28.3.08

Vida, escrita e compromissos de Simone de Beauvoir - ciclo de debates na Fábrica Braço de Prata (28 e 29 de Março)


CICLO DE DEBATES
SIMONE DE BEAUVOIR
«VIDA, ESCRITA, COMPROMISSOS»

28 e 29 de Março
21h
Sala EPC


Simone de Beauvoir, a mulher que fez escândalo e escola, impulsionando uma verdadeira mudança antropológica e influenciando o trabalho de gerações de críticos e escritores e a vida de muitos homens e mulheres, nasceu há 100 anos! No âmbito de um conjunto de iniciativas, a realizar ao longo deste ano, a Fábrica Braço de Prata, em parceria com o Instituto Franco-Português e o Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa, preparou um ciclo de debates inteiramente dedicados a esta filósofa e romancista francesa. Pretendemos recordar a mulher que dedicou a vida inteira ao projecto da escrita, onde o objecto da criação literária e da reflexão filosófica se confundiu com o próprio acto de existir. Pretendemos ainda evocar a advogada do feminismo; o ser sentimental que se protegia por detrás de uma frieza aparente; a intelectual que se lançou em vários combates de diversas frentes, tendo tido uma contribuição decisiva para a história do século XX. Em suma, propomos pensar a mulher, a filósofa e a romancista francesa que agarrou a vida com coragem e cuja liberdade foi sempre um elemento fundamental.

Programa:

Sexta-feira, 28 de Março

«Apresentação genérica da Obra de Simone de Beauvoir» por Luísa Ribeiro Ferreira

«Simone de Beauvoir e o Existencialismo» por Nuno Nabais

«Simone de Beauvoir: entre o inevitável e o fortuito» por Maria João Cabrita

«A Força das Coisas e a problemática da velhice com S. de B.» por Maria Belo

Sábado, 29 de Março

«Simone de Beauvoir, uma mulher para além do seu tempo» por Manuela Tavares

«Um olhar feminista sobre Simone de Beauvoir» por Teresa Almeida

«O Segundo Sexo como desconstrução ‘do Eterno Feminino’» por Helena Neves

«As memórias de Simone de Beauvoir» por Isabel Barreno

Não se esqueçam: hoje é dia de bicicletada por todo o lado! (no Porto, na praça dos leões às 18h.)

Conduza bem; Renuncie ao seu carro!


Gentes belas, hoje é dia de bicicletada: a bicicletada da Primavera!


Sugestões:

- visibilidade - como primavera rima com flores e cores..... vamos coloridos e floridos para esta bicicletada.... também seria interessante apostar em bandeiras visíveis e claras quanto ao nosso objectivo de okupar as ruas!

- trazer mais um amigo – seria interesante que para esta bicicletada se duplicasse os participantes.... Por isso convidem @ voss@ amig@

Tragam um@ amig@ para um passeio da primavera....


- som – podes trazer também a buzina ... concertina... harmónica ... cazu... para a festarola chegar aos passeios e às gentes das ruas.

Chamada dos trabalhadores/as precários/as para a parada do MayDay Lisboa 2008

Precários nos querem
Rebeldes nos terão


MayDay


O fim e os meios da Anarquia ( acerca do livro de Jean Grave que foi traduzido pelo grande Aquilino Ribeiro)

Retrato de Aquilino Ribeiro em 1925





Jean Grave

Recensão crítica do livro « A Anarquia – Fim e meios» (L’Anarchie – son but, ses moyens») de Jean Grave , segundo a tradução para português realizada por Raul Pires e Aquilino Ribeiro, que foi editada em 1907 pela Livraria Central de Gomes de Carvalho, Lisboa.

Esta recensão crítica saiu no nº 19, Março de 1910 da Sementeira, publicação dirigida por Hilário Marques.



A anarquia, diz o autor ( está a referir-se a Jean Grave – Nota deste blogue), não se dirige só aos que morrem de miséria. Abraça todas as aspirações e não despreza necessidade alguma. A lista das suas reclamações compreende todas as da humanidade. A anarquia não é mais do que a continuação do eterno protesto dos explorados e dos oprimidos contra os exploradores e os opressores. Demonstra a inanidade de toda a tentativa de melhoria que não ataque os efeitos, deixando subsistir as causas; pretende transformar as bases da ordem económica; visa estabelecer, não a impondo, todavia, uma sociedade igualitária, pela transformação o mais completa possível do estado social, pela abolição de todas as instituições políticas e económicas da hora actual, pela entrega à disposição de cada um, do solo e dos instrumentos de trabalho.

A emancipação humana, diz ainda o autor, não pode ser obra de nenhuma legislação, de nenhuma outorga de liberdade porparte dos que dirigem; só pode ser obra do facto realizado, da vontade individual, afirmando-se por actos. Os indivíduos devem ter a estima de si mesmos, a convicção da sua própria força, devem fazer respeitar a sua dignidade. Para que o estado social anárquico possa estabelecer-se é preciso que cada indivíduo, tomado isoladamente, saiba governar-se por si, saiba fazer respeitar a sua autonomia, sabendo respeitar a dos outros e igualmente livrar a a sua vontade das influências ambientes: - este deve ser o fim positivo das nossas aspirações, da nossa propaganda; dele devemos procurar aproximarmo-nos o mais possível.

Pelo que respeita aos meios. Afirma o autor que aos indivíduos bastará quererem ser livres, para encontrarem os meios de o ser. Onde quer que haja oprimidos, pobres, assalariados, espíritos sequiosos de independência – conservando como ponto de referência, o ideal nitidamente definido, traga cada um a sua parte de desejos e de aspirações à obra de transformação. A guerra é de todos os dias, de todos os instantes: o combate começa a ser travado por algum mais impaciente, e , imitado por outros, continua até que a intensidade da luta faz mover as multidões. À táctica, portanto, só preside a iniciativa individual: comando superior, unidade determinada por chefes não existe, - o que não quer dizer que não possa ou não deva haver coordenação pelo acordo das diversas iniciativas.

E, saindo deste campo mais ou menos abstracto, depois de defender a abstenção geral como o começo da acção, e de analisar a violência em geral, a propaganda pelo facto e o roubo, ocupa-se detidamente daquilo que o autor chama as cinco correntes principais que na anarquia tendem a realizar alguma coisa. Essas correntes ou modos de actividade são:

1º) a recusa do serviço militar;
2º) a fundação de colónias, agrupamentos, onde núcleos de anarquistas vivam o mais conformemente possível com a sua maneira de pensar;
3º) as questões operárias, o sindicalismo, as cooperativas;
4ª) a educação das crianças;
5º) a propaganda nos campos.

