26.10.07

Nem tudo o que luz é verde ( texto de Boaventura Sousa Santos)

Acerca dos oportunistas no ambientalismo e alguns critérios para fugir deles e manter viva a luta ecológica, um bom texto de Boaventura Sousa Santos que se reproduz a seguir:


A questão ambiental entrou finalmente no discurso público e na agenda política, o que não deixa de causar alguma surpresa aos activistas dos movimentos ecológicos, sobretudo àqueles que militam há mais tempo e se habituaram a ser apodados de utópicos e inimigos do desenvolvimento. A surpresa é tanto maior se se tiver em conta que o fenómeno não parece estar relacionado com uma intensificação extraordinária da militância ecológica. Quais, pois, as razões?

Ao longo das últimas quatro décadas, os movimentos ecológicos foram ganhando credibilidade à medida que a investigação científica foi demonstrando que muitos dos argumentos por eles invocados se traduziam em factos indesmentíveis – a perda da biodiversidade, as chuvas ácidas, o aquecimento global, as mudanças climáticas, a escassez de água, etc. – que, a prazo, poriam em causa a sustentabilidade da vida na terra. Com isto, ampliaram-se os estratos sociais sensíveis à questão ambiental e a classe política mais esclarecida ou mais oportunista (ainda que por vezes disfarçada de sociedade civil, como é o caso de Al Gore) não perdeu a oportunidade para encontrar nessa questão um novo campo de actuação e de legitimação. Assim se explica o importante relatório sobre a “conta climática” de um economista nada radical, Nicholas Stern, encomendado por um político em declínio, Tony Blair. Neste processo foram “esquecidos” muitos dos argumentos dos ambientalistas, nomeadamente aqueles que punham em causa o modelo de desenvolvimento capitalista dominante. Este “esquecimento” foi fundamental para a segunda razão do actual boom ambiental: a emergência do ecologismo empresarial, das indústrias da ecologia (não necessariamente ecológicas) e, acima de tudo, dos agrocombustíveis cujos promotores preferem designar, et pour cause, como biocombustíveis.

As reservas que os movimentos sociais (ambientalistas e outros) levantam a este último fenómeno merecem reflexão tanto mais que, tal como aconteceu antes, é bem provável que só daqui a muitos anos (tarde demais?) sejam aceites pela classe política e opinião pública. A primeira pode formular-se como uma pergunta:


é de esperar que as indústrias da ecologia resolvam o problema ambiental quando é certo que a sustentabilidade económica delas depende da permanente ameaça à sustentabilidade da vida na terra?


A eficiência ambiental dos agrocombustíveis é uma questão em aberto que, aliás, se agravará com a “segunda geração de agrocombustíveis” que, entre outras coisas, inclui a introdução de plantas (árvores) geneticamente modificadas. Por outro lado, a produção dos agrocombustíveis (cana do açúcar, soja e palma asiática) usa fertilizantes, polui os cursos de água e é já hoje uma das causas da desflorestação, da subida do preço da terra e da emergência de uma nova economia de plantação, neocolonial e global. A segunda reserva está relacionada com a anterior e diz respeito ao impacto da expansão dos agrocombustíveis na produção de alimentos. No início de Setembro, o bushel de trigo (cerca de 36 litros) atingiu o preço record de 8 dólares na bolsa de mercadorias de Chicago. Más colheitas (derivadas das mudanças climáticas), o aumento da procura pela China e a Índia e a produção de agrocombustíveis foram as razões do aumento e a expectativa é de que a subida continue. O aumento do preço dos alimentos vai afectar desproporcionalmente populações empobrecidas dos países do Sul, pois gastam mais de 80% dos seus parcos rendimentos na alimentação. Ao decidir atribuir 7,3 biliões de dólares em subsídios para a produção de agrocombustíveis, os EUA produziram de imediato um aumento (que chegou a 400%) do preço do alimento básico dos mexicanos, a tortilla. Reside aqui a terceira reserva: os agrocombustíveis podem vir a contribuir para a desigualdade entre países ricos e países pobres. Enquanto na UE a opção pelos agrocombustíveis corresponde, em parte, a preocupações ambientais, nos EUA a preocupação é com a diminuição da dependência do petróleo. Em qualquer dos casos, estamos perante mais uma forma de proteccionismo sob a forma de subsídios à agro¬ indústria, e, como a produção doméstica não é de nenhum modo suficiente, é, de novo, nos países do Sul que se vão buscar as fontes de energia. Se nada for feito, repetir¬ se¬ á a maldição do petróleo: a pobreza das populações em países ricos em recursos energéticos.

