28.12.09

A música etíope de Alemu Aga




Alemu Aga é um dos grandes mestres da begena, também conhecida como harpa do Rei David. Instrumento de cordas etíope, que se crê ter cerca de 3.000 anos, pertence à família das liras e das harpas. A begena vê a sua continuidade ameaçada, por falta de mestres a ensiná-la nas escolas do seu país, sendo Alemu Aga um dos seus já escassos tocadores. Também geógrafo e lojista, residente em Adis Abeba, o músico viaja, há já algum tempo, um pouco por todo o mundo, a divulgar esta melodia ancestral intemporal, sintonizada com uma paz eterna, luminosa, beatífica, capaz de nos levar para outra dimensão. Inicialmente conotado como instrumento real e aristocrático, a begena é quase exclusivamente utilizada em orações, servindo como música de meditação. Esta é uma oportunidade única para ver um espectáculo solene de um dos maiores intérpretes de música etíope, dada a conhecer ao grande público por Francis Falceto e a sua série musical com doze anos, Ethiopiques.


Segundo a tradição etíope, a begena foi trazida de Israel para a Etiópia por Menelik I, tendo sido utilizado por David para acalmar os nervos do Rei Saul e curá-lo da sua insónia. Instrumento com dez cordas, nem todas são usadas para produzir som – algumas servem apenas para descansar os dedos, enquanto as cordas tocadas vibram. Desconhecida do mundo Ocidental até meados dos anos 80, a begena e a música etíope foi-nos dada a conhecer através da série Ethiopiques – compilação de música da Etiópia e da Eritreia, lançada a partir de 1997, pela editora francesa Buda Musique.

O 11º volume deste conjunto de obras pertence a Alemu Aga e à sua begena. O seu primeiro registo foi gravado em 1972 para uma colectânea da UNESCO, tendo sido proibida em 1974, quando a junta militar Derg subiu ao poder na Etiópia e pôs em prática políticas anti-religiosas. Depois disso, Alemu Aga desistiu de tocar e abriu uma loja de souvenirs em Adis Abeba. Durante algum tempo, tocou apenas para amigos em círculos fechados, mas, com o colapso do regime Derg, voltou a tocar em público. Tendo sofrido uma democratização no seu uso e tradição em épocas mais recentes, o ensino deste instrumento resulta de uma extensíssima tradição oral.

Francis Falceto conta como ouviu, pela primeira vez, música etíope: Aconteceu uma noite em que festejávamos, e um amigo nosso trouxe um LP que tinha comprado na Etiópia. (...) Ao passear por Adis Abeba, (…) ouviu música, entrou numa loja e comprou um LP de Mahmoud Ahmed. Nessa noite, pôs a tocá-lo e eu fiquei maravilhado. (…) Peguei no LP, fiz cópias (…) e mandei-o para amigos meus jornalistas, críticos de música e assim. No dia seguinte, todos me ligaram a dizer (…) “Isto é fantástico!”. No mês seguinte fui à Etiópia (…) convidar o Mahmoud Ahmed para fazer uma “tour” em França e na Europa. Eu era completamente ignorante, não só em relação à música etíope como em relação à própria Etiópia. Neste país independente (à excepção de uma relativamente breve ocupação fascista italiana no século XX), os músicos tradicionais (azmaris) eram considerados uma casta, havendo uma posição ambivalente em relação a eles. Eram apreciados pela sua liberdade de expressão, mas ninguém escolheria casar a filha com um, explica o produtor. Foi necessário esperar vinte anos pelo desenvolvimento da música etíope moderna, que tem sido revelada nas últimas duas décadas e recebida com o maior entusiasmo, admiração e reverência. Espiritual e etérea, capaz de fazer todo o nosso corpo vibrar e de nos devolver a uma outra vida, tem na begena a sua expressão maior e em Alemu Aga uma das suas pedras mais preciosas.



Begena Alemu Aga - Ethiopian Orthodox Tewahedo Song 1 of 4












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