Teatro Gil Vicente de Coimbra - ICLO DE PROGRAMAÇÃO INTERDISCIPLINAR, QUE INCLUI EXPOSIÇÕES, MÚSICA, TEATRO, MULTIMÉDIA, CINEMA, DEBATES E RÁDIO, DURANTE O MÊS DE NOVEMBRO
Com o ciclo «Blake no TAGV», o Teatro Académico de Gil Vicente pretende celebrar e dar a conhecer de forma alargada a obra de um dos grandes artistas da humanidade, no ano em que se completam 250 anos sobre o seu nascimento. «Blake no TAGV» constitui um ciclo
interdisciplinar, que abrange de forma integrada a maior parte das áreas de programação do Teatro: exposições, teatro, música, multimédia, cinema e debates. Contamos ainda com a colaboração da Rádio Universidade de Coimbra na montagem e difusão de um conjunto de gravações, constituídas por traduções de poemas de William Blake e por composições musicais baseadas na sua obra. Enquanto produção própria e exclusiva, «Blake no TAGV» representa também um modelo de relação dialéctica entre criação e programação. Trata-se de uma iniciativa que combina várias disciplinas artísticas, integra a criação local na programação e, ao mesmo tempo, realiza a dimensão especificamente universitária do TAGV, mobilizando um conjunto de saberes científicos e artísticos.
No âmbito deste ciclo serão estreadas duas co-produções do TAGV: «Uma Ilha na Lua», pela Camaleão com a Orquestra Clássica do Centro, e «As Portas da Percepção», pela Marionet. A natureza multimédia da obra de William Blake (1757-1827) poderá assim ser objecto de ressignificação e releitura cénica na era digital.
No seu conjunto, a obra de William Blake constitui uma verdadeira cosmogonia, que reescreve e recombina diferentes mitos da criação. Ao escrever, desenhar, gravar, imprimir, pintar e publicar, William Blake tomou nas suas mãos todo o potencial simbólico do livro como máquina de criação e chamou a si o controlo do modo de produção tipográfico, num momento em que se acentuava a divisão do trabalho e se anunciava já a industrialização da imprensa. Além dos poemas proféticos em manuscrito Tiriel (c. 1789), The French Revolution (1791) e The Four Zoas (c. 1795-1804), a sua obra inclui os seguintes livros iluminados: All Religions are One (c. 1788), There is No Natural Religion (c. 1788), Songs of Innocence (1789), The Book of Thel (1789), The Marriage of Heaven and Hell (1790), Visions of the Daughters of Albion (1793), For Children: The Gates of Paradise (1793), America a Prophecy (1793), Europe a Prophecy (1794), Songs of Innocence and of Experience (1794), The First Book of Urizen (1794), The Book of Los (1795), The Song of Los (1795), The Book of Ahania (1795), Milton A Poem(1811) e Jerusalem: The Emanation of the Giant Albion (1820). Aos livros iluminados juntam-se ainda centenas de pinturas, desenhos e gravuras. Nos últimos dez anos, a digitalização da sua obra tem construído um espaço de leitura que permite olhar de forma renovada para a materialidade icónica do seu traço visionário, restituindo a integridade visual e literária dos originais.
BLAKE NO TAGV
Comemoração dos 250 anos do nascimento de William Blake [1757-1827]
Datas :
De 6 a 28 de Novembro de 2007
Programa
EXPOSIÇÕES
De 6 a 28, Café-Teatro
7 VISÕES DE WILLIAM BLAKE
Sete artistas desenvolvem um trabalho original a partir de sete gravuras de William Blake. Esta exposição inclui as reproduções das gravuras seleccionadas e as sete obras resultantes.
Artistas participantes: Pedro Pousada, Armando Azevedo, António Olaio, Emanuel Brás, Teresa Amaral, Gilberto Reis e Atelier Corvo.
Inauguração da exposição no dia 6, às 18h00, com a mesa-redonda Blakeana 1: «Blake pintor», com a participação dos artistas que realizaram obras a partir de gravuras e pinturas de William Blake para a exposição «7 visões de William Blake».
De 6 a 28, Sala Branca
WILLIAM BLAKE: LIVROS ILUMINADOS
Esta exposição consiste numa videoprojecção integral das páginas de 17 livros iluminados: All Religions are One (c. 1788), There is No Natural Religion (c. 1788), Songs of Innocence (1789), The Book of Thel (1789), The Marriage of Heaven and Hell (1790), Visions of the Daughters of Albion (1793), For Children: The Gates of Paradise (1793), America a Prophecy (1793), Europe a Prophecy (1794), Songs of Innocence and of Experience (1794), The First Book of Urizen (1794), The Book of Los (1795), The Song of Los (1795), The Book of Ahania (1795), Milton A Poem(c. 1804-1811), Jerusalem: The Emanation of the Giant Albion (1804-c.1820) e For the Sexes: The Gates of Paradise (1793, c. 1820). A natureza singular de cada página iluminada será ilustrada com 10 versões diferentes do poema «The Sick Rose» e 11 versões do poema «The Tyger». Esta singularidade poderá ainda ser apreciada em exemplares diferentes de The Book of Thel (1789), Songs of Innocence and of Experience (1794) e The Song of Los (1795).
