28.9.06
Pic-Nic vegetariano no dia 1 de Outubro ( nos jardins do Palácio de Cristal, Porto)
No Dia Mundial do Vegetarianismo, o GAIA (Grupo de Acção e Intervenção Ambiental) organiza mais um picnic vegetariano, recheado de diversas actividades.
É um evento destinado a divulgar o vegetarianismo \ veganismo e estilos de vida sustentáveis e saudáveis.
O picnic tem um carácter informal onde o principal elemento, para além da divulgação de princípios e práticas, é o próprio convívio e confraternização. Assim, é uma preciosa oportunidade para ficares a saber mais sobre o vegetarianismo\veganismo, contactares com diversas experiências, trocares receitas, aprenderes pequenas dicas importantes, entre outros.
Vem passar um dia ao ar livre, conviver, conversar, partilhar ideias e saberes!
No local estarão alguns pontos de informação com material do GAIA onde é possível obter importantes informações sobre os projectos e campanhas a decorrer, assim como de outros projectos e associações.
Ao Pic-Nic estarão associadas diversas actividades, das quais podes ver a descrição mais abaixo, tais como: oficina de Sushi Vegetariano, oficina “o perfume começa na planta”, oficina de Contacto Improvisação, a típica Feira de Trocas e eventuais surpresas.
Como o dia 1 de Outubro é o Dia Mundial do Vegetarianismo, após o picnic, o GAIA propõe a visualização de um filme acerca do tema, seguido de debate, em local ainda por determinar.
As inscrições para as oficinas são limitadas (devido aos materiais), embora haja sempre a hipótese de assistir à actividade. Para o picnic propriamente dito não é preciso inscrição.
Para realizar inscrições basta enviar um e-mail para porto@gaia.org.pt, indicando primeiro e último nome, contacto telefónico e nome/s da/s oficina/s que deseja participar.
Pode também telefonar para 937267541 ou 918120832 para se inscrever.
Informações actualizadas acerca do picnic no site,
http://gaia.org.pt/
Massa Crítica é já no próximo dia 29 de Set. (6ª feira)
No próximo dia 29 de Setembro, como em todas as últimas sextas-feiras de cada mês, realiza-se mais uma Massa Crítica. Bicicletas, skates, patins (e outros transportes não poluentes) desfilarão, por mais de 350 cidades espalhadas pelo mundo, conduzidos por cidadãos comuns.
Em Portugal realiza-se no Porto e em Lisboa. A Massa Crítica é um evento que se tem vindo a realizar todos os meses, com um número crescente de aderentes. Apelamos a todos que se juntem a esta grande festa! Ornamentem o vosso meio de transporte, tragam instrumentos musicais, e tudo o que possa transmitir alegria e boa disposição, podendo vir mascarados, sendo esta uma bicicletada de Carnaval.
A "Massa Crítica" pretende ser um movimento capaz de congregar todos os cidadãos inconformados com a supremacia automóvel.
O objectivo primordial é realizar uma marcha de bicicletas, e outros meios de transporte não poluentes, com uma forte componente reivindicativa, que transmita uma mensagem pedagógica e exija a criação de políticas de mobilidade mais vantajosas para a utilização de meios de transporte ecológicos (bicicletas, patins, andar a pé).
A "Massa Crítica" é um movimento espontâneo e livremente organizado, e insere-se numa filosofia mundial de reivindicação dos direitos dos cidadãos face ao despotismo do automóvel e às políticas ecologicamente subdesenvolvidas, divulgando a existência de alternativas viáveis à utilização de transportes motorizados privados. Pretende, para além disso, ser o início de um movimento mais amplo e estruturado ce activismo ecológico e social.
A "Massa Crítica" não requer grande capacidade física (dado que é uma iniciativa de grupo com uma forte solidariedade entre todos os seus membros). É aconselhável a utilização de capacete de ciclista, máscara anti-poluição e levar água. Muito mais que um protesto, a "Massa Crítica" é uma acção directa saudável, pacifica didáctica e divertida.
Todos à massa crítica às
18h00 –no Marques de Pombal Lisboa
18h30 – na Praça dos Leões Porto
27.9.06
Os negros, de Jean Genet
Os negros, de Jean Genet, com encenação de Rogério de Carvalho - em representação no TNSJ
( 15 Set a 8 Out)
Textos retirados de:
http://www.tnsj.pt/
Prefácio ( por J.Genet)
Que acontecerá a esta peça quando tiverem desaparecido, por um lado, o desprezo e a repugnância, por outro, a raiva impotente e o ódio que formam o fundo das relações entre a gente de cor e os brancos – em suma, quando entre uns e outros se tecerem laços humanos? Será esquecida. Aceito que só hoje faça sentido.
Que tom adoptaria um negro para se dirigir a um público branco? Vários o fizeram. Ora encantadores, ora reivindicadores, indicavam o seu temperamento singular. Eu próprio, falando com um negro, não sei que lhe dizer e como dizê-lo: só consigo distinguir o indivíduo particular e com ele entro em sintonia. Mas se tivesse de me dirigir a um público de negros, recusar-me-ia a fazê-lo. Perante eles, teria a sensação demasiado aguda de que a Brancura quer falar à Negritude. É preciso ser-se muito louco ou muito cobarde para aceitar semelhante diálogo. Semelhante sermão, melhor dizendo. E falar não seria porventura o mais arriscado; onde iria eu, Homem-Branco, buscar a emoção capaz de engendrar o mito que os pudesse sacudir? A expressão teatral não é um discurso. Acto poético, ela quer impor-se como um imperativo categórico perante o qual, sem contudo capitular, a razão entra em banho-maria. Julgo ser possível encontrar a expressão única que seria compreendida por todos os homens. Mas as metamorfoses da História, em lugar de conduzirem as sociedades para uma crescente compreensão mútua, endurecem-nas sob uma casca de singularidade, de tal maneira que a nossa primeira preocupação seria quebrar essa casca dentro da qual todo o ser que se queira livre se impacienta.
No passado mês de Dezembro, Raymond Rouleau comunicou-me a sua intenção de formar uma companhia teatral composta unicamente de negros. Conheço mal as razões que o norteiam. A bem dizer, preocupei-me pouco com a questão, julgando adivinhar que Rouleau neles via admiráveis objectos cénicos até hoje nunca utilizados na Europa. Quando me pediu para escrever uma peça para a sua companhia, aceitei.
“Sim, disse para comigo, os negros representarão. Mas organizarão um espectáculo que será uma afronta lançada à cara dos espectadores.”
Porque, mal a ideia de uma representação teatral pelos negros encontrou formulação, logo me veio à mente o exemplo a não seguir, contra o qual era preciso lutar: Catherine Dunham.
Ainda nos lembramos dos seus ballets. Será que eram irrepreensíveis à luz da estética do music-hall? É bem possível. Dançados unicamente por negros, o que é que indicavam? Donde vinham? De que eram embaixadores? De que império soberano? Pálidos, descolorados, emanavam de um mundo sem poder terrestre, sem raízes, sem dor, sem lágrimas e sem vontade de ter semelhantes atributos, de um mundo de ectoplasmas que se recusa a experimentar a sua própria realização. Nunca através deles nos foi dada a conhecer a infelicidade de um mundo negro, cada dia mais irrealizado. Nem as suas raivas, nem as suas misérias, nem as suas cóleras, nem os seus medos. Senti-me incomodado, até à náusea, por aqueles negros atléticos que aceitavam propor ao público – americano à partida – um divertimento de encher as medidas, no qual apareceriam transbordantes de talento, de mestria, de beleza, e assim se mostravam em posturas inofensivas, quando a simples audácia de roçar com o cotovelo um cidadão yankee lhes seria recusada. Não somente o espectáculo nunca chegava a insultar-nos, nunca nos dava a ver a sua miséria nem o seu desespero, como, ainda por cima, tudo cantava aquilo a que chamamos alegria de viver, tudo nos consolava, com baixeza, daquilo que sabemos da vida e da população negra, dizendo-nos que nada os feria profundamente porque essa sua alegria era tão fresca. Traição. Não sei se terei a audácia de afirmar que todo o acto – e todo o gesto – nascidos da humilhação devem tingir-se de revolta, mas há que considerar medíocre e miserável uma arte nascida da ofensa e da domesticação que se recuse a ter em conta a miséria. Não defendo este ponto de vista por motivos de generosidade fácil, trata-se antes de uma exigência em favor da arte que só tem vigor na medida em que se apoia na realidade donde provém, testemunhando sobre essa realidade.
Será que responder à inimizade dos brancos com um sorriso, ao desprezo com um deboche de talento, e mostrar aos brancos hostis ou indiferentes que “se é um homem como os outros”, ou seja, um homem dotado de gosto, de habilidade e até de génio, chegando ao cúmulo de lhes dedicar, oferecer talento e génio, é tomar uma atitude bastante bela e generosa? Dir-me-ão que oferecer assim uma possibilidade de conciliação talvez seja prova de inteligência. Não vou nessa conversa. A atitude desses negros era da ordem da sedução, da prostituição, daquela cabotinagem a que recorrem os escravos favorecidos: Esopo escrevia fábulas para distrair o amo, beliscando-lhe a orelha – e logo o amo passava para outro divertimento.
A arte é o refúgio menos vil dos escravos. Mas não pode querer-se tão-só desinteressada e destinada a divertir os ócios do senhor. Justifica-se se incitar à revolta activa ou se, pelo menos, introduzir na alma do opressor a dúvida e um mal-estar devido à sua própria injustiça. Não podemos naturalmente ter em conta os encantos de uma arte cuja ternura e cuja tristeza evoquem somente a nostalgia de um paraíso perdido. Uma revolta deflagrou no Quénia: ousaríamos imaginar os Kikuios a tentarem seduzir os ingleses através das suas danças? Certas danças lascivas seriam porventura capazes de amolecer e derrotar mais facilmente o opressor apopléctico, colocando-o à sua mercê, mas não os imaginamos a procurar aplausos. Ousaríamos imaginá-los no papel de saltimbancos que voltam para saudar o público, assim perdendo a sua alma, a sua severidade, a sua violência? A fim de consigo arrastarem outras tribos para a revolta, talvez montem espectáculos de propaganda, mas então que sublimes pretextos não escreverão cujo sentido e cuja beleza formal nos haverão de escapar, dado que não se dirigem a nós!
A peça que ides ler não tem portanto como objectivo incitar os negros à revolta. Um apelo dessa natureza não pode vir de uma consciência branca através da obra de arte. [Só os envolvimentos na acção directa seriam eficazes. rasurado] Esta peça não é [pois rasurado] feita para eles. [Passo a explicar. rasurado] Quer queira quer não, pertenço à comunidade branca. Estou ligado aos brancos por todo um contexto cultural. Querer escrever para os negros seria fruto dessa abjecção moral que consiste em curvar-se generosamente, com toda a compreensão, para os fracos, em comprazer-se na boa consciência, em julgar-se dispensado de qualquer acção eficaz. Seria abrigar-se na moral e nos bons sentimentos, quando os homens por quem se toma partido haverão de se debater na miséria, na merda da acção, no compromisso. As minorias devem conquistar elas próprias as suas liberdades. É preciso desconfiarmos do nosso entusiasmo pelas causas generosas, pois ele transforma-se rapidamente em auto-complacência. Não tardaria a sentirmo-nos seguros de nós mesmos, atolando-nos na gelatina de um conforto moral muito satisfatório. Porque, no fim de contas, é bastante agradável defender os oprimidos pela palavra ou pela pena, quando se beneficia, simultaneamente, das benesses da comunidade opressora e da gratidão dos oprimidos. Não digo que seja necessário recusar sistematicamente ajuda aos oprimidos, mas antes que ela será vã se, ao mesmo tempo, não se combater o poder dominador ao serviço do qual se está, do qual se beneficia e no qual se participa; ou seja: se não se lutar contra si próprio. Trata-se pois de actos de maldade, praticados contra quem os comete, que têm como objectivo libertar-nos da casca a que anteriormente aludi.
Deleitando-se ou não com isso, o opressor dificilmente apaga em si a imagem do oprimido reduzido à servidão – [se assim não fosse rasurado] para que serviria a opressão, se não para lhe dar uma ideia da força resultante da fraqueza daqueles que reconhecem e veneram essa força –, sendo que essa imagem o tranquiliza e o encanta. É tão-só uma imagem e é [semelhante rasurado] ela que [ele rasurado] tentará transformar o oprimido. E se essa imagem, que traz dentro de si, começasse a inquietar o opressor?
Em contrapartida, era-me permitido tentar ferir os brancos e, graças a essa ferida, fazer penetrar a dúvida. Para nada esconder, devo dizer que me parece necessário que um acto escandaloso os obrigue ao questionamento e à inquietação, relativamente a este verdadeiro problema que não causa o menor conflito nas suas almas.
A partir do momento em que aceitei o princípio de uma peça escrita por um branco a ser representada por negros, quis que esta peça só pudesse ser representada por eles – e sobre a necessidade da obra teatral muito haveria a dizer. Acto poético, esta peça foi-me porventura imposta por uma exigência interior, modo do meu próprio drama, que me esforcei por nortear para um fim exterior a mim. O ponto de partida, o arranque, veio-me de uma caixa de música cujos autómatos eram quatro negros, de libré, que se inclinavam perante uma princesinha de porcelana branca. Esse encantador bibelot data do século XVIII. Será que na nossa época conseguiríamos imaginar, sem ironia, uma réplica: quatro criados brancos a fazerem vénias a uma princesa negra? Nada mudou. Que se passa então na alma dessas personagens obscuras que a nossa civilização aceitou no seu imaginário, mas sempre sob a aparência ligeiramente jocosa de cariátides de mesinha de pé de galo, de pajens ou de criados de café fardados? São feitos de trapos, não têm alma. E, se porventura alma têm, o sonho deles é comer a princesa.
Dir-me-ão que não representam toda a África. Se os interrogar, saberão responder por ela? Temo bem que sim, justamente. Do ponto de vista de uma consciência branca, eles são a África precisamente, no sentido em que simbolizam o estado no qual a nossa imaginação se compraz em situá-los, em fixá-los. Não me venham dizer que há cientistas, médicos, engenheiros negros, que alguns são cidadãos franceses, súbditos britânicos, estou farto de o saber. Farto de saber também que, por muito que até tivessem criados brancos, aquilo que continua a simbolizar as nossas relações é o encantador motivo da caixa de música do século XVIII.
Algumas centenas de milhares de escravos negros vivem o seu embrutecimento na miséria, no cansaço e na fome. A revolta contra as condições terríveis de vida elementar levá-los-á, aos poucos, a tomar consciência da sua realidade e da sua equivalência de seres humanos; ao vencerem no plano real das reivindicações sociais, conseguirão reconhecer-se como iguais ao resto dos homens que, a pouco e pouco, de capitulação em capitulação, perderão provavelmente a sua soberba. Com esses, quando se encontram no coração da orgulhosa revolta e, graças a ela, no fogo da acção, não temos que nos preocupar aqui: estão salvos. Nunca entrarão no nosso imaginário sob a forma de lacaios submissos. Porém, como vemos nós, de facto, os negros?
Formulada assim, a pergunta não haveria de querer dizer nada. Com os olhos do espírito, o Europeu mais obtuso é capaz de os ver na sua miséria, na sua situação de escravos. Mas como “sentimos” nós os negros?
Porventura, vemo-los como gado, como uma manada que deve ser rentável, mas é preciso fornecer às nossas consciências cristãs e humanitárias uma justificação apaziguadora. Ei-los: os negros são inferiores, cobardes, mentirosos, sonsos, preguiçosos e ingénuos, ou seja, incapazes de se elevarem ao patamar da reflexão intelectual. Acabo ou não de definir o criado típico da comédia? Excepto que o criado clássico ainda pertence – tendo em conta a cor de pele e os traços – à comunidade da qual, por um misterioso facto, foi subtraído, mas na qual se reintegrará, se enriquecer, por exemplo, enquanto que o negro dela será eternamente banido.
