13.5.06

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A publicidade é a peste do nosso tempo

O sinistro negócio da Bunge no Brasil


Bunge - quando um bom negócio para uma multinacional é um sinistro negócio para a diversidade da vida

Em 30 de Abril o Jornal da Orla, de Santos (SP), publicou: “O Terminal de Grãos do Guarujá – TGG assinou termo com a prefeitura de Guarujá, para as obras, prevendo uma compensação ambiental, que será revertida para a cidade. O equivalente a R$ 101 mil em equipamentos, será destinado para aparelhar a Secretaria do Meio Ambiente. Serão dois carros, uma embarcação para a fiscalização, 24 salva-vidas, dois computadores, duas impressoras, um binóculo, duas máquinas fotográficas digitais e um aparelho GPS de rastreamento via satélite. O terminal tem até 60 dias para adquirir todos os equipamentos e realizar a entrega.”

Na época da colonização do Brasil, os índios foram enganados pelos colonizadores que levaram o nosso ouro, pedras preciosas, dando em troca espelhinhos e outros objectos. E hoje, depois de 500 anos, a história continua, com novas roupagens, com os “novos” colonizadores, as multinacionais. É incrível, mas a espoliação e conversa mole é a mesma: para nós esmolas, presentinhos electrónicos, empreguinhos, poluição... Para eles, homens “brancos”, lucro, lucro, lucro, lucro, lucro... Isso é o capitalismo, se não mata, absorve!

E o caso do TGG, leia-se Bunge, é emblemático a esse respeito, com essa lorota de “uma compensação ambiental”. Na verdade o que eles querem dizer é o seguinte, “vamos encher o bolso de dinheiro, explorar, destruir, agredir o meio ambiente, contaminar o ar, a água, a terra, urbanizar a terra, cimentar mentes, em troca fazemos compensação ambiental, certo?”. Quanta hipocrisia verde!

E mais uma vez as ditas autoridades, com sua cara de pau, aura de cinismo e engodo, apoiam o projecto. Para o "sempre sorridente" prefeito do Guarujá, Farid Madi, o TGG ampliará a receita anual de impostos, aumentará a geração de empregos e todos esses mitos desenvolvimentistas. É muita conversa mole!

E o secretario do meio ambiente do Guarujá, Sr. Elson Maceió, outrora activista ambientalista, participante das manifestações da Acção Global dos Povos (AGP) em São Paulo, o que fala? Nada, diante dos grandes projectos industriais ele se cala, se curva aos poderosos, como um bom cão submisso. O "negócio" dele é ficar promovendo "educação ambiental". E é isso que o sistema quer, cidadãos "conscientes", inofensivos, dóceis, de bom coração e sem informação sobre os debates reais, que não questionem à raíz dos problemas, o capitalismo.

Mas, Sr. Elson Maceió, o que é 101 mil reais em "compensação ambiental" para uma gigante multinacional que factura biliões e biliões de dólares por ano?

A destruição dos ecossitemas têm preços, Sr. Elson Maceió?

Será que o Sr. Elson Maceió sabe que há mais de 500 anos, as multinacionais só visam o lucro, devastam o meio ambiente, são as principais responsáveis pela concentração de renda e capital, pela exclusão social no campo, muitos deles irreparáveis?

Sr. Elson Maceió, você é um vendido, um cooptado pelos poderosos e interesses escusos do capital. Você é um indigno, uma vergonha!

Bunge e o Terminal de Grãos do Guarujá

Previsto para ser a maior instalação portuária multifuncional da América Latina, o Terminal de Grãos do Guarujá, já está em construção. O projecto prevê investimentos de mais de R$ 450 milhões, e pretende transformar uma área de quase 500 mil m² localizada no Porto de Santos (o TGG ficará na margem esquerda, no Guarujá), num terminal para fertilizantes e grãos com capacidade de transportar 10 milhões de toneladas por ano.

Segundo alguns críticos da empreitada, esse seria o primeiro passo para aumentar o poder económico da Bunge e de suas sócias no projecto, a Amaggi (antigo grupo Maggi) e a Ferronorte. Elas deteriam o controle não apenas da exportação e do transporte de soja, mas também da importação de fertilizantes. Criando um oligopólio no processo de compra e transporte de soja na área coberta pelos trilhos da Ferronorte. Essa empresa pertence ao grupo Brasil Ferrovias e detém o controle do principal sistema ferroviário para o transporte de soja do País – do Mato Grosso a Santos. Actualmente, a soja é embarcada pela chamada margem direita de Santos, também conhecida como porto velho. Considerada a pior área de movimentação de cargas de grande volume, ali registram-se enormes congestionamentos de caminhões.

O que é a Bunge?

A Bunge Alimentos, é uma gigantesca multinacional com sede nos Estados Unidos, e lida com óleo bruto de soja, óleo refinado de soja, gordura hidrogenada, farelo de soja, ração animal e uma grande quantidade de produtos para consumo humano. É a maior esmagadora de soja no Brasil. Juntamente com as multinacionais norte-americanas, ADM (Archier Daniels Midland) e Cargill, controlam o mercado de soja na Europa. Recentemente documentos do Greenpeace revelaram o papel dessas três multinacionais no norte do país, a invasão da Amazónia, impulsionando o desmatamento ilegal, muitas vezes, feito com trabalho escravo; a grilagem de terras públicas e a violência contra comunidades locais. A Bunge também está envolvida com biotecnologia, transgenia. Ademais, é uma empresa que financia campanhas políticas em todo o Brasil. Por quê? Será a velha prática recorrente do poder, das elites, dos conchavos? O “toma lá, dá cá”?

