11.1.09

Cartazes de 68 na Alemanha: política, pop e afri-cola ( exposição de cartazes no Goethe Institut de Lisboa)


A exposição “Política, Pop e Afri-Cola – Cartazes de 68 na Alemanha”, produzida pelo Deutsches Plakatmuseum (Museu Alemão do Cartaz), abrange, na versão itinerante do Goethe-Institut, uma escolha de 28 cartazes subordinados a três temas: Política e Sociedade, Arte e Cultura e Música.

Tal como noutras épocas, também em 1968 o cartaz foi utilizado para expor publicamente reivindicações políticas. A geração de 68 soube fazê-lo com imensa graça e fantasia, também porque a oposição não parlamentar não dispunha de praticamente nenhuns outros meios de comunicação social. O aspecto inovador consistiu no facto de que nas contra-culturas juvenis, que se desenvolveram a partir do movimento de protesto, os cartazes se transformaram em superfícies de projecção para convicções comuns.

Quarenta anos decorridos, a publicação de livros e edições especiais de revistas evocou os acontecimentos, tendo o aniversário merecido também a atenção da rádio e da televisão. O mais tardar desde a década de 80, o ano de 1968 é considerado como um ponto de viragem na História alemã do pós-guerra. 1968 modificou profundamente a compreensão dos sexos, provocando a dissolução das estruturas familiares tradicionais, bem como a democratização de vastos sectores da sociedade. Os movimentos contra a energia nuclear e de solidariedade para com o Terceiro Mundo, bem como o movimento ambientalista, têm aí o seu secreto ponto de partida.

Entretanto, a maioria dos autores dos artigos e contributos sobre o tema pertence a uma geração mais nova, que já não chegou a viver esse tempo. Esta geração observa os acontecimentos a partir de uma distância histórica, assumindo, em parte, uma atitude crítica em relação às transformações então despoletadas. 1968 começa a tornar-se História. É nesse contexto que exposições que confrontam o visitante com imagens autênticas da época podem contribuir para o aprofundar da discussão, oferecendo àqueles que lá não estiveram um sempre útil ponto de apoio.



«Tudo começou com os anúncios psicadélicos dos hippies, e de repente o cartaz tornou-se uma finalidade em si. Actualmente, nos EUA são comprados 1 milhão de cartazes por mês. Na Europa já se fazemsentir os sintomas da febre dos posters. Os mais conhecidos desenhadores de artes gráficas e artistas independentes estão, todos eles, a ser arrastados por essa vaga de fundo»1.

Quem escreveu isto foi o jornalista suíço Manuel Gasser na Primavera de 1968. Gasser refere uma função completamente nova dos cartazes. «Ao cobrirem-se completamente as paredes de um quarto (ou de todo um apartamento) com cartazes, o que se pretende é criar um clima artístico global, um ambiente capaz de expressar, de uma forma espontânea e imediata, a orientação intelectual da pessoa que ali vive».

Toda a chamada Geração de 68 foi apanhada pela febre dos cartazes. Trata-se portanto de jovens que em 1968 tinham entre 16 e 29 anos. Toda essa geração, com os estudantes à cabeça, tinha começado por se revoltar contra os pais e professores. Não tardou muito porém que os jovens reivindicassem direitos de co-gestão nas universidades e nas empresas e começassem a denunciar as estruturas autoritárias na economia e na sociedade. A crescente politização do protesto juvenil culminou na exigência de um novo e radical questionamento do passado
nacional-socialista. Mas nem só os estudantes exigiram insistentemente o fim da guerra do Vietname.

Tal como noutras épocas, também em 1968 o cartaz foi utilizado para expor publicamente reivindicações políticas. A geração de 68 soube fazê-lo com imensa graça e fantasia, também porque a oposição não parlamentar não dispunha de praticamente nenhuns outros meios de comunicação social. O aspecto inovador consistiu no facto de que nas contraculturas juvenis, que se desenvolveram a partir do movimento de protesto, os cartazes se transformaram em superfícies de projecção para convicções comuns.

