O Presidente dos Estados Unidos da América acabou de admitir anteontem, segundo a imprensa oficial, a existência de prisões secretas fora do território norte-americano, onde a CIA tem detidos presumíveis terroristas. Recorde-se que há alguns de meses atrás vários órgãos de comunicação social, com o Washington Post à cabeça, tinham revelado a existência de locais secretos de detenção. Tal informação acaba agora de ser confirmada pela voz mais autorizado no assunto: o próprio presidente em funções da grande democracia norte-americana!!!
Não se sabe qual a base jurídica ou em que direito nacional ou internacional os agentes secretos ao serviço do Estado e do governo norte-americano se apoiam para deter e manter em segredo as prisões do tais presumíveis terroristas, mas não é difícil concluir que a manutenção de tais centros de detenção no território de outros Estados soberanos está fora de toda e qualquer legalidade. Mas tal facto não perturba nem embaraça o presidente da grande democracia americana, pois é ele próprio a afirmar: «Se este programa não existisse os nossos serviços de informação pensam que a Al Qaida e os seus aliados seriam capazes de organizar novos atentados contra a pátria americana». A afirmação é tanto mais convincente quanto foram os mesmíssimos serviços de informação que pensaram que Saddam Hussein possuía armas de destruição maciça.
Mas o presidente da grande democracia americana vai mais longe, e para serenar os ânimos e as críticas dos defensores dos direitos humanos, não hesita em garantir que os agentes da CIA tratam os presos com humanidade e não utilizam métodos de tortura. Ora quando se sabe que numa prisão oficial e mundialmente conhecida como a de Abou Ghraib agentes norte-americanos exerceram aí sevícias e executaram torturas sobre os detidos, é mais que legítimo duvidar da seriedade dos métodos empregues nas prisões secretas da CIA…
Acresce ainda o facto de, recentemente, a conhecida revista New Yorker ter revelado um novo fenómeno na gestão estatal da «segurança» internacional - a «deslocalização da tortura» - e pela qual os agentes norte-americanos transferiam graciosamente prisioneiros para outros países que são conhecidas pela arte de bem torturar: Egipto, Síria, Arábia Saudita, Jordânia, Afeganistão, Uzbesquistão. Um antigo embaixador inglês, Craig Murray, denunciou inclusivamente as práticas de tortura seguidas por esses países.
Os Estados Unidos raptavam suspeitos onde quer que se encontrassem, detinham-nos em locais secretos, e depois enviavam-nos para esses países onde os experts na matéria se encarregavam de seguir os métodos tradicionais de tortura.
Tudo isso se justificaria pela tão proclamada guerra contra o terrorismo Mas se assim é bem podem prescindir das referências à liberdade e à democracia…