Modos de actividades, diz. É que existem outros – ao tempo e aos acontecimentos cabe indicar ainda outros. Uma comparação define magnificamente o papel dos anarquistas. A propaganda, a evolução e revolução, como ele as entende, parecem-se com a obra desses micro-organismos, imperceptíveis a olho nú, cujo labor individual não é apreciável pelos nossos sentido, mas que continuando o seu trabalho de agregação e desagregação, multiplicando-se ao infinito, chegam pelo seu pululamento a transformar o meio em que evoluem, pondo toda a matéria em fermentação e transformando-a sem nenhuma outra força para além da sua própria actividade.

José Luiz


Informação suplementar:
Note-se que Jean Grave, tal como a maioria dos dirigentes anarquistas franceses, era opositor à prática do terrorismo bombista como forma de luta contra o Estado. Jean Grave era director da influente revista Les Temps Nouveaux e assumia um certo destaque no movimentos anarquista internacional. Da sua obra sobressaem «A Sociedade Futura», «A Anarquia – fins e meios» ( traduzido por Aquilino Ribeiro), e «A sociedade moribunda e a Anarquia», todos traduzidos para português em 1902, 1907 e 1909, respectivamente.

27.3.08

Rastos (mostra de artes a 27,28 e 29 de Março) e aproveitem para se solidarizarem com o Palco Oriental


Conhecendo o espaço multicultural e diversificado do Palco Oriental, ao Beato, fica-se com um travo de surpresa por se ter revelado um espaço tão interessante fora dos bairros mainstream de LX e que está sob a iminência de ser despejado por ordem do tribunal!!!


Agora o Palco Oriental realiza a sua Mostra de Artes - Rastos, dedicada à Performance de Teatro e Dança, ao Vídeo e Fotografia. Será nos dias 27 a 30 de Março e será imperdível, pelo local, pelas pessoas e tão simplesmente pela arte - essa tão indefinida coisa que nos alimenta!


Programação


Dia 27 Março


21.00 – Abertura
21.15 – Dança
“ Inssendialma” por Leok Pinto (Porto).
21.50 – Vídeo
Mostra de vídeos
00.00 – Concerto
Zootek
00.35 – Concerto /Performance
Electro Re-volt
01.20 - Dj Acquaman


Dia 28 Março

21.00 – Abertura
21.15 – Teatro
“ A mulher que se vestia de homem” por Vanessa Vinha
21.30 – Teatro
“ Hard Fake” por Alface e Rita Mendes
21.50 – Selecção
23.00 – Performance
“ Volte-Face≠2” de Volte- Face≠2
00.10 - Concerto Musical
Like The Man Said
01.00 - Dj Set


Dia 29 Março

15.30 – Teatro para a Infância
“ A Torre da Má hora” pelo Palco Oriental

21.00 – Abertura
21.30 – Dança
“ Maeve” por Beatrix
22.00 – Teatro
“ Cenas de Copi”, direcção de Paulo Lage
22.45 – Teatro
“ Binólogo”, com Célia Ramos
23.15 – Concerto Musical
Noz
00.0 – Dj Set


Dia 30 Março

15.30 – Teatro para a Infância
“ Pocahontas” pelo Lolipop Teatro

21.00 – Abertura
21.30 – Teatro
“ Viagens de Camões” pelo Teatro Pouco Siso
22.15 – Teatro
“ Hanjo”, direcção de Paulo Lage
23.00 - Dança
“ Lost” de Ricardo Ambrósio
23.45 – Dj Set
01.00 - Desfecho

Local:
Palco Oriental
Calçada Duque de Lafões nº 78
Beato
1950 Lisboa


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Informação:
Tribunal liquida Palco Oriental

A Associação Cultural Palco Oriental, entidade artística sem fins lucrativos, foi liquidada pelo Supremo Tribunal de Justiça, que decidiu atribuir o edifício à Igreja de S. Bartolomeu do Beato. A Igreja recebe de bandeja um edifício onde nunca esteve nem aplicou um cêntimo e no qual a ACPO custeou obras de dezenas de milhares de euros.

O edifício fora doado à Igreja em 1999 pela Associação de Serviço Social, uma organização fantasma que abandonou as instalações após o 25 de Abril de 1974 e da qual não se conhece qualquer actividade.

Desde há mais de 20 anos que a ACPO acolheu centenas de artistas, das mais variadas formas de expressão: do teatro, da música, da dança, das artes plásticas, do áudio visual, e da simples partilha de experiências de vida.



Petição online pelo Palco Oriental


Rejeite a tétrica imagem do nosso funeral, faça qualquer coisa... comece por assinar a nossa petição online :



A Associação Cultural Palco Oriental, entidade artística sem fins lucrativos não pode, nem deve, depender de um esforço particular mas sim de um esforço colectivo, daí a necessidade de TODOS lutarmos pelo preservação da mesma. O acórdão do STJ, decidiu atribuir o edifício onde está sedeada a Associação Cultural Palco Oriental à Igreja de S. Bartolomeu do Beato.

Desde 16 de Abril de 2001, que o processo movido contra a Associação Cultural Palco Oriental se encontrava nos tribunais.

O Tribunal de 1ª Instância deu razão à Associação Cultural Palco Oriental ao atribuir o edifício, a Relação sentenciou que a "coisa" não estava ganha, e o Supremo, de forma justiceira acabou com um projecto cultural e artístico que resistia desde há mais de duas décadas.

A Igreja recebe de bandeja um edifício onde nunca esteve nem aplicou um cêntimo.

A Associação Cultural Palco Oriental custeou obras, de largas dezenas de milhares de euros.

O edifício é doado à Igreja em 1999. O seu doador foi a Associação de Serviço Social, que abandonou as instalações, logo após o 25 de Abril de 1974.

A esta Associação de Serviço Social, não se lhe conhece qualquer actividade realizada após a revolução, nem nunca nos contactou a reivindicar a devolução do imóvel.

Dezenas de pessoas são assim privadas de dar continuidade aos seus projectos artísticos e à livre expressão das suas vontades e ideais.

Dezenas de pessoas que militantemente se dedicaram e investiram humana e materialmente durante tantos anos neste espaço para dotar culturalmente as populações da Zona Oriental de Lisboa, são assim despejadas.

Desde sempre que este foi um espaço de acolhimento para centenas de artistas, das mais variadas formas de expressão: do teatro, da música, da dança, das artes plásticas, do áudio visual, e da simples partilha de experiências de vida.

A Formação dos Recursos Humanos é essencial para o desenvolvimento da Associação e dos Agentes Culturais que com ela colaboram, a aposta nesta área reflecte o interesse em possuir técnicos mais qualificados e melhor preparados para responder às exigências que as novas técnicas de expressão artística e da tranversalidade entre elas nos trazem.

De acordo com o estudo “A Economia da Cultura na Europa” (KEA, 2006) na União Europeia, o sector da Cultura contribui mais para a economia dos Vinte e Cinco do que outros sectores considerados muito relevantes para a economia da União. Em Portugal, o sector da Cultura é o terceiro principal contribuinte para o PIB.

