3.9.05

O verdadeiro nome do Katrina é o aquecimento global


O furacão que arrasou a costa sul dos Estados Unidos recebeu o nome de Katrina pelo Serviço Meteorológico Nacional. Mas o seu verdadeiro nome é o aquecimento global. Quando o ano começou, a causa da nevada de 60 cm que caiu em Los Angeles foi aquecimento global. Quando os ventos de 200 Km fecharam as centrais nucleares na Escandinávia e cortaram o fornecimento de corrente eléctrica a centenas de milhares de pessoas na Irlanda e no Reino Unido, o factor impulsionador foi o aquecimento global. Quando uma grave seca atingiu o Oeste americano, reduzindo os níveis de água do rio Misuri a mínimos históricos, durante este Verão, o responsável é mais uma vez o aquecimento global.
Quando a pior seca registada há muitos anos atinge Espanha e Portugal, provocando incêndios, e os níveis de água em França são os mais baixos desde há 30 anos, a explicação está ainda no aquecimento global. Quando uma vaga de calor letal no Arizona manteve temperaturas acima aos 43 graus centígrados e acabou com a vida de mais de 30 pessoas numa semana, o culpado chama-se aquecimento global. E quando a cidade indiana de Bombaim acumulou um metro de água num só dia, matando 1000 pessoas e arruinando a vida mais de 20 milhões, o vilão tem o nome de aquecimento global.
À medida que a atmosfera aquece, gera secas mais prolongadas, chuvas mais intensas, vagas de calor mais frequentes e tormentas mais rigorosas. Apesar do Katrina ter começado como um furacão relativamente pequeno que assediava as costas do sul da Florida, a verdade é que veio a receber uma enorme carga de intensidade resultante das temperaturas abrasivas da superfície oceânica do Golfo do México. As consequências foram terríveis e aterradoras. Infelizmente muito poucos norte-americanos conhecem o verdadeiro nome do Katrina, já que as indústrias do carvão e do petróleo encarregam-se de gastar milhões de dólares a fim de manter a opinião pública na ignorância sobre a matéria.
O motivo é simples: permitir que o clima se estabilize exigiria que a humanidade reduzisse o seu consumo de carvão e petróleo em cerca de 70%. Ora isso ameaça logicamente a sobrevivência das maiores empresas. Em 1995 os serviços públicos do Minnesota descobriram que a indústria do carvão tinha pago mais de 800 milhões de euros a 4 cientistas a fim de que estes se mostrassem cépticos quanto ao aquecimento global. O ExxonMobil gastou mais de 10 milhões de euros desde 1998 numa campanha de relações públicas e de intoxicação pública contra a demonstração da existência do aquecimento global. Em 2000 os magnatas do petróleo e do carvão tiveram a sua maior vitória com a vitória do presidente George W. Bush que não tardou em seguir as suas opiniões sobre a política climática e energética.
À medida que a mudança climática vai evoluindo, muitos investigadores temem que já nos encontremos num ponto de mutação irreversível e descontrolada. Sob este pano de fundo a ignorância dos cidadãos norte-americanos acerca do aquecimento global reforça ainda mais as críticas dirigidas contra os meios de comunicação norte-americanos. Quando a imprensa dos Estados Unidos trata do tem do aquecimento global é para se dedicar aos seus aspectos políticos e diplomáticos, e não para o que o dito aquecimento está a provocar na agricultura, no abastecimento de água, na vida vegetal e animal, na saúde pública e no clima.
Durante anos a indústria dos combustíveis fósseis pressionou os meios de comunicação para que valorizassem mais a opinião de um grupo de cépticos do aquecimento global do que as conclusões a que chegou a Comissão Intergovernamental sobre a Mudança Climática ( constituída por mais de 2.000 cientistas procedentes de 100 países). Agora que a ciência viu confirmada as suas conclusões – e os impactos são evidentes, como mostram o que ocorreu no Golfo do México – a imprensa partilha também, com os sectores do carvão e do petróleo, as culpas pelo rasto de destruição que nos atingiu. Como habitante de Bóston tenho receio que o próximo Inverno – tal como no ano passado – seja rápido e extremamente rigoroso. Nos inícios de 2005 uma mortífera tormenta de neve deixava sem electricidade milhares de pessoas na Nova Inglaterra e uma camada record de 1,6 metros de neve cobriu a cidade de Bóston. O nome tradicional daquele mês era Janeiro. O verdadeiro é aquecimento global.

