Considera-se que os países mais desenvolvidos são os que têm o PIB (Produto Interno Bruto) mais elevado. Compreende-se. O PIB per capita diz respeito a um conjunto de bens materiais teoricamente dividido pelos habitantes de cada país. Esses bens não são de facto divididos por todos: isso seria uma desgraça.
Vejamos: comparemos o PIB a uma macieira carregada de maçãs; para determinar o valor do PIB, basta dividir o número de maçãs da macieira pelo número de comensais legítimos, digamos, 200 maçãs por dez habitantes da quinta daria 10 para cada um.
Mas, na realidade, 150 maçãs vão para o dono da macieira e as outras 50 são distribuídas pelas restantes 9 pessoas da quinta; esta distribuição das 200 maçãs seria feita do seguinte modo:
· 150 para o dono da macieira, como já disse
· 20 para o feitor da quinta
· 10 para o ajudante do feitor
· 5 para o ajudante do ajudante do feitor
· 5 para a mulher do feitor
· 3 para a mulher do ajudante do feitor
· 2 para a mulher do ajudante do ajudante do feitor
· 4 para o camponês mais submisso
· 1 para a mulher do camponês
· 0 para o outro camponês que, se quiser comer maçãs, tem de pedir emprestado.
No entanto, dir-se-á com toda a justiça que essa quinta terá um PIB, e portanto um desenvolvimento, maior e melhor do que o de uma outra que só tenha 180 maçãs e o mesmo número de habitantes.
O facto de haver gente que fica com quase nada dessa riqueza e até gente que fica com rigorosamente nada, a não ser ficar em dívida e ter de agradecer ainda por cima, não interessa para nada.
O PIB não é para levar a sério, não é para dizer como é que a riqueza de um povo se distribui realmente; O PIB per capita é uma conta de dividir que serve para, nas eleições, garantir que o país vai ficar rico, embora o povo continue tão pobre como estava antes. Ao povo será dada a enorme satisfação de viver num país rico que, assim terá todas as condições para ganhar o Campeonato Mundial de Futebol. Portanto, ao povo compete escolher o Primeiro Ministro mais capaz de conseguir estes objectivos. Se os objectivos não forem alcançados, a culpa é do povo que escolheu mal. Nas eleições seguintes, alguém se encarregará de explicar tim tim por tim como é que o povo deve fazer desta vez. Felizmente, as coisas são assim mesmo, e quem não estiver contente com o que tem é porque nem aquilo que tem merece ter.
Vejamos um exemplo concreto: os trabalhadores portugueses, segundo os relatórios internacionais, são daqueles que mais horas trabalham, mas são dos menos produtivos a nível dos países ocidentais.
Como pode acontecer uma coisa destas? Será que quem forneceu os dados aos relatores decidiu aldrabar as coisas? De forma nenhuma. As contas são feitas com todo o requinte, e não é fácil aldrabar gente tão inteligente, isto é, gente que até trabalhando menos consegue produzir mais.
Eu explico, para que todos percebam a superior inteligência dos senhores que fazem esses relatórios: suponhamos que o total da riqueza produzida num país é medida em pregos; poderíamos pensar, nós, os pouco produtivos, que quanto mais pregos fossem produzidos mais riqueza haveria nesse país, mas não, não é assim.
A cada prego é dado um valor (a tal riqueza): em Portugal, um prego, por exemplo, vale 1 cêntimo (deveria dizer-se um centavo, mas a vida é assim mesmo, quem manda, manda e até pode exigir uma palavra nova para dizer uma coisa velha); num outro país, com o mesmo número de trabalhadores, cada prego vale 2 cêntimos.
Resultado: os trabalhadores portugueses teriam de produzir o dobro dos pregos para serem tão produtivos como os do outro país que nos serve de comparação.
Digam lá: isto não é saber muito? Assim é que está bem.
E agora, com toda a imparcialidade, tentemos verificar de quem é a culpa de os pregos valerem menos em Portugal. Não é preciso pensar muito: é dos trabalhadores que, se fossem mais produtivos, conseguiriam valorizar mais a produção de pregos.
Como produzem pouco, os pregos não valem um chavo. Querem o quê? Milagres?
Há no entanto um fulano, cujo nome não lembro agora, que propõe que os países adoptem um outro tipo de medida do desenvolvimento, em alternativa ao PIB. Propõe nem mais nem menos do que a FIB (Felicidade Interna Bruta). O que é que este sujeito queria? Revolucionar as coisas.
Vejamos como.. O que ele queria era que se medisse a riqueza efectivamente distribuída por todos, deixando-se de fazer a tal operação de dividir abstracta e, por isso, tão exacta que permite apurar as coisas à milionésima das partes a dividir, isto é:
-medir as condições de acolhimento dos idosos: quantos beneficiam de boas condições de vida
-fazer o mesmo com as crianças e
-enfim com toda a gente
-subtrair a pobreza ao valor apurado, etc... coisas destas.
Está-se mesmo a ver aonde isto nos levava. Toda a gente ia querer viver bem.
E isso não pode ser, como se está também a ver…
Retirado de:
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