Ora, quando não se encontram no fogo da revolta activa, será que os negros são mesmo assim? E as minhas quatro figuras, que têm em comum com os negros que pensam e com os que estão condenados aos trabalhos forçados das minas e das plantações africanas? A questão é importante. A psicologia do oprimido é grosso modo decidida pela do opressor, neste caso o colonialista, fruto de uma política capitalista e racista. É impiedoso, embora aparentemente se radique num fingimento de liberalismo e conceda alguns favores ao oprimido. Então, o que é que acontece? Incapaz de convencer – falta-lhe um método dialéctico parente do nosso, falta-lhe o domínio da nossa língua e a força material que dá peso a qualquer argumentação –, o oprimido vai tentar seduzir-nos. Muito cedo e muito depressa, desenvolverá em si as virtudes femininas da sedução: e eis o criado, ou a sua réplica decorativa – o actor. O negro serve-nos e encanta-nos. A sua disponibilidade arrebata-nos. Mas, na sua solidão, que poderá representar o actor condenado pelo nosso pulso férreo a ser apenas um actor? Na verdade, nunca virá a matar o seu amo, felizmente, cruzes canhoto! Pois se os seus actos são sempre fictícios e a sua faca sem gume. Contra quem vai poder virar-se desenfreadamente?
Não estou a dizer que os negros sejam actores por natureza. Digo, bem pelo contrário, que se tornam actores na nossa consciência e que o são mal se vêem olhados pelos brancos. E são-no sempre, já que os vemos antes de os vermos – e os pensamos à luz das categorias que acima enumerei.
Posto que nos recusamos a vê-los na sua realidade de homens revoltados – de outro modo, a nossa atitude para com eles seria diferente –, é preciso que os vejamos nesse jogo. Esse jogo que simultaneamente os torna irreais e coincidentes com a ideia que nos apraz ter deles. Que mais disse eu além disto: quando vemos os negros, será que vemos algo mais do que fantasmas precisos e obscuros, nascidos do nosso desejo? Mas que pensam de nós esses fantasmas? Que jogo jogam eles?
Fantasmas que já existem ou nos quais os forçaremos a transformar-se e que só aceitaremos aplaudir nas suas momices, se apenas assim forem no nosso desejo de castrar toda uma raça, recusando-lhe o direito à realidade – eis o que devem pensar, ruminar, esses fantasmas, apesar de tudo. Se não mostro a política que pretende reduzi-los a isso, é porque está previamente implicada no olhar que os brancos sobre eles têm. Acrescente-se ainda que esta comédia da sedução do senhor pelo escravo não se desenrolará sem revolta dentro da sedução em si mesma. Talvez seja após o deleite advindo de delícias demasiado irrisórias e inconfessáveis que surge a revolta?
É dentro da minha própria língua que me exprimo, é sobre ela que quero agir, é dela que espero as imagens, as metáforas que me servirão para definir os negros, os quais, no segredo das suas almas, se procuram, se perseguem, ajudados por metáforas que farão deles aquilo que eu ignoro. A minha língua, orgulho da minha raça e do meu povo, destinada a dar de mim a sua derradeira definição, não posso acreditar que não a odeiem – no preciso momento em que se esforçam por aprendê-la. Poderão as figuras que vão surgir dessa língua ser outra coisa a não ser a projecção, no palco, dos fantasmas de verdadeiros negros que eu gostaria de metamorfosear?
Esta peça foi escrita num mundo burguês. Aponta para o que esse mundo sacou de toda uma raça quando ela se encontrou em contacto com ele. Está apostada em ferir esse mundo com as suas armas mais seguras. Claro que, num universo socialista, semelhante peça e semelhante autor são improváveis. Como também o são num mundo humilhado. Como também o são num mundo negro.
Durante muito tempo, a minha situação foi a de um humilhado. Não se espantem que seja a partir das consequências da humilhação – por fim vitoriosa sobre si própria – que mostro o devir dos humilhados. Conheço o perigo que me espreita. Não irei tingir com as cores do meu desespero a atitude de toda uma raça que conhece outro desespero, que vive outro desespero, de uma outra ordem?
Já não se trata propriamente de lacaios de nariz achatado e calções azul celeste, estes negros de que se fala na peça; são tranquilos descascadores de paletúvios, calmos estivadores, bons mineiros – mas o que é que lhes vai na cabeça? Sei que as relações com o mundo da estiva, da mina, etc., não permitem o sonho e não desenvolvem o gosto pela sedução. Certo. E quando gozam de um instante de repouso propício ao devaneio? Sei que tanta miséria só pode conduzir à revolta e que já há muitos líderes – brancos e negros – a conduzir os seus camaradas rumo a uma tomada de consciência e a desenvolver o gosto pela responsabilidade: temo bem que o proletariado negro venha a ser obrigado a dobrar o cabo da comédia, tal é o poder dominador de atracção do mundo branco que, até no simbolismo religioso, atribuiu a cor negra aos demónios do seu inferno. Possa o negro simbolizar o mal.
Também é portanto possível que o meu desespero particular me ponha melhor do que a ninguém ao corrente do desespero de toda uma raça. Saberei transcender suficientemente o meu drama pessoal para descrever um outro, mais geral? Mas, acima de tudo, não se confunda uma efusão lírica com uma palavra de ordem política. Embora possam, tanto uma como a outra, concorrer para os mesmos fins, não devem ser escutadas da mesma maneira. Como saberia eu se e de que maneira os negros devem exaltar a sua negritude? E que vem a ser essa negritude que eu não vivi e que a intuição nunca me revelará? Se semelhante exigência recomendasse, fá-la-ia aos negros fantasmáticos desejados pelos brancos. A humilhação vivida até ao desespero por um indivíduo pode ser transcendida na obra de arte. Pode ser fonte de liberdade. Esse triunfo – por muito secreto que permanecesse – permite ao artista apreender o mundo real, ser reconhecido pelos outros. Mas uma colectividade que vive na humilhação não consegue safar-se dessa maneira. O desespero transcendido graças à obra de arte só permite o triunfo de alguns indivíduos que, se tal acontecesse, se evadiriam porventura da colectividade oprimida, sem proveito para ela – pois ela só conquistará a salvação através da revolta efectiva e no domínio dos factos reais.
Esta peça foi escrita não em favor dos negros, mas contra os brancos. Será que nela manifesto ainda o ressentimento de um homem que foi condenado à humilhação e ao desespero? Será que a peça não é um acto generoso, mas antes a explosão de uma alma malvada? Talvez, quem sabe? Mas, antes de mais, não digamos demasiado mal da maldade, ou melhor, da crueldade – se ela se exercer contra mim mesmo. Em todo o caso, tem o seguinte a seu favor: mais seguramente do que de um sentimento generoso, estará porventura na origem de uma obra de arte generosa, pois terá tendência a prosseguir no imaginário.
* Este texto, que foi publicado pela primeira vez na íntegra no Théâtre complet de Genet (Bibliothèque de la Pléiade, 2002, p. 835-843), conhecera uma publicação parcial, decidida pelo próprio autor, em Les Nègres au Port de la Lune (Éditions de la Différence, 1988), sob o título “A Arte é um Refúgio”. A fortuna deste texto, datado de 1955, é curiosa: Genet não quis utilizá-lo nem na primeira edição, em 1958, nem na segunda, em 1960, quando o seu editor, Marc Barbezat, lhe pedira um prefácio (do qual ele próprio recusara a primeira versão). Nestas páginas, Genet demonstra uma seriedade e um fôlego crítico que não lhe são habituais, sobretudo se nos referirmos à “Lettre a Jean-Jacques Pauvert” que prefacia As Criadas, em 1954. Genet questiona a sua própria posição em matéria política e examina as lições que não pretende dar aos negros, chamados tão-só a uma “tomada de consciência”. Convém recordar que os anos 1955-1960 constituem, com o fim da guerra da Indochina e o início da guerra da Argélia, um período de inquietação para os dramaturgos que, de Adamov a Sartre e a Vinaver, se interrogam, por diversos meios, acerca do “empenhamento” da arte ao serviço da reflexão e da acção políticas.
Jean Genet – “Préface de Jean Genet pour Les Nègres”. In Les Nègres. Édition présentée, établie et annotée par Michel Corvin. [Paris]: Gallimard, D.L. 2005. (Folio. Théâtre). p. 141-149.
Trad. Regina Guimarães.
CRONOLOGIA
1910 19 de Dezembro. Nascimento de Jean Genet em Paris, filho de Camille Gabrielle Genet e de pai desconhecido.
1911 28 de Julho. Camille Genet abandona o filho no Hospice des Enfants-Assistés; torna-se pupilo da Assistência pública.
30 de Julho. O pupilo é entregue aos cuidados do casal Eugénie e Charles Régnier, pequenos artesãos da aldeia de Alligny-en-Morvan. É baptizado no dia 10 de Setembro e receberá uma educação católica.
1916 Setembro. Jean Genet é matriculado na escola primária.
1919 24 de Fevereiro. Morte em Paris, de gripe espanhola, de Camille Genet, aos trinta anos de idade.
1923 30 de Junho. Genet é primeiro classificado no exame da escola primária local.
1924 17 de Outubro. Graças aos bons resultados escolares, Genet escapa ao estatuto de criado agrícola e é colocado como aprendiz para se tornar tipógrafo na escola de Alembert. Foge quinze dias após a sua chegada a Paris. Encontrado em Nice, é de novo entregue aos serviços do Hospice des Enfants-Assistés.
1925 Abril. Colocado em casa do compositor cego René de Buxeuil, desvia uma pequena soma de dinheiro. É despedido e colocado sob observação no Hospital Sainte-Anne, num serviço de psiquiatria infantil.
1926 Fevereiro-Julho. Fugas, detenções e encarcerações sucessivas.
2 de Setembro. O tribunal confia-o à colónia agrícola penitenciária de Mettray até atingir a maioridade; aí permanecerá durante dois anos e meio.
1929 1 de Março. Antecipa a recruta e alista-se por dois anos. No mês de Outubro, obtém o grau de cabo, que manterá ao longo dos seis anos de carreira militar.
1930 – 1936 É enviado para a Síria (onde terá o primeiro contacto com o mundo árabe, ao qual ficará ligado toda a vida), para Marrocos, ou fica aquartelado em França.
1936 Julho-Dezembro. Após a sua deserção do exército, para escapar às perseguições, enceta, a partir de Nice, um longo périplo de um ano que o leva a Itália, Albânia, Jugoslávia e Áustria. Escorraçado destes países, refugia-se em Brno, Checoslováquia.
1937 Janeiro-Maio. Pede direito de asilo; conhece Ann Bloch, jovem alemã de origem judia, a quem dá lições de francês e com quem manterá uma correspondência quase amorosa.
16 de Setembro. De regresso a Paris, rouba lenços num grande armazém e é condenado a um mês de prisão com pena suspensa.
1938-1941 Segue-se uma série de roubos (de tecidos, de livros) que levam a condenações que oscilam entre os quinze dias e os dez meses.
1942 Março. Possui uma banca de alfarrabista junto a um cais do Sena, fornecida pelos seus roubos de livros; prossegue a redacção de Notre-Dame-des-Fleurs/Nossa Senhora das Flores (que começou a escrever na prisão no início desse ano), bem como da primeira versão de Haute surveillance/Alta Vigilância, intitulada Pour “la Belle”.
14 de Abril. Novamente preso por roubo de livros, compõe em Fresnes o poema “Le condamné à mort”/“O Condenado à Morte”, cuja impressão custeia. A redacção de Nossa Senhora das Flores é concluída no final do ano.
1943 15 de Fevereiro. É apresentado a Jean Cocteau, que lê com grande admiração o poema “O Condenado à Morte” e que se empenha em encontrar editor para Nossa Senhora das Flores.
1 de Março. Assinatura do primeiro contrato de autor com Paul Morihien, secretário de Cocteau, para três romances, um poema e cinco peças de teatro.
29 de Maio. Nova detenção por roubo de uma edição de luxo de Verlaine. É passível de “degredo perpétuo” por “roubo com reincidência”. Cocteau confia a sua defesa a um grande advogado. Examinado por um psiquiatra, Genet é declarado “destituído de vontade e do sentido moral”.
19 de Julho. Graças a Cocteau, escapa à reclusão perpétua e é condenado a três meses de prisão. No estabelecimento prisional de La Santé, redige Miracle de la rose.
Dezembro. Novamente detido, Genet arrisca-se a ser deportado.
1944 14 de Março. Graças a inúmeras intervenções, é finalmente libertado; não voltará mais à prisão.
Abril. Publicação de um excerto de Nossa Senhora das Flores na revista L’Arbalète, de Marc Barbezat. Em princípios de Maio, conhece Jean-Paul Sartre.
19 de Agosto. Morte nas barricadas, aquando da libertação de Paris, de Jean Decarnin, jovem resistente comunista, companheiro de Jean Genet.
1945 Março. Publicação de uma antologia de poemas, Chants secrets, nas Éditions de L’Arbalète.
1946 Março. Miracle de la rose é publicado nas Éditions de L’Arbalète. Reescrita de uma peça antiga, Alta Vigilância. Escreve Les Bonnes/As Criadas.
Julho-Agosto. Publicação na revista Les Temps modernes de excertos de Journal du voleur. Em Marselha, Genet conhece Louis Jouvet e mostra-lhe uma versão de As Criadas. Jouvet aceita montar a peça, após algumas modificações do texto.
1947 Março. Publicação de Alta Vigilância na revista La Nef.
19 de Abril. Encenação de As Criadas no Théâtre de l’Athénée (por Louis Jouvet). A primeira versão (não corrigida por Jouvet) é publicada na revista L’Arbalète. O prémio da Pléiade é atribuído a Genet, em Julho.
Novembro-Dezembro. Publicação clandestina de Pompes funèbres/Pompas Fúnebres, dedicado à memória de Jean Decarnin, e de Querelle de Brest/Querelle – Amar e Matar.
1948 31 de Maio. Os ballets Roland Petit estreiam no Théâtre Marigny ’adame Miroir, com cenários de Paul Delvaux, figurinos de Léonor Fini e música de Darius Milhaud.
Julho. É lançada uma petição, por iniciativa de Cocteau e de Sartre, com vista a obter o perdão definitivo de Genet, que ainda estava sujeito a uma pena de dez meses de prisão.
Agosto. Publicação de Poèmes nas Éditions de L’Arbalète. Redacção do texto radiofónico L’enfant criminel/A Criança Criminosa, cuja difusão foi proibida, e de Splendid’s, peça que renuncia a ver encenada e editada. Publicação clandestina de Journal du voleur em Genebra.
1949 20 de Fevereiro. Jean Marchat encena Alta Vigilância no Théâtre des Mathurins. A peça é publicada em Março pela Gallimard. Publicação de ’adame Miroir, A Criança Criminosa e Journal du voleur.
12 de Agosto. O presidente Vincent Auriol concede a Genet o indulto definitivo.
1950 Abril-Junho. Rodagem de Un chant d’amour, único filme inteiramente realizado por Genet.
1951 Fevereiro. Início da publicação das Œuvres complètes de Genet pela Gallimard. O primeiro volume, constituído pelo texto de Sartre, Saint Genet, comédien et martyr, só será lançado no ano seguinte.
Outubro. Redacção do guião “Les Rêves interdits” ou “L’Autre Versant des rêves”, que resultará no filme Mademoiselle.
1952 Maio. Redacção do guião de Le Bagne.
Agosto. Crise moral na sequência da publicação do ensaio de Sartre. Várias viagens pela Europa e Norte de África.
1953 Janeiro. Publicação do terceiro volume das suas Œuvres complètes pela Gallimard.
1954 Janeiro. A peça As Criadas é, pela primeira vez, reencenada (na sua primeira versão, anterior aos arranjos de Jouvet e editada em Maio de 1947) no Théâtre de la Huchette por Tania Balachova. Publicação das duas versões por Jean-Jacques Pauvert, com um prefácio do autor.
1955 Após seis anos de silêncio, novo período de intensa criatividade. Redige simultaneamente Le Balcon/O Balcão, Les Nègres/Os Negros e Les Paravents/Os Biombos. Em Novembro, escreve Elle. Conhece Abdallah, jovem acrobata.
1956 Junho. Publicação nas Éditions de L’Arbalète da peça O Balcão, com uma litografia de Alberto Giacometti.
1957 Março. Redacção de Le Funambule/O Funâmbulo, dedicado a Abdallah e publicado na revista Preuves.
Abril. Redacção de L’Atelier d’Alberto Giacometti. Vai a Londres assistir à estreia do seu texto O Balcão (encenado por Peter Zadek). Tenta proibir a representação.
1958 Janeiro. Publicação de Os Negros nas Éditions de L’Arbalète. Inúmeras viagens.
Junho. Acaba a primeira versão de Os Biombos.
1959 Genet trabalha na escrita de Le Bagne, que deverá constituir o segundo painel do “ciclo teatral” com que sonha e que nunca terminará.
28 de Outubro. Encenação de Os Negros por Roger Blin, no Théâtre de Lutèce. Genet reescreve Os Biombos na Grécia.
