Marginalizado e duramente condenado ao longo do século XIX, lançado para a sombra pelo bolchevismo vitorioso na Revolução Russa, e derrotado na Revolução espanhola, o anarquismo é e continua a ser, não obstante tudo isso, um dos movimentos mais importantes na história do pensamento político contemporâneo. Algo que a história e a luta pela liberdade não podem desconhecer, sobretudo se entendermos o conceito de liberdade como a irredutível aspiração humana de libertação dos indivíduos, e de uma mundo e uma sociedade sem opressão.
A partir da análise das filosofias e correntes de pensamento que estão na origem do espírito libertário, Jean Préposiet apresenta-nos um quadro histórico completo dos anarquismos no Ocidente. Começa por traçar o percurso político e doutrinário dos pais fundadores – Proudhon, Stirner, Bakunine ou Malatesta –, analisa o papel desempenhado pelos anarquistas durante a Revolução Russa ou na guerra de Espanha, recorda aquilo que foram os atentados anarquistas em França na Belle-Èpoque, antes de explorar os avatares e as franjas da galáxia libertária: antimilitarismo e pacifismo, niilismo e terrorismo, anarco-sindicalismo, situacionismo, ecologia, antiglobalismo, etc., propostas que continuam a mover as nossas sociedades e que colocam a eterna questão da liberdade dos homens.
O livro está dividido em 5 partes: I – Fundamentos do anarquismo, II - Nascimento e evolução do anarquismo, III - Gandes teóricos do anarquismo, IV – à margem da anarquia, V – Violência e anarquia.
Os três primeiros capítulos tratam dos princípios gerais do anarquismo, enquanto nas outras partes restantes o autor refere-se em especial a Max Stirner e Proudhon, o que é tanto mais oportuno quanto as obras destas duas figuras são mal conhecidas, já para não referir quanto as suas ideias têm sido deturpadas e vilipendiadas por quem não as conhece minimamente.
Jean Préposiet analisa nas quatrocentas páginas do seu livro o legado anarquista com perspicácia e não menos pertinência, mostrando a variedade e heterogeneidade do anarquismo. Tratando-se de uma história geral do anarquismo não são obvimante dissecados certos pormenores, mas também não era esse o seu propósito.
Nem de propósito Préposiet acaba o seu livro livro com estas palavras premonitórias à laia de alerta geral:
«Enquanto houver anarquistas…»
Na net também está disponível em português o Capítulo I da obra.
História do anarquismo, por Jean Préposiet, edições 70
«Toda a gente tem uma reserva e um fundo libertários»
Por ocasião da apresentação e debate do livro de Jean Préposiet « Histoire du anarchisme», num café perto da Livraria libertária de Paris, na Rue Amelot, escutaram-se palavras inabituais nos dias que correm, da boca daquele autor:
«A força do anarquismo é estimular»,
«Não creio no advento de uma sociedade anarquista mas o anarquismo é extremamente precioso porque é o testemunho da liberdade. Ele faz parte da humanidade, do seu património»,
«…alguns praticam o anarquismo sem o saber, tal como o Senhor Jourdain escrevia literatura sem o saber»,
« O anarquismo é o único movimento que está todo virado para o prazer, a felicidade e a liberdade. Nenhum outro movimento ou partido valoriza tanto a felicidade, pois todos os outros contêm um lado repressivo»,
«O anarquista tem um grande handicap: é que ele é sincero, ao passo que a política é o reino das mentiras e negociatas»,
«Toda a gente tem em si uma reserva libertária, que é abafado pela coerção social. Ser libertário é fazer frutificá-la»
Minha mãe, minha utopia
A filha da anarquia
Não é senão a vida
E pelo seu amor a ela, nós dizemos:
Vivei sem vos submeter
Vivei sem deus e sem senhor!