O suplício de tântalo atormenta os pobres. Condenados à sede e à fome, estão também condenados a contemplar os manjares que a publicidade lhes oferece. Mas quando aproximam a boca e estendem o braço, essas maravilhas logo desaparecem. E se algum se precipita, lançando-se ao assalto, acabam em ir parar à prisão ou ao cemitério.
São manjares de plásticos, sonhos de plástico. E de plástico é o paraíso que a televisão lhes promete todos os dias, mas só a poucos permite o acesso. Nesta civilização onde as coisas importam cada vez mais, e as pessoas cada vez menos, os fins foram sequestrados pelos meios: são as coisas que te compram, é o automóvel que te manipula, o computador que te programa, e a televisão que te observa.
( excerto do livro de Eduardo Galeano, «Pernas para o ar, o mundo visto de pernas para o ar», existe tradução portuguesa na Editora Caminho)