7.9.07

Manifestação para o fecho da central nuclear de Almaraz na Extremadura espanhola (8 de Setembro, em Navalmoral de la Mata- 19.30)


Na Extremadura ( Espanha) , energia limpa e social.

FECHAR ALMARAZ


MANIFESTAÇÃO


8 de septiembre. Navalmoral de la Mata
Paseo de la Estación 19.30 h. y posterior concentración a las puertas de la central
.

depois haverá


FESTA REIVINDICATIVA

Parque de Las Minas a las 22.00 h.


Bocatas, sangría y actuaciones de calle y musicales.


Artistas invitados:

Quintín Cabrera Raúl La Kabra José Mª. Aldaya Pepe Extremadura


CONVOCAM a MANIFESTAÇÃO:
Plataforma de vecinos afectados por la Central de Almaraz, Plataforma Antinuclear Cerrar Almaraz, ADENEX; Ecologistas en Acción Campo Arañuelo, Ecologistas en Acción Monesterio, GREENPEACE, CGT, IU Extremadura, PCEx, Asociación de Jóvenes del Valle del Jerte, Asociación Garabato de Piornal, Los Verdes, Asociación Garabato de Piornal, Plataforma Ciudadana Refinería NO, Plataforma Térmicas NO.


A central de Almaraz tem tido incidentes com regularidade com situações em que já foram medidos níveis de radioactividade superiores ao permitido, sendo Portugal afectado por a central se situar numa albufeira afluente do rio Tejo e pela proximidade em caso de contaminação por via atmosférica.

Esta concentração, que é apoiada por mais de 12 organizações, pretende, à semelhança do ocorrido noutros anos, manifestar o desejo de que a Central de Almaraz seja encerrada, pois não só já completou 25 anos de funcionamento, como tem conhecido inúmeros acidentes ao longo da sua laboração, colocando em risco as populações (locais, nacionais e ibéricas).


Consultar: aqui, aqui

Kofi Annan não quer transgénicos em África

«Nós e a aliança não incorporaremos os OGMs nos nossos programas. Devemos trabalhar com os agricultores utilizando as sementes tradicionais» (Kofi Annan, prémio Nobel da Paz e ex-secretário-geral da ONU)

Nota: Kofi Annan foi nomeado no passado dia 14 de Junho de 2007 para presidir à «Aliança para uma revolução verde em África» (AGRA), um organismo criado em 2006 e financiado pela Fundação Bill e Melinda Gates e a Fundação Rockfeller, agupando um vasto conjunto de dirigentes, homens de negócios, agricultores e investigadores. Esta organização tem como finalidade principal ajudar os agricultores africanos a melhorar o seu rendimento nas suas explorações agrícolas.

Ver:
http://reopen911.online.fr/Anti-OGM/?p=69
www.flag-sa.org/blog/rallyround.html

Consultar:
http://www.agra-alliance.org/

Para celebrar a multisecular Agricultura Africana :
www.agra-alliance.org/celebrating/


Sobre Kofi Annan:
http://fr.wikipedia.org/wiki/Kofi_Annan

O pretenso desconhecimento de Durão Barroso sobre o financiamento da Somague ao PSD e a sua responsabilidade pela invasão do Iraque.

Um texto de Artur Queiroz onde, a propósito do financiamento ilegal do PSD pela empresa Somague no tempo do governo de Durão Barroso (actual presidente da Comissão Europeia) e que este se apressou em negar qualquer conhecimento pessoal do assunto, se lança esta pergunta:

Será que «Durão Barroso vai um dia destes dizer que nada teve a ver com a invasão do Iraque e que não é responsável pelos milhares de mortos civis e pela existência de mais de quatro milhões de refugiados iraquianos…»?




Texto de Artur Queiroz, retirado de:
www.vozdapovoa.com/diversos/opiniao.html


Durão Nunca Quis a Invasão do Iraque

O financiamento ilegal da Somague à campanha eleitoral do PSD quando Durão Barroso era o líder do partido, mereceu do actual presidente da Comissão Europeia uma desculpa esfarrapada e indigna de quem anda na vida pública. José Luís Arnault veio a correr assumir responsabilidades mas depois sacudiu a água do capote para cima de alguém que está doente e por isso é defendido pela família. Este passa culpas para o parceiro do lado é inaceitável.

