Nós, ciganos, temos  uma  só religião: a da liberdade
Em troca  desta  renunciamos à riqueza, ao poder, à ciência e  à  glória
Vivemos cada  dia  como se  fosse  o último
Quando  se  morre,  deixa-se  tudo:  um  miserável  carroção como  um  grande  império
E  nós  cremos  que  nesse  momento  é  muito  melhor  ser  cigano  do que  rei.
Nós  não  pensamos  na  morte. Não  a tememos – eis  tudo.
O nosso  segredo  está  no  gozar  em  cada  dia  as  pequenas  coisas  que  a  vida  nos  oferece
e  que  os  outros  homens  não  sabem  apreciar; uma  manhã  de  sol,  um  banho  na  torrente,  o  contemplar  de  alguém  que  se  ama
É difícil  compreender  estas coisas, eu  sei
Nasce-se  cigano.
Agrada-nos  caminhar  sob  as  estrelas.
Contam-se  estranhas  histórias sobre  ciganos
Diz-se  que  lemos  nas  estrelas  e  que  possuímos  o  filtro  do  amor
As pessoas  não  acreditam  nas  coisas  que  não  sabem  explicar-se
Nós, pelo  contrário,  não  procuramos  explicar  as  coisas  em  que  acreditamos.
A nossa  vida  é  uma  vida  simples, primitiva: basta-nos  ter  por  tecto  o  céu,  um fogo  para  nos  aquecer  e  as  nossas  canções  quando  estamos  tristes.
Vittorio  Pasqualle  Spatzo (poeta cigano)
 
