28.9.05

Aviso


Por motivos de força maior, de carácter pessoal, decidimos suspender temporariamente a actualização regular de textos e informações no http://Pimentanegra.blogspot.com
Agradecemos o apoio e incentivo que recebemos.
Prometemos regressar com a brevidade possível.
Mais determinados e com mais pimenta.
Obrigado por tudo.
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Nota 1: é possível que façamos algumas actualizações durante este interregno, cuja duração é indeterminada, mas só para manter o blog operacional.
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Nota 2: nunca esquecer que este é o mundo virtual, e que o mundo real é aquele onde vivemos e onde se desenvolvem as solidariedades, as resistências, as transformações sociais e individuais, as tristezas e alegrias da vida.
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Nota 3: quando estiverem reunidas as condições para o nosso regresso que, esperamos, seja tão breve quanto possível, comprometemo-nos a avisar pessoalmente por e-mail os nossos amigos que tiveram o gesto amigo e solidário de nos escrever até agora.Um abraço solidário.
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Contacto:
PimentaNegra@hotmail.com

Os activistas «anti-consumismo» querem mudar o mundo, independentemente dos partidos

(tradução de um texto do Le Monde de 25 de Set de 2005)

Joana, de 23 anos, faz parte dos que começaram o seu empenhamento político a partir de investidas contra os anúncios publicitários no metro parisiense durante o Inverno de 2003. Num restaurante associativo, um pouco maior que uma sede de uma associação de estudantes, em pleno bairro de Belleville, em Paris, e apoiada numa comprida mesa de madeira Joana recorda-nos a sua primeira «acção directa»: Estava impressionada e excitada. Acabara de encontrar uma maneira de agir politicamente sem que ninguém o fizesse em meu nome».
Nesta cantina, que serve ao mesmo tempo de cozinha, cerca de 30 jovens dos 20 aos 30 anos discutem ao longo da tarde assuntos como os ceifeiros dos OGM ( transgénicos), a subida do preço do petróleo, ou como o óleo vegetal pode substituir a gasolina nos automóveis. São elementos do RAP (Résistance à l’agression publicitaire, Resistência à agressão publicitária) ou de movimentos libertários.
É aqui que se reúnem os activistas anti-consumismo, aqueles que organizam operações de tapagem dos painéis publicitários, acções de boicote, esvaziamento de pneus dos jeeps e que participam nas paródias das missas, em plena rua, ao ar livre, em nome de uma imaginária «Igreja do Santo Consumo».
Desde o ano de 1999 estes grupos, tais como os «anti- 4×4» que militam contra os veículos de todo-o-terreno dentro das cidades, o colectivo «Vélorution» que preconiza a substituição dos automóveis pelas bicicletas, ou «Chiche», um grupo de jovens ecologistas que se multiplicam num mosaico de tendências, à imagem dos altermundialistas. Entre os «anti-consumismo» coexistem os ecologistas puros e duros, que vivem sem carro, sem frigorífico, ao lado de anarquistas nómadas ou squaters, a que não faltam os habituais frequentadores dos tribunais de pequena instância.
O seu ponto comum é a vontade de militar à esquerda «fora dos aparelhos partidários», assim como transformar as manifestações em momentos «lúdicos». Munidos de marcas indeléveis, de panfletos realizados nos seus computadores, e trazendo muitas vezes narizes de clowns (palhaços), eles pretendem pôr em causa a sociedade de consumo, na linha dos movimentos do Maio de 68, mas num contexto económico infinitamente mais difícil que a dos que os seus pais conheceram.
Contra o produtivismo, eles denunciam uma sociedade baseada num consumismo exponencial legitimado na ideia do crescimento. Os seus livros de cabeceira são, desde os anos 1970, «A Sociedade do Espectáculo» de Guy Debord, «1984» de George Orwell. Mas, hoje, longe das barricadas do Maio de 68, eles transformaram-se nos movimentos anti-OMC (Organização Mundial do Comércio), surgidos a partir de Seattle (1999), nos anti-G8 de Génova (2001), que se tornaram os referentes fundacionais deste novo activismo. Outro elemento referencial foi, sem dúvida, o livro «No Logo» da jornalista canadiana Naomi Klein que contesta a «tirania das marcas»
«Todos os opositores ao neoliberalismo convergem na luta contra a publicidade, vista como o carburante do actual sistema capitalista», explica Sébastien Darsy, autor do livro «Temps de l’anti-pub» ( Actes Sud, 2005). Entre os activistas « anti- 4×4», «anti-tv», «pró-bicicleta» e «anti-publicidade» as fronteiras não estão definidas e são frequentes e mais que muitas as relações entre si.
«Os colectivos criam-se e desaparecem», explica Ludovic Prieur, coordenador do site Internet Hactivist News Service (HNS), uma das fontes de informação destes colectivos. «Alguns envolvem-se na luta contra a publicidade; amanhã será a vez dos «anti-4 × 4». Passa-se de um território de luta para outro» Da mesma maneira, as relações com outros grupos europeus relevam mais das relações interpessoais do que de redes estruturadas e coordenadas. «Nós temos apenas relações pontuais, aquando da organização de certas manifestações como do Euro May day, o 1º de Maio contra a precariedade, o Dia sem marcas, etc», explica Ludovic Prieur. »depois cada um volta para sua casa, numa atitude de precariedade positiva»
Este zapping de iniciativas reflecte o funcionamento destes movimentos, como se a Internet tivesse transformado as formas tradicionais do militantismo. « A informação circula muito rápido graças aos blogs, às newletters, aos e-mails», esclarece Philippe Colomb, activista que está à frente da associação «Vélorution». Avisamos todos e passamos à acção. Mas esta liberdade de acção tem um preço: «Há muito turn-over. É difícil manter no tempo toda esta nossa militância», lamenta-se Philippe Colomb.
Estes activistas têm, ainda assim, os seus referentes. O tom libertário é dado claramente por Yvan Gradis, principal redactor da revista «Le Publiphobe» e co-fundador do RAP. E basta passar pelo local da associação, em Vincennes ( Val-de-Marne), para descobrir outros referentes. Entre material diverso, encontramos os textos dos pensadores do «decrescimento» como Serge Latouche, professor de economia na Universidade Paris-IX, François Brune, professor de letras, Paul Ariès, professor de ciências políticas em Lyon-II. Todos são subscritores da revista «La Décroissance», publicada pela associação «Casseurs de Pub», cujo conceito epónimo define a vontade de acabar com o crescimento económico, encarada como a fonte das actástrofes ecológicas e sociais. Esses autores são os mais «antigos» do movimento, segundo Sébastien Darsy: «Eles apontaram os referentes intelectuais, e que atraíram os mais jovens activistas».
Resta referir que os novos activistas acabaram por inovar, introduzindo novas formas de activismo «lúdico», inspirados nas acções da Adbuster americana, precursora da subversão artística dos painéis publicitários, e nas acções da Reclaim the Streets, que defende a «re-apropriação das ruas»
À sua maneira, os novos activistas «anti-consumismo» lembram a sua necessidade de fantasia imaginativa. É o que dizem e testemunham Jean-Christophe, 28 anos, que trabalha para a RAP, e Roger, 30 anos, engenheiro electrónico, no desemprego. Ambos estão profundamente empenhados no movimento e assumem-se como membros da «Geração-Precariedade».

Alguns livros sobre o movimento anti-consumismo:

La France rebelle, sous la direction de Xavier Crettiez et Isabelle Sommier, 2002, Ed. Michalon, 570 pages.

­ Le Temps de l'anti-pub, Sébastien Darsy, 2005, Ed. Actes Sud, 236 p.

Références idéologiques :­ No logo, la tyrannie des marques, Naomi Klein, 2000, Ed. Actes Sud, 574 p.

­ Démarque-toi ! Petit manuel anti-pub, Paul Ariès, 2004, Ed. Golias, 192 pages.

­ Putain de ta marque !, Paul Ariès, 2003, Ed. Golias, 526 pages.

­ Casseurs de pub, Raoul Anvélant, Paul Ariès, François Brune, Denis Cheynet, 2004, Ed. L'Aventurine, 300 pages.

Revistas :
Casseurs de pub et la décroissance ;
Le Publiphobe.

Acção de libertação do ar comprimido ( acerca de Os Esvaziadores)


Os esvaziadores dos 4 × 4


( tradução de um texto do Le Monde de 25 de Setembro de 2005)

O sub-ajudante Marrant concentrou as suas tropas num bar no centro de Paris. De dia, este pseudo-militar de 28 anos é estudante. À noite, dirige um pequeno «comando» armado de bombas de ar e sacos de lama sob o estranho nome de «Les Dégonflés» (Os Esvaziadores).
Esta estranha tropa atacou as ruas de Paris nas últimas duas semanas. O seu alvo são as viaturas todo-o-terreno 4 × 4 que se encontram nas ruas da cidade. Os pneus de 24 viaturas todo-o-terreno foram esvaziadas durante estas acções organizadas desde o dia 30 de Agosto. No passado dia 13 de Setembro outra dezena de 4 × 4 foram cobertas de lama. Nesta noite a área escolhida foi o bairro de Montpanasse. Pelo caminho descobriram um alvo ideal, um enorme Land Rover azul metalizado. Alguns «Esvaziadores» ocuparam-se a lançar lama sobre a viatura com as suas próprias mãos. « Estes veículos nunca foram para o campo, nós encarregamo-nos simplesmente de os levar até lá», desabafa um jovem de 25 anos, conhecido pelo nome de «sub-ajudante Gachet».
Um panfleto com alguns erros ortográficos é colado nos vidros. «Esta campanha utiliza métodos de acção directa que podem ser discutíveis. Mas é claro que numa sociedade de direito é preferível não se fazer a justiça pelas suas próprias mãos.. Por isso é que nós considerámos as nossas acções como actos de legitima defesa».
Os alvos são seleccionados com precaução, de preferência longe das residências. «Não queremos confrontos. Por alguma razão chamamo-nos «Os Esvaziadores», diz Urbain, um rapaz que se reuniu com o grupo, ao lado de Eric, Lili, Julien, Guillaume, Mathilde por ocasião de uma manifestação de protesto contra o dirigente da extrema-direita Le Pen em Abril de 2002. Têm-se encontrado, entretanto, nas manifestações anti-guerra e nos protestos estudantis. Este companheirismo activista veio a desembocar nas acções anti-publicidade no metro parisiense, o que lhes valeu, de resto, terem sido objecto de acusações judiciais.
Alguns deles são agora membros de «Os Esvaziadores». Têm entre 20 e 33 anos. Rapazes, sobretudo. A maior parte, estudantes parisienses de arquitectura, história, fotografia e marketing.
«A maior parte de nós vêm de um meio pequeno-burguês, excepto alguns de vêm de famílias desfavorecidas», declara o «sub-ajudante» Gachet. A principal motivação para a sua acção é a ecologia e o anti-produtivismo.
Uns militaram nos partidos políticos. Outros agem no seio de associações. Mas quase todos, hoje, situam-se à margem da política tradicional, que vêem como ineficaz e à qual opõem a acção directa. «Pretendemos suscitar na sociedade os debates que os políticos se mostram impotentes em promover e que possam sensibilizar as pessoas», diz-nos Eric, 33 anos, desempregado, que remata: «Simbolicamente até acho interessante estigmatizar os 4 × 4 com métodos de acção próprios de rapazinhos»

Vivienne Westwood lança na Grã-Bretanha uma T-shirt «eu não sou terrorista»


A conhecida criadora de moda e do design «punk» (imaginou o look dos Sex Pistols), hoje mundialmente já consagrada nos círculos de moda, acabou de lançar uma linha de t-shirts para denunciar o projecto de legislação antiterrorista que o governo Blair publicou.

«Eu não sou um terrorista. Por favor, não disparem.», proclama o slogan inscrito nas T-shirts, criadas por Vivienne Westwood, e cujas receitas de venda reverterão para a Liberty, uma das maiores associações de defesa dos direitos humanos da Grã-Bretanha.

«Esta t-shirt serve para pôr os britânicos a reflectir», explicou a conhecida designer de moda no decorrer da conferência de imprensa, acabando por se interrogar: «como alguém se sentiria se algum familiar fosse preso ou morto pela polícia, apesar de ser inocente.»

Fonte: AP