Durão Barroso escreveu uma carta ao Parlamento Europeu a declarar a sua inocência e com esse gesto encerrou as explicações que deve aos portugueses e a quem lhe confiou a presidência da comissão da União Europeia. É natural que Durão Barroso esteja incomodado com o escândalo que se abateu sobre o partido que liderou e não queira sequer ouvir falar do assunto. E pelos vistos, está a conseguir os seus objectivos com facilidade.

Também enterrou o seu passado de esquerdista, com a maior das facilidades. Os seus ímpetos revolucionários levaram-no a roubar mobílias da Faculdade de Direito e a levá-las para a sede do seu partido de então, o MRPP, mas este episódio é ignorado ou tratado com bonomia, tipo coisas da juventude estouvada mas generosa. Mas Durão não pode apagar com a mesma facilidade o financiamento ilegal da campanha eleitoral do PSD que o guindou ao cargo de Primeiro-Ministro, trampolim para o cargo que hoje ocupa e cujo mandato almeja renovar.

Por este andar, Durão Barroso vai um dia destes dizer que nada teve a ver com a invasão do Iraque e que não é responsável pelos milhares de mortos civis e pela existência de mais de quatro milhões de refugiados iraquianos que vivem em condições desumanas, deslocados no interior do seu país ou nos países vizinhos. Mas todos sabemos que Durão Barroso não esteve na cimeira das Lajes apenas para compor o ramalhete. Esteve lá porque, conforme declarou publicamente, viu provas da existência de armas de destruição maciça no Iraque. Durão Barroso é um dos principais responsáveis pela tragédia que se abateu sobre os iraquianos.

Também é o principal responsável pelo episódio que envolveu a Somague e o PSD e que se traduz num financiamento ilegal ao partido. Quem começou na política roubando bens públicos, tarde ou nunca endireita. Durão Barroso é um dos muitos políticos portugueses que anda a mais na política. Mas gente como ele faz muito jeito ao socialismo cavaquista.

Alguns afluentes do movimento ecológico em Portugal

Texto escrito em 1997 por Afonso Cautela
Retirado de:
http://www.catbox.info/catbooks/antess-1.htm
(onde se pode ler e consultar outros textos)


ALGUNS AFLUENTES ( INCLUINDO IDEOLÓGICOS)
DO MOVIMENTO ECOLÓGICO EM PORTUGAL


Lisboa 26/Julho/1997 - Se o chamado «óbvio ululante», na feliz expressão de um brasileiro (Millor Fernandes?), constitui a matéria do ecologismo e das ecologias, não há dúvida que o Movimento Ecológico Português, quando nasceu, em Maio de 1974 e se legalizou em Fevereiro de 1975, vinha antecedido de algumas ideias óbvias e movimentos sociais que deram bastante brado.

Ser vivo e Ambiente constituem uma unidade indissociável: eis a mais óbvia de todas as coisas óbvias. Ninguém, por exemplo, pode viver sem respirar. Mas foi preciso chegar ao século XX para a nossa «civilização» ter pensado nisso.

O facto de a cultura ocidental nunca ter assumido nem compreendido este tipo de evidências básicas, terá levado, em boa parte, à catastrófica e em certos aspectos patética, crise ecológica actual. Crise que, antes do 25 de Abril, era apenas óbvia para alguns mas que hoje, sem ter decrescido um milímetro, ainda continua a não ser sentida por muito boa gente.

- O congestionamento das cidades modernas, ligado à macrocefalia urbana que atrofia e desertifica os campos, eis outra óbvia realidade que estando na base de muitos problemas modernos, conduziria a uma consciência que, por sua vez, o movimento ecológico procuraria traduzir, através dos múltiplos textos editados.

