12.4.05

Os Justos (de A.Camus) é uma peça anti-hegeliana




As personagens da peça dramática são:
Dora
Annenkov (o chefe)
Stepan ( o revolucionário profissional)
Kaliayev (o poeta)
Voinov

Estas cinco personagens fazem parte de um grupo terrorista que prepara um atentado que irá matar o Grande-Duque, considerado o tirano do Reino.

Trata-se de uma curta obra dramática que
coloca em confronto duas visões distintas de fazer e viver a revolução.

Por um lado a perspectiva hegeliana da Grande Ideia, isto é, da Revolução. É o personagem Stepan que a incarna. Defende ele a Moral, e com ela as grandes ideias da Justiça, da Igualdade, da Revolução.

Ao contrário dele, encontramos o poeta Kaliayev que não acredita nas Grandes Ideias mas na Vida, nas Relações Humanas e Interpessoais que a vida vai tecendo. Mais do que em função de grandes Ideais é no terreno concreto que podemos encontrar, não a Justiça, mas os Justos.

Para o primeiro as ideias valem mais que os homens, enquanto para o segundo os homens têm a primazia, não os homens enquanto categoria genérica e abstracta, mas os homens concretos com que ele se relaciona e que lhe são próximos. São esses que lhe dão um sentido para os seus actos.

É representativa destas duas visões antagónicas o seguinte diálogo entre os dois:

«Kaliayev –Entrei na revolução porque amo a vida.
Stepan – Não amo a vida, mas a justiça que está mais alto do que a vida»

Não é por acaso que Camus num dos seus textos escreve:
«O único artista comprometido é o que, sem nada recusar do combate, recusa pelo menos fazer parte dos exércitos regulares» (A. Camus), ou seja, o autor reconhece a cada indivíduo a liberdade de se implicar na revolta, mas esta não é vista como algo de exterior, ou determinada exteriormente por quem quer seja. A revolta tem de ser imanente quer aos indivíduos quer aos grupos sociais. Só assim os homens adquirem um sentido para as suas existências