10.11.07

As tascas do Porto/Estórias e memórias servidas à mesa da cidade - um novo livro de Raul Simões Pinto que foi hoje apresentado por Hélder Pacheco

Livro recomendado por este blogue:
foto retirade do blogue: http://limpa-vias.blogspot.com/


O novo livro de Raul Simões Pinto, «As tascas do Porto/Estórias e memórias servidas à mesa da cidade», com edição das Edições Afrontamento, foi hoje apresentado por Hélder Pacheco, conhecido historiador da cidade nortenha, que também escreveu o prefácio deste volume, numa sessão de lançamento do livro realizada num restaurante do centro.

O livro, com fotografias de Gabriela Felício, pretende divulgar e homenagear aqueles espaços que, durante décadas, e ainda hoje, foram locais de encontro e conversas entre as gentes mais humildes da cidade, em contraponto às tertúlias dos cafés, frequentados sobretudo pelas camadas mais aburguesadas.

Apesar da desertificação galopante que atinge o centro histórico do Porto, e não obstante a erosão sofrida com o tempo, ainda hoje permanecem umas boas dezenas de tascas na cidade, que importa preservar para o que se torna imprescindível a sua devida valorização como uma das mais marcantes fontes de socialização popular. Aliando os petiscos, a bebida, os jogos e as conversas, as tascas e as tabernas urbanas desempenham um papel não desprezível na cultura popular.

Mesmo hoje, em que a desertificação expulsou as camadas populares para a periferia dos bairros sociais, qual maldita gentrificação, as tascas vão sobrevivendo com os clientes habituais, à espera que os jovens as venham a redescobrir, como acontece por lá fora.

Raul Simões Pinto descende, curiosamente, de uma família ligada ao meio, o que lhe dá uma autoridade acrescida para retratar o típico e tradicional ambiente das tabernas. O autor da obra, tem já vários livros editados e colaboração dispersa por várias publicações. É dele, por exemplo, o livro «Putas à Moda do Porto», editado pelas Edições Mortas, que teve ( e tem ainda) uma enorme procura graças ao seu interesse histórico e sociológico do meio social retratado.


Tascas, Tabernas e Adegas do Porto:

"A Badalhoca" - R. Dr. Alberto Macedo (Ramalde)
( recomendação: as sandes, as iscas de bacalhau e o vinho)

Adega Quim - R. da Madeira, à est. de S. Bento
( é também sede do clube Os Cabrões)
(recomendação: oss bolinhos de bacalhau)


Adega Leandro – Rua de Trás, 12, aos Lóios
(recomendação: sande de presunti, copo de vinho e a ginginha)

Tasca O Alfredo Portista – Rua do Cativo, à Sé
(recomendação: tigela de vinho, sande de bacalhau e fígado com cebolada)


Outras tascas e adegas do Porto, mas já desaparecidas:
Adega da Cerca; Adega Moura; Adega do Olho(ainda hoje existe, mas transformada em restaurante); O Transmontano, a Casa Osvaldo ( que fechou há pouco tempo na Travessa de S. Sebastião, à Sé)


Entrevista com Raul Simões Pinto, autor do livro «As tascas do Porto/Estórias e memórias servidas à mesa da cidade», com edição das Edições Afrontamento, publicada hoje no Jornal de Notícias:

Onde foi beber a inspiração para este livro?
Este trabalho andava na minha cabeça há bastante tempo. A ideia tem cerca de 15 anos e demorou dois anos a concretizar, a proceder à recolha e investigação no terreno.

É também uma homenagem à sua família e, em especial, ao seu pai...
Sim, o meu pai teve um tasco em Lordelo do Ouro. Era o "39", porque ficava na Rua da Pasteleira. Fiquei sempre ligado a este mundo, a este microcosmos feito de muitas estórias, solidariedades, amizades. Há cerca de 40 anos, as tascas eram centros de convívio e onde à mesa se discutia de tudo um pouco. Quem pensar que era só futebol está enganado. Também havia gente a discutir política. Ainda recordo um facto curioso no tasco do meu pai, ouvia-se a Rádio Moscovo.

Além das nostalgias, esses tempos também foram marcados pela grande pobreza e dificuldades. Concorda?
Sim, é verdade, mas esses tempos também foram vividos com bastante generosidade. As pessoas eram mais solidárias, existia outro espírito de entreajuda.

Quais foram os objectivos deste trabalho? Um testemunho para o futuro?
Pretendi fixar neste estudo algumas memórias do passado e também lembrar às gerações mais novas a cidade antiga. Dantes, o Porto fervilhava de gente, mas a cidade do trabalho está a dar lugar à cidade dos serviços e das falências.

As tascas têm futuro?
Têm futuro, mas vão atravessar muitas dificuldades. Nos últimos anos, um terço das casas foram obrigadas a fechar por falta de clientes. Pelas minhas contas, já deixaram de existir 50 tascas