Texto publicado no The New York Times, de Ross Gelbspan, também autor do livro «The heat is on y Boiling Point»

Tradução para português a partir da versão publicada na edição do El País de 3 de Setembro de 2005

New Orleans a cidade da música e dos negros


New Orleans é conhecida como a The Big Easy pelos costumes permissivos, pela sua tolerância e inclinação para os prazeres mundanos. Os seus habitantes amam a boa mesa, a música e o divertimento, e os turistas não param de chegar em massa à cidade atraídos pela sua vibrante vida nocturna, os seus casinos e restaurantes.
Milhares de médicos, advogados e agentes de seguros assistem anualmente a multitudinários congressos no mesmos hotéis e centros de convenções convertidos agora em refúgio de desesperados.
A parte antiga da cidade, conhecida pelo nome de Bairro Francês, foi construído pelos espanhóis – a cidade esteve sob domínio da coroa espanhola entre 1772 e 1800 – e o seu ambiente subtropical recorda muito mais Habana, San José, Cartagena das índias do que Bóston. NY ou Washington. Ali os bares estão abertos 24 horas e não faltam tentações ao virar da esquina.
Habitada maioritariamente por pessoas de origem indígena, francesa, espanhola e africana, Nova Orleans é um mundo completamente distinto daquele outro que existe do outro lado da autoestrada número 10, dessa outra América puritana e furibundamente conservadora. Nove Orleans é também a Meca do jazz e uma das cidades com mais músicos por metro quadrado. Nela nasceram e viveram Duke Ellingtom, Louis Armstrong, Fats Domino, Louis Prima, Mahalia Jackson, Professor Longhair, Dr. John, or irmãos Neville, a família Marsalis, Harry Connick jr e tantos outros.
Mas a cidade sofre também uma merecida fama de corrupta e violenta, onde reina a prostituição, droga e marginalidade delinquente. Nova Orleans é a cidade norte-americana com o rendimento per capita mais baixo – a quarta parte dos seus habitantes vivem abaixo do limiar da pobreza – e o seu índice de criminalidade é dos mais altos dos Estados Unidos.
Em muito dos seus bairros populares, longe do bulício da parte antiga e do esplendor das mansões coloniais do Garden District, os gangs de jovens narcotraficantes armados entregam-se às suas rivalidades e impõem as suas leis.
Nova Orleans é uma cidade antiga em que sobrevive uma estrutura social herdada da época colonial. Brancos e negros misturam-se nos locais de trabalho, nos Carnavais e nos estádios, mas raramente nas zonas residenciais onde persistem barreiras difíceis de franquear. Dois em cada três habitantes da cidade são de raça negra, a maioria descendente dos escravos trazidos de África.
Quem trata hoje de sobreviver no superlotado Estádio da cidade e no Centro de Congressos são aqueles que durante o resto do ano dependem dos subsídios estatais para viver, são aqueles que careciam de meios próprios para seguir as instruções dadas para evacuar a cidade. São os mais pobres, na sua imensa maioria negros. São eles as vítimas desta catástrofe.

Texto de J.P. Velázquez-Gaztelu, publicado na edição do El País de 3 de Setembro de 2005

Feynman contra a burocracia administrativa

(Nota: Convém recordar que o conhecido cientista Richard Feynman, prémio nobel da Física, foi considerado deficiente mental pelo Exército norte-americano, que o dispensou do serviço militar e que, quando trabalhou no Projecto Manhattan nunca se adaptou à disciplina militar)



Em certa ocasião um funcionário do departamento de relações públicas de uma prestigiada Universidade contactou Feynmam para o convidar a dar uma conferência nessa Universidade. Feynman recebeu o funcionário em sua casa. Céptico e um pouco para se divertir explicou ao funcionário que evitava dar conferências por via da Administração por causa da papelada que habitualmente há que tratar. O funcionário, atencioso, riu-se e garantiu-lhe que no seu caso tudo será rápido e fácil.