O texto a seguir foi escrito pela Fundação Águas do Piauí (Funáguas), um grupo que desde 2003 vem enfrentando a Bunge e o governo do Estado do Piauí, denunciando o capital depredador dessa gigante global naquele Estado, suas práticas de destruição de ecossistemas e crimes de genocídio contra populações tradicionais.

Mas a reacção da multinacional também é grande, através de processos e campanhas de marketing, leia-se engodo. A Funáguas já foi até processada por distribuir um folheto! Tempos atrás um juiz determinou a imediata suspensão do website da Funáguas, cobrando 5 mil reais diários de multas se a exigência não fosse cumprida.

Contudo, que fique bem claro, a devastação ambiental e social desta multinacional está presente em vários estados brasileiros, de norte à sul. A folha corrida dela é longa...

Bunge Alimentos S/A cem anos de experiência em destruição ambiental e social

1905. A Bunge chegava ao Brasil. No Piauí viemos conhecê-la apenas em 2001, mas até agora um rastro de destruição é a sua marca no Estado. Lucro com certeza deve ter, e muito, mas para quem e para onde? Responsabilidade social e ambiental nós atestamos que não há. Supostamente esta deve ser a sua política no transcurso deste século. Vejamos um pouco o que é a Bunge Alimentos no Estado do Piauí:

- Valor do investimento segundo a proposta da própria empresa encaminhada à Secretária da Indústria e Comércio, Ciência e Tecnologia do Estado do Piauí, em 18 de Outubro de 2001: 420 milhões de reais.

- Facturamento nos dez primeiros anos: 6,8 biliões.

- Isenção fiscal através do Decreto 10867 de 11 de setembro de 2002 – 15 anos. Para ICMS, ISS, IPTU.

- Empregos directos na fábrica: 120, destes 60 remanejados de outras unidades da empresa.

- Empregos indirectos na zona de influência da unidade: 500 aproximadamente.

- Êxodo rural (expulsão de famílias da zona rural): 75% da população das cidades invadidas pela soja se encontram em zona urbana. A grilagem de terra é uma prática utilizada e que contribui para a expulsão das famílias que vivem na zona rural. Estas populações se aglomeram nos centros urbanos, sem nenhum trabalho ou fonte de renda, contribuído para o processo da violência urbana.

- Concentração de terra e renda: a monocultura da soja no Piauí não permite a participação da agricultura familiar ou de cooperativas de pequenos produtores rurais. Um grupo diminuto é responsável por 100% da soja produzida. Este processo de concentração da produção dificulta a dinâmica da agricultura familiar na região para qualquer outra cultura.

- Contrabando de recursos naturais: para se produzir soja são necessários água e solos férteis, recursos escassos em muitos lugares do Planeta. E esta soja não é para alimentar o povo piauiense, mas para engordar animais (porco, gado, galinha) no primeiro mundo onde as populações vivem basicamente do consumo deste tipo de proteína.

- Desmatamento: A Bunge utiliza lenha nativa do cerrado, sem respeitar nenhuma espécie, como matriz energética para o processamento da soja. Em média 600 st por dia. A partir de 2007, quando duplicar o processamento de grãos para 1 milhão e 200 mil toneladas por ano, deverá aumentar a utilização da lenha para 1.200 st por dia. O rendimento médio de lenha por hectare da região é de 15 st. A área plantada tem aumentado de forma exponencial para atender a demanda. Os dois processos conjuntos contribuem para a retirada brusca da cobertura vegetal do cerrado piauiense. Fato grave ainda é que dentro deste cerrado, classificado como Ecotonal (de transição entre Caatinga e Amazônia) está a bacia hidrográfica do rio Parnaíba com 200 afluentes aproximadamente.

- Áreas desmatadas: existem áreas desmatadas e subutilizadas de 50 mil hectares continuamente. A área desmatada supera a plantada. O processo de desmatamento é ininterrupto, para que os fazendeiros agreguem valor à terra desmatada.

- Trabalho escravo: O Ministério Público Federal ajuizou acção na Justiça Federal (Processos nº. 1.27.608/2004-77 e 1.27.548/2004-92) em duas fazendas produtoras de soja nos municípios de Baixa Grande do Ribeiro e Ribeiro Gonçalves. No corte da lenha um trabalhador rural recebe em média 60 centavos de real por metro cúbico e para “catar toco” nas áreas desmatadas a diária é em torno de 7 reais para uma jornada de 10 horas. As condições de alojamento e alimentação são precárias e a legislação trabalhista não é respeitada. O “gato” é uma prática utilizada nas fazendas.

- Grilagem de terra: O avanço em terras devolutas e de posseiros é uma prática comum. O INTERPI – Instituto de Terras do Piauí reconhece a situação, todavia não apresenta políticas condizentes para combater esta prática.

Isto é um pouco da Bunge no Piauí em apenas 4 anos. Você já imaginou em 100 anos o que pode ter sido feito?

Deu na imprensa

Desde a instalação da Bunge no município de Uruçuí, Piauí, em 2002, a situação dos trabalhadores rurais se agravou. A terra onde plantavam produtos da agricultura familiar cedeu espaço para o plantio de soja pondo fim a cultura da região das tradicionais farinhadas, colecta de feijão, milho, abóbora e outros produtos.


Uma das comunidades mais prejudicadas, Sangue, a cinco quilómetros da Bunge, onde mais de 40 famílias vivem a margem da miséria. A agricultora Cleuza Pires, 59 anos que nasceu na comunidade lembra com saudosismo de um passado em que havia fartura de produtores da agricultura familiar. “Hoje, tudo virou deserto, não tem mais terra para plantar o que a gente come, e a terra que tem está envenenada pelos venenos que eles jogam de avião”, reclama a agricultora referindo-se aos agrotóxicos lançados pelos produtores de soja.

Moésio R.
Pececito Chuva de Fogo