1960 18 de Maio. Após Londres, Berlim e Nova Iorque, O Balcão estreia-se em França, Paris, no Théâtre du Gymnase, numa encenação de Peter Brook. Nova versão da peça nas Éditions de L’Arbalète.
1961 Fevereiro. Publicação de Os Biombos pelas Éditions de L’Arbalète, última obra que Genet publicou em vida; a peça estreia-se no dia 19 de Maio, em Berlim, numa encenação de Hans Lietzau.
Outubro. Jean-Marie Serreau encena As Criadas no Odéon.
1962 Nova versão da peça O Balcão pelas Éditions de L’Arbalète, antecedida de “Comment jouer Le Balcon”.
1963 Setembro. Publicação nos Estados Unidos de Our Lady of the Flowers e de Saint Genet, Actor and Martyr.
1964 12 de Março. Suicídio de Abdallah. Em Agosto, Genet declara renunciar à literatura e redige um testamento.
1965 Novembro. O Departamento de Estado dos Estados Unidos recusa-lhe um visto de estadia, invocando “desvio sexual”.
1966 16 de Abril. Apresentação de Os Biombos no Odéon-Théâtre de France, com encenação de Roger Blin.
12 de Maio. Projecção no Festival de Cannes de Mademoiselle, filme realizado por Tony Richardson a partir do argumento “Les Rêves interdits”.
1967 Abril. Lançamento de “L’étrange mot d’…”/“A Estranha Palavra…” na revista Tel Quel. Partida para o Extremo Oriente no final do ano.
1968 30 de Maio. Publica no Le Nouvel Observateur o seu primeiro artigo político, “Les maîtresses de Lénine”.
24-28 de Agosto. Participa, em Chicago, nas manifestações contra a guerra do Vietname.
1970 Participa em inúmeras manifestações pela defesa dos imigrantes. Nova estadia nos Estados Unidos a convite dos Black Panthers; dá numerosas conferências. Em Julho, escreve o prefácio da colectânea das cartas de prisão de George Jackson, Les Frères de Soledad. Intervém em favor de Angela Davis. No dia 20 de Agosto, aceita um convite dos palestinianos. Permanecerá no Médio Oriente vários meses e aí fará quatro estadas em dois anos.
1971 Novembro-Dezembro. Participa nas acções de Michel Foucault e de Gilles Deleuze em favor dos prisioneiros e trabalhadores árabes.
1972 Redige um longo artigo, “Les Palestiniens”, e prossegue a redacção de notas sobre os palestinianos e os Black Panthers (que resultarão, catorze anos mais tarde, na obra Un captif amoureux).
1974 Maio. Participa em debates políticos e apoia François Mitterrand, candidato às eleições presidenciais, no L’Humanité.
Setembro. Jacques Derrida consagra um livro a Genet, Glas.
1976 Empreende a redacção de um argumento cinematográfico, “La Nuit venue”. Segunda edição de Os Biombos nas Éditions de L’Arbalète.
1977 2 de Setembro. Publicação de “Violence et brutalité”, no jornal Le Monde, onde justifica a acção da “Fracção Exército Vermelho”, artigo que suscita uma acesa polémica.
1979 Maio. Começa um tratamento de quimioterapia para debelar um cancro na garganta.
1981 Começa a redigir um novo argumento cinematográfico, “Le Langage de la muraille”, que evoca a colónia de Mettray.
1982 25 de Janeiro. Entrevista filmada com Bertrand Poirot-Delpech. Instala-se progressivamente em Marrocos, que elegerá como local de residência principal.
11 de Setembro. Regressa ao Médio Oriente e é uma das primeiras testemunhas dos massacres de Sabra e Chatila. Escreve então Quatre heures à Chatila/Quatro Horas em Chatila, publicado em Janeiro de 1983 na Revue d’études palestiniennes.
Dezembro. Rainer Werner Fassbinder apresenta o filme Querelle, a partir do romance de Genet, no Festival de Veneza.
1983 Junho-Julho. Início da redacção de Un captif amoureux. Patrice Chéreau encena Os Biombos no Théâtre des Amandiers, e Peter Stein encena Os Negros na Schaubühne de Berlim. Genet recebe, em Paris, o Grand Prix national des Lettres.
1985 Agosto. Acompanhado pelo encenador Michel Dumoulin, escreve, em Rabat, uma nova versão de Alta Vigilância.
Novembro. Conclui Un captif amoureux, do qual entrega o manuscrito a Laurent Boyer, que será seu testamenteiro. O livro será lançado um mês após a sua morte.
Dezembro. O Balcão é representado na Comédie-Française (encenado por Georges Lavaudant).
1986 Março. Corrige as primeiras provas de Un captif amoureux e volta para Marrocos por dez dias.
15 de Abril. Jean Genet morre num pequeno quarto de hotel, em Paris. É enterrado no velho cemitério espanhol de Larache, em Marrocos.
Michel Corvin – “Chronologie: 1910-1986”. In Jean Genet – Les Nègres. Édition présentée, établie et annotée par Michel Corvin. [Paris]: Gallimard, D.L. 2005. (Folio. Théâtre). p. 127-133.
Esta cronologia é largamente inspirada na que foi estabelecida por Albert Dichy (para a biografia de Jean Genet por Edmund White).
Trad. Regina Guimarães.
( 15 Set a 8 Out)
Textos retirados de:
http://www.tnsj.pt/
Prefácio ( por J.Genet)
Que acontecerá a esta peça quando tiverem desaparecido, por um lado, o desprezo e a repugnância, por outro, a raiva impotente e o ódio que formam o fundo das relações entre a gente de cor e os brancos – em suma, quando entre uns e outros se tecerem laços humanos? Será esquecida. Aceito que só hoje faça sentido.
Que tom adoptaria um negro para se dirigir a um público branco? Vários o fizeram. Ora encantadores, ora reivindicadores, indicavam o seu temperamento singular. Eu próprio, falando com um negro, não sei que lhe dizer e como dizê-lo: só consigo distinguir o indivíduo particular e com ele entro em sintonia. Mas se tivesse de me dirigir a um público de negros, recusar-me-ia a fazê-lo. Perante eles, teria a sensação demasiado aguda de que a Brancura quer falar à Negritude. É preciso ser-se muito louco ou muito cobarde para aceitar semelhante diálogo. Semelhante sermão, melhor dizendo. E falar não seria porventura o mais arriscado; onde iria eu, Homem-Branco, buscar a emoção capaz de engendrar o mito que os pudesse sacudir? A expressão teatral não é um discurso. Acto poético, ela quer impor-se como um imperativo categórico perante o qual, sem contudo capitular, a razão entra em banho-maria. Julgo ser possível encontrar a expressão única que seria compreendida por todos os homens. Mas as metamorfoses da História, em lugar de conduzirem as sociedades para uma crescente compreensão mútua, endurecem-nas sob uma casca de singularidade, de tal maneira que a nossa primeira preocupação seria quebrar essa casca dentro da qual todo o ser que se queira livre se impacienta.
No passado mês de Dezembro, Raymond Rouleau comunicou-me a sua intenção de formar uma companhia teatral composta unicamente de negros. Conheço mal as razões que o norteiam. A bem dizer, preocupei-me pouco com a questão, julgando adivinhar que Rouleau neles via admiráveis objectos cénicos até hoje nunca utilizados na Europa. Quando me pediu para escrever uma peça para a sua companhia, aceitei.
“Sim, disse para comigo, os negros representarão. Mas organizarão um espectáculo que será uma afronta lançada à cara dos espectadores.”
Porque, mal a ideia de uma representação teatral pelos negros encontrou formulação, logo me veio à mente o exemplo a não seguir, contra o qual era preciso lutar: Catherine Dunham.
Ainda nos lembramos dos seus ballets. Será que eram irrepreensíveis à luz da estética do music-hall? É bem possível. Dançados unicamente por negros, o que é que indicavam? Donde vinham? De que eram embaixadores? De que império soberano? Pálidos, descolorados, emanavam de um mundo sem poder terrestre, sem raízes, sem dor, sem lágrimas e sem vontade de ter semelhantes atributos, de um mundo de ectoplasmas que se recusa a experimentar a sua própria realização. Nunca através deles nos foi dada a conhecer a infelicidade de um mundo negro, cada dia mais irrealizado. Nem as suas raivas, nem as suas misérias, nem as suas cóleras, nem os seus medos. Senti-me incomodado, até à náusea, por aqueles negros atléticos que aceitavam propor ao público – americano à partida – um divertimento de encher as medidas, no qual apareceriam transbordantes de talento, de mestria, de beleza, e assim se mostravam em posturas inofensivas, quando a simples audácia de roçar com o cotovelo um cidadão yankee lhes seria recusada. Não somente o espectáculo nunca chegava a insultar-nos, nunca nos dava a ver a sua miséria nem o seu desespero, como, ainda por cima, tudo cantava aquilo a que chamamos alegria de viver, tudo nos consolava, com baixeza, daquilo que sabemos da vida e da população negra, dizendo-nos que nada os feria profundamente porque essa sua alegria era tão fresca. Traição. Não sei se terei a audácia de afirmar que todo o acto – e todo o gesto – nascidos da humilhação devem tingir-se de revolta, mas há que considerar medíocre e miserável uma arte nascida da ofensa e da domesticação que se recuse a ter em conta a miséria. Não defendo este ponto de vista por motivos de generosidade fácil, trata-se antes de uma exigência em favor da arte que só tem vigor na medida em que se apoia na realidade donde provém, testemunhando sobre essa realidade.
Será que responder à inimizade dos brancos com um sorriso, ao desprezo com um deboche de talento, e mostrar aos brancos hostis ou indiferentes que “se é um homem como os outros”, ou seja, um homem dotado de gosto, de habilidade e até de génio, chegando ao cúmulo de lhes dedicar, oferecer talento e génio, é tomar uma atitude bastante bela e generosa? Dir-me-ão que oferecer assim uma possibilidade de conciliação talvez seja prova de inteligência. Não vou nessa conversa. A atitude desses negros era da ordem da sedução, da prostituição, daquela cabotinagem a que recorrem os escravos favorecidos: Esopo escrevia fábulas para distrair o amo, beliscando-lhe a orelha – e logo o amo passava para outro divertimento.
A arte é o refúgio menos vil dos escravos. Mas não pode querer-se tão-só desinteressada e destinada a divertir os ócios do senhor. Justifica-se se incitar à revolta activa ou se, pelo menos, introduzir na alma do opressor a dúvida e um mal-estar devido à sua própria injustiça. Não podemos naturalmente ter em conta os encantos de uma arte cuja ternura e cuja tristeza evoquem somente a nostalgia de um paraíso perdido. Uma revolta deflagrou no Quénia: ousaríamos imaginar os Kikuios a tentarem seduzir os ingleses através das suas danças? Certas danças lascivas seriam porventura capazes de amolecer e derrotar mais facilmente o opressor apopléctico, colocando-o à sua mercê, mas não os imaginamos a procurar aplausos. Ousaríamos imaginá-los no papel de saltimbancos que voltam para saudar o público, assim perdendo a sua alma, a sua severidade, a sua violência? A fim de consigo arrastarem outras tribos para a revolta, talvez montem espectáculos de propaganda, mas então que sublimes pretextos não escreverão cujo sentido e cuja beleza formal nos haverão de escapar, dado que não se dirigem a nós!
A peça que ides ler não tem portanto como objectivo incitar os negros à revolta. Um apelo dessa natureza não pode vir de uma consciência branca através da obra de arte. [Só os envolvimentos na acção directa seriam eficazes. rasurado] Esta peça não é [pois rasurado] feita para eles. [Passo a explicar. rasurado] Quer queira quer não, pertenço à comunidade branca. Estou ligado aos brancos por todo um contexto cultural. Querer escrever para os negros seria fruto dessa abjecção moral que consiste em curvar-se generosamente, com toda a compreensão, para os fracos, em comprazer-se na boa consciência, em julgar-se dispensado de qualquer acção eficaz. Seria abrigar-se na moral e nos bons sentimentos, quando os homens por quem se toma partido haverão de se debater na miséria, na merda da acção, no compromisso. As minorias devem conquistar elas próprias as suas liberdades. É preciso desconfiarmos do nosso entusiasmo pelas causas generosas, pois ele transforma-se rapidamente em auto-complacência. Não tardaria a sentirmo-nos seguros de nós mesmos, atolando-nos na gelatina de um conforto moral muito satisfatório. Porque, no fim de contas, é bastante agradável defender os oprimidos pela palavra ou pela pena, quando se beneficia, simultaneamente, das benesses da comunidade opressora e da gratidão dos oprimidos. Não digo que seja necessário recusar sistematicamente ajuda aos oprimidos, mas antes que ela será vã se, ao mesmo tempo, não se combater o poder dominador ao serviço do qual se está, do qual se beneficia e no qual se participa; ou seja: se não se lutar contra si próprio. Trata-se pois de actos de maldade, praticados contra quem os comete, que têm como objectivo libertar-nos da casca a que anteriormente aludi.
Deleitando-se ou não com isso, o opressor dificilmente apaga em si a imagem do oprimido reduzido à servidão – [se assim não fosse rasurado] para que serviria a opressão, se não para lhe dar uma ideia da força resultante da fraqueza daqueles que reconhecem e veneram essa força –, sendo que essa imagem o tranquiliza e o encanta. É tão-só uma imagem e é [semelhante rasurado] ela que [ele rasurado] tentará transformar o oprimido. E se essa imagem, que traz dentro de si, começasse a inquietar o opressor?
Em contrapartida, era-me permitido tentar ferir os brancos e, graças a essa ferida, fazer penetrar a dúvida. Para nada esconder, devo dizer que me parece necessário que um acto escandaloso os obrigue ao questionamento e à inquietação, relativamente a este verdadeiro problema que não causa o menor conflito nas suas almas.
A partir do momento em que aceitei o princípio de uma peça escrita por um branco a ser representada por negros, quis que esta peça só pudesse ser representada por eles – e sobre a necessidade da obra teatral muito haveria a dizer. Acto poético, esta peça foi-me porventura imposta por uma exigência interior, modo do meu próprio drama, que me esforcei por nortear para um fim exterior a mim. O ponto de partida, o arranque, veio-me de uma caixa de música cujos autómatos eram quatro negros, de libré, que se inclinavam perante uma princesinha de porcelana branca. Esse encantador bibelot data do século XVIII. Será que na nossa época conseguiríamos imaginar, sem ironia, uma réplica: quatro criados brancos a fazerem vénias a uma princesa negra? Nada mudou. Que se passa então na alma dessas personagens obscuras que a nossa civilização aceitou no seu imaginário, mas sempre sob a aparência ligeiramente jocosa de cariátides de mesinha de pé de galo, de pajens ou de criados de café fardados? São feitos de trapos, não têm alma. E, se porventura alma têm, o sonho deles é comer a princesa.
Dir-me-ão que não representam toda a África. Se os interrogar, saberão responder por ela? Temo bem que sim, justamente. Do ponto de vista de uma consciência branca, eles são a África precisamente, no sentido em que simbolizam o estado no qual a nossa imaginação se compraz em situá-los, em fixá-los. Não me venham dizer que há cientistas, médicos, engenheiros negros, que alguns são cidadãos franceses, súbditos britânicos, estou farto de o saber. Farto de saber também que, por muito que até tivessem criados brancos, aquilo que continua a simbolizar as nossas relações é o encantador motivo da caixa de música do século XVIII.
Algumas centenas de milhares de escravos negros vivem o seu embrutecimento na miséria, no cansaço e na fome. A revolta contra as condições terríveis de vida elementar levá-los-á, aos poucos, a tomar consciência da sua realidade e da sua equivalência de seres humanos; ao vencerem no plano real das reivindicações sociais, conseguirão reconhecer-se como iguais ao resto dos homens que, a pouco e pouco, de capitulação em capitulação, perderão provavelmente a sua soberba. Com esses, quando se encontram no coração da orgulhosa revolta e, graças a ela, no fogo da acção, não temos que nos preocupar aqui: estão salvos. Nunca entrarão no nosso imaginário sob a forma de lacaios submissos. Porém, como vemos nós, de facto, os negros?
Formulada assim, a pergunta não haveria de querer dizer nada. Com os olhos do espírito, o Europeu mais obtuso é capaz de os ver na sua miséria, na sua situação de escravos. Mas como “sentimos” nós os negros?