O que há a fazer?
Critérios exigentes de sustentabilidade global; democratização do acesso à terra e regularização da propriedade camponesa; subordinação do agrocombustível à segurança e à soberania alimentares; novas lógicas de consumo (se a eficiência do transporte ferroviário é 11 vezes superior à dos transportes rodoviários, porque não investir apenas no primeiro?); alternativas ao mito do desenvolvimento e numa nova solidariedade do Norte para com o Sul.
Neste domínio, o governo equatoriano acaba de fazer a proposta mais inovadora: renunciar à exploração do petróleo numa vasta reserva ecológica se a comunidade internacional indemnizar o país em 50% da perda de rendimentos derivados dessa renúncia.

retirado de:

Amnistia Internacional organiza o 8º Campo de Trabalho «Vamos defender os direitos humanos» para jovens

Amnistia Internacional vai realizar nos próximos dias 1 a 4 de Novembro, o seu VIII Campo de Trabalho "Vamos Defender os Direitos Humanos", para jovens dos 14 aos 18 anos, a realizar na Pousada de Juventude de S. Pedro do Sul.
Deixo-vos aqui a inscrição e abaixo a programação deste ano. Apareçam!

Programa

Quinta, 1 de Novembro
13h-14h30 – Chegada e Alojamento
15h00 – Sessão de abertura
15h45 – Apresentação do Campo
16h15 – Coffee Break
16h30 – A Amnistia Internacional – Visão e Missão
19h00 / 21h00 – Jantar
21h15 – Noite de Jogos

Sexta, 2 de Novembro
10h00 – Rede de Acção Jovem / Activismo Juvenil
11h15 – Coffee break
11h30 – “Guerra contra o Terrorismo ou contra os Direitos Humanos?”
12h30/14h00 – Almoço
14h15 – “Campanha Global pela Dignidade Humana” - 1ªparte
16h30 – Coffee break
16h45 – “Campanha Global pela Dignidade Humana”- 2ªparte
19h30 / 21h00 - Jantar
21h30 – “Make Some Noise for Human Rights!” – Festa dos Direitos
Humanos

Sábado, 3 de Novembro
10h00 – “Pena de Morte – Justiça ou Crueldade?”
11h15 – Coffee break
11h30 - Pena de Morte – Justiça ou Crueldade? (2ªparte)
13h00/14h30 - Almoço
14h45 – “Discriminar Não é Humano!”
16h30 - Coffee break
16h45 –“Discriminar Não é Humano!” (2ªparte)
18h30 – Chill out time
19h30/21h00 – Jantar
21h30 – Peddy Paper nocturno (É necessário trazeres uma lanterna)

Domingo, 4 de Novembro
10h00 – Actividade Lúdica –Espaço para troca de impressões sobre o Campo
11h00 – Avaliação do Campo
12h30/14h00 – Almoço
14h00 - Despedidas


A Reuniões da ReAJ realizam-se, presentemente, na cooperativa cultural Crew Hassan, perto do Rossio - Lisboa, todas as Sextas-feiras, entre as 17:00 e as 18:00.




Para participares imprime e envia o cupão de inscrição, acompanhado de um cheque ou vale postal no valor de 30 euros, até ao dia 23 de Outubro, para:
Amnistia InternacionalAv. Infante Santo, 42, 2º1350-179 Lisboa

O pagamento da inscrição inclui o alojamento, refeições e materiais do Campo de Trabalho.
Para qualquer esclarecimento contacta:
Tel. 21 386 16 52 / 64;
Fax: 21 386 17 82

As inscrições são limitadas, por isso despacha-te.

Ficha de inscrição