Pobres são os que não têm tempo para perder tempo
Pobres são os que não têm silêncio, nem podem comprá-lo
Pobres são os que têm pernas mas que se esqueceram de caminhar, como as asas das galinhas que se esqueceram de voar
Pobres são os que comem lixo e pagam por isso como se fosse comida
Pobres são os que têm direito a respirar merda, como se fosse ar, sem pagar nada por ela
Pobres são os que não têm outra liberdade que não a de escolher um dos canais de televisão
Pobres são os que vivem dramas passionais com as máquinas
Pobres são os que são sempre muitos e que estão sempre sozinhos
Pobres são os que não sabem que são pobres.
( excerto do livro de Eduardo Galeano, «Pernas para o ar, o mundo visto de pernas para o ar», existe tradução portuguesa na Editora Caminho)