- A sintomatologia na Medicina, na Sociologia e na Política (as chamadas «sopas depois de almoço» ou aposteriorismo das soluções), provocaria necessariamente uma reacção adversa naqueles que, cultivando uma mentalidade simplista de ligação causa-efeito (outro óbvio ululante), perceberam sempre que as doenças, quer sociais quer individuais, não caem do céu e que a melhor forma de não as ter é prevenir, fazer profilaxia das ditas doenças.
Todas as doenças - sociais e individuais - estão no ambiente físico - ar, água, solos -, mas também sócio-mitológico - todo o sistema de manipulação do homem pelo homem que, desde a publicidade comercial à propaganda político-partidária, condiciona de raiz os comportamentos, conforma e deforma o cérebro humano.

Neste sentido, a poluição - a famosa e famigerada poluição - é atmosférica, é agrícola, é hídrica mas é também, como alguns perceberam, psíquica e moral.

Ou seja: não se trata de corrigir pontualmente o sistema mas trata-se de «mudar de sistema».
Este radicalismo, a que mais tarde se chamaria fundamentalismo, foi sempre muito mal visto por todos os quadrantes ideológicos, incluindo os próprios que se diziam ecologistas e ambientalistas.

Radicalizar posições era um propósito do movimento ecológico mas que nunca teve expressão real e só se manifestou nos múltiplos textos publicados pelas edições «Frente Ecológica».
Os excessos de linguagem, note-se, foram sempre e aliás, para certas boas almas, mais intoleráveis do que as mais abomináveis agressões ambientais.

A expressão «crime ecológico» e o neologismo «biocídio» foram utilizados, pela primeira e última vez, nas edições «Frente Ecológica».

- A dominante «catastrofista» da sociedade industrial foi outra realidade, bastante óbvia, que levaria necessariamente à ideia e à constelação ecologista radical.

Alguns dos que fizeram o M.E.P. nunca chegariam a reconciliar-se com a síndrome de catástrofe intrínseca à sociedade industrial. Ficariam sempre os eternos «inimigos da civilização», como premonitoriamente lhes chamou Freud.

O que não deixou de provocar uma patética acusação dos estalinistas que tinham como insulto predilecto contra os ecologistas, chamarem-lhes catastrofistas. Isto, até que eles próprios, com o Partido dos Verdes, se fizeram também «catastrofistas».

- Ao cerco sem saída da crise ambiental constatado pelo norte-americano Barry Commoner - os retrocessos do progresso, como se dizia na «Frente Ecológica» - chamou Herbert Marcuse «homem unidimensional». Foram marcusianos os estudantes de Maio 68 e marcusianos foram os que dotaram o M.E.P dos seus fundamentos ideológicos.

A «ideologia ecológica», porém, nunca teve qualquer expressão além dos textos, normalmente muito críticos e polémicos, da «Frente Ecológica».

Nesse sentido, o ecologismo português foi totalmente desmiolado. Embora Antero de Quental perguntasse, atónito: «Mas, meus senhores, será possível viver sem ideias?», Portugal dos últimos 500 anos prova que sim: que é possível viver sem ideias, ou seja, sobreviver. O que já não é nada mau, em tempo de sobrevivência planetária.

Termo-nos habituado a sobreviver em vez de aprender a viver, poderá ser outra subtil nuance que fundamenta a revolta de alguns ecologistas «avant la lettre». Ou seja, antes do 25 de Abril de 1974.

- Se é o sistema cultural que leva à crise ecológica, é óbvio (ululante) que a crise só pode ter solução mudando de sistema - o que leva ao chamado «fundamentalismo» ecologista e que, depois do 25 de Abril, na «Frente Ecológica», se chamou «realismo ecologista» ou «eco-realismo», para o distinguir das derivantes reformistas e utopistas.

Entre a Utopia e a Reforma, o ecorealismo das edições «Frente Ecológica» marcou uma posição solitária, sem companhias nem aderentes, tentando reafirmar, em vão, o primado do real, do quotidiano, face a todas as mitologias modernas, nomeadamente as do hedonismo consumista.
Em vão também, porque a lógica consumista e a economia de marketing, sendo intrínsecas à lógica do macrosistema são também intrínsecas à devastadora crise ecológica.