O relatório da conferência UNESCO “The International Creative Sector” de 2003, afirma que “as novas técnicas de pesquisa dos estudos de urbanismo, têm ajudado as comunidades a reconhecer as suas estruturas e actividades culturais como uma importante mais valia”.

À semelhança do que está a acontecer em muitos países europeus, as cidadãs e os cidadãos abaixo-assinados vêm, nos termos constitucionais e legais, propôr à Assembleia da República que tome com urgência medidas legislativas e políticas para:

1. Que as instalações continuem ao serviço cultural e artístico da Zona Oriental de Lisboa;
2. Que o património seja transferido para a Associação Cultural Palco Oriental



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Memória histórica:


A Associação Cultural Palco Oriental foi fundada em Janeiro de 1989 por grupos de teatro que já exerciam actividade desde 1979, no imóvel em que estamos sediados.
Os grupos de teatro que estiveram na origem de ste nascimento foram o Teatro “Os Patolas”, “Máscara” - Teatro de Grupo, e o “Triato do Biato”.
Em Maio de 1992, agregando também elementos vindos da Escola Superior de Teatro, estreámos a nossa primeira produção, “Macbeth”.
A Associação Palco Oriental tem procurado, desde a sua fundação, ser uma referência viva na animação cultural da parte velha da Zona Oriental de Lisboa, quer pela promoção de diversas actividades, quer pela manutenção do seu grupo de teatro, quer pela valorização de uma vivência cultural e comunitária que se enraíza nas tradições mais vincadas daquela que, talvez, tenha sido a zona mais industrializada da velha Lisboa.
Este carinho pelo teatro traduziu-se no dar a possibilidade a outros grupos de teatro profissional, ou pró-profissionais, ou amadores ou universitários que surgiram e têm marcado presença entre a nova geração de criadores teatrais de Lisboa.
O Palco Oriental - Grupo de Teatro procurou desde o primeiro momento afirmar-se como difusor de uma prática teatral atraente para os públicos e para uma nova geração de actores e criadores, de formação e proveniências diversas, que reconhecem no Palco Oriental um projecto onde a experimentalidade e o risco são uma evidência.

website:
http://palco_oriental.tripod.com/

Ocupantes fora do Iraque: 5 anos de ocupação - 5 anos de Resistência (Concentração no Largo Camões, 29 de Março às 16h.)




Concertos com músicos árabes e portugueses em
Coimbra (8 de Abril), Braga (10 de Abril),
Lisboa (12 de Abril),
Torres Novas ( 13 de Abril)




5 anos de ocupação, 5 anos de resistência



Factos e números sobre a ocupação do Iraque

Genocídio: mais de um milhão de iraquianos foram mortos desde o início da ocupação, dez vezes mais que os números oficiais. A principal causa de morte violenta é a actuação das forças de ocupação. Entre 1991 e 2003, tinham morrido já 2,7 milhões de iraquianos em consequência do embargo económico imposto pela ONU.

Refugiados: O Iraque é hoje o primeiro país do mundo em número de refugiados – 2, 5 milhões no interior e 2,2 milhões nos países vizinhos. Os mortos mais os refugiados atingem perto de um quarto da população iraquiana.

Pobreza extrema: 43% dos iraquianos vive com menos de 70 cêntimos por dia. 60 a 70% da população activa não tem trabalho.

Dependência: 6 milhões de pessoas necessitam de ajuda humanitária para sobreviver, o dobro de 2004.

Menos ajudas: apenas 60% dos iraquianos tem acesso a rações de alimentos governamentais. A cobertura era universal antes da invasão. Por pressão do Banco Mundial, a partir de Junho de 2008 este sistema de abastecimento será suprimido, assim como os subsídios aos carburantes.

Malnutrição infantil: metade dos menores de 5 anos sofre de malnutrição. O baixo peso dos recém-nascidos triplicou, atingindo 11% dos nascimentos.

Contaminação nuclear: em 1991 e em 2003 os EUA lançaram sobre o Iraque mais de 2500 toneladas de urânio empobrecido, em bombas e munições. Solos e reservas de água ficaram contaminados. Os efeitos vão perdurar por 4,5 mil milhões de anos.

Cancros e malformações: em consequência da radioactividade, aumentaram em flecha as malformações congénitas, as leucemias, as doenças da tiróide e o número de cancros. No sul do Iraque os cancros aumentaram 11 vezes entre 1988 e 2002. As malformações congénitas atingem 67% dos filhos de soldados norte-americanos que estiveram no Iraque.

Destruição de infraestruturas: 70% da população deixou de ter água potável e 80% não tem esgotos. O abastecimento de electricidade está reduzido a duas horas por dia. A cólera, que tinha sido erradicada, espalhou-se por metade das 18 províncias iraquianas.

Destruição do sistema de saúde: 2 mil médicos foram assassinados. Metade dos 34 mil médicos existentes em 2003 abandonou o país. Dos 180 grandes hospitais, 90% carece de recursos essenciais. Os hospitais foram transformados pelos esquadrões da morte em centros clandestinos de detenção, tortura e assassinato.

Destruição do sistema de ensino: mais de 800 mil alunos deixaram de ir à escola primária (22%) e só metade dos que completam a instrução primária iniciam o secundário. Outras 220 mil crianças refugiadas com as famílias em países vizinhos estão sem escola. Mais de 300 professores e professoras de todas as universidades do país foram assassinados. As milícias religiosas governamentais impuseram a segregação de sexos e o vestuário islâmico.

Destruição dos serviços públicos: já em 2006, 40% do pessoal qualificado iraquiano tinha abandonado o país, levando ao desmoronamento dos serviços.

Roubo de recursos: a produção de petróleo está deliberadamente sem controlo. Calcula-se que a exportação actual de petróleo iraquiano, dominada por empresas norte-americanas, atinja 2,1 milhões de barris por dia, menos meio milhão que antes da invasão. O Iraque tem de importar combustíveis para transportes e uso doméstico.

A fraude da “reconstrução”: em Agosto de 2007, o governo iraquiano tinha aplicado apenas 4,4% do orçamento de Estado para esse ano.

Prisões em massa: 24 mil iraquianos estão presos à guarda das forças dos EUA. Mais 400 mil estão detidos em prisões governamentais.

Guerra sem lei: além das tropas norte-americanas e de outros países ocupantes, actuam no Iraque 180 mil mercenários, não abrangidos por nenhuma lei internacional.

Resistência: permanecem no Iraque 158 mil soldados dos EUA. Segundo dados oficiais norte-americanos, mais de 4 mil foram mortos e 30 mil foram feridos – 82% dos quais em combate.