MESAS-REDONDAS
Dia 6, 18h00, Café – Teatro
BLAKEANA 1: «BLAKE PINTOR»
Mesa-redonda com a participação dos artistas que realizaram obras a partir de gravuras e pinturas de William Blake para a exposição «7 visões de William Blake».
Dia 13, 18h00, Café-Teatro
BLAKEANA 2: «BLAKE POETA»
Com Gastão Cruz e Manuel Portela
CINEMA
Dias 12, 13 e 14, 21h30
CINEBLAKE
Dia 12, Blade Runner (1982, 1991), de Ridley Scott
Dia 13, Dead Man (1995), de Jim Jarmusch
Dia 14, The Wind that Shakes the Barley (2006), de Ken Loach
Nos três filmes escolhidos, as referências a William Blake e à sua obra surgem de forma indirecta, através de alusões ou de citações. Não se trata de adaptações de obras ao cinema, nem de reconstituições biográficas, ou sequer de referências centrais. São antes presenças marginais, quase parasitas às vezes. Em Blade Runner, a referência a Blake surge através do nome de um dos replicantes, Orc, e através de uma citação de dois versos da 11ª gravura do poema America a Prophecy (1795): «Fiery the Angels rose, & as they rose deep thunder roll ' d / Around their shores; indignant burning with the fires of Orc» [«Fogosos os Anjos ergueram-se, e nesse instante um tremendo trovão/ Sacudiu a costa: indignados, a arder com os fogos de Orc»]. Em Dead Man, um certo William Blake, contabilista homónimo do autor, colocado no contexto do oeste norte-americano, serve o propósito de produzir o estranhamento que desnaturaliza a ficção. Em The Wind that Shakes the Barley, dedicado à guerra civil da independência irlandesa em 1922, é um dos prisioneiros políticos que cita o poema «The Garden of Love» (1794), aludindo ao papel da religião naquela guerra fratricida: «And I saw it was filled with graves, /And tomb-stones where flowers should be: /And Priests in black gowns, were walking their rounds, /And binding with briars, my joys & desires». [«E vi-o cheio de campas, /Lápides em vez de flores: /E Padres de preto, em seus afazeres, /Com silvas tolhiam desejos & prazeres.»] São três presenças oblíquas, fugazes, enigmáticas, da obra de William Blake, mediadas pela escrita de Philip K. Dick, Jim Jarmusch e Paul Laverty.
TEATRO E MÚSICA
Dia 8, 21h30, Dia 9, 15h00 e 21h30, Dia 10, 21h30
UMA ILHA NA LUA
Co-produção Camaleão – Associação Cultural, Orquestra Clássica do Centro e Teatro Académico de Gil Vicente
TEATRO E MULTÍMÉDIA
Dia 23, 15h00 e 21h30, Dia 24, 21h30
AS PORTAS DA PERCEPÇÃO
Co-produção Marionet e Teatro Académico de Gil Vicente
Projecto financiado pelo Instituto das Artes
AS PORTAS DA PERCEPÇÃO
a partir dos poemas iluminados de William Blake
Tal como nos poemas iluminados, texto e imagem colaboram na produção de um sentido, a selecção do Manuel Portela produziu para nós um mundo dentro da cosmogonia visionária de William Blake. Aqui estão ideias de liberdade para os corpos e para as emoções na forma de um novo Génesis. Um mundo sem escala ou tempo absolutos, em que o nascimento de um homem é também a explosão original geradora do mundo finito. Mente e corpo são um só, encerrado nos cinco sentidos finitos. Antes era o infinito e só a vontade determinava a forma. Depois de cairmos da Eternidade ficámos condenados aos limites do mundo material que podemos percepcionar. Instituições seculares como Igreja, Estado e parte da comunidade científica procuram organizar esta percepção para legitimar as suas leis com medições e cálculos.
Limpar as portas da percepção permitirá contemplar esta conspiração mas também encontrar o indivíduo incapaz de obedecer. O Homem ilimitado, que suportará a complexidade sem se esconder aquém do horizonte.
RÁDIO
De 6 a 28 de Novembro
RÁDIO BLAKE: VERSÕES DE WILLIAM BLAKE
Selecção de textos e canções Manuel Portela
Realização Alexandre
Co-produção TAGV – Rádio Universidade de Coimbra
Leitura de poemas de William Blake, ao ritmo de um por dia, com o objectivo de representar a maior parte dos tradutores portugueses e brasileiros da sua obra. A leitura completa-se com uma selecção de canções, de diferentes géneros musicais, concebidas a partir de livros do autor.
Traduções de: António Herculano de Carvalho, Augusto de Campos, David Mourão-Ferreira, Gastão Cruz, Hélio Osvaldo Alves, João Almeida Flor, João Ferreira Duarte, Jorge de Sena, Jorge Sousa Braga, José Paulo Paes, Manuel Portela, Mário Alves Coutinho e Leonardo Gonçalves, e Paulo Quintela.
Canções de: Billy Bragg, Bob Dylan, Bruce Dickinson, Caprice, Daniel Amos, Hughes de Courson, Jah Wobble, Patti Smith, Ralph Vaughan Williams, The Doors, Ulver e¬ Van Morrison
Concepção e programação: Manuel Portela
Produção: TAGV