Porventura, vemo-los como gado, como uma manada que deve ser rentável, mas é preciso fornecer às nossas consciências cristãs e humanitárias uma justificação apaziguadora. Ei-los: os negros são inferiores, cobardes, mentirosos, sonsos, preguiçosos e ingénuos, ou seja, incapazes de se elevarem ao patamar da reflexão intelectual. Acabo ou não de definir o criado típico da comédia? Excepto que o criado clássico ainda pertence – tendo em conta a cor de pele e os traços – à comunidade da qual, por um misterioso facto, foi subtraído, mas na qual se reintegrará, se enriquecer, por exemplo, enquanto que o negro dela será eternamente banido.
Ora, quando não se encontram no fogo da revolta activa, será que os negros são mesmo assim? E as minhas quatro figuras, que têm em comum com os negros que pensam e com os que estão condenados aos trabalhos forçados das minas e das plantações africanas? A questão é importante. A psicologia do oprimido é grosso modo decidida pela do opressor, neste caso o colonialista, fruto de uma política capitalista e racista. É impiedoso, embora aparentemente se radique num fingimento de liberalismo e conceda alguns favores ao oprimido. Então, o que é que acontece? Incapaz de convencer – falta-lhe um método dialéctico parente do nosso, falta-lhe o domínio da nossa língua e a força material que dá peso a qualquer argumentação –, o oprimido vai tentar seduzir-nos. Muito cedo e muito depressa, desenvolverá em si as virtudes femininas da sedução: e eis o criado, ou a sua réplica decorativa – o actor. O negro serve-nos e encanta-nos. A sua disponibilidade arrebata-nos. Mas, na sua solidão, que poderá representar o actor condenado pelo nosso pulso férreo a ser apenas um actor? Na verdade, nunca virá a matar o seu amo, felizmente, cruzes canhoto! Pois se os seus actos são sempre fictícios e a sua faca sem gume. Contra quem vai poder virar-se desenfreadamente?
Não estou a dizer que os negros sejam actores por natureza. Digo, bem pelo contrário, que se tornam actores na nossa consciência e que o são mal se vêem olhados pelos brancos. E são-no sempre, já que os vemos antes de os vermos – e os pensamos à luz das categorias que acima enumerei.
Posto que nos recusamos a vê-los na sua realidade de homens revoltados – de outro modo, a nossa atitude para com eles seria diferente –, é preciso que os vejamos nesse jogo. Esse jogo que simultaneamente os torna irreais e coincidentes com a ideia que nos apraz ter deles. Que mais disse eu além disto: quando vemos os negros, será que vemos algo mais do que fantasmas precisos e obscuros, nascidos do nosso desejo? Mas que pensam de nós esses fantasmas? Que jogo jogam eles?
Fantasmas que já existem ou nos quais os forçaremos a transformar-se e que só aceitaremos aplaudir nas suas momices, se apenas assim forem no nosso desejo de castrar toda uma raça, recusando-lhe o direito à realidade – eis o que devem pensar, ruminar, esses fantasmas, apesar de tudo. Se não mostro a política que pretende reduzi-los a isso, é porque está previamente implicada no olhar que os brancos sobre eles têm. Acrescente-se ainda que esta comédia da sedução do senhor pelo escravo não se desenrolará sem revolta dentro da sedução em si mesma. Talvez seja após o deleite advindo de delícias demasiado irrisórias e inconfessáveis que surge a revolta?
É dentro da minha própria língua que me exprimo, é sobre ela que quero agir, é dela que espero as imagens, as metáforas que me servirão para definir os negros, os quais, no segredo das suas almas, se procuram, se perseguem, ajudados por metáforas que farão deles aquilo que eu ignoro. A minha língua, orgulho da minha raça e do meu povo, destinada a dar de mim a sua derradeira definição, não posso acreditar que não a odeiem – no preciso momento em que se esforçam por aprendê-la. Poderão as figuras que vão surgir dessa língua ser outra coisa a não ser a projecção, no palco, dos fantasmas de verdadeiros negros que eu gostaria de metamorfosear?
Esta peça foi escrita num mundo burguês. Aponta para o que esse mundo sacou de toda uma raça quando ela se encontrou em contacto com ele. Está apostada em ferir esse mundo com as suas armas mais seguras. Claro que, num universo socialista, semelhante peça e semelhante autor são improváveis. Como também o são num mundo humilhado. Como também o são num mundo negro.
Durante muito tempo, a minha situação foi a de um humilhado. Não se espantem que seja a partir das consequências da humilhação – por fim vitoriosa sobre si própria – que mostro o devir dos humilhados. Conheço o perigo que me espreita. Não irei tingir com as cores do meu desespero a atitude de toda uma raça que conhece outro desespero, que vive outro desespero, de uma outra ordem?
Já não se trata propriamente de lacaios de nariz achatado e calções azul celeste, estes negros de que se fala na peça; são tranquilos descascadores de paletúvios, calmos estivadores, bons mineiros – mas o que é que lhes vai na cabeça? Sei que as relações com o mundo da estiva, da mina, etc., não permitem o sonho e não desenvolvem o gosto pela sedução. Certo. E quando gozam de um instante de repouso propício ao devaneio? Sei que tanta miséria só pode conduzir à revolta e que já há muitos líderes – brancos e negros – a conduzir os seus camaradas rumo a uma tomada de consciência e a desenvolver o gosto pela responsabilidade: temo bem que o proletariado negro venha a ser obrigado a dobrar o cabo da comédia, tal é o poder dominador de atracção do mundo branco que, até no simbolismo religioso, atribuiu a cor negra aos demónios do seu inferno. Possa o negro simbolizar o mal.
Também é portanto possível que o meu desespero particular me ponha melhor do que a ninguém ao corrente do desespero de toda uma raça. Saberei transcender suficientemente o meu drama pessoal para descrever um outro, mais geral? Mas, acima de tudo, não se confunda uma efusão lírica com uma palavra de ordem política. Embora possam, tanto uma como a outra, concorrer para os mesmos fins, não devem ser escutadas da mesma maneira. Como saberia eu se e de que maneira os negros devem exaltar a sua negritude? E que vem a ser essa negritude que eu não vivi e que a intuição nunca me revelará? Se semelhante exigência recomendasse, fá-la-ia aos negros fantasmáticos desejados pelos brancos. A humilhação vivida até ao desespero por um indivíduo pode ser transcendida na obra de arte. Pode ser fonte de liberdade. Esse triunfo – por muito secreto que permanecesse – permite ao artista apreender o mundo real, ser reconhecido pelos outros. Mas uma colectividade que vive na humilhação não consegue safar-se dessa maneira. O desespero transcendido graças à obra de arte só permite o triunfo de alguns indivíduos que, se tal acontecesse, se evadiriam porventura da colectividade oprimida, sem proveito para ela – pois ela só conquistará a salvação através da revolta efectiva e no domínio dos factos reais.
Esta peça foi escrita não em favor dos negros, mas contra os brancos. Será que nela manifesto ainda o ressentimento de um homem que foi condenado à humilhação e ao desespero? Será que a peça não é um acto generoso, mas antes a explosão de uma alma malvada? Talvez, quem sabe? Mas, antes de mais, não digamos demasiado mal da maldade, ou melhor, da crueldade – se ela se exercer contra mim mesmo. Em todo o caso, tem o seguinte a seu favor: mais seguramente do que de um sentimento generoso, estará porventura na origem de uma obra de arte generosa, pois terá tendência a prosseguir no imaginário.
* Este texto, que foi publicado pela primeira vez na íntegra no Théâtre complet de Genet (Bibliothèque de la Pléiade, 2002, p. 835-843), conhecera uma publicação parcial, decidida pelo próprio autor, em Les Nègres au Port de la Lune (Éditions de la Différence, 1988), sob o título “A Arte é um Refúgio”. A fortuna deste texto, datado de 1955, é curiosa: Genet não quis utilizá-lo nem na primeira edição, em 1958, nem na segunda, em 1960, quando o seu editor, Marc Barbezat, lhe pedira um prefácio (do qual ele próprio recusara a primeira versão). Nestas páginas, Genet demonstra uma seriedade e um fôlego crítico que não lhe são habituais, sobretudo se nos referirmos à “Lettre a Jean-Jacques Pauvert” que prefacia As Criadas, em 1954. Genet questiona a sua própria posição em matéria política e examina as lições que não pretende dar aos negros, chamados tão-só a uma “tomada de consciência”. Convém recordar que os anos 1955-1960 constituem, com o fim da guerra da Indochina e o início da guerra da Argélia, um período de inquietação para os dramaturgos que, de Adamov a Sartre e a Vinaver, se interrogam, por diversos meios, acerca do “empenhamento” da arte ao serviço da reflexão e da acção políticas.
Jean Genet – “Préface de Jean Genet pour Les Nègres”. In Les Nègres. Édition présentée, établie et annotée par Michel Corvin. [Paris]: Gallimard, D.L. 2005. (Folio. Théâtre). p. 141-149.
Trad. Regina Guimarães.
CRONOLOGIA
1910 19 de Dezembro. Nascimento de Jean Genet em Paris, filho de Camille Gabrielle Genet e de pai desconhecido.
1911 28 de Julho. Camille Genet abandona o filho no Hospice des Enfants-Assistés; torna-se pupilo da Assistência pública.
30 de Julho. O pupilo é entregue aos cuidados do casal Eugénie e Charles Régnier, pequenos artesãos da aldeia de Alligny-en-Morvan. É baptizado no dia 10 de Setembro e receberá uma educação católica.
1916 Setembro. Jean Genet é matriculado na escola primária.
1919 24 de Fevereiro. Morte em Paris, de gripe espanhola, de Camille Genet, aos trinta anos de idade.
1923 30 de Junho. Genet é primeiro classificado no exame da escola primária local.
1924 17 de Outubro. Graças aos bons resultados escolares, Genet escapa ao estatuto de criado agrícola e é colocado como aprendiz para se tornar tipógrafo na escola de Alembert. Foge quinze dias após a sua chegada a Paris. Encontrado em Nice, é de novo entregue aos serviços do Hospice des Enfants-Assistés.
1925 Abril. Colocado em casa do compositor cego René de Buxeuil, desvia uma pequena soma de dinheiro. É despedido e colocado sob observação no Hospital Sainte-Anne, num serviço de psiquiatria infantil.
1926 Fevereiro-Julho. Fugas, detenções e encarcerações sucessivas.
2 de Setembro. O tribunal confia-o à colónia agrícola penitenciária de Mettray até atingir a maioridade; aí permanecerá durante dois anos e meio.
1929 1 de Março. Antecipa a recruta e alista-se por dois anos. No mês de Outubro, obtém o grau de cabo, que manterá ao longo dos seis anos de carreira militar.
1930 – 1936 É enviado para a Síria (onde terá o primeiro contacto com o mundo árabe, ao qual ficará ligado toda a vida), para Marrocos, ou fica aquartelado em França.
1936 Julho-Dezembro. Após a sua deserção do exército, para escapar às perseguições, enceta, a partir de Nice, um longo périplo de um ano que o leva a Itália, Albânia, Jugoslávia e Áustria. Escorraçado destes países, refugia-se em Brno, Checoslováquia.
1937 Janeiro-Maio. Pede direito de asilo; conhece Ann Bloch, jovem alemã de origem judia, a quem dá lições de francês e com quem manterá uma correspondência quase amorosa.
16 de Setembro. De regresso a Paris, rouba lenços num grande armazém e é condenado a um mês de prisão com pena suspensa.
1938-1941 Segue-se uma série de roubos (de tecidos, de livros) que levam a condenações que oscilam entre os quinze dias e os dez meses.
1942 Março. Possui uma banca de alfarrabista junto a um cais do Sena, fornecida pelos seus roubos de livros; prossegue a redacção de Notre-Dame-des-Fleurs/Nossa Senhora das Flores (que começou a escrever na prisão no início desse ano), bem como da primeira versão de Haute surveillance/Alta Vigilância, intitulada Pour “la Belle”.
14 de Abril. Novamente preso por roubo de livros, compõe em Fresnes o poema “Le condamné à mort”/“O Condenado à Morte”, cuja impressão custeia. A redacção de Nossa Senhora das Flores é concluída no final do ano.
1943 15 de Fevereiro. É apresentado a Jean Cocteau, que lê com grande admiração o poema “O Condenado à Morte” e que se empenha em encontrar editor para Nossa Senhora das Flores.
1 de Março. Assinatura do primeiro contrato de autor com Paul Morihien, secretário de Cocteau, para três romances, um poema e cinco peças de teatro.
29 de Maio. Nova detenção por roubo de uma edição de luxo de Verlaine. É passível de “degredo perpétuo” por “roubo com reincidência”. Cocteau confia a sua defesa a um grande advogado. Examinado por um psiquiatra, Genet é declarado “destituído de vontade e do sentido moral”.
19 de Julho. Graças a Cocteau, escapa à reclusão perpétua e é condenado a três meses de prisão. No estabelecimento prisional de La Santé, redige Miracle de la rose.
Dezembro. Novamente detido, Genet arrisca-se a ser deportado.
1944 14 de Março. Graças a inúmeras intervenções, é finalmente libertado; não voltará mais à prisão.
Abril. Publicação de um excerto de Nossa Senhora das Flores na revista L’Arbalète, de Marc Barbezat. Em princípios de Maio, conhece Jean-Paul Sartre.
19 de Agosto. Morte nas barricadas, aquando da libertação de Paris, de Jean Decarnin, jovem resistente comunista, companheiro de Jean Genet.
1945 Março. Publicação de uma antologia de poemas, Chants secrets, nas Éditions de L’Arbalète.
1946 Março. Miracle de la rose é publicado nas Éditions de L’Arbalète. Reescrita de uma peça antiga, Alta Vigilância. Escreve Les Bonnes/As Criadas.
Julho-Agosto. Publicação na revista Les Temps modernes de excertos de Journal du voleur. Em Marselha, Genet conhece Louis Jouvet e mostra-lhe uma versão de As Criadas. Jouvet aceita montar a peça, após algumas modificações do texto.
1947 Março. Publicação de Alta Vigilância na revista La Nef.
19 de Abril. Encenação de As Criadas no Théâtre de l’Athénée (por Louis Jouvet). A primeira versão (não corrigida por Jouvet) é publicada na revista L’Arbalète. O prémio da Pléiade é atribuído a Genet, em Julho.
Novembro-Dezembro. Publicação clandestina de Pompes funèbres/Pompas Fúnebres, dedicado à memória de Jean Decarnin, e de Querelle de Brest/Querelle – Amar e Matar.
1948 31 de Maio. Os ballets Roland Petit estreiam no Théâtre Marigny ’adame Miroir, com cenários de Paul Delvaux, figurinos de Léonor Fini e música de Darius Milhaud.
Julho. É lançada uma petição, por iniciativa de Cocteau e de Sartre, com vista a obter o perdão definitivo de Genet, que ainda estava sujeito a uma pena de dez meses de prisão.
Agosto. Publicação de Poèmes nas Éditions de L’Arbalète. Redacção do texto radiofónico L’enfant criminel/A Criança Criminosa, cuja difusão foi proibida, e de Splendid’s, peça que renuncia a ver encenada e editada. Publicação clandestina de Journal du voleur em Genebra.
1949 20 de Fevereiro. Jean Marchat encena Alta Vigilância no Théâtre des Mathurins. A peça é publicada em Março pela Gallimard. Publicação de ’adame Miroir, A Criança Criminosa e Journal du voleur.
12 de Agosto. O presidente Vincent Auriol concede a Genet o indulto definitivo.
1950 Abril-Junho. Rodagem de Un chant d’amour, único filme inteiramente realizado por Genet.
1951 Fevereiro. Início da publicação das Œuvres complètes de Genet pela Gallimard. O primeiro volume, constituído pelo texto de Sartre, Saint Genet, comédien et martyr, só será lançado no ano seguinte.
Outubro. Redacção do guião “Les Rêves interdits” ou “L’Autre Versant des rêves”, que resultará no filme Mademoiselle.
1952 Maio. Redacção do guião de Le Bagne.
Agosto. Crise moral na sequência da publicação do ensaio de Sartre. Várias viagens pela Europa e Norte de África.
1953 Janeiro. Publicação do terceiro volume das suas Œuvres complètes pela Gallimard.
1954 Janeiro. A peça As Criadas é, pela primeira vez, reencenada (na sua primeira versão, anterior aos arranjos de Jouvet e editada em Maio de 1947) no Théâtre de la Huchette por Tania Balachova. Publicação das duas versões por Jean-Jacques Pauvert, com um prefácio do autor.
1955 Após seis anos de silêncio, novo período de intensa criatividade. Redige simultaneamente Le Balcon/O Balcão, Les Nègres/Os Negros e Les Paravents/Os Biombos. Em Novembro, escreve Elle. Conhece Abdallah, jovem acrobata.
1956 Junho. Publicação nas Éditions de L’Arbalète da peça O Balcão, com uma litografia de Alberto Giacometti.
1957 Março. Redacção de Le Funambule/O Funâmbulo, dedicado a Abdallah e publicado na revista Preuves.
Abril. Redacção de L’Atelier d’Alberto Giacometti. Vai a Londres assistir à estreia do seu texto O Balcão (encenado por Peter Zadek). Tenta proibir a representação.
1958 Janeiro. Publicação de Os Negros nas Éditions de L’Arbalète. Inúmeras viagens.
Junho. Acaba a primeira versão de Os Biombos.
1959 Genet trabalha na escrita de Le Bagne, que deverá constituir o segundo painel do “ciclo teatral” com que sonha e que nunca terminará.
28 de Outubro. Encenação de Os Negros por Roger Blin, no Théâtre de Lutèce. Genet reescreve Os Biombos na Grécia.
1960 18 de Maio. Após Londres, Berlim e Nova Iorque, O Balcão estreia-se em França, Paris, no Théâtre du Gymnase, numa encenação de Peter Brook. Nova versão da peça nas Éditions de L’Arbalète.
1961 Fevereiro. Publicação de Os Biombos pelas Éditions de L’Arbalète, última obra que Genet publicou em vida; a peça estreia-se no dia 19 de Maio, em Berlim, numa encenação de Hans Lietzau.
Outubro. Jean-Marie Serreau encena As Criadas no Odéon.
1962 Nova versão da peça O Balcão pelas Éditions de L’Arbalète, antecedida de “Comment jouer Le Balcon”.
1963 Setembro. Publicação nos Estados Unidos de Our Lady of the Flowers e de Saint Genet, Actor and Martyr.
1964 12 de Março. Suicídio de Abdallah. Em Agosto, Genet declara renunciar à literatura e redige um testamento.
1965 Novembro. O Departamento de Estado dos Estados Unidos recusa-lhe um visto de estadia, invocando “desvio sexual”.
1966 16 de Abril. Apresentação de Os Biombos no Odéon-Théâtre de France, com encenação de Roger Blin.
12 de Maio. Projecção no Festival de Cannes de Mademoiselle, filme realizado por Tony Richardson a partir do argumento “Les Rêves interdits”.
1967 Abril. Lançamento de “L’étrange mot d’…”/“A Estranha Palavra…” na revista Tel Quel. Partida para o Extremo Oriente no final do ano.
1968 30 de Maio. Publica no Le Nouvel Observateur o seu primeiro artigo político, “Les maîtresses de Lénine”.
24-28 de Agosto. Participa, em Chicago, nas manifestações contra a guerra do Vietname.
1970 Participa em inúmeras manifestações pela defesa dos imigrantes. Nova estadia nos Estados Unidos a convite dos Black Panthers; dá numerosas conferências. Em Julho, escreve o prefácio da colectânea das cartas de prisão de George Jackson, Les Frères de Soledad. Intervém em favor de Angela Davis. No dia 20 de Agosto, aceita um convite dos palestinianos. Permanecerá no Médio Oriente vários meses e aí fará quatro estadas em dois anos.
1971 Novembro-Dezembro. Participa nas acções de Michel Foucault e de Gilles Deleuze em favor dos prisioneiros e trabalhadores árabes.
1972 Redige um longo artigo, “Les Palestiniens”, e prossegue a redacção de notas sobre os palestinianos e os Black Panthers (que resultarão, catorze anos mais tarde, na obra Un captif amoureux).
1974 Maio. Participa em debates políticos e apoia François Mitterrand, candidato às eleições presidenciais, no L’Humanité.
Setembro. Jacques Derrida consagra um livro a Genet, Glas.
1976 Empreende a redacção de um argumento cinematográfico, “La Nuit venue”. Segunda edição de Os Biombos nas Éditions de L’Arbalète.
1977 2 de Setembro. Publicação de “Violence et brutalité”, no jornal Le Monde, onde justifica a acção da “Fracção Exército Vermelho”, artigo que suscita uma acesa polémica.
1979 Maio. Começa um tratamento de quimioterapia para debelar um cancro na garganta.
1981 Começa a redigir um novo argumento cinematográfico, “Le Langage de la muraille”, que evoca a colónia de Mettray.
1982 25 de Janeiro. Entrevista filmada com Bertrand Poirot-Delpech. Instala-se progressivamente em Marrocos, que elegerá como local de residência principal.
11 de Setembro. Regressa ao Médio Oriente e é uma das primeiras testemunhas dos massacres de Sabra e Chatila. Escreve então Quatre heures à Chatila/Quatro Horas em Chatila, publicado em Janeiro de 1983 na Revue d’études palestiniennes.
Dezembro. Rainer Werner Fassbinder apresenta o filme Querelle, a partir do romance de Genet, no Festival de Veneza.
1983 Junho-Julho. Início da redacção de Un captif amoureux. Patrice Chéreau encena Os Biombos no Théâtre des Amandiers, e Peter Stein encena Os Negros na Schaubühne de Berlim. Genet recebe, em Paris, o Grand Prix national des Lettres.
1985 Agosto. Acompanhado pelo encenador Michel Dumoulin, escreve, em Rabat, uma nova versão de Alta Vigilância.
Novembro. Conclui Un captif amoureux, do qual entrega o manuscrito a Laurent Boyer, que será seu testamenteiro. O livro será lançado um mês após a sua morte.
Dezembro. O Balcão é representado na Comédie-Française (encenado por Georges Lavaudant).
1986 Março. Corrige as primeiras provas de Un captif amoureux e volta para Marrocos por dez dias.
15 de Abril. Jean Genet morre num pequeno quarto de hotel, em Paris. É enterrado no velho cemitério espanhol de Larache, em Marrocos.
Michel Corvin – “Chronologie: 1910-1986”. In Jean Genet – Les Nègres. Édition présentée, établie et annotée par Michel Corvin. [Paris]: Gallimard, D.L. 2005. (Folio. Théâtre). p. 127-133.
Esta cronologia é largamente inspirada na que foi estabelecida por Albert Dichy (para a biografia de Jean Genet por Edmund White).
Trad. Regina Guimarães.
A música sob alta vigilância ( a propósito de Fernando Lopes-Graça)
É a voz do Portugal moderno. Conhecia profundamente as obras-primas de Debussy ou de Stravinsky, mas bebeu a sua inspiração nas canções populares portuguesas. Penou para ganhar a vida como músico, mas é o autor de uma das obras mais vastas de toda a música do século XX. Acumulou prémios e distinções por essas obras, mas jamais foi oficialmente reconhecido como digno de exercer o seu ofício durante o Estado Novo. Poderia ter forjado uma carreira fulgurante em França, ou nos Estados Unidos, se tivesse escolhido o exílio, como Prokofiev; ao invés, partiu para o combate com a sua caneta e o seu papel pautado, os seus artigos e a sua música, ao lado dos grupos antifascistas, durante quase meio século.
Totalmente empenhado, social e politicamente, colocou-se no entanto sempreà margem de quaisquer dogmas. Ferozmente independente, preso por diversas vezes pela polícia política de Salazar (a PIDE), manteve-se ainda assim o espírito mais livre do mundo artístico da sua época. Fernando Lopes-Graça completaria 100 anos em 17 de Dezembro de 2006.
Música, Revolução e Liberdade
1906 foi, ao mesmo tempo, o ano do nascimento do titã Chostakovitch em São Petersburgo, e o ano da publicação das vinte primeiras canções populares harmonizadas por Béla Bartók. Se a obra do compositor soviético é imensa, a de Lopes- Graça exprimir-se-á igualmente em todos os domínios da música. O nacionalismo musical de Béla Bartók será o modelo a partir do qual desenvolverá o seu próprio caminho enquanto compositor português: é como que um duplo prelúdio simbólico da vinda ao mundo de Fernando Lopes-Graça na pequena cidade de Tomar, onde a luz é "o monumento [que] completa a paisagem; a paisagemé o quadro digno do monumento; e a luzé o elemento transfigurador e glorificador da união quase consubstancial da Natureza com a Arte".
Depois da estreia como pianista no cine-teatro da sua cidade natal, Lopes- Graça entra para o curso superior do Conservatório Nacional de Lisboa em 1923, nas classes de gloriosos antecessores: Tomás Borba e Luís de Freitas Branco, e em 1927 foi admitido no curso de virtuosidade do grande José Viana da Mota. Em 1928, a personalidade de Lopes-Graça entra em cena: interpreta a sua primeira obra, intitulada Variações Sobre um Tema Popular Português, e inicia as primeiras acções de resistência política em Tomar, ao fundar o jornal A Acção. Pagará caro o pertencer à Organização Comunista de Tomar. Depois de obter as mais altas classificações e prémios no Conservatório, é impedido de comparecer no dia do concurso ao posto de professor. Em 27 de Outubro de 1931, o compositor Luís de Freitas Branco anota no seu diário: "A cena que se passou no Conservatório é grave e sintomática: dois agentes da polícia quiseram levar preso o candidato a concurso para a cadeira de Piano, Fernando Lopes-Graça. A prisão era motivada por inscrições nas paredes da cidade de Tomar, de que Fernando Lopes- Graça teria sido autor e instigador, e que significavam pouco amor à ditadura. O júri protestou, impôs-se à polícia, o candidato prestou as suas provas, seguiu preso para Santarém mas ficou classificado em primeiro lugar com 18 valores".
Fernando Lopes-Graça é encarcerado no Aljube e colocado durante algum tempo em residência vigiada em Alpiarça, onde escreve: "Revolução e Liberdade são sinónimos, são equivalentes. São leis imutáveis gravadas na face do Cosmo, eternas e divinas como ele".
Resistir pela música e pela escrita
A resistência de Lopes-Graça ao regime político não passa somente pela música mas também pela escrita; é um defensor convicto do modernismo estético, contrastando assim com o status quo então em vigor. Em 1929, funda a revista De Música, com Pedro do Prado, na qual colaboram outros compositores, como Armando José Fernandes (também nascido em 1906) e Jorge Croner de Vasconcelos. Dá diversas primeiras audições em Portugal de obras de autores tão importantes como Hindemith ou Schoenberg, frequenta a Faculdade de Letras, e escreve ainda na revista Presença ao lado de poetas vanguardistas portugueses.
Não obstante as suas extraordinárias capacidades de compositor, ensaísta e pianista, o regime não lhe permite aproveitar uma bolsa, obtida em 1934, para estudar musicologia em Paris. Imperturbável, e depois de ter sido de novo preso em 1936, Lopes-Graça irá em 1937, eàs suas próprias custas, estudar com Charles Koechlin em Paris (composição e orquestração). Na Cidade Luz participa das actividades culturais da Frente Popular e escreve uma série de crónicas musicais parisienses para a revista Portugal. A Segunda Guerra Mundial rebenta, Lopes-Graça alista-se no corpo de voluntários Amis de la République Française e colabora com numerosos exilados da guerra civil espanhola, mas recusa uma proposta de naturalização francesa e regressa a Lisboa para escapar às botarras nazis.
Em Portugal continua a escrever o que pensa, nomeadamente como crítico musical de O Diabo e da Seara Nova. Em 1941, as suas opiniões valem-lhe ser impedido de ensinar nos estabelecimentos oficiais: doravante continuará incansavelmente o seu labor pedagógico, musical e político no seio da Academia de Amadores de Música. No Século Ilustrado escreve: "A Academia é o meu lar musical. (...). Como artista, mas sobretudo como pedagogo, aqui me realizei na medida em que me foi vedado realizar-me noutros sectores".
Organiza o Coro da Academia de Amadores de Música e compõe as Canções Heróicas, afirmando assim o seu amor pelo Povo e a constância da sua trajectória artística. Estas Canções, que ele apelidava de "utilitárias", serviram directamenteà militância política pela causa democrática e resistência antifascista. As primeiras publicações das Heróicas, na Seara Nova em 1946, serão proibidas pela censura, que impedia ainda que os poemas fossem ouvidos e cantados em espectáculos ou sessões públicas.
Mesmo assim, e paralelamente a estas obras politicamente empenhadas, o seu notável trabalho de criador moderno e visionário é recompensado por quatro vezes com o Prémio de Composição do Círculo de Cultura Musical, nomeadamente em 1944, com a História Trágico-Marítima, grande cantata para tenor e orquestra sobre um poema de Miguel Torga, testemunho evidente das escolhas temáticas de Lopes-Graça, firmemente ancoradas na História de Portugal. Funda ainda a Sociedade de Concertos Sonata, orientada para a difusão da música do século XX, cujos concertos eram vigiados de muito perto pela PIDE, encarregada, por exemplo (quando de um concerto em 1951), de identificar os espectadores que se distinguissem no meio da multidão por aplausos considerados demasiado "excessivos"...
O reconhecimento internacional
Entre dias de luta e prisões políticas, Lopes-Graça é, porém, cada vez mais conhecido fora de Portugal: participa nos congressos de intelectuais na Polónia e na Checoslováquia, mas guarda sempre devidas distâncias em relação às posições estético- ideológicas do 2.° Congresso dos Compositores Progressistas de Praga, e dos regimes comunistas em geral.
É, em 1947, que empreende o seu trabalho pioneiro em prol da identidade da música portuguesa do século XX: a recolha científica dos cantares e músicas tradicionais do país, realizada com o francês (de origem corsa) Michel Giacometti, trabalho que resulta, em finais dos anos 50, num volume impressionante de gravações classificadas e analisadas, que cobrem todo o território nacional, incluindo as ilhas da Madeira e Açores. Estas músicas, já estudadas por Lopes-Graça desde 1938, à época das suas primeiras harmonizações de canções populares, permanecerão vivas em toda a comunidade rural do país, e são a essência da sua linguagem musical tão pessoal.
Mau grado a riqueza deste trabalho imenso, essencial para a música portuguesa (como o foi o de Béla Bartók para a música da Hungria), Lopes-Graça nãoé autorizado a deslocar-se ao júri do Concurso Internacional Béla Bartók, de Budapeste, que o havia convidado em 1949.É o seguimento de um plano de isolamento engendrado pelo regime, afim de evitar que o compositor alargasse os seus contactos internacionais. Nesta lógica fascista, a sua correspondência em 1965 com o violoncelista Mstislav Rostropovitch, que lhe havia encomendado o Concerto da Camera con Violoncello Obligatto, será sistematicamente boicotada pela PIDE. O Ministro da Educação Nacional obriga-o a abandonar em 1954 o seu diploma de ensino privado: é forçado a deixar a Academia de Amadores de Música e a fazer traduções (Rousseau, Romain Rolland…), tentando sobreviver a todo o custo.
Sem descanso, continua porém a bater- se pela identidade musical do seu país: compõe e harmoniza com uma fé inabalável na liberdade futura. Da sua mão nascem sucessivamente as Viagens na Minha Terra (1953), as Melodias Rústicas Portuguesas (1956), a 5ª série das Canções Populares Portuguesas (1959), e os 24 cadernos das Canções Regionais Portuguesas, que abrangem os anos entre 1943 e 1988…
Um símbolo: em 1960, para as comemorações do 50.º aniversário da República, não hesita em editar o segundo volume das Canções Heróicas, que é vendido clandestinamente! Lopes-Graça declara:"Poderia dizer-lhes enfim, como além de uma Arte a considero [a Música] uma Religião, a minha única religião (...) e como visiono uma única Religião do Futuro, a única Religião de uma Humanidade Livre, Justa e Sábia".
A voz do povo na música erudita
Somente a seguir ao 25 de Abril de 1974 poderá Fernando Lopes-Graça viver livremente da sua música, como compositor; viver vinte anos de uma liberdade há tanto esperada… Membro do Partido Comunista até à morte, quis "fazer entrar a voz do povo na música erudita" e fazer esta chegar a franjas da sociedade onde normalmente não chegava. Criador de um"folclore imaginário", segundo a expressão francesa associada a Bartók, Lopes- Graça é também autor de livros essenciais no plano da reflexão estético-musicológica, nos quais confronta a vitalidade da poesia portuguesa e a falta de identidade da música portuguesa. Fará a apologia da canção (lied) composta sobre textos dos maiores poetas nacionais de todas as épocas: Eugénio de Andrade, Gil Vicente, Bocage, Camões, Mário Cesariny, Fernando Pessoa, João José Cochofel, Antero de Quental…
A sua obra vocal/coral é gigantesca, e conta - somente obras "a cappella" - 228 canções escritas de 1940 a 1980! Segundo o compositor francês Louis Saguer, seu grande amigo, a música de Fernando Lopes-Graça é de uma grande multiplicidade de técnicas e estilos: "da tonalidade mais clássica ao atonalismo mais marcante, repleta das ricas polifonias da música regional portuguesa e alimentada por um vasto tesouro constituído pelas obras-primas do mundo inteiro. A sua pesquisa expande-se em todas as direcções, sempre na certeza de encontrar a síntese necessária à sua expressão como músico e cidadão". O compositor, falecido em 27 de Novembro de 1994, deixará atrás de si um monumento de mais de 260 obras.