Programa de libertação nacional: nos últimos dois anos, vários agrupamentos da resistência, incluindo 40 organizações militares, uniram-se numa frente de liberação nacional. Adoptaram um programa democrático que prevê a retirada das forças ocupantes, a reconstrução das estruturas do Estado, a criação de um governo de unidade nacional e a aprovação, em referendo, de uma nova constituição.

Retirado de:
http://tribunaliraque.info/pagina/inicio.html


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CARTA ABERTA AO PRIMEIRO-MINISTRO DE PORTUGAL
20 de Março de 2008
Subscrita por várias organizações cívicas e sindicais



Senhor Primeiro-ministro:

Em 17 de Março de 2003, um dia depois da cimeira dos Açores, o presidente George W. Bush anunciou o iminente ataque militar ao Iraque com a seguinte declaração:

«À Nação do Iraque,
Informação recolhida por este e outros governos não deixa dúvidas de que o regime iraquiano continua a possuir e esconder as mais mortíferas armas (...). O regime tem um historial de rude agressão no Médio Oriente. Tem (...) ajudado, treinado e protegido terroristas, incluindo operacionais da Al Qaeda. O perigo é claro: usando armas químicas, biológicas ou, um dia, nucleares conseguidas com a ajuda do Iraque, os terroristas poderiam concretizar as suas ambições assumidas de matar milhares ou centenas de milhar de inocentes no nosso e noutros países (...). À medida que a nossa coligação lhes retirar o poder, iremos distribuir a comida e os medicamentos de que precisam. Iremos desmontar o aparato de terror e ajudar-vos-emos a construir um novo Iraque que seja próspero e livre. No Iraque livre não haverá mais guerras de agressão contra os vossos vizinhos, não mais fábricas de venenos, não mais execuções de dissidentes, não mais câmaras de tortura e câmaras de violação. O tirano em breve partirá. O dia da vossa libertação está perto.»

Falar de liberdade e democracia no Iraque é um insulto à inteligência.
Em cinco anos de ocupação, o Iraque conta mais de um milhão de mortos e cinco milhões de exilados e deslocados. Muitos mais morrerão enquanto persistir a ocupação, e em sua consequência, vítimas da fome e da doença, da contaminação radioactiva, das catástrofes ambientais e humanitárias e do terrorismo de Estado e do promovido por indivíduos ou grupos.
Durão Barroso, que como primeiro-ministro teve especiais responsabilidades na campanha a favor da guerra, procurou limpar a face declarando que se enganara. Paulo Portas, então ministro da Defesa, que “tinha visto provas” da existência das armas de destruição maciça, refugia-se no silêncio. Jorge Sampaio, que enquanto Presidente da República aceitou o envolvimento português, nada diz diante da catástrofe.
Portugal tem sido cúmplice activo na guerra que levou à destruição de um país, ao sofrimento e morte de um povo – e ao agravamento da situação do Médio Oriente.
Na verdade, à destruição do Iraque somam-se a destruição do Afeganistão, o genocídio do povo palestiniano, o ataque ao Líbano, as ameaças ao Irão, o escândalo dos “voos da CIA” e das prisões secretas criadas pelos EUA à margem de qualquer lei. Todos estes factos fazem parte de um mesmo plano de domínio do Médio Oriente. E a justificação com que se cobre – a chamada “guerra ao terrorismo” – tem sido desmontada pelos factos e repudiada em todo o mundo por muitos milhões de pessoas.
Estas situações configuram violações do direito internacional, crimes contra a Humanidade e crimes de guerra a que Portugal não deve nem pode estar associado.

Senhor Primeiro-ministro,

Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana (art. 1º da Constituição da República) e o Estado subordina-se à Constituição (art. 3º). Portugal rege-se nas relações internacionais pelos princípios da independência nacional, do respeito dos direitos do Homem, dos direitos dos povos, da igualdade entre os Estados, da cooperação com todos os povos do Mundo para a emancipação e progresso da humanidade (art. 7º, nº 1). Portugal preconiza a abolição do imperialismo, do colonialismo e de quaisquer outras formas de agressão (art. 7, nº2).
Não haverá povos livres e soberanos enquanto não se respeitar a liberdade e a soberania de todos os povos. Nem se será digno de respeito enquanto não se respeitar o direito internacional e os direitos do Homem. Não haverá progresso e emancipação enquanto houver povos escravizados e colonizados.
Não é com terrorismo de Estado nem com guerras que se combate a fome e a pobreza, que se luta pelo progresso e pelo desenvolvimento.

Senhor Primeiro-ministro,
Portugal continua a ser parceiro de crimes cometidos pelos interesses imperialistas dos EUA. Não colhe o argumento de que o governo português foi enganado, nem é justificação o respeito por compromissos assumidos quando está em causa a violação do direito internacional.

É necessário mudar de rumo e, no cumprimento do espírito e da letra da nossa Constituição, é imperioso que o governo se demarque daqueles actos e desenvolva todos os esforços diplomáticos e políticos para acabar com os crimes citados e para respeitar os países e povos agredidos.

Pela passagem do 5.º ano de ocupação e do início do massacre dos iraquianos por tropas imperiais (regulares e mercenárias), as organizações signatárias exigem do Governo Português o cumprimento da Constituição da República, o exercício de uma política internacional de respeito pelos direitos humanos e pela soberania dos Estados.

Lisboa, 20 de Março de 2008

Dia Mundial do Teatro 2008 - mensagem de Robert Lepage


Robert Lepage, actor, encenador e dramaturgo canadiano é o autor da Mensagem para o Dia Mundial do Teatro 2008.



"Existem várias hipóteses sobre as origens do teatro, mas aquela que me interpela mais tem a forma de uma fábula:


Uma noite, na alvorada dos tempos, um grupo de homens juntou-se numa pedreira para se aquecer em volta de uma fogueira e para contar histórias. De repente, um deles teve a ideia de se levantar e usar a sua sombra para ilustrar o seu conto.Usando a luz das chamas ele fez aparecer nas paredes da pedreira, personagens maiores que o natural. Deslumbrados, os outros reconheceram por sua vez o forte e o débil, o opressor e o oprimido, o deus e o mortal.


Actualmente, a luz dos projectores substituiu a original fogueira ao ar livre, e a maquinaria de cena, as paredes da pedreira.E com todo o respeito por certos puristas, esta fábula lembra-nos que a tecnologia está presente desde os primórdios do teatro e que não deve ser entendida como uma ameaça, mas sim como um elemento unificador.


A sobrevivência da arte teatral depende da sua capacidade de se reinventar abraçando novos instrumentos e novas linguagens. Senão, como poderá o teatro continuar a ser testemunha das grandes questões da sua época e promover a compreensão entre povos sem ter, em si mesmo, um espírito de abertura? Como poderá ele orgulhar-se de nos oferecer soluções para os problemas da intolerância, da exclusão e do racismo se, na sua própria prática, resistiu a toda a fusão e integração?


