30.10.07

Pobreza: a causa do mal e as lutas analgésicas

Texto de José Mário Branco

retirado de:

Com grande destaque nas televisões e jornais, realizaram-se em 17 de Outubro diversas acções, em Portugal e no resto do mundo, no âmbito do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza promovido pelas Nações Unidas. Em Portugal, a Campanha Pobreza Zero – apoiada por organizações como a Amnistia Internacional, Médicos do Mundo, Oikos e Quercus – mobiliza dezenas de milhares de portugueses em acções diversas de protesto e sensibilização, em escolas, bairros, empresas e na via pública.
O manifesto da Campanha (www.pobrezazero.org) declara que “a persistência da pobreza e da desigualdade no mundo de hoje não tem justificação. Apesar dos esforços realizados durante décadas, a desigualdade entre ricos e pobres continua a aumentar. Hoje, mais de 3 mil milhões de pessoas carecem de uma vida digna por causa da pobreza. Fome, sida, analfabetismo, discriminação de mulheres e meninas, destruição da natureza, acesso desigual à tecnologia, deslocação maciça de pessoas devido aos conflitos, migrações provocadas pela falta de equidade na distribuição da riqueza a nível internacional… São as diferentes facetas do mesmo problema: a situação de injustiça que afecta a maioria da população mundial”.

As iniciativas humanitárias do género “Pobreza Zero” decorrem de uma generosidade genuína de muita gente, mas, além destas iniciativas que chamam a atenção para problemas humanos graves e pungentes, é preciso mobilizar consciências para a erradicação da sua verdadeira causa. Não basta lutar para aplacar as dores da humanidade, é preciso curar a doença que as provoca. Denunciar os abusos e fazer exortações aos poderosos para minorarem as injustiças, é como receitar só analgésicos. Ai de nós se os médicos trabalhassem assim!

A miséria e a pobreza não são “exageros” nem “erros” nem “distracções” da sociedade em que vivemos. São a consequência natural e lógica de um sistema que assenta na busca do lucro, na concorrência impiedosa, na desumanização da vida. E, para isto, a alternativa definitiva é mudar pela base o sistema de produção e distribuição da riqueza.