ( in A dimensão estética)

«A substância sensual do Belo mantém-se através da sublimação estética.» O elogio da subjectividade, bem assim a afirmação da autonomia da arte, defendidos por Marcuse contrariam as posições marxistas ortodoxas para as quais as obras de arte mais não são que o reflexo dos condicionalismos económicos, políticos e sociais do seu autor ou da época em que forma produzidas.

http://www.marcuse.org/herbert/

20.7.07

Indústrias culturais, massificação e cultura de massas

Inicialmente falou-se de «indústria cultural», termo usado pela primeira vez em 1941 por Adorno e Horkheimer, para substituir um outro, porventura menos preciso e que fora usado até então: o de «cultura de massas».
Actualmente dá-se, no entanto, preferência à expressão «indústrias culturais» do que ao seu singular, uma vez que são muitas, e as mais variadas, as «indústrias culturais».

Com a expressão indústrias culturais pretende-se designar a produção, transformação, reprodução, armazenamento, transmissão e venda em grande escala ( com critérios comerciais e industriais) de bens e serviços culturais, transformados em bens de consumo social massivo por intermédio dos mass media.

(Mass media não se costuma traduzir, sendo uma expressão que pretende designar os meios de comunicação de massas, ou melhor ainda, os meios massivos de comunicação, já que o objectivo não é o da comunicação das massas, mas antes permitir que estas sejam conduzidas de maneira massiva. Assim podem ser abrangidos com este termos todos os meios de difusão de mensagens, como seja a rádio, a tv, os livros, os jornais e revistas, os discos, o cinema, os anúncios publicitários, etc., que são veículos que permitem alcançar um grande número de receptores, constituindo-se assim numa forma de comunicação impessoal, a qual é produzida segundo um esquema de tipo industrial e dirigida a uma massa indiferenciada de potenciais consumidores)


A expressão «indústrias culturais» contém em si um sentido crítico pois pretende denunciar o meio actualmente mais poderoso de penetração ( impregnação) e colonização cultural nas sociedades capitalistas contemporâneas, muito embora tenha vindo a ser utilizado nas últimas décadas para um registo eminentemente tecnocrático. Não obstante, a expressão «indústrias culturais» mantém aquele sentido crítico na medida em que é geralmente aceite que as indústrias culturais favorecem e promovem a cultura da evasão, do entretenimento, da passividade e do amorfismo.

Em contraponto às indústrias culturais existe todo um conjunto de metodologias e acções que visam lutar contra a homogeneização e a passividade produzidas e induzidas pelas indústrias culturais, assim como conformismo social a o poder trivializador dos meios e recursos mobilizados pelas indústrias culturais.
Exemplos daquelas acções e metodologias poderão ser a animação sócio-cultural, ou a investigação-acção nas ciências sociais.



Cultura de massas é o resultado e consequência dos mass media, isto, do consumo massivo dos produtos das indústrias culturais.
Cultura de massas serve também para designar a estandardização dos gostos e interesses, bem como ao peculiar tipo de comportamento social, maneira de viver e pensar que é produzido e veiculado pelos mass media, muito em especial, pela televisão, cinema, publicidade, indústria discográfica, etc.
A cultura de massas é, pois, o resultado directo da acção dos meios de difusão massiva de mensagens e símbolos, e deve associar-se a todo o processo de manipulação e pilotagem que se serve desses meios massivos para influenciar os sistemas perceptivos, as expectativas, gostos, tendências, ideias e valores da população em geral, acarretando os inevitáveis efeitos generalizados de homogeneização, uniformização e dominação.



Dominação cultural baseia-se no poder exercido de uma cultura sobre outra(s). Nas nossas sociedades hierarquizadas o domínio económico confunde-se com o domínio ou a dominação cultural, consistindo esta na invasão e penetração directa ou inconsciente dos padrões culturais dominantes em todas as esferas da vida de uma sociedade, principalmente nos códigos simbólicos estruturantes do comportamento dos indivíduos e dos grupos, com efeitos práticos de distorção e domesticação, mas que abrange toda a totalidade da sociedade.
A hegemonia social não se processa só em termos de governação estatal, nem apenas por via económica, mas antes inculcando todo um sistema cultural concretizado num específico modo de vida e de acção.



Massificação cultural não é o mesmo que democratização cultural nem ambas se confundem com a democracia cultural

Massificação cultural é a produção e o consumo em série de bens e serviços de carácter cultural para o consumo em massa de um grande número de indivíduos, pelo que as suas qualidades uniformizadoras e domínio resultam não só na sua tentativa de homogeneizar passivamente os potenciais receptores-consumidores como ainda da sua característica para mobilizar principalmente, senão mesmo exclusivamente, os lugares comuns e as tendências humanas primárias.

Exemplo: a massificação escolar leva somente à mobilização de competências primárias dos alunos-clientes


Democratização cultural consiste no processo mediante o qual se pretende difundir e alargar os bens culturais ao conjunto da população

Exemplo: a abertura de um museu ou de uma galeria

Democracia cultural consiste num processo cujo fim é assegurar que todos os indivíduos de uma dada comunidade ou sociedade disponham dos espaços, instrumentos e meios necessários para que, com liberdade e autonomia, possam desenvolver criativamente a sua vida cultural. A noção de democracia cultural vai, por conseguinte, mais além do que o simples objectivo de promover o acesso à cultura, porquanto o objectivo último é a acção activa e participada dos indivíduos e grupos na criação e transmissão cultural.

Exemplo: a criação de associações e cooperativas culturais, espaços de criação e produção cultural, oficinas e ateliers, etc.