Para representar o mundo em toda a sua complexidade, o artista deve propor novas formas e ideias, e confiar na inteligência do espectador, que é capaz de distinguir a silhueta da humanidade neste perpétuo jogo de luz e sombra.


É verdade que a brincar demasiado com o fogo, o homem corre o risco de se queimar, mas ganha igualmente a possibilidade de deslumbrar e iluminar."Robert Lepage




Robert Lepage - Biographical information - English



Qué pasaría si... ? (o que aconteceria se...) por Mario Benedetti

O que aconteceria se num dia
Despertássemos e déssemo-nos
Conta que éramos a maioria?

O que aconteceria se, de súbito,
Uma injustiça,só uma,
Fosse repudiada por todos,
Não por uns, nem por alguns, mas por todos?

O que aconteceria se, em vez de
Seguirmos divididos nos
Multiplicássemos, nos juntássemos
E bloqueássemos o inimigo que
Nos trava o passo?

O que aconteceria se nos
Organizássemos, e ao mesmo
Tempo enfrentássemos
Sem armas, em silêncio,
Em multidões e com milhões de
Olhares a cara dos
Opressores, sem darmos vivas,
Sem aplausos, nem sorrisos,
Sem palmas nos ombros,
Sem cânticos partidários,
Sem cântico algum?

O que aconteceria se eu pedise
A ti que estás tão longe,
E tu por mim que estou tão longe, e ambos pelos
Outros que estão tão
Longe e os outros por
Nós, apesar de estarmos tão longe?

O que aconteceria se o grito
De um continente fosse
O grito de todos os continentes?

O que aconteceria se em vez do nos lamentarmos,
Deixássemos o corpo falar?

O que aconteceria se rompêssemos
As fronteiras, e seguíssemos em frente, avançando,
Avançando?

O que aconteceria se queimássemos
Todas as bandeiras para
Termos só uma, a nossa, a de todos, ou melhor,
Nenhuma porque não precisamos?

O que aconteceria se de súbito
Deixássemos de ser patriotas para
Sermos apenas seres humanos?

Não sei… Mas mesmo assim eu pergunto:

O que é que aconteceria?


NO ORIGINAL:

¿Qué pasaría si un día
despertamos dándonos
cuenta de que somos mayoría?

¿Qué pasaría si de pronto
una injusticia, sólo una,
es repudiada por todos,
todos los que somos, todos,
no unos, no algunos, sino todos?

¿Qué pasaría si en vez de
seguir divididos nos
multiplicamos, nos sumamos
y restamos al enemigo que
interrumpe nuestro paso?

¿Qué pasaría si nos
organizáramos y al mismo
tiempo enfrentáramos
sin armas, en silencio,
en multitudes, en millones de
miradas la cara de los
opresores, sin vivas,
sin aplausos, sin sonrisas,
sin palmadas en los hombros,
sin cánticos partidistas,
sin cánticos?

¿Qué pasaría si yo pidiese
por ti que estás tan lejos,
y tú por mí que estoy tan lejos, y ambos por
los otros que están muy
lejos y los otros por
nosotros aunque estemos lejos?

¿Qué pasaría si el grito
de un continente fuese
el grito de todos los continentes?

¿Qué pasaría si pusiésemos
el cuerpo en vez de lamentarnos?

¿Qué pasaría si rompemos
las fronteras y avanzamos
y avanzamos y avanzamos
y avanzamos?

¿Qué pasaría si quemamos
todas las banderas para
tener sólo una, la nuestra,
la de todos, o mejor
ninguna porque no
la necesitamos?

¿Qué pasaría si de pronto
dejamos de ser patriotas para
ser humanos?

No sé... me pregunto yo:

¿Qué pasaría...?

Mario Benedetti






Para uma vida não fascista


"Livrem-se das velhas categorias do Negativo (a lei, o limite, as castrações, a falta, a lacuna) que por tanto tempo o pensamento ocidental considerou sagradas, enquanto forma de poder e modo de acesso à realidade.
Prefiram o que é positivo e múltiplo, a diferença à uniformidade, os fluxos às unidades, os agenciamentos móveis aos sistemas. Considerem que o que é produtivo não é sedentário, mas nómada."

(Foucault, Uma introdução à vida não fascista, pref. à ed. norte-americana de O Anti-Édipo.)

Movimento Renovar a Mouraria: assinem a petição, porque a Mouraria é linda!


http://renovaramouraria.blogspot.com/


O movimento Renovar a Mouraria surgiu da iniciativa de um grupo de moradores e amig@s deste bairro histórico, com o objectivo de chamar a atenção dos responsáveis políticos e sociais para a situação em que este bairro se encontra.


Do Largo do Intendente ao Palácio do Marquês de Tancos existe um património à nossa espera...

A Mouraria abrange 5 freguesias. Os Anjos e a Graça cobrem uma pequena fatia do bairro, bem como Stª Justa. Sendo que a Mouraria ganha maior expressão nas freguesias do Socorro e de S. Cristóvão e S. Lourenço.

Por toda esta zona grassa a degradação social e urbanística.

Ainda assim a Mouraria é uma pérola.

A Mouraria é Linda !

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Petição Renovar a Mouraria

Senhor Presidente da República
Senhor Primeiro-ministro
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Lisboa
Senhora Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa

O nome Mouraria remonta a 1170, época de D. Afonso Henriques, quando o monarca deu foral aos mouros de Lisboa e concedeu esta zona aos mouros vencidos.

Pela encosta estende-se um emaranhado de ruas, ruelas, travessas, becos e largos com uma beleza única, um valor histórico e uma diversidade cultural inigualável. Porém, e por incrível que pareça, esta pérola no centro de Lisboa está abandonada, suja, degradada, moralmente abatida, em nada contribuindo para a fotografia do turista que passa…

Bairro com mais de 5.000 habitantes, muitos deles vivendo em condições desumanas, com problemas de salubridade e de recolha de lixos, tráfico e consumo de droga a céu aberto, fraco policiamento, ausência de jardins e espaços infantis, entre outros graves problemas. A Mouraria continua na mesma: sem rei nem roque!

Um vasto património sofre a sua degradação. A questão urbanística é uma das mais prementes. Largas dezenas de prédios a precisar de uma intervenção urgente, dezenas de outros entaipados, obras paradas, são o espelho de um bairro esquecido. Património esquecido é também o fado: o bairro que o viu nascer não tem uma casa que o dignifique.

Os idosos constituem a larga maioria dos habitantes e os jovens vêem-se obrigados a abandonar o bairro por falta de condições.

Pela sua história, localização, beleza e diversidade, a Mouraria apresenta um potencial habitacional, cultural e artístico, de lazer e turístico, que é urgente valorizar.

Esta situação é inaceitável: afecta a cidade e as pessoas que nela habitam, bem como a imagem da capital do nosso país.

