13.4.08

Dia Internacional pelo Darfur

Esperança para o Darfur.


Ajudar quem o mundo esqueceu.


www.dayfordarfur.org/

www.darfurinfo.org/oldnews.html


www.savedarfur.org/content?splash=yes



O Sudão é o maior país de África e uma antiga colónia britânica que sofreu, desde praticamente a independência, uma guerra entre o norte (maioritariamente árabe e que tem vindo a ser governado por partidos que assentam a sua autoridade no crescente fundamentalismo religioso) e o sul (de população maioritariamente africana e um longo passado de exploração pelo norte relacionada com o comércio de escravos). Os acordos de paz assinados a 9 de Janeiro de 2005, em Naivasha - Quénia, deixaram em aberto a independência do sul, a decidir por referendo em 2011.

Sobre o Darfur

Darfur é uma região do tamanho da França, situada no oeste do Sudão, que antes da colonização inglesa era independente de Cartum
Durante a guerra entre o norte e o sul, o exército de Cartum (norte) utilizou os jovens do Darfur como manancial de soldados africanos utilizados para combater os grupos armados do sul (muitas vezes através do rapto de crianças e jovens nas aldeias), mas a região foi relativamente poupada pela guerra e assistia até há pouco tempo a uma coexistência pacífica entre os pastores nómadas árabes e a população de etnia africana.

O genocídio

Desde 2003 que a população de etnia africana de Darfur sofre razias e morticídios que fazem parte de uma estratégia promovida pelo governo de Cartum com o apoio militar de países como a Arábia Saudita e a Líbia, apostados em impor a Charia e arabizar todo o norte do Sudão. Uma campanha de fomento do ódio étnico e racial, armando as populações de pastores árabes (politicamente mais fáceis de controlar e manipular por Cartum) e financiando as razias às populações africanas vitimou quase meio milhão de civis (!).
Ante os olhos passivos da comunidade internacional, o Governo de Cartum continua a patrocinar uma radical operação de limpeza étnica. Estima-se em mais de 3.000 o número de ataques a comunidades e aldeias destas milícias armadas e mantidas pelo governo (a uma média de cerca de 60 ataques por mês!). Todos os dias perdem a vida centenas de pessoas!

(Obs.: Quer a população árabe, quer a africana falam o árabe e professam maioritariamente o islamismo. )

Em apenas quatro anos, morreram no Darfur, vítimas da guerra, da fome ou da doença pelo menos 200 mil pessoas - os piores prognósticos apontam para 400 mil - na sua larga maioria civis indefesos.
Calcula-se que pelo menos 2,3 milhões de pessoas tenham sido obrigadas a deixar as suas casas e a procurar refúgio em campos onde estão totalmente dependentes das organizações humanitárias. Todos os dias morrem pessoas, a maior parte crianças, de todas as mais vulneráveis.
Apesar do Tribunal Penal Internacional ter declarado a existência de práticas de Crimes de Guerra e Crimes contra a Humanidade e da ONU ter reconhecido a existência de indícios de um Genocídio, a tragédia da província sudanesa do Darfur arrasta-se desde Fevereiro de 2003, debaixo dos olhos de uma comunidade internacional pouco consequente.
Os ataques às populações sucedem-se em redor dos próprios campos onde se concentram as populações deslocadas, não sendo garantida a sua segurança. As organizações de ajuda humanitária tem sido também alvos frequentes das milícias, que procuram paralisar a sua actuação, agravando ainda mais a situação de extrema debilidade de milhões de pessoas refugiadas.
Entretanto o sofrimento causado pelo conflito já ultrapassou as fronteiras do Sudão, com milhares de refugiados a fugirem para o Chade (gerando por sua vez um número de deslocados internos que ascende já a 200 mil) e para a República Centro-Africana, aonde continuam a ser perseguidos pelas milícias Janjauid.



Darfur: chamamento à consciência













Darfur: a vergonha do mundo
Por José Manuel Pureza


Publicado nedição especial do Jornal A Cabra ( jornal da Academia da Universidade de Coimbra) dedicado ao tema e à tragédia do Darfur

O Darfur é há anos palco de uma tragédia humanitária de enormes proporções, possibilitada por um crime de esquecimento por parte da comunidade internacional. Os mais de 250 mil mortos, os dois milhões de refugiados e de deslocados internos e os mais de dois milhões de pessoas totalmente dependentes da ajuda externa são o rosto incontornável desta tragédia.