- Será numa Faculdade, não é verdade?
- Sim
- Então gostaria de dar a conferência sob uma única condição: que não tenha de assinar a minha assinatura mais que 13 vezes, incluindo a o endosso do cheque.
- Não há problema. Trata-se já disso


A primeira assinatura foi logo para a aceitação do acordo. Pouco mais tarde Feynman teve que apôr a sua assinatura num documento ( em duplicado) em que assegurava que era leal ao governo, sob pena de não poder dar a conferência, outra assinatura para a Câmara local, e ainda outra para assegurar que era professor universitário em funções.O funcionário que o havia visitado estava a enervar-se uma vez que o número de assinaturas não párava de subir.
Feynman deu a conferência no dia aprazado. Brilhante, como sempre. Todo o mundo ficou maravilhado. Teve que assinar mais um documento a assegurar que tinha estado nessa Universidade a dar a conferência... e assim se somaram uma a uma até se atingir o número de 12 assinaturas. Pouco tempo depois, o funcionário apresenta-se na casa do físico trazendo o cheque.Para o receber Feynman tinha de assinar o cheque e um documento no qual declarava que havia realizado a tal conferência. Ou seja, teria que assinar mais duas vezes a sua assinatura, perfazendo 14 vezes.



- Se assino o documento não posso assinar o cheque. Como você esteve lá e escutou a minha conferência, então assine você pela minha vez.
- Ouça, não acha isto tudo um capricho – replicou o funcionário - Não, Foi um acordo que fiz consigo logo à partida. Você até pareceu que nunca chagaríamos às 13 assinaturas; mas foi o que foi acordado entre ambos, e espero bem que tal seja cumprido.
- Repare. Eu trabalhei muito e empenhei-me nisto. E o que me dizem é que não pode receber o seu dinheiro a menos que assine a declaração.
- Pois bem, se assim é, e como assinei já por 12 vezes, e como a conferência já foi realizado, prescindo do dinheiro.
- Detesto ter que fazer isto – balbuciou o funcionário
-Não se importe – rematou Feynman.



No dia seguinte o funcionário telefona desesperado: era impossível não lhe dar o dinheiro pois tinha havido autorização superior e havia que justificar a despesa já contabilizada.

- Bom, então dêem-me o dinheiro
- Mas você tem de assinar o documento
- Isso é não farei – retorquiu o físico

Depois de muito tempo, Feynman endossou a sua décima quarta assinatura, desfeito de riso, perante o alívio e a incompreensão do diligente funcionário.


Fonte:http://www.historiasdelaciencia.com/

Como Feynman foi considerado deficiente mental pelo exército norte-americano




Richard Feynman, Prémio Nobel de Física em 1965, para efeito da sua incorporação nas forças armadas dos Estados Unidos, foi obrigado a fazer um exame médico para o exército no ano de 1942, durante o qual foi considerado inapto, por razões de deficiência mental

Segue-se parte do diálogo dele com o psiquiatra que o avaliava:
Psiquiatra: Quanto você valoriza a vida?
Feynman: Sessenta e quatro
P: Por que você disse sessenta e quatro?
F: Como você espera que se meça o valor da vida?
P: Não! Eu quero dizer, por que você falou "sessenta e quatro" e não "setenta e três", por exemplo?
F: Se eu tivesse dito "setenta e três", você faria a mesma pergunta!



Fonte: «Você deve estar a brincar, Mr Feynman», livro do próprio. A edição portuguesa é da Gradiva

Bansky subverte o muro do apartheid de Sharon


O famoso, irreverente e anónimo artista britânico conhecido pelo nome de Bansky escolheu desta vez o Muro da Vergonha construído pelos israelitas e que serve para se apropriarem dos territórios palestinianos com mais valor, conquistado e ocupado pelo exército do Estado de Israel desde 1967.
Bansky desenhou algumas obras mordazes e imaginativas nas paredes do muro, já insistentemente considerado ilegal por várias instâncias internacionais. Bansky interroga-se mesmo se será ilegal fazer grafittis e desenhos num muro declarado ilegal pelo Tribunal Internacional de Justiça.
O artista esclarece que as suas acções servem para denunciar a todo o mundo que o Estado Judeu converteu a Palestina na «maior prisão ao ar livre de todo o mundo»

Para saber mais e ver os seus desenhos:
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