Conscientes de que este pedido se fundamenta no exercício de uma cidadania empenhada e participativa, os signatários esperam de vossas excelências a tomada de medidas para a reabilitação e revitalização da Mouraria, com a urgência que a gravidade da situação justifica.



Para assinar clique aqui:
www.PetitionOnline.com/renovar/petition.html



Entidades que apoiam
o movimento "Renovar a Mouraria"

Grupo Desportivo da Mouraria
Centro Escolar Republicano Almirante Reis
Grupo Gente Nova
Casa de Lafões
Gaia - Grupo de Acção e Intervenção Ambiental
Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul
Associação Sete Sois Sete Luas



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Amália Rodrigues
Marcha Da Mouraria


Mouraria garrida, muito presumida,
Muito requebrada,
Com seu todo gaudério,
Seu ar de mistério,
De moura encantada!
É como um livro de novela,
Onde o amor é lume
E o ciúme impera!
Ao abrir duma janela
Parece o vulto
Daquela Severa!


A marcha da Mouraria
Tem o seu quê de bairrista!
Certos ares de alegria,
É a mais boêmia,
É a mais fadista!


Anda toda encantada,
De saia engomada,
Blusinha de chita!
É franzina, pequena,
Gaiata e morena,
Cigana e bonita!
Tem a guitarra pra gemer
Um amor sublime
Que nunca atraiçoa!
Esse bairro deve ser
O lindo ou mais castiço
Da velha Lisboa!

26.3.08

Ginjinha



O que foi viveiro de amor
É ideia que não cabe cá nas minhas
Recordações de calor
E das saudades o gosto
Que vou procurar esquecer numas ginginhas
Pois dar de beber à dor é o melhor
Já dizia a Mariquinhas

Fado "Vou dar de Beber à Dor" de Alberto Fialho Janes



A ginjinha é uma bebida licorosa feita a partir de ginjas, um fruto silvestre abundante em Portugal.
Em Lisboa existem algumas tascas do século passado ou do princípio deste, conhecidas pelo nome desta bebida e que praticamente só vendem (a um preço muito barato) os pequenos copos de ginjinha.
São pequenos espaços em que, ao balcão e sempre de pé, as pessoas bebem de um só trago e rapidamente saem.
Há duas marcas de fabrico próprio, a “Espinheira” e a “Sem Rival”, que detêm o exclusivo cada qual em seu estabelecimento.

Locais:

A Ginjinha
Lg. de S. Domingos, 8


Ginjinha Popular
R. das Portas de Stº Antão, 61


Ginjinha-Rubi
R. Barros Queirós, 27


Ginjinha-Rubi
Av. da Liberdade, 5
7h/24h

Ginjinha sem Rival
R. das Portas de Stº Antão, 7
7h/24h

A Licorista
R. dos Sapateiros, 224
6h30/19h30

11 e 12 de Abril: Colóquio Internacional em Lisboa sobre Maio de 68 (participação de Anselm Jappe, Daniel Bensaid, Bifo, e outros)

As liberdades não são dadas. Conquistam-se!




Colóquio Internacional
Lisboa, 11 e 12 de Abril de 2008
Instituto Franco-Português
Av. Luís Bívar, 91 METRO: São Sebastião - Campo Pequeno.

Tradução simultânea



Entrada Livre



Mais informações: lisboa1968@gmail.com (+351) 213111468

Organização:
Instituto Franco-Português
Instituto de História Contemporânea
Le monde diplomatique edição portuguesa

Apoios: FCT Fábrica de Braço de Prata Goethe Institut Antígona

Maio de 1968. Em Paris anuncia-se o início de uma luta prolongada. Quatro décadas depois, este colóquio internacional reúne um conjunto de reputados intelectuais cujas investigações permitiram voltar a olhar para 1968 nas suas mais variadas dimensões. Levando o debate mais além das repetidas alusões ao cariz geracional e estudantil da revolta, mapeando 1968 para lá das fronteiras da França, o colóquio confronta a importância de 1968 na emergência de novas subjectividades políticas, analisa a dimensão de luta de classes que atravessa o período e discute a persistência de Maio'68 nos conflitos políticos contemporâneos.

Os coordenadores,
Bruno Peixe (NMENA)
Luís Trindade (IHC-UNL/U.Birkbeck)
José Neves (ICS-UL)
Ricardo Noronha (IHC-UNL)

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PROGRAMA

11 DE ABRIL

9h30
Sessão de Abertura

10h Maio no Mundo

Fernando Rosas
Teses sobre a geração dos anos 60 em Portugal e a questão da hegemonia

Gerd-Rainer Horn
Um conto das duas europas

Manuel Villaverde Cabral
Maio de 68 como revolução cultural

14h30 Ideias de Maio

Anselm Jappe
Maio de 68, do assalto aos céus ao capitalismo em rede. O papel dos situacionistas

Daniel Bensaid
Como ser possível pensar poder quebrar o ciclo vicioso (da dominação)

Judith Revel
1968, o fim do intelectual sartriano

12 DE ABRIL

10h Maio em Movimento

Maud Bracker
Participação, encontro, memória: os imigrantes e o Maio de 68

João Bernardo
Estudantes ou trabalhadores?

Franco Berardi (Bifo)
68 e a génese do cognitariado

14h30 O Outro Movimento Operário

Xavier Vigna
As greves operárias em França em 1968

Yann Moulier Boutang
Maio de 68, herança por reclamar na divisão de perdidos e achados da História

John Holloway
1968 e a crise do trabalho abstracto

18h 1968 - 2008

Bruno Bosteels
A revolução da vergonha

François Cusset
Os embalsamadores e os coveiros

Livro de memórias do cartoonista Vasco de Castro sobre as suas vivências nos anos 60 em Paris

Montparnasse
Até ao esgotamento das horas
de Vasco de Castro
Salamandra, 2ª edição

Sobre o Livro:
Que fazer quando se tem vinte anos, se está em Paris, de excelente saúde e encantado da vida? Vivez! Ah! Vivez donc! Et qu’importe la suite!, proclamava Blaise Cendrars na sua fúria de viver dos anos 20.
Nesta obra o autor descreve a experiência excessiva de um local eleito e de uma época singular – Montparnasse, anos 60 –, os rigores do exílio e a música permanente da «festa móvel», as sedes e fraternidades pícaras de uma fauna bizarra, delirante, patética e as entradas pela noite parnassiana dentro, até ao esgotamento das horas.