O Darfur – com uma extensão territorial comparável à da França – é apenas um dos capítulos, o mais recente, de uma extensa série de conflitos que têm atravessado o Sudão desde a sua independência em 1956. Como em tantos outros pontos do globo, a divisão étnica e religiosa (70 por cento de muçulmanos, 25 por cento de animistas e 5 porcento de cristãos) e entre diferentes modos de vida (culturas sedentárias e culturas nómadas), não pode ser absolutizada enquanto causa dos conflitos. É um ingrediente importante, sem dúvida, mas indissociável quer do peso de um passado colonial (anglo–egípcio) que separou o Norte do Sul, dando às elites do primeiro a primazia da governação – desigualdade esta que a islamização, conduzida no país a partir de 1969, durante a ditadura de Nimeiri, veio radicalizar – quer do apetite internacional pelas riquezas petrolíferas do país e das alianças por ele determinadas.


O actual poder despótico, personificado em Omar el–Bashir, não é, pois, mais do que um prolongamento de um passado de profunda discriminação e de guerra interna. Neste contexto de discriminação colectiva, o Darfur veio juntar–se – através do Exército de Libertação do Sudão (SLA) e do Movimento Justiça e Igualdade – a outras revoltas contra a marginalização económica, política e social.


Animaram essa mobilização sobretudo tribos sedentárias como os Fur, os Massaleit ou os Zaghawa. A resposta das autoridades de Cartum tem sido esmagadora e traduz–se sobretudo em acções directas de destruição por raids aéreos e no apoio às milícias Janjaweed e às suas acções de devastação das populações civis e das suas fontes de sustento.


Mas além de uma longa história de conflito e de chacina, o Darfur é também uma história repetida de acordos de paz fracassados. O último desses acordos, de Maio de 2006, mostrou–se desde o início demasiado limitado quer no elenco dos signatários quer nas obrigações concretas dos que o assinaram.


Desde logo o Partido do Congresso Nacional, no poder em Cartum, tudo tem feito para boicotar o acordo, designadamente através da integração de membros das Janjaweed nas forças policiais regulares em vez de os desarmar. Por outro lado, grupos rebeldes como algumas facções do Exército de Libertação do Sudão (Minni Minawi) têm vindo a intensificar ataques contra populações civis, especialmente em campos de deslocados.


Face a este estado de coisas, há muito que urge estabelecer naquele território uma força internacional de paz, que ponha termo aos desmandos dos diferentes grupos que chacinam a população civil.


O Conselho de Segurança da ONU, através de Resolução 1706, de Agosto de 2006, aprovou o reforço da anterior Missão das Nações Unidas no Sudão (UNMIS), mandatada para vigiar o cumprimento do Acordo Geral de Paz que pôs fim à guerra entre o Norte e o Sul do Sudão. Está em causa o envio de uma força de 20.600 homens (no quadro restrito das Nações Unidas ou num quadro misto entre a ONU e a União Africana), complementados por pessoal civil, especificamente para o Darfur. O governo de Bashir, com fortes apoios sobretudo na China, tem tido a liberdade necessária para boicotar insistentemente esta decisão. Até agora sem consequências.


Está mais do que na hora de a comunidade internacional cessar a transigência com os perpetradores do massacre do Darfur. A cessação imediata da ofensiva militar contra o território, a plena cooperação das autoridades sudanesas com a força internacional de paz, o levantamento de todos os obstáculos burocráticos à ajuda humanitária às populações são exigências mínimas de cumprimento absolutamente inadiável. Há instrumentos para garantir a sua satisfação: sanções personalizadas contra os responsáveis pelos massacres, vigilância


apertada sobre os rendimentos dos negócios do petróleo e sobre os fluxos de investimento directo estrangeiro ou fiscalização, sob a égide do Conselho de Segurança, das contas “offshore” dos membros da direcção do partido maioritário, tudo pode e deve ser implementado para limitar a chacina.
Assim haja vontade política.