O caso do sistema médico rentabilizando a doença em vez de conservar a saúde (higiene holística), mostra a perversidade estrutural intrínseca do hedonismo consumista.

Se a doença dá dinheiro e lucros a tanta gente, a tantos profissionais que da doença vivem, a tanta empresa, é evidente que tudo será feito para que a doença progrida e nada para que a saúde se conserve.

- «Congestionamento» é uma das palavras-chave nos antecedentes mais antigos do movimento ecológico.

Congestionamento físico - nas cidades e nas sociedades - mas principalmente congestionamento de dados, de informação. E ainda não fora inventado o chafurdo da Internet.

A sensibilidade ao congestionamento de dados constituiu uma componente de um mal-estar que necessitaria uma atitude chamada movimento ecologista.

- A industrialização em geral e a industrialização da agricultura em particular (com adubos químicos, pesticidas e monoculturas gigantescas) dadas como tabu intocável por todas as ideologias no terreno - capitalistas e socialistas - foram as componentes que atrasaram, por medo às aparências, a eclosão das manifestações ecologistas e, portanto, do movimento.

Também a indústria nuclear, dita pacífica para a demarcar do átomo militar, sacralizada por todas as ideologias, blocos e superpotências mundiais, seria um terreno onde dificilmente surgiria qualquer contestação.

Neste sentido, o movimento ecologista era mesmo um movimento de alto risco para quem o proclamasse e assumisse.

Foi, portanto, necessário atingir o limiar do insuportável - onde aliás ainda estamos e continuaremos - para que alguns, muito poucos, se atrevessem a fazer as primeiras críticas:
a) Ao nuclear (dito) pacífico
b) À industrialização em geral e à agricultura química em particular
c) A ciência e à tecnologia

Os tabus mantidos por todas as ideologias em confronto, mostram duas coisas:
a) Embora aparentemente se digladiem em aspectos pontuais (guerras em que se disputa o mesmo bolo), no fundamental as ideologias e os blocos têm alguns mitos que se tornam seus alicerces de suporte, permanência e eterna auto-reprodução.
b) Como o ecologismo tem de começar por denunciar esses tabus ideológicos, ele próprio, enquanto movimento, se tornará também tabu, passando automaticamente à clandestinidade.

- Significativo, no aspecto da industrialização, é o título da colecção «Zero», da editora Arcádia, «A Indústria do Ruído».
Para o director da colecção e autor do prefácio do livro, o Ruído era uma das muitas manifestações que, pelas repercussões na saúde pública, tinha sido e continua a ser rentabilizada.
Se o Ruído é «fábrica de doenças», como nesse livro se procura mostrar, certamente que o Ruído não será eliminado e, se for preciso, irá ser fomentado. É o que tem acontecido até hoje, 26 de Julho de 1997.

Este «cinismo» eco-realista chocou muito algumas boas almas que se queriam e diziam ecologistas, amigas do ambiente como o Persil e sempre dispostas a perdoar ao chamado Progresso os crimes e artimanhas do Progresso.

- Ecologia da doença, Ecologia do Trabalho (Doenças do Trabalho), Ecologia Alimentar ( Doenças do ambiente alimentar) aparecem bastante cedo nos textos de pessoas que, mais tarde, pós 25 de Abril, integrariam o M.E.P, a «Frente Ecológica» , a «Esquerda Ecológica», a «Ecologia em Diálogo» e outros títulos que agitaram as águas no pós 25 de Abril.