«O que faz com que estes relatos de Vasco se leiam como não houvesse a patine do tempo? Em primeiro lugar, a caracterização das pessoas e lugares. Veja-se como ele fala de Max: “Há pessoas que nasceram com a cara errada. Max exibia uma carantonha de assustar, as pestanas espessas, os maxilares de pele no osso e um tronco largo, de velho embarcadiço. Não era feio, era intenso. Mais chegado, sentia-se a bondade extrema daquele bicho de figura enorme como uma caricatura. Os olhos, sobretudo os olhos, e a voz, pausada e meiga, acariciavam com ternura os amigos com quem privava, poucos”.
Percebe-se agora como é que Vasco é um dos maiores desenhadores portugueses. Em segundo lugar, temos aqui um relato vigoroso do que fez uma juventude no exílio: ideologicamente plural, umas vezes feitos Fernão Mendes Pintosinhos, outras a resistir no desenrasca, outras a viver o reconhecimento. Vasco teve a lucidez de se deixar na penumbra, é o Vasco folião, engatatão, a esgotar as horas numa das regiões mais febris do mundo que ressalta nos seus registos. Podia ter ficado a nota de sinceridade das amizades com grandes artistas, ele trata tudo e todos por igual, artistas glorificados e artistas falhados, amantes sinceras e relações de ocasião. É a exaltação de Montparnasse e o seu modo de viver que ele cinzela, graceja, recorda com incontida nostalgia, sem ajustes de contas.
Em terceiro lugar, estão aqui algumas das lutas no exílio, o Maio de 1968 e alguma participação portuguesa, notas sobre a vida dolorosa dos emigrantes e a fúria de viver quando o mundo é descoberto e redescoberto todos os dias: o glorioso e o patético, a fraternidade e a canalhice, a crença generosa e as trafulhices políticas. Vasco desenhou em literatura Montparnasse, ícone de Paris, com primor, irreverência e irrestrita jovialidade. O que justifica ler-se Vasco como um desenho fadado à posteridade.»
Beja Santos, in O Primeiro de Janeiro




Breve História de Portugal
sugerida por Vasco de Castro

Há um maluco que anda à porrada com a mãe e funda um reino. Depois, um doido desenterra a amada putrefacta e coroa-a rainha. Não contente, senta-a no trono e obriga toda a gente a beijar-lhe o anel no dedo nauseabundo, apodrecido...
Tempos mais tarde, uns quantos loucos metem-se numas cascas de noz (a que, irresponsavelmente, chamaram naus) e zarparam mar adentro, sem sequer saberem o que procuravam. Qual ouro, qual fé?! O que os movia era a zoinice.
O poeta-mor da pátria veio a ser um tal zaragateiro, um gigolô com a mania dos duelos que pela espada perdeu um olho. O maior feito do homem foi quase morrer afogado para salvar uns papéis.
Vá-se lá saber porquê, a doidice, esse atributo único dos portugueses, convenceu-os de que tinham um império. Mas por pouco tempo. Um desvairado rapazolas, um tal D. Sebastião (que nem copular sabia... ou podia), preconiza um sintomático ataque suicida ao Norte de África. O doidivanas, que fez orelhas moucas às sábias advertências dos Reis de Espanha, ainda arrastou para a desgraça meia dúzia de parvos estrangeiros.
Mas a mania do império continuou e chegou até um tal Salazar. Este, azoratado de todo, queria defender a ilusão com um exército de fábula. Sozinho contra o mundo com uma tropa de farrapos e ninguém lhe tirava a cadeira...
Outro exemplo de delírio intelectual é o próprio Fernando Pessoa. Um doido varrido, mas não daqueles que se acham Napoleão. Mais refinado, inventou heterónimos com obra própria, que se correspondiam entre si e que se levavam a sério. Não é de manicómio?
Há que desconfiar deste país...








Texto e entrevista retirados de:
(a edição electrónica do EITOFORA, Jornal de Vilarelho, foi uma louca experiência editorial em Trás-os-Montesque durou de 1998 a 2001: http://www.trasosmontes.com/eitofora/index.html )




A verdade verdadinha é que rumámos a Fontanelas com o objectivo de entrevistar o sátiro Vasco de Castro. Queríamos gravar uma conversa interessante, cheia de ditos sarcásticos, registar respostas mordazes, prender na fita magnética revelações surpreendentes... É certo que tivemos tudo isso — a conversa interessante, os ditos sarcásticos, as respostas mordazes —, mas fomos vencidos pela irrequietude de Vasco, e, nas deslocações entre a sua casa, o ateliê e o "Zé", pouco ficou gravado. É o que dá fazer jornalismo com carácter diletante, com maior preocupação em desfrutar do entrevistado do que em cumprir os compromissos com os leitores. E se, de facto, desfrutámos longamente da visita, por outro lado não podemos (embora às vezes o quiséssemos) deixar de a compartilhar com V.as Ex.as, como manda a boa consciência profissional. O que vai ler (em excertos encadeados) foi, literalmente, a entrevista possível.


Era uma manhã de sol tímido, mas prometedor, a iluminar a verdura da paisagem sintrense. Pela Serra de Sintra andavam, não os queirosianos Carlos da Maia, João da Ega e Alencar, mas os repórteres do Eito à procura do caminho para Fontanelas, a aldeia-refúgio de Vasco de Castro. O instinto fez-nos preterir a paisagem-serrana-com-mar-à-vista a favor de um mais desolador e descampado trajecto saloio que quase nos levava à Ericeira. Os transeuntes a quem recorremos para descobrir a "estrada de Damasco" eram da tropa de ocupação ucraniana, pelo que mais depressa nos diriam o caminho de Kiev. De resto, o acolhimento, quando por fim chegámos a Fontanelas, também tinha sotaque de Leste.

Aqui o instinto funcionou. Na hora da escolha da tasca onde comer o cibo inclinámo-nos sem hesitações para «O Zé». Da excelência da escolha, por motivos gastronómicos e literários, soubemos mais tarde, quando descobrimos ser ali que o Vergílio Ferreira assentava arraiais e quando o Vasco nos confirmou serem o cozido à portuguesa e o cabrito estufado d’ «O Zé» as especialidades da terra. Tinham sido as nossas escolhas, que alarvemente degustámos regadas a abundante tinto. Mal sabíamos que nos esperavam horas «pantagruélicas», como o Vasco as definiu.

Fomos encontrá-lo deitado ao sol no selvagem jardim de sua casa.

Mas afinal quem é o Vasco de Castro? Tão-só um dos mais interessantes desenhadores satíricos que este país viu nascer. Mas o transmontano é mais do que isso (que já não é pouco): culto, divertido, generoso, acutilante, «leitor profissional» e atento, bon vivant, desalinhado, analista mordaz e expressivo (por palavras, trejeitos e peculiares interjeições...) e tudo o mais que define um carácter único.




TRÁS-OS-MONTES

De seu nome completo Agostinho Vasco da Rocha e Castro, nasceu em Agosto de 1935. A família paterna era da Bila (o epíteto carinhoso de Vila Real), «casa na Rua Central (onde agora é um banco), outra casa de família na Rua Direita, a farmácia Baptista, do meu tio-avô...» A mãe era do Castelo, freguesia de Telões, em Vila Pouca de Aguiar. Entre Vila Real e as aldeias do vale de Aguiar estão os «lugares ternos» da sua infância e adolescência, onde forjou um carácter de escarpas graníticas, de acutilância pétrea.