Antes dele, a música portuguesa não possuía uma continuidade histórica, nenhum compositor podia reclamar a sua música como resultado do processo evolutivo de um pensamento musical português. Músico mítico com mil facetas, carregando nele todas as particularidades, sofrimentos e esperanças do povo português, Fernando Lopes-Graça traçou magistralmente a via para a identidade dos compositores de hoje. A porta da sua casa na Parede estava sempre aberta aos jovens apaixonados pela música, como testemunha Sérgio Azevedo, um dos mais brilhantes compositores actuais.
A admiração por Beethoven e Bartók fez nascer nele essa extrema exigência em relação a si próprio e também em relação aos outros, e à sociedade que viu nascer a sua música. Cumulado de honras logo a seguir à Revolução, foi reintegrado nas funções de director da Academia de Amadores de Música e nomeado presidente da Comissão para a Reforma do Ensino Musical. Foram inúmeras as inevitáveis e múltiplas condecorações que então recebeu. Encomendado pela Secretaria de Estado da Cultura, o Requiem - Pelas Vítimas do Fascismo em Portugal é estreado a 27 de Julho de 1981. Entre os cantores solistas nesse dia memorável, uma amiga de sempre: a contralto Dulce Cabrita, maravilhosa intérprete da sua música, como o serão também ao longo de toda a sua vida, fiéis na arte e a seu lado na luta, o escritor João José Cochofel, o guitarista Piñero Nagy, o barítono Fernando Serafim, os pianistas Filipe de Sousa, Olga Prats, Nella Maissa e, sobretudo, Maria da Graça Amado da Cunha (criadora de um número considerável de obras, cujo touché sensível era a autoridade, a inteligência mesmo) e tantos outros que, ao escolherem interpretar a música de Fernando Lopes-Graça, correram riscos por lutar, quer pela liberdade, quer por servir a obra de um compositor hoje em dia essencial à História da Música do século XX.
Bruno Belthoise* (músico e compositor), texto traduzido por Sérgio Azevedo
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PIB e Felicidade Interna Bruta
Considera-se que os países mais desenvolvidos são os que têm o PIB (Produto Interno Bruto) mais elevado. Compreende-se. O PIB per capita diz respeito a um conjunto de bens materiais teoricamente dividido pelos habitantes de cada país. Esses bens não são de facto divididos por todos: isso seria uma desgraça.
Vejamos: comparemos o PIB a uma macieira carregada de maçãs; para determinar o valor do PIB, basta dividir o número de maçãs da macieira pelo número de comensais legítimos, digamos, 200 maçãs por dez habitantes da quinta daria 10 para cada um.
Mas, na realidade, 150 maçãs vão para o dono da macieira e as outras 50 são distribuídas pelas restantes 9 pessoas da quinta; esta distribuição das 200 maçãs seria feita do seguinte modo:
· 150 para o dono da macieira, como já disse
· 20 para o feitor da quinta
· 10 para o ajudante do feitor
· 5 para o ajudante do ajudante do feitor
· 5 para a mulher do feitor
· 3 para a mulher do ajudante do feitor
· 2 para a mulher do ajudante do ajudante do feitor
· 4 para o camponês mais submisso
· 1 para a mulher do camponês
· 0 para o outro camponês que, se quiser comer maçãs, tem de pedir emprestado.
No entanto, dir-se-á com toda a justiça que essa quinta terá um PIB, e portanto um desenvolvimento, maior e melhor do que o de uma outra que só tenha 180 maçãs e o mesmo número de habitantes.
O facto de haver gente que fica com quase nada dessa riqueza e até gente que fica com rigorosamente nada, a não ser ficar em dívida e ter de agradecer ainda por cima, não interessa para nada.
O PIB não é para levar a sério, não é para dizer como é que a riqueza de um povo se distribui realmente; O PIB per capita é uma conta de dividir que serve para, nas eleições, garantir que o país vai ficar rico, embora o povo continue tão pobre como estava antes. Ao povo será dada a enorme satisfação de viver num país rico que, assim terá todas as condições para ganhar o Campeonato Mundial de Futebol. Portanto, ao povo compete escolher o Primeiro Ministro mais capaz de conseguir estes objectivos. Se os objectivos não forem alcançados, a culpa é do povo que escolheu mal. Nas eleições seguintes, alguém se encarregará de explicar tim tim por tim como é que o povo deve fazer desta vez. Felizmente, as coisas são assim mesmo, e quem não estiver contente com o que tem é porque nem aquilo que tem merece ter.
Vejamos um exemplo concreto: os trabalhadores portugueses, segundo os relatórios internacionais, são daqueles que mais horas trabalham, mas são dos menos produtivos a nível dos países ocidentais.
Como pode acontecer uma coisa destas? Será que quem forneceu os dados aos relatores decidiu aldrabar as coisas? De forma nenhuma. As contas são feitas com todo o requinte, e não é fácil aldrabar gente tão inteligente, isto é, gente que até trabalhando menos consegue produzir mais.
Eu explico, para que todos percebam a superior inteligência dos senhores que fazem esses relatórios: suponhamos que o total da riqueza produzida num país é medida em pregos; poderíamos pensar, nós, os pouco produtivos, que quanto mais pregos fossem produzidos mais riqueza haveria nesse país, mas não, não é assim.
A cada prego é dado um valor (a tal riqueza): em Portugal, um prego, por exemplo, vale 1 cêntimo (deveria dizer-se um centavo, mas a vida é assim mesmo, quem manda, manda e até pode exigir uma palavra nova para dizer uma coisa velha); num outro país, com o mesmo número de trabalhadores, cada prego vale 2 cêntimos.
Resultado: os trabalhadores portugueses teriam de produzir o dobro dos pregos para serem tão produtivos como os do outro país que nos serve de comparação.
Digam lá: isto não é saber muito? Assim é que está bem.
E agora, com toda a imparcialidade, tentemos verificar de quem é a culpa de os pregos valerem menos em Portugal. Não é preciso pensar muito: é dos trabalhadores que, se fossem mais produtivos, conseguiriam valorizar mais a produção de pregos.
Como produzem pouco, os pregos não valem um chavo. Querem o quê? Milagres?
Há no entanto um fulano, cujo nome não lembro agora, que propõe que os países adoptem um outro tipo de medida do desenvolvimento, em alternativa ao PIB. Propõe nem mais nem menos do que a FIB (Felicidade Interna Bruta). O que é que este sujeito queria? Revolucionar as coisas.
Vejamos como.. O que ele queria era que se medisse a riqueza efectivamente distribuída por todos, deixando-se de fazer a tal operação de dividir abstracta e, por isso, tão exacta que permite apurar as coisas à milionésima das partes a dividir, isto é:
-medir as condições de acolhimento dos idosos: quantos beneficiam de boas condições de vida
-fazer o mesmo com as crianças e
-enfim com toda a gente
-subtrair a pobreza ao valor apurado, etc... coisas destas.
Está-se mesmo a ver aonde isto nos levava. Toda a gente ia querer viver bem.
E isso não pode ser, como se está também a ver…
Retirado de:
http://sobreabanalidade.blogspotcom
Portugal tem 3ª maior densidade automóvel da União Europeia
O automóvel é uma droga dura...
.
O automóvel é o meio utilizado em mais de 85% dos quilómetros feitos nas deslocações dos portugueses e o país está entre os três países com maior densidade de automóveis (quase 600 por 1.000 habitantes), mais de um carro por cada dois residentes, atrás do Luxemburgo e da Itália.
Os números constam de um relatório divulgado pelo Eurostat sobre a evolução dos meios de transportes utilizados na União Europeia, o qual sublinha que entre 1990 e 2004 a utilização do automóvel para deslocações aumentou 38% na UE a Vinte cinco. A incidência de utilização de carro próprio nas deslocações diárias em Portugal não é muito superior à média da UE (83%).
A generalidade dos países está acima de 70%, com excepção da Hungria, onde a percentagem de utilização do automóvel (em relação a outros meios de transporte) é 59%.
O estudo refere que, em 2002, o parque automóvel nacional totalizava cerca de 5,79 milhões de ligeiros de passageiros. Comparando o stock entre os anos 1990 e 2004, o parque nacional registou um crescimento superior a 130%, o ritmo mais elevado dos Quinze e o terceiro mais forte de toda a UE-25. Do total de km percorridos/habitante o autocarro foi a opção para menos de 10% da distância, enquanto o comboio foi o modo de transporte utilizado em menos de 5% das deslocações. Ainda para Portugal, o total de quilómetros (km) percorridos por pessoa (em automóvel) superou os 9.320 km, em 2003, para uma distância média diária de 29,9 km.
O relatório, divulgado no âmbito da semana da Mobilidade (Dia Europeu sem carros celebra-se a 22 de Setembro), indica que a distância total percorrida nas deslocações dos europeus aumentou 14% entre 1995 e 2003, devido a maior utilização de carro próprio e de ouros modos de transporte (metro e eléctrico).
Em 2004, indica o gabinete europeu de estatística, 20% de todo o parque automóvel da UE estava registado na Alemanha (45 milhões de veículos), enquanto a Itália detinha 35% dos motociclos (nove milhões de unidades).
Comparando recursos em outros meios de transporte, a República Checa é a campeã em termos de rede ferroviária, com uma densidade de 122 metros por cada km2 do território, mais do dobro da média europeia (55 metros/km2).
Os números constam de um relatório divulgado pelo Eurostat sobre a evolução dos meios de transportes utilizados na União Europeia, o qual sublinha que entre 1990 e 2004 a utilização do automóvel para deslocações aumentou 38% na UE a Vinte cinco. A incidência de utilização de carro próprio nas deslocações diárias em Portugal não é muito superior à média da UE (83%).
A generalidade dos países está acima de 70%, com excepção da Hungria, onde a percentagem de utilização do automóvel (em relação a outros meios de transporte) é 59%.
O estudo refere que, em 2002, o parque automóvel nacional totalizava cerca de 5,79 milhões de ligeiros de passageiros. Comparando o stock entre os anos 1990 e 2004, o parque nacional registou um crescimento superior a 130%, o ritmo mais elevado dos Quinze e o terceiro mais forte de toda a UE-25. Do total de km percorridos/habitante o autocarro foi a opção para menos de 10% da distância, enquanto o comboio foi o modo de transporte utilizado em menos de 5% das deslocações. Ainda para Portugal, o total de quilómetros (km) percorridos por pessoa (em automóvel) superou os 9.320 km, em 2003, para uma distância média diária de 29,9 km.
O relatório, divulgado no âmbito da semana da Mobilidade (Dia Europeu sem carros celebra-se a 22 de Setembro), indica que a distância total percorrida nas deslocações dos europeus aumentou 14% entre 1995 e 2003, devido a maior utilização de carro próprio e de ouros modos de transporte (metro e eléctrico).
Em 2004, indica o gabinete europeu de estatística, 20% de todo o parque automóvel da UE estava registado na Alemanha (45 milhões de veículos), enquanto a Itália detinha 35% dos motociclos (nove milhões de unidades).
Comparando recursos em outros meios de transporte, a República Checa é a campeã em termos de rede ferroviária, com uma densidade de 122 metros por cada km2 do território, mais do dobro da média europeia (55 metros/km2).
Bento XVI: o cruzado
retirado de:
O papa Bento XVI, homem de fino trato e de ilimitado bom senso, para além de infalível, resolveu dizer na Alemanha que Maomé impôs o Islão a golpes de espada. Sua santidade não o disse directamente, limitou-se a citar um imperador bizantino. Numa altura em que Bush e seus sequazes querem convencer o mundo de que está em curso uma guerra religiosa e um choque de civilizações, o infalível chefe da Igreja de Roma deu uma ajuda aos falcões de Washington e incendiou o mundo islâmico, desde o Paquistão até Marrocos. Que os belicistas americanos queiram levar o terror a todo o mundo, compreende-se, eles precisam de vender armas e munições. Precisam de sacar petróleo a todo o custo para olearem bem as peças do american way of life. Mas Bento XVI, chefe de uma igreja que carrega às costas milhões de mortos em nome de Deus, podia estar discretamente calado ou a rezar baixinho. As vítimas das Cruzadas merecem o seu recato. As vítimas da Inquisição exigem o seu bom-senso. A escravatura, benzida pela sua Igreja e justificada pela dilatação da Fé em África, na Ásia e na América Latina é uma mancha tão vergonhosa da Humanidade que Bento XVI, antes de atirar pedras aos telhados dos outros, devia antes refazer o telhado esburacado da sua casa. No mínimo.
20.9.06
Agradecimentos e um convite/desafio aos nossos amigos
Queremos aqui agradecer as recentes referências ao Pimenta Negra de vários amigos, desde logo do Ondas3, mas também do autor do blog da editora Deriva ( Deriva das palavras) , da Fenixarte ( e autora de literatura infantil), do autor da Arquitectura das palavras( que tenho vindo a acompanhar com redobrado interesse), e da CitizenMary
Não queremos também deixar de notar que o número de links recíprocos tem vindo a aumentar, dos quais se destaca o da editora Afrodite, e da Livraria Letra Livre ( em Lisboa), e cuja recente abertura é bem um exemplo de que nem tudo vai mal no reino da Dinamarca.
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Aproveitava também a ocasião para lançar um desafio/convite a todos os nossos amigos e companheiros - e que é também a manifestação de um desejo pessoal - de a breve prazo podermos organizar um encontro informal entre todos o bloggers que de alguma forma tenham afinidades para com as lutas ecológicas e as causas sociais, simpatizem ou não com os ideais libertários.
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O encontro poder-se-ia realizar num fim de semana num parque de campismo da região centro ( ou numa pousada da juventude) e serviria para uma confraternização amigável e bem disposta entre todos.
Serviria também para demonstrarmos que não somos emigrantes do cyberespaço e que prezamos muito a vida real e o convívio social entre amigos e companheiros na luta pela natureza, pela justiça e por um outro modo de relacionamento social, mais solidário e universalista.
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Trata-se agora de ver a receptividade a uma iniciativa deste género
Gostaria muito de contar com o interesse de todos.
Os próximos encontros no Centro de Cultura anarquista Gonçalves Correia ( em Aljustrel) começam já no próximo dia 23 de Setembro
Em Aljustrel, no Centro de Cultura anarquista Gonçalves Correia ( situado na Rua Antero, em Aljustrel) e com o apartado 76, 7600 Aljustrel, vão ter lugar nos próximos meses alguns encontros sobre temas de luta e resistência.
O primeiro encontro realiza-se já no próximo dia 23 de Setembro e vai incidir sobre «Espaços autogestionados e projectos autónomos», e onde vão estar presente alguns companheiros do CCL (Almada); Zaragata (Setúbal); Terra Viva (Porto); Espaço Musas (Porto); BOESG (Lisboa); CEL (Lisboa); O Monte (Lisboa).
O programa dos encontros com datas e informações adicionais estão em
http://www.goncalvescorreia.blogspot.com/
Recordamos ainda o interesse em conhecer a história e acção de Gonçalves Correia, o que pode ser feito por intermédio daquele website.
«Gente sem Patente» - festival Copyriot 2 ( de 5 a 7 de Outubro, na Casa Viva, Porto)
Vai-se realizar a 2ª edição do festival Copyriot «Gente sem Patente» nos próximos dias 5 a 7 de Outubro na Casa Viva, à Praça do Marquês de Pombal, nº 167, na cidade do Porto
A iniciativa visa questionar a legitimidade da propriedade capitalista, em especial dos direitos de propriedade intelectual.
http://copyriot.azine.org
Os direitos de propriedade intelectual precisam de ver os seus estatutos redefinidos, à luz da constante revolução tecnológica e das reais necessidades e direitos dos seres humanos e das sociedades.
Porque, tão ou mais importante do que adaptar a realidade, quer legal quer empresarial, às potencialidades das novas tecnologias é não esquecer e não deixar esquecer que cada nova criação ou descoberta é fruto de milhares de anos de saberes comuns partilhados.