- Mas o atrevimento eco-realista do chamado «grupo coordenador» do M.E.P, da «F.E.» e de outras «frentes», ia até ao ponto de contestar as apregoadas virtudes e a própria legitimidade da ciência ordinária, essa «vaca sagrada» das modernas sociedades tecnológicas, que não dão um peido sem primeiro ir perguntar à ilustre classe universitária se é científico.
A crítica à Tecnologia era, de facto, algo impensável.
E muito em especial se essa tecnologia implicava mortes maciças da população.
O caso do que, na «Frente Ecológica», se chamou «sindroma sísmico-nuclear» - 30 anos de sismos provocados por rebentamentos subterrâneos de bombas termonucleares - é exemplar como fenómeno de dimensão planetária e como silenciamento total e totalitário sobre o maior crime de genocídio contra a Humanidade, ocultado em nome da ciência, do progresso tecnológico-militar e das conveniências da coexistência pacífica, tão em voga nos anos que precederam o 25 de Abril.
Foi talvez este «dossier maldito» - sismos provocados por bombas - o que mais cedo suscitou a revolta no espírito daquele (s) que, pós-25 de Abril, decidiram a reunião do 14 de Maio de 1974 para o lançamento do M.E.P.
O que não impede de ter ficado o mais maldito dos dossiês malditos, através de todos estes anos e até hoje, em que a frequência sísmica tem decrescido em resultado do decréscimo do número de bombas rebentadas nos poços de Semipalantinsk, Nevada e Muroroa.
- Pela positiva, o dossiê mais maldito é certamente o das eco-alternativas energéticas: Solar, Eólica, Maremotriz e Biogás.
Classificado como escândalo público o abandono a que todos - incluindo grupos ditos ecologistas - votaram a luta pelas alternativas energéticas, que é a luta pela sociedade paralela, única saída para a catástrofe, este dossiê das eco-energias é o barómetro que, só por si, dá bem o estado a que tudo isto - ecologistas e movimento ecológico incluídos - chegou.

O total silêncio e silenciamento sobre o crime nacional de Alqueva - só porque todos os partidos estão de acordo no crime - é outro dossier significativo do apodrecimento a que tudo isto - País, políticos, economistas, partidos e tutti quanti - chegou.

Não há fundamentalismo que nos livre desta neurose suprema.

- Sendo o diagnóstico da neurose totalitária um dos que induziram alguns carolas a sonhar, pós 25 de Abril, um 25 de Abril ecológico, esse facto diz bem e bastante da realidade que efectivamente se verificou: a clandestinidade do movimento e dos que nele podiam ter militado.

- Em autores de grande síntese - como Teilhard de Chardin, Arnold Toynbee ou Bertrand Russell - que podiam ter aberto a civilização ocidental a uma autocrítica e, portanto, a uma consciência ecológica profunda, foram assinaladas, no entanto, limitações estruturais por alguns precursores do movimento ecologista.

Relativamente às teses de Ivan Illich, adoptado pelo M.E.P. como seu farol e timoneiro, eram aqueles autores considerados reformistas dentro do sistema que vive de ir matando os ecossistemas.
- Os antecessores do M.E.P. foram buscar a um filósofo do materialismo dialéctico, Henri Lefèbvre, 2 noções-chave do movimento: o diferencialismo (o chamado «respeito à diferença» muito explorado pelos «hippies») e a «crítica da vida quotidiana», título de um livro de Henri Lefèbvre.

Uma «política do quotidiano» foi preconizada, pela 1ª vez, em textos da «Frente Ecológica». Pela 1ª e última vez, diga-se de passagem, sendo matéria de mais um dossier que ficou e continua maldito.

- A voga das «transplantações cirúrgicas» e o «boom» do cirurgião Barnard motivaram em alguns descontentes do Progresso um tremendo mal-estar.

Era o típico exemplo do progresso que não podia ser criticado, porque «salvava» vidas.

A demagogia do discurso científico e cientifista foi, com certeza, dos obstáculos a que o movimento ecologista nascente nunca saberia (nem poderia) dar resposta adequada.

Essa mesma demagogia verificar-se-ia, também, com o discurso dos sindicatos relativamente às indústrias mais devastadoras do meio ambiente ou aos empreendimentos mais calamitosos.
Tudo o que gera emprego (e todas as indústrias geram um emprego acrescentado - o de coveiro) é automaticamente bom e intocável.

Fosse a eucaliptação maciça do País (com os inerentes fogos de Verão), fosse a barragem de Alqueva (projecto salazarista, não o esqueçamos), fosse o encerramento de centrais nucleares, o alibi era e é sempre a criação de novos postos de trabalho.

Nunca o movimento ecologista poderia dar a volta a isto. O que significa, portanto, que a crise ecológica é irreversível e conduzirá inevitavelmente à catástrofe. Com todos a gritar «Vivó Progresso».