Aquilo a que Gasser chamou a “febre dos cartazes” da Geração de 68 foi, na realidade, um fenómeno que se desenvolveu lentamente e ao longo de vários anos. Por outro lado, todos os conteúdos abordados no contexto da criação de cartazes durante a década de 60 tiveram consequências e repercussões que ultrapassam largamente a data concreta de 1968. O mesmo aliás é válido para os acontecimentos políticos desse ano. Assim, no âmbito dos processos globais de transformação da sociedade que estão na sua origem, a sociologia fala dos «longos Anos 60», referindo-se ao período que dista entre 1958 e 1970. Na História política, pelo contrário, aponta-se, e com razão, para o 2 de Junho de 1967, a data da morte do estudante Benno Ohnesorg, em Berlim, como tendo constituído o início de uma nova fase na confrontação política no pós-guerra. Contudo, parece-nos correcto utilizar o ano de 1968 como cifra sempre que queremos falar das transformações políticas e sociais dos Anos 60. Esse ano marcou sem dúvida um ponto alto, até porque foi então que a dimensão global do fenómeno se tornou visível para todos2. Os protestos estudantis não ocorreram apenas na Alemanha ocidental, mas em muitas metrópoles espalhadas por todo o mundo. Na cidade do México, dez dias antes de começarem os Jogos Olímpicos do Verão, foram mortos, durante manifestações, mais de 500 estudantes pelos soldados governamentais, enquanto em Praga as tropas do Pacto de Varsóvia puseram fim à chamada “Primavera de Praga”. Acontecimentos como o assassínio do militante pelos direitos cívicos Martin Luther King ou o atentado que vitimou o candidato à presidência Robert Kennedy fazem realçar esse ano no contexto dosdesenvolvimentos globais. Em Maio de 1968 Paris foi agitada por uma gravíssima revolta estudantil e uma greve geral dos trabalhadores solidários paralisou o país durante semanas a fio. Por essa altura as ruas de Paris foram inundadas por centenas de cartazes provenientes do Atelier Populaire, fundado em Maio de 68 por trabalhadores, estudantes e artistas
na Academia das Artes da Sorbonne.

Mas 1968 foi também o ano da mudança. Em França os protestos acalmaram finalmente, depois do governo sob o presidente de Gaulle ter mandado evacuar as universidades e fábricas ocupadas e dos gaullistas terem ganho as eleições para o parlamento em finais de Junho. Na Alemanha Ocidental, por sua vez, o final dos protestos espontâneos de massas começou a adivinhar-se logo após a votação pelo Bundestag das leis de emergência, a 30 de Maio, com uma consequente fragmentação da esquerda política em partidos de quadros. Em Abril de 68, dois incêndios provocados em centros comerciais deram a entender que o protesto contra um Estado considerado totalitário tinha entrado numa nova fase, que anos mais tarde iria culminar no terrorismo de uma minoria.

Quarenta anos decorridos, a publicação de livros e edições especiais de revistas evocou os acontecimentos, tendo o aniversário merecido também a atenção da rádio e da televisão. O mais tardar desde a década de 80, o ano de 1968 é considerado como um ponto de viragem na História alemã do pós-guerra. 1968 modificou profundamente a compreensão dos sexos, provocando a dissolução das estruturas familiares tradicionais, bem como a democratização de vastos sectores da sociedade. Os movimentos contra a energia nuclear e de solidariedade para com o Terceiro Mundo, bem como o movimento ambientalista, têm aí o seu secreto ponto de partida.

Entretanto, a maioria dos autores dos artigos e contributos sobre o tema pertence a uma geração mais nova, que já não chegou a viver esse tempo. Esta geração observa os acontecimentos a partir de uma distância histórica, assumindo, em parte, uma atitude crítica em relação às transformações então despoletadas. 1968 começa a tornar-se História. É nesse contexto que exposições que confrontam o visitante com imagens autênticas da época podem contribuir para o aprofundar da discussão, oferecendo àqueles que lá não estiveram um sempre útil ponto de apoio.
Notas:
1 Graphis Jg. 24 (1968), Revista 135, pág.52
2 W. Kraushaar, Die transatlantische Protestkultur, em : “1968 al Mythos, Chiffre und Zäsur”, Hamburgo 2000,
pág. 53-80.
1968. Das Jahr, das die Welt veränderte, Köln 2005

Produzida pelo Deutsches Plakatmuseum (Museu Alemão do Cartaz), a exposição abrange, na versão itinerante do Goethe-Institut, uma escolha de 28 cartazes subordinados a três temas: Política e Sociedade, Arte e Cultura e Música



Política, Pop e Afri-Cola
Cartazes de 68 na Alemanha
Exposição
01.12.2008 - 31.03.2009
Goethe-Institut em Lisboa
Entrada livre
+351 2188245-10
info@lissabon.goethe.org
Retirado de: