O verde está na moda, por todo o lado se fala em ambiente. Agora, já os fabricantes de carros e até os gestores das centrais nucleares são ambientalistas ! Se não nos podemos queixar desta tomada de consciência acerca da degradação ambiental, ao fim de 40 anos dos primeiros alertas, a verdade é que devemos denunciar o populismo ecológico que para fins bem nossos conhecidos não desiste de pintar com a cor verde as malfeitorias típicas do sistema de produção capitalista, não questionando a ideologia do crescimento produtivo, a crença de que « uma maior produção é a chave da prosperidade e da paz» (Truman, 1949).
Para nós, anarquistas, a ecologia não é apenas somente a defesa dos pássaros, a sacralização da natureza, vista como uma nova deusa. Já há uma século atrás, nomeadamente com Elisée Reclus, se colocava aa questão da integração harmoniosa do homem no seu meio, a gestão duradoura dos recursos, a construção de uma sociedade em que a qualidade da vida social seja mais importante que a quantidade da produção.
Como herdeiro do cristianismo, o liberalismo coloca o homem em oposição à natureza que deve submeter e dominar, enquanto outras culturas defendiam a harmonia e o respeito desta. No século XVIII, sob o impulso de Mandeville e Adam Smith, o económico separa-se da moral e do político, constituindo-se como campo autónomo da vida social.«Em vez da economia estar encastelada nas relações sociais, são estas que acabam por ficar enquadradas no sistema económico»»(Polanyi). Hoje, o homem é o servidor do Léviathan económico. As famílias estão dispersas, as solidariedades foram dissolvidas, os ritmos biológicos alterados, e toda a nossa vida social é determinada pelo desiderato do aumento da produtividade que, segundo o catecismo liberal e a ideologia do desenvolvimento mercantil, «o suave comércio», é a única via de aumento da riqueza, logo do bem-estar. Este dogma é ainda defendido hoje, apesar de assistirmos ao suicídio de trabalhadores stressados e ao aumento da pobreza no mundo, da má-nutrição, da falta de alojamento, e da busca do lucro individual e da vontade de acumulação ilimitada do capitalismo não recuar face à poluição do ar, das terras, dos mares, colocando em perigo a saúde e a sobrevivência da humanidade. O que vemos é que o comércio e os negócios, em vez de levar à paz, estão a conduzir-nos para as guerras.
Não convém, pois, cair na armadilha verde que as empresas e os tecnocratas do Estado montaram, e não deixar de compreender que o liberalismo económico e a ideologia do crescimento são os responsáveis pela degradação do ambiente, pelo aquecimento climático e pelas complicações do nosso funcionamento psicossomático.
É urgente inventar um outro modelo de sociedade em que o bem estar não esteja ligado à acumulação da mercadoria, mas antes ao desenvolvimento e reforço dos laços sociais, da convivialidade, da solidariedade e do apoio mútuo. Um modelo de ecologia social baseado na integração e na harmonia do homem na sociedade e na natureza. Este é o projecto anarquista. Um projecto fundado na igualdade económica e social, na participação de todos na definição das necessidades admissíveis, dos recursos necessários e dos modos de produção. É porque a consideração dos desejos de cada um deve constituir-se como a única maneira de contrariar o egoísmo individual, e porque o comunismo libertário é a única forma de lutar contra os privilégios e as desigualdades, é que nós lutamos por uma ecologia social, igualitária e libertária.