Catástrofe que evidentemente criará milhares de postos de trabalho - o de Coveiro.
A medicina das transplantações a salvar vidas e o industrialismo em geral, mesmo o mais catastrófico e mortífero, a criar postos de trabalho e a agricultura química a matar a fome mundial enquanto faz subir em flecha a incidência de cancros, são os dogmas da demagogia moderna, a Leste e a Oeste, à esquerda e à direita, a Norte e a Sul, que, à partida, o ecologismo teria de enfrentar. Claro que saiu literalmente derrotado.
- A rentabilização da doença, já citada, era apenas, bem vistas as coisas, um aspecto particular daquilo que, nos manuscritos de juventude, Karl Marx designou de alienação e que filósofos marxistas designaram de Reificação.

Uma página inédita de um diário, de 26/3/1971, assinala, em termos mais prosaicos e menos filosóficos, essa realidade de fundo que justificaria, mais do que nenhuma, o advento de uma «democracia ecológica», expressão que viria a aparecer, mais tarde, em escritos da «Frente Ecológica».

A alienação ou reificação marxista, alguém, em 1971, lhe chamava «patalogia administrativa», acrescentando: « Tudo se administra: o sexo, a educação, os tempos livres, a liberdade. Tudo se consome e se vende. Tudo se compra.»

- A crítica da agricultura química não se desligava do contexto mundial da Fome.

Ao contrário do que os agrónomos da F.A.O. e seus sequazes largamente defendiam, nos termos demagógicos que se conhecem, a agricultura química provoca mais fome em vez de a combater.

Mas esta afirmação precisava de uma demonstração autorizada que procedesse à desmontagem de 2 sofismas habilmente instilados na opinião pública:
1º sofisma - A fome decorre do excesso de população (teoria neomaltusiana a que, aliás, muitos alegados ecologistas, para não dizer todos, aderiram)
2º sofisma - Só com a agricultura química é possível matar a fome no Mundo.

O primeiro sofisma foi desmascarado pelo sociólogo brasileiro Josué de Castro, que demonstrou exactamente o contrário: a Fome provoca o excesso de população.

O segundo sofisma seria mais difícil de desmontar, embora sejam óbvias duas coisas:
a) Em 40 anos de agroquímica, a Fome alastrou em vez de recuar
b) Com a destruição dos solos pelas culturas químicas, a fome alastrará até aos países que até agora se julgavam imunes a ela.

Se houve fracassos estrondosos no movimento ecologista, este foi o maior: não ter conseguido fazer passar a verdade face aos sofismas e à demagogia generalizada sobre a Fome do Terceiro Mundo.

Em publicações da «Frente Ecológica» ler-se-ia que é o desenvolvimento que gera o subdesenvolvimento - heresia que, evidentemente, seria logo abafada pela retórica das multinacionais em geral e as do agrobusiness em especial.

- A reacção dita de esquerda às propostas ecologistas foi, sem dúvida e desde cedo, o sapo mais difícil de engolir pelo movimento ecologista nascente.

Em 1971, era bastante claro para alguns dos que viriam a dar forma ao M.E.P., esse flanco da reacção.

Com a crítica ao imperialismo norte-americano, a esquerda resolvia tudo: de um lado, os maus capitalistas, do outro lado os bons dos comunistas. Com este maniqueísmo se tentava calar toda a opinião que alinhasse pela alternativa.

Poluição era um mal do capitalismo e não da industrialização. Críticas ao industrialismo, portanto, eram automaticamente reduzidas ao industrialismo capitalista.

A denúncia de tudo o que era comum a leste e a Oeste, era considerado «inimigo da ordem e do progresso».

A denúncia da Bomba, da Poluição, da Burocracia de Estado, da Tortura, da Maratona termonuclear, da maratona olímpica, da maratona supersónica e espacial, do falhanço da medicina sintomática, etc, só tinha sentido se se inscrevesse tudo isso no rótulo geral de capitalismo. Tudo isso, a Leste, era o cúmulo da virtude.