Ainda que tenha abandonado as transmontanas terras, a verdade é que estes lugares o marcaram. «Sempre senti uma lava granítica misturada com o meu sangue», assegura. Será por isso que alguns dizem, por vezes, que tem mau feitio. «Contesto em absoluto! Só que os maneirismos e farsas de outros costumes são-me, ou tento que sejam, alheios!». Trás-os-Montes estará hoje distante desse território «medieval» em que viveu. Mas sente-se «quase um ultra-transmontano, se isso quer dizer algo de preciso».

Sobre a ascendência de Vasco sempre se pode adiantar que houve avôs que «a seu tempo fizeram coisas... política, jornais, poesia...» Gente que partilhou da boémia literária com António Nobre e Afonso Duarte. Pelos jornais e pela literatura, iniciaria Vasco a sua carreira nas artes. O ambiente familiar era propício às leituras, ao contacto com as descobertas que elas proporcionam. Daí às primeiras escrevinhações vai um passo que o Vasco deu, novíssimo, com poemas e jornais familiares, e depois com jornais escolares. Imberbe, ainda iniciou um folhetim, «um pomposo "Mistério do Castelo de Aguiar"», que seria hoje obra de culto da mui bairrista intelligenzia aguiarense, caso tivesse passado do número dois... Mas, para gáudio dos mais ferrenhos desta tribo, ainda deixou registado no Vilarealense, aos treze anos, um texto «romântico-sentimental» sobre o "Vale de Aguiar". Passados os devaneios da primeira adolescência, fez-se correspondente do Mundo Desportivo. Não levava muito a sério o desenho, aquele que viria a ser, de um modo ou de outro, o seu métier, a sua fonte de rendimentos, embora já fosse rabiscando aqui e acolá e anunciando que era capaz de fazer melhor que muito do que via publicado. A primeira vez que gostou de algo pintado, di-lo ele num catálogo de 1987, «teria uns 16 anos, foi quando descobri o Picasso dos anos 40, de traço agreste e selvagem». Agreste e selvagem podem ser adjectivos para o traço de Vasco, um traço que passou por várias depurações e constitui hoje uma marca reconhecida, indelével.

Da sua época transmontana não se pode passar ao lado, por premonitório, dum episódio que lhe mereceu uma suspensão e consequente chumbo no liceu. Estava no sétimo ano e havia uma qualquer sessão solene com todos os alunos, os professores e o Governador Civil. Coisa pomposa, relacionada com a Mocidade Portuguesa. Na verdade, uma chatice que o Vasco quis aliviar com umas naives caricaturas dos professores. Só que os bonecos foram passando de mão em mão, e a estudantada, mal conseguindo reprimir o riso, acabou por denunciar, pelo burburinho, o atrevimento. O resultado foi uma suspensão de oito dias. «Como estava "tapado" às sessões da Mocidade Portuguesa, chumbei o ano por faltas».




Em que altura da vida é que teve a percepção de qual era o seu lado na política?

Na política? Nessas coisas não há assim um dia ou uma hora, como S. Paulo no caminho de Damasco. Não ouvi nenhumas vozes, nem caí do cavalo... Há uma série de sensações e emoções que, como camadas, se vão sobrepondo e cristalizando. Se quiser, apanhei isso em casa. De família. Havia a memória do meu avô e o meu pai que era anti-salazarista. Patológico, quase.

Já havia antecedentes, portanto.

Sim. Há uns genes dificilmente detectáveis, mas que se manifestam, e há coisas que a gente no mundo visível apanha, ouve e integra. Eu vivia num clima que era contra o sistema na altura estabelecido, que era uma coisa pavorosa. Em Vila Real, as coisas adquiriram vivência prática na luta contra a Mocidade Portuguesa e o reitor fascista que estava lá no liceu. Foi meu professor de inglês e de alemão, e tinha o descaramento de ir para as aulas fazer o elogio da Alemanha nazi! Isto dez anos depois de a Alemanha ter perdido a guerra e de se saber muito bem o que era o nazismo. Na altura reagi...

LISBOA

O jovem Agostinho Vasco chega a Lisboa em 1953 para estudar Direito — e, claro, fê-lo por linhas tortas. Os cinco anos da praxe ocupou-os em muito mais do que as sebentas e as aulas. Saiu de lá sem o curso, mas com largas experiências de vida fundadas no activismo estudantil. Mais do que decorar os alfarrábios, agitou culturalmente as hostes, organizando exposições e conferências, envolvendo-se nas artes cénicas. As razões do seu empenho nas actividades culturais a despeito dos calhamaços explica-as pela sensibilidade, ou antes, dizendo que «essas coisas não se explicam, sentem-se».

Como se envolve nas actividades políticas e culturais?

O meu primeiro "exercício político" foi aquele embate com o reitor fascista. Aliás, nazi. E aí tive a consciência que era um embate contra o poder. Contra o poder fascista. E depois quando vim para Lisboa, claro, continuei. Tive também actividade com alguma dinâmica nas sessões académicas de direito. Até inovei um bocadinho, porque tomei conta da secção cultural, onde estive durante dois anos seguidos. Fiz lá pela primeira vez exposições de pintura. Uma delas a desse grupo que agora foi tirado do esquecimento, o KWY, que eu conhecia muito bem. (Quando vim para cá tentei encontrar pessoas com quem me sentisse bem e desaguei rapidamente no Café Gelo. Já ouviram falar no Grupo do Café Gelo, o segundo fôlego do grupo surrealista? Bem, não era exactamente o grupo surrealista como era na primeira fase... O António Maria Lisboa já tinha morrido e quem lá estava como figura tutelar, de referência, era o Mário Cesariny.) Foi a segunda exposição que eles fizeram como grupo. Bom, ainda antes de se chamarem KWY, já que isso foi só em Paris. Na altura chamavam-se Nove Pintores.

Organizei várias exposições, criámos o grupo cénico de direito (que ainda existe), tivemos sessões de poesia, poesia ilustrada, discursos... Até levei lá o António Quadros!... Fez um discurso em nome da Filosofia Portuguesa...

Esse interesse pela cultura vem-lhe de onde?

Cultura?! Você pergunta-se porque se excita quando vê uma rapariga A e não lhe acontece o mesmo quando vê uma rapariga B? É genético, é natural, é normal, uma pessoa excita-se com essas coisas, os aspectos culturais, artísticos, a criação... Eu com dez anos já fazia jornais!...

Mas não teve um ambiente propício?

Sim. Houve o meu bisavô, o meu avô, o meu pai... Havia lá livros... Havia na minha família uma adoração quase religiosa pelo Camilo Castelo Branco. Ainda apanhei histórias sobre os distúