O ciclo das últimas contra-cimeiras mostrou que nós ganhámos quando inventamos uma nova táctica em vez de procurarmos reproduzir as rituais confrontações do costume. No ano de 1999 em Seattle os capitalistas não esperavam uma tão larga mobilização para neutralizar as suas reuniões. No ano de 2001 em Génova, eles esperavam que as nossas acções se concentrassem na zona vermelha, e foi por isso que nos batemos fora desse perímetro. Na reunião do G8 em 2003, as ruas comerciais de Genebra foram iluminadas graças a um blitz nocturno em que ninguém foi detido graças ao efeito surpresa de que beneficiamos. Desde Génova que temos tido poucas vitórias e tal deve-se ao facto de andarmos a tentar repetir Génova. Mas a polícia, entretanto, organizou-se para o impedir. Salónica (Grécia), São Petersburgo, Gleneagles e outras contra-cimeiras foram outras tantos fracassos para quem quer sabotar o capital uma vez que mais não se fez do que repetir o espectáculo anterior. Apesar de tudo, esses acontecimentos foram ocasiões para nos encontrarmos e renovar os laços entre pessoas e grupos.
No fundo a questão é: quem bloqueia quem? Se organizarmos uma grande mobilização num só local a estratégia do Estado-capital é mais que previsível. Eles irão mobilizar também todas as suas forças. E é da natureza própria do capital terem mais meios do que nós. Depois há ainda que referir que as condições de luta política mudaram nos últimos anos; em certas circunstâncias, a sabotagem nocturna tornou-se menos arriscada que a manifestação de rua. O terrorismo é o novo espectáculo do capital, a moeda de troca em que se tornou o medo serve para fazer leis contra nós, para nos dividir e nos prender. Ao mobilizarmo-nos num só local mais não fazemos que facilitar o trabalho deles, pois podem-nos assim apontar em bloco. Lutar contra o capital, nos nossos dias, significa bloquear a economia. Os insurgentes, os piqueteros argentinos, o movimento contra a CPE em França têm de comum o facto de atacarem com todos os seus meios a circulação capital. É por isso que dizemos que ao bloquear a economia com um ataque concertado às infra-estruturas e aos fluxos mercantis no mundo nós podemos esboçar aquilo que seria uma insurreição. Fazem-se frequentemente críticas às contra-cimeiras por estas se terem tornado um espectáculo. Mas isso é desconhecer as potencialidades dos encontros, dos laços, a inspiração para novas lutas que despertam nessas ocasiões. Pensamos que este poder de convergência não se deve perder, mas importa concentrarmo-nos na conspiração, na partilha e no saber-fazer. Por outras palavras, propomos a dissociação entre concentração e acção. Lançamos este desafio porque não é de todo aconselhável discutir estas questões sob pressão policial que inevitavelmente existe após as acções de protesto. E depois sempre é mais fácil agir quando não se está sob o seu olhar. Na verdade, é do maior interesse reunirmo-nos e trocar ideias antes e depois das cimeiras. E tudo de forma descentralizada. Temos necessidade de elaborar um conjunto de estratégias, pois se estamos convencidos que é imperioso levar a cabo uma série de sabotagens em todo o mundo, não é menos importante perspectivar teoricamente tudo isso, ou seja, fazer as coisas de maneira a não fornecermos informações suplementares à vigilância policial.
Propomos assim para a contra-cimeira de 2007 na Alemanha que as grandes concentrações sejam votada elaboração estratégica, à organização de uma campanha de acções coordenadas, e à análise dos resultados. O alvo não deve ser Heiligendamm mas a economia global. Propomos que as grandes concentrações internacionais se realizem antes e após os dias de acção contra o G8. Teremos assim tempo e espaço para conspirar e inspirarmo-nos mutuamente sem dar o flanco a uma repressão massiva. Apelamos a cada um para agir por sua iniciativa pelo mundo inteiro, durante os dias de realização da cimeira (6,7, e 8 de Junho de 2007) com o objectivo comum de paralisar a economia mundial. Apelamos para que esta ideias seja discutida em todas as reuniões de preparação para a contra-cimeira.
Esta proposta não é dirigida contra as acções públicas mas sim contra a sua concentração num só local, por ocasião da reunião do G8. As acções simbólicas têm sempre uma utilidade, ainda que o capital esteja em guerra não de forma simbólica. Os nossos únicos limites são as nossa imaginação.
O colectivo do 22 de Outubro
(tradução de um texto que circula há alguns dias entre os activistas que se preparam para a realização de uma contra-cimeira em Heiligendamm, Alemanha, em Junho de 2007. Uma proposta para a renovação de estratégias também apareceu no Indymedia UK)