Essa base é social e não reconhecemos o direito a que seja privatizada.
Nesse sentido, continuamos a publicitar ao máximo o nosso manifesto (que podem ver em http://copyriot.azine.org) e as alternativas ao "todos os direitos reservados".
E, por isso, vamos realizar um segundo festival, o Copyriot 2 - gentesem Patente Contra-Ataca, entre 5 e 7 de Outubro, na CasaViva 167(Praça do Marquês de Pombal, 167 - Po rto), cujo programa podem ver abaixo.Gostariamos, obviamente, de contar com a vossa colaboração na divulgaçã oe futura cobertura do festival.
Programa05/10 (quinta-feira) - Festa do Martelo
15h00 - Abertura das exposições
Exposição de fotografia e design gráfico de Tomás Antunes
Exposição Surpresa de Eduarda Sá-Andresen
Exposição "Ilustradores sem Patente"
17h00 - Cerimónia de descerrar do martelo
17h30 - Teatro/ Debate "O Martelo de S. João Sugai® e os direitos de autor"
20h00 - Churrasco (vegetariano e a pagar) com vinho a martelo
06/10 (sexta-feira)
19h00 - Início da montagem da Loja Livre
22h00 - Cinema "Sonic Outlaws" (v. o. inglesa)
24h00 - Spoken Words/ performance teatral de A. Pedro Ribeiro
01h00 - Combate de Djs - DJ Kim e convidado
07/10 (/Sábado)
16h00 - Cinema - The Future of Food (leg. portuguẽs)
17h00 - Conversa OGMs
19h00 - Loja Livre / Troca
l20h30 - Apresentação do Projecto Raizes
21h30 - Manjar (vegetariano e a pagar) com emissão da Rádio O Trunfo éCopas a apresentar o novo (ou melhor, o último) trabalho dos Trashbaile
22h30 - Cinema - 7th Generation (leg. portugues)
00h00 - Concerto Hip Hop - Barrako 27 e convidados (abertura com Compilação InvictaRap - novos projectos de Hip Hop)
Graffiti em tempo real com RC
01h00 - DJ ZKA
Em inconstância permanente
Exposições
Vídeos Creative Commons
Elephants Dream (1º filme de animação inteiuramente realizado comsoftware livre)
Linux (instalação e experimentação)
Graffiti em tempo real com RC, Sketxz e Natz
Copyriot 2 - Gente sem Patente (5, 6 e 7 de Outubro 2006na Casa Viva 167 (Praça do Marquês de Pombal, 167 - Porto)
Programa e info em http://copyriot.azine.org
10.9.06
John Lennon contra os Estados Unidos da América (acerca do novo documentário 'The U.S. vs. John Lennon')
Acabou de ser exibido no Festival de Veneza, tendo sido muito aplaudido pelo público presente, um documentário realizado por David Leaf e John Scheinfeld com o sugestivo título «The U.S. vs John Lennon» e que relata a luta pacifista daquele músico, e figura lendária dos anos 60, contra a guerra do Vietname.
O filme foi realizado com o apoio e ajuda de Yoko Ono, mulher de Lennon que, com ele, participou em numerosas manifestações contra a guerra levada a cabo pelo norte-americanos contra o povo vietnamita, como os célebre «bed-ins» para a paz, onde ambos se mostraram deitados na cama como forma de protesto anti-guerra e que teve um enorme impacto mundial.
O filme tem claras ressonâncias com o que se passa na actualidade, nomeadamente a invasão e ocupação do Iraque pelo exército norte-americano, constituindo-se um verdadeiro manifesto contra a Guerra do Iraque desencadeada por Bush.
Ao longo do documentário conta-se como é que este cantor dos Beatles se converteu gradualmente num inimigo dos Estados Unidos, onde residia. A parte final do documentário trata, de resto, da longa batalha judicial de Lennon para evitar ser deportado dos Estados Unidos, batalha que ele acabou por ganhar em 1976.
Vigiado pelo FBI, que lhe pôs o telefone sob escuta e o fazia seguir na rua, segundo Yoko Ono,
Lennon «tinha de ser neutralizado» - era pelo menos isto, como se diz no filme, o que advogavam as mais altas esferas do estado.
O cantor foi assassinado em Nova Iorque em 8 de Dezembro de 1980.
No documentário, que retrata a época do «Make Love Not War», Lennon aparece descrito como um humanista e um fervoroso pacifista. Inclui imagens de arquivo e diversas entrevistas a jornalistas e intelectuais ( Chomsky, Gore Vidal, por exemplo), mas também a agentes secretos e políticos da época.
O escritor norte-americano Gore Vidal aparece aí a dizer:
«John Lennon encarna a vida, ao passo que (os presidentes norte-americanos) Nixon e Bush encarnam a morte».
O filme será brevemente lançado nos Estados Unidos.
"'The U.S. vs. John Lennon' é a história do que poderá ser a maior obra de arte de John Lennon fora dos Beatles: a campanha que ele e Yoko iniciaram em 1969. Portanto, o filme acompanha o crescimento dele de herói do rock’n’roll contestatário a activista, a promotor da paz, a ícone internacional, e símbolo do que significa lutar por aquilo em que se acredita", diz o co-realizador do documentário, David Leaf.
"Quando descrevemos este filme às pessoas, dizemos: «refere-se a uma guerra impopular, a um Presidente que não foi honesto com o seu país, a escutas e vigilância ilegais, e ao facto de quem se manifestar contra isso não ser considerado patriota'. Parece-lhes familiar, não?", remata o co-realizador John Scheinfeld.
Site oficial do filme:
http://www.theusversusjohnlennon.com/site/
Fala-se no filme ainda de um novo país inspirado em John Lennon, chamado Nutopia. Trata-se de um país conceptual cuja bandeira é toda branca e a sua mensagem é simples e directa: «War is over if you want it» ( a guerra acaba se tu quiseres).
Nutopia é um país sem fronteiras, nem passaportes. Só tem pessoas.
A sua declaração é a seguinte:
Declaração de Nutopia
Declaramos o nascimento do país conceptual, Nutopia
A cidadania do país é obtida através da livre adesão à Nutopia
Nutopia não tem território, nem fronteiras, nem passaportes, apenas pessoas
Nutopia não tem leis a não ser as do universo.
Todas as pessoas da Nutopia são embaixadores do país
Não deixes de te tornar cidadão da Nutopia
http://www.joinnutopia.com/
A caminho de Guantanamo (o filme já está em cartaz no circuito comercial)
O filme de Michael Winterbottom e Matt Whitecross, «A Caminho de Guantanmo», vencedor do Urso de Prata no Festival de Cinema de Berlim para Melhor Realizador em 2006, já se encontra em cartaz nas salas de cinema portuguesas.
A Caminho de Guanatanamo é uma denúncia contra a tortura e a prisão arbitrária praticadas pelas autoridades norte-americanas, sob o pretexto de combaterem o terrorismo.
O filme é o terrível relato em primeira mão de três muçulmanos britânicos que estiveram em cativeiro dois anos sem qualquer acusação, na prisão militar americana de Guantanamo.
Conhecidos como "Os Três de Tipton", em referência à sua cidade natal no Reino Unido, os três homens acabariam por ser libertados e enviados para casa, continuando a não ser alvo de nenhuma acusação formal, ao longo de toda esta sua provação.
Parte documentário, parte dramatização, o filme relata a sequência de acontecimentos que levaram os três a partir de Tipton, nas terras inglesas das Midlands, para assistir a um casamento no Paquistão, atravessando a fronteira do Afeganistão quando o exército americano invadiu o território, sendo depois capturados pelas forças da Aliança do Norte, até à sua prisão no Campo X-Ray e mais tarde no Campo Delta, em Guantanamo.
A interpretação é de Riz Ahmed, Farhad Harun e Arfan Usman.
Conhecidos como "Os Três de Tipton", em referência à sua cidade natal no Reino Unido, os três homens acabariam por ser libertados e enviados para casa, continuando a não ser alvo de nenhuma acusação formal, ao longo de toda esta sua provação.
Parte documentário, parte dramatização, o filme relata a sequência de acontecimentos que levaram os três a partir de Tipton, nas terras inglesas das Midlands, para assistir a um casamento no Paquistão, atravessando a fronteira do Afeganistão quando o exército americano invadiu o território, sendo depois capturados pelas forças da Aliança do Norte, até à sua prisão no Campo X-Ray e mais tarde no Campo Delta, em Guantanamo.
A interpretação é de Riz Ahmed, Farhad Harun e Arfan Usman.
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Site oficial do filme:
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A Amnistia Internacional recomenda vivamente este filme:
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Consultar também o site da campanha contra a tortura e a prisão de Guantanamo:
9.9.06
A grande democracia americana, as suas prisões secretas e a tortura..
O Presidente dos Estados Unidos da América acabou de admitir anteontem, segundo a imprensa oficial, a existência de prisões secretas fora do território norte-americano, onde a CIA tem detidos presumíveis terroristas. Recorde-se que há alguns de meses atrás vários órgãos de comunicação social, com o Washington Post à cabeça, tinham revelado a existência de locais secretos de detenção. Tal informação acaba agora de ser confirmada pela voz mais autorizado no assunto: o próprio presidente em funções da grande democracia norte-americana!!!
Não se sabe qual a base jurídica ou em que direito nacional ou internacional os agentes secretos ao serviço do Estado e do governo norte-americano se apoiam para deter e manter em segredo as prisões do tais presumíveis terroristas, mas não é difícil concluir que a manutenção de tais centros de detenção no território de outros Estados soberanos está fora de toda e qualquer legalidade. Mas tal facto não perturba nem embaraça o presidente da grande democracia americana, pois é ele próprio a afirmar: «Se este programa não existisse os nossos serviços de informação pensam que a Al Qaida e os seus aliados seriam capazes de organizar novos atentados contra a pátria americana». A afirmação é tanto mais convincente quanto foram os mesmíssimos serviços de informação que pensaram que Saddam Hussein possuía armas de destruição maciça.
Mas o presidente da grande democracia americana vai mais longe, e para serenar os ânimos e as críticas dos defensores dos direitos humanos, não hesita em garantir que os agentes da CIA tratam os presos com humanidade e não utilizam métodos de tortura. Ora quando se sabe que numa prisão oficial e mundialmente conhecida como a de Abou Ghraib agentes norte-americanos exerceram aí sevícias e executaram torturas sobre os detidos, é mais que legítimo duvidar da seriedade dos métodos empregues nas prisões secretas da CIA…
Acresce ainda o facto de, recentemente, a conhecida revista New Yorker ter revelado um novo fenómeno na gestão estatal da «segurança» internacional - a «deslocalização da tortura» - e pela qual os agentes norte-americanos transferiam graciosamente prisioneiros para outros países que são conhecidas pela arte de bem torturar: Egipto, Síria, Arábia Saudita, Jordânia, Afeganistão, Uzbesquistão. Um antigo embaixador inglês, Craig Murray, denunciou inclusivamente as práticas de tortura seguidas por esses países.
Os Estados Unidos raptavam suspeitos onde quer que se encontrassem, detinham-nos em locais secretos, e depois enviavam-nos para esses países onde os experts na matéria se encarregavam de seguir os métodos tradicionais de tortura.
Tudo isso se justificaria pela tão proclamada guerra contra o terrorismo Mas se assim é bem podem prescindir das referências à liberdade e à democracia…
Editora «Apenas», uma editora para dar a conhecer a cultura popular
http://www.apenas-livros.com/
A «Apenas-livros» é uma pequena editora que, através de artesanais edições de cordel ( 2 e 3 euros), tem vindo subterraneamente a divulgar algumas preciosidades literárias da ( e sobre) a cultura tradicional popular portuguesa (tradição oral e escrita)
Basta atentar nalgumas das suas colecções e livros.
Colecção «À mão de respigar» (estudos sobre tradições populares portuguesas), folhetos à maneira de quem pendurava a vida a cavalo num barbante. Sob a direcção de Ana Paula Guimarães
As obras desta colecção visam em especial a análise dos RESTOS (sobras, ruínas, cinzas ou memórias), quer nos nossos quotidianos quer na chamada grande literatura. Demonstra-se aqui que a sabedoria tradicional portuguesa e universal, tantas vezes remetida para o degrau inferior das aprendizagens e dos estratos sociais, está afinal pujante na nossa grande literatura e no dia-a-dia de todos nós.
- E tudo o Resto, por Ana Paula Guimarães
-Um balde água fria. Episódios de Vida e de Conto, por Ana Paula Guimarães
-Contar com contos, por Ana Paula Guimarães
-António Aleixo.«A Dor Também Faz Cantar…», por João Barrento
-Literatura de Cordel, por Carlos Nogueira
-Sopa de Pedras, Jorge Castro
-Do Papel à Voz: as papeladas ou o Teatro Popular de Valongo, por Carlos Nogueira
-Através da Alice: A Tradição ao Espelho. Ana Paula Guimarães
-Almanaque: O Livro? Eça? Platão, Mallarmé e Borges, por Ana Paula Guimarães
-Quem isto ouvir e contar, em Pedra se Há-de tornar! Sobre o Conto e o Reconto, por Natália Constâncio
- A Fábula: da Tradição à Modernidade na Poesia Contemporânea Portuguesa, por Paula Cristina Costa
-As Lendas e os Mitos na Literatura, por Lurdes Cameirão
-Pulhas, Troças e Caçoadas. Crítica e maldizer na Tradição Portuguesa, por Aurélio Lopes
-Gráfitos Literários e Estado Novo, por Carlos Nogueira
-Nos passos da poesia, por António Carlos Cortez
-Repensar a Nossa Identidade Cultural, por João David Correia Pinto
-Orações e Benzeduras da Freguesia da Gavieira, concelho de Arcos de Valdevez(recolha), por Ana Eleanora Borges
-As casas e as coisas na escrita de Sophia, por Marta Linel
.Orações e Benzeduras do Alentejo (recolha), por Ana Eleonora Borges
-Cantigas ao desafio e estetização da Fala: natureza, modalidades, função, por Carlos Nogueira
-Os pauliteiros de Miranda e os «Ihacos»: entre a literatura popular, a dança e a música, por Barbara Alge
-Gigantes, Olharapos e Outras Desmesuras, por Maria Teresa Meireles
-Os animais nos Cenários Literários Aquilinianos, por Ana Isabel Queiroz
-Ana Saldanha: Linhas Cruzadas nos Contos «Era uma vez…», por Maria Natividade Pires
-Sobre a Oração Popular Tradicional, por Carlos Nogueira
-Aspectos do ex-voto pictórico português, por Carlos Nogueira
-Cantigas Paralelísticas na Tradição Oral Portuguesa: Trás-Os-Montes, Algarve, Açoes, por Maria Aliete Galhoz
Colecção «Bilhetes de Identidade», a primeira sistematização temática da literatura tradicional ((emitidos por quem os conhece de gingeira, os B. I. dos bichos e quejandos revelam-nos quem somos e ao que andamos), e sob a direcção de Ana Paula Guimarães
Este núcleo constitui, a este nível, a primeira grande sistematização do BESTIÁRIO e outros SERES MÍTICOS, constantes na tradição popular portuguesa. Os livros organizam-se ao modo de um bilhete de identidade (nome, filiação, locais de nascimento, moradas, características diversas, etc.), sendo a pesquisa efectuada, essencialmente, nas grandes recolhas de contos e lendas dos séculos XIX e XX. As obras destinam-se ao público em geral e a especialistas em particular, constituindo um precioso auxiliar para professores e alunos dos ensinos básico e secundário.
- BI do Zarapelho, por Ana Paula Guimarães
-BI da Aranha, por Ana Maria Freitas
-BI da Serpente, por Maria Teresa Meireles
-BI do Lobisomen, por Alexandre Matos
-BI da Pomba, por Ana Maria Freitas
-BI de Sapos e Rãs, por Maria Teresa Meireles
-BI das Mouras Encantadas, por Aurélio Lopes
-BI de Ratos, Ratinhos, Ratões e Ratazanas, por Maria Teresa Meireles
-BI do Capuchinho Vermelho, por Nuno Júdice
-BI do Lobo, por Ana Paiva Morais
-BI das fadas e das bruxas, por Maria de Lourdes Soares
-BI do Leão, por Sara Diogo
-BI da Sereia, por Ana Maria Freitas
-BI do Macaco, por Teresa Maniate
-BI do Cavalo, por Manuela Parreira da Silva
-BI da Figueira e do Figo, por Ricardo Marques
-BI do Pão, por Marta Linel
-BI da Criação do Mundo, por Natália Constâncio
-BI do Carvalho e da Bolota, por Ricardo Marques
-BI dos Príncipes Encantados, por Natália Constâncio
-BI do Azeite e da Azeitona,por Ricardo Marques
-BI do Carneiro, por Ana Paiva Morais
-BI do Exu e da Pombagira, por Bruno Barba
Colecção «Breviário de Ética Ambiental», a primeira colecção portuguesa de ensaios sobre ética ambiental ( para quem se ocupa e preocupa com a natureza e o ambiente), e sob a direcção de João Lopes Barbosa.
Esta colecção dirige-se a todos quantos se ocupam e preocupam com a natureza e o ambiente, seja por interesse pessoal, seja por necessidade profissional, de formação ou outra. Todas as obras são publicadas em co-edição com a Sociedade de Ética Ambiental, fundada em Março de 2001 e responsável pela escolha de todos os temas desta «área interdisciplinar que reflecte os valores que atribuímos ou devemos atribuir ao ambiente e sobre os valores que orientam ou devem orientar as nossas relações com o mesmo».
- O Valor do Mundo Natural, por Maria João Varandas
-Dilemas da ética Ambiental. Estudos de um caso, por Cristina Beckert
-Vida: propriedades do organismo ou atributo do planeta terra?, por Maria José Varandas
Colecção «Teatro no Cordel», com peças originais e não só (teatro para grandes e pequenos, cultos e incultos, jovens e velhos, homens e mulheres), e sob a direcção de Fernanda Frazão
-As Barbas de Sua Senhoria, por Teresa Rita Lopes
-Ofício das Trevas, por Maria Estela Guedes
Colecção «Ofiusa», com estudos sobre a actualidade do passado português, sob a direcção de Gabriela Morais
Quem fomos, quem somos e porque permaneceremos. A antiguidade do povo que somos, nascido muito antes de termos sido nação política. OFIUSA é, aliás, o nome que os autores da Antiguidade deram a esta nossa Terra Portuguesa. Aqui congregamos os trabalhos concernentes à nossa «pequena/grande história», tão importante para a construção do pequeno/grande edifício do nosso devir.
-O Santuário de São Miguel da Mota, por Gabriela Morais
-Breve História de Aromáticos e Condimentares em Portugal, por Sandra Mesquita
-Lenda da Fundação de Portugal, Irlanda e Escócia, por Gabriela Morais
-A Viagem de Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva ou a Mundividência de D.João II, por Luís M. Alves de Fraga
-São Tomé e Pincípe, Ilhas de Sofrimento e de Fortuna. Súmula Histórica, por Luís M. Alves de Fraga
-Megalitismo de Mora, por Leonor Rocha, Manuel Calado
-Cecília Marina, Ossonobense, por José d’Encarnação
Colecção «Ora e Outrora», com textos sobre curiosidades da cultura portuguesa ( com textos arrancados ao silêncio das bibliotecas), sob a direcção de Margarida Leme
A nossa grande (in)Cultura «esqueceu-os» nas prateleiras das bibliotecas. Talvez não sejam prodigiosas peças literárias, mas são espantosos, curiosos e (agora) quase-desconhecidos momentos da verdadeira cultura de um Portugal antigo, pequenos episódios que falam de Nós e dos nossos hábitos, das grandezas e misérias tão perenes ao longo dos séculos. Constituem afinal a nossa diferença neste mundo que nos desejam estereotipado. E alguns, transpostos, por exemplo, para a televisão, fariam as delícias de todos.
- O Arrependimento dos Inimigos de Deus Baco e a Reconciliação dos Amigos da Pinga
- Reabilitação do Queijo por Um Documento Antigo, por Alberto Pimentel
- O chá português, por Alberto Pimentel
-A broa, por Alberto Pimentel
-O Doutor da Mula Ruça. O Sandeu daRetorta, por Sousa Viterbo
-A peidologia, por Domingos Monteiro de Albuquerque
-Jogos portugueses, por Sousa Viterbo
-A Filha de Pedro Nunes, por Conde de Sabugosa
-Os amores de D. Carlota Joaquina, Por Pinto de Carvalho Tinop)
-As Modas femininas do séc. XVIII, por Júlio Dantas
-As Modas masculinas do séc. XIX, por Júlio Dantas
-A Guloseima Nacional, por Gustavo de Matos Sequeira
-Lápis de Carvão, por Maria Estela Guedes
-Natureza dificultosíssima. Uma quase epopeia do padre António Vieira e outros missionários do século XVII em serras do Brasil., por João Lopes Barbosa
- A Noite de Natal, o Ano Bom e os Santos Reis, por A. Tomás Pires
Colecção «Literatralha Nobelizável», a literatura de três em pipa (as outras vozes da literatura), sob a direcção de Luís Filipe Coelho
Muito, muito, a sério literatura não pode ser coisa tão «séria»! Aqui moram outras vozes, às vezes as dos que não têm voz nenhuma noutros sítios, às vezes os discursos outros dos que têm vozes também noutros sítios. Às vezes o primeiro gemido de um poeta tímido, às vezes a voz de um género politicamente incorrecto. Divirta-se, comova-se ou exalte-se com o recycle bin que nos vai chegando... sempre, sempre candidato ao Prémio NOBEL da vida.
- Fragmentos de Uma Narrativa Adiada, L.F.BaCo
- Peregrinações de Um Ponto Preto. Divagações sobre O Mito do Eterno-Retorno (quase-romance), L.F.BaCo
-O Fardo e Outros Escritos, Fernanda Basto
-Puerilidades, La Liça
-O Caralho, Rodrigues Baptista
-Grande Gaita, Gabriela Morais
-Re-ciclo, Ana Porto
-O Pintelho da Maltrapilha, Garízio D.B.
-Ninfa, João Lopes Barbosa
-O Guardião do Templo, Gabriela Morais
-Tamarindo.Livro de Tetramor, Dólar Bug
-Nietzsche.Os últimos dias de Nietzsche ou O Canto do Sepulcro.Peça/theatrumortis, por Lopo Ulrik
-Sete Conficções/ ou Põe Mas, Manuel de Arriaga
-Lugar Humano, Ana Porto
-Margarida, Margaridas, João Pedro Ferreira
-A punheta do Canhoto, Garízio D.B.
-Bokeh, Lino Ferreira
-Tejo, João Lopes Barbosa
-Lisboa que amanhece, Tiago Videira
-Odes no Brejo & alguns pecados, Jorge Castro
-Da-se!!!, P.Esse Lopes
-As Aventuras Maravilhosas de Jacin Tortudo Fu deer, Gilmar Kruchinski Junior
- Sincocilos de Quacaína e Uma Hefemérdide, por P. Esse Lopes
- Insunities (Insolaridades). Edição bilingue.. por Albert John
-Eros, João Barbosa
- O Homem a quem Tiraram a Idade, Carlos Canhoto
-Gosto das Mulheres que gostam deles grandes, Aníbal Silva St.
À Flor da Pele. 18-38. Foi assim, C. Marques
-A arte das Putas, Nuno Rebocho
-A Loja, Rosa Baião
-História Local de Portugas, Fernando Morais
-Ausências, Aníbal Silva St.
-Os cus-de-cristo, Diego Frestas
Colecção «Res Rustica», dimensões de um país desconhecido além-betão ( património vivos do mundo rural), sob a direcção de Inocêncio Seita Coelho.
Agrónomos, veterinários e solidários fazem chegar ao público em geral o nosso património rural: os animais e os seus produtos, as plantas medicinais e os seus usos, as florestas e todos os seus problemas, as hortas e os jardins que nos interessam. Este grupo de cientistas tem aqui um lugar privilegiado para fazer chegar a toda a gente um património português que tem tido escassa divulgação junto das pessoas.
-Queijos portugueses com tradições, por Inocêncio Seita Coelho
-Plantas Medicinais e condimentares, por Ana Eleanora Borges
-Raças Bovinas autóctones, por Victor Coelho Barros, Antonino Rodrigues
-Remédio Naturais. Etnobotânica das plantas medicinais, por Ana Eleanora Borges
-A Xerojardinagem ou a construção de jardins com pouca rega, por Ana Eleanora Borges
-Alminhas do Alto Minho. Freguesia da Gavieira. Concelho de Arcos de Valdevez, por Ana Eleanora Borges
-Fabrico Artesanal do Pão Algarvio,pela família Monteiro, por Lívia Paula do Nascimento
-Vivências Serranas. A Serra da Penda e as suas tradições no quotidiano, por Ana Eleanora Borges
-Cogumelos, Maria Helena Neves Machado, Ana Cristina Martins Ramos
-O Castanheiro, Rita Maria Lourenço da Costa
-A renascida fileira do porco de raça alentejana, Ana Margarida Santana Carlos, João Pedro Veiga da Costa, José Brito ramos
Colecção «Bisca Lambida», a primeira colecção portuguesa a dizer-lhe tudo sobre cartas de jogar, truques e casinos em Portugal (para quem quer saber mais do que jogar ás cartas), sob a direcção de Fernanda Frazão
Um dia, todos aprendemos a jogar às cartas, mas nunca pensámos nelas, nunca imaginámos que tivessem qualquer importância cultural. E, no entanto... durante 400 anos, tivemos um tipo de cartas só nosso, exportámo-lo para locais como o Japão já no século XVI; houve um monopólio estatal desde o início do século XVII, e, quase na mesma altura, descreveram-se em livro alguns truques matemáticos/ilusionistas, ainda hoje utilizados. A finalidade destas obras é a história, a técnica, o comércio e o coleccionismo de um dos objectos culturais menos conhecidos em Portugal.
- No tempo em que jogar às cartas era proibido, Fernanda Frazão
- As Cartas de Jogar Constitucionais. História de um Baralho. Constitutional Playing Cards. The Background, Fernanda Frazão
- Falando de... Cartas de Ilusionismo, José Manuel Guimarães
- Os Primeiros Fabricantes de Cartas de Jogar em Portugal. The First Playing Cards Manufacturers in Portugal, Fernanda Frazão
Colecção «Linhas Invisíveis», riscos e borrões de quem tem outras vidas ( a paixão pelo desenho), sob a direcção de Pedro Baptista
Colecção «OmniCiência», dimensões e abordagens diversas de um vasto território chamado ciência, sob a direcção de João Lopes Barbosa
-Ciência para quê? O velho sonho de Bacon e Descartes, João Lopes Barbosa
-Memórias de um grão de quartzo, Carlos Neto de Carvalho
-Um segundo génesis? Inquietações de um tempo em que a tecnociência acaba com as barreiras ancestrais…, João Lopes Barbosa
-Portugal e o Mar. Importância da Oceanografia para Portugal. J.Alveirinho Dias
-As Cores dos artistas. História e ciência dos pigmentos, António João Cruz
-Ciência e Ambiente. Uma aliança para a sustentabilidade Henrique Cabral
-Sardinhas. Mares Sardinheiros, Águas de Prata, Marcelo de Sousa Vasconcelos
-Bases para uma hierarquia ética e jurídica dos animais, Humberto D. Rosa
-Da ciência e da ética à prática: as grandes causas da protecção animal, por Leonor Galhardo
Colecção «L filo de la lhéngua» (Edições bilingues, em homenagem à outra língua de Portugal e a um povo antigo, em prol da língua mirandesa) sob a direcção de Antóniio Bártolo Alves
L acto de filar era, i ainda ye, un trabalho habitual na Tierra de Miranda. Pula antiquíssima ruoca se filórun muitos filos de lhana i de lhino que bestírun i acunchegórun las gientes mirandesas. Deçde l pardo mais ásparo, al lhençol mais ameroso, até la tradicional capa d'honras, todo tube l sou bércio an nes carinhos de las manos i na rudimentar cumbinaçon antre la ruoca i l fuso. Tamien la lhéngua i la cultura mirandesas se urdírun al ritmo deste lhabor. De la magie de l suonho, deixado libre por ua actividade que solo pide l trabalho de la manos, salírun muitas cantigas, cuntas i lhonas. L cartapácio - cobertura de panho cun se tapa l manelo de lhino - ye l símbolo que sconde la mintira i l fascínio. Cartapácio de mil mintiras An ne mar cuorren las lhiebres An nes prados las anguilas Se isto ye berdade Poucas seran mintiras. L real ancóntra-se cun l eimaginário, l suonho fecunda la realidade. La lhiteratura oural, anquanto produto de la memória, guarda ls traços de l passado, mas ye tamien ua poderosa spresson de la cultura i de la eidentidade presentes. La coleçon L filo de la lhéngua, anteiramente dedicada a la lhéngua i a la cultura mirandesas, pretende dibulgar este caudal de saber campestre i telúrico, onde mana i onde se reflite la filozofie, l saber i l'eidentidade mirandesas. Tenerá, drento deilha, outras coleçones, música, cuntas tradicionales, triato, i tamien cuntas einéditas, podendo inda abrir-se a outros temas. Las páginas destes libros quieren solo plasmar la dibersidade de la cultura mirandesa. Mas, porque eilha ye biba i dinámica, queremos que l sou ímpeto cuorra libremente, crecendo i comunicando la sue bitalidade.
Colecção «fazereSaberes», sobre «os trabalhos e os dias que nos restam», testemunhos e histórias de vida sobre a prática dos saberes. Sob a direcção de Ana Luísa Janeira
Esta colecção promove trabalhos do projecto «INOVAÇÃO - TRADIÇÃO - GLOBALIZAÇÃO - formas de viver, formas de fazer, formas de saber - FAZERES COM SABERES», cujos objectivos principais são recolher testemunhos e histórias de vida sobre a prática dos saberes, esclarecendo os seus «comos», «porquês» e «para quês», com vista à constituição de um corpus que importa poder descrever e caracterizar, preservar e compreender, insere-se no âmbito da relação próxima do Homem com a Natureza. Aqui se divulgarão os trabalhos deste projecto e muitos outros contributos portugueses e brasileiros similares.
-Natureza e Cultura, por Ana Luísa Janeira
- Saúde-Doença-Remédio numa comunidade piscatória caiçara do Brasil, Maria Aparecida de Sá Xavier
-Moinhos de Vento.Um saber e uma ciência,para alem de um simples olhar…, Maria Mascarenhas, Luís Francisco, Ivone Henriques
-Em torno da construção tradicional no Alentejo, por Ana Luísa janeira
-A brincar…a brincar.Os brinquedos populares de Montemor-O-Novo, Marioke Krom
Colecção « Redes & Enredos», tramas do tempo e do espaço no conto e na lenda, sob a direcção de Maria Teresa Meireles
Espaço privilegiado para trabalhos sobre contos e lendas e para a publicação de pequenas antologias, sejam elas provenientes de investigação literária ou de recolhas de campo.
- A Troca. Perdas e Permutas nos contos tradicionais, por Maria Teresa Meireles
-A Certidão das Histórias, Nuno Júdice
-Más mulheres, boas meninas. Personagens femininas nos contos tradicionais portugueses, por Ana Maria Freitas
-Fadas, mouras, bruxas e feiticeiras, Maria Teresa Meireles
Colecção «Lápis de Carvão» (o diamante nasce das bodas do carbono com a pedra filosofal – alquimias, esoterismos, maçonarias), sob a direcção de Maria Estela Guedes
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Colecção «Naturarte» ( os híbridos das novas ideias, afectos e tecnologias)
Nas colecções «Lápis de Carvão» e «Naturarte» publicamos, maioritariamente, comunicações aos colóquios em linha no triplov.org, em especial ao Colóquio Internacional «Discursos e Práticas Alquímicas», iniciativas do Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa (CICTSUL) e do Instituto São Tomás de Aquino.Comissão organizadora: Maria Estela Guedes e José Augusto Mourão
Colecção «Papoulas gustativas» (tudo o que se relaciona com bons comeres, bons comeres, bons deglutires, para ainda melhores bons viveres), sob direcção de Luís Filipe Coelho
-Dos termos da Arte de Cozinha, Frei João Pacheco
Para além das edições de cordel, a editora tem editado vários livros em edição normal:
-Provérbios sobre plantas, por Ana Eleanora Borges
-Os 10 mandamentos dos contos, Maria Teresa Meireles
-A partilha da palavra nos contos tradicionais, por Maria Teresa Meireles
-Lendas portuguesas da terra e do mar, por Fernanda Frazão
-A arca dos contos, por Maria Teresa Meireles
-Cuidar da criação, por Ana Paula Guimarães
-Viagens do diabo em Portugal, por Fernanda Frazão
-Arte de evocar os espíritos, Eugénio Montalegre
-Banquete esplêndido de iguarias diversas, anónimo
-História das cartas de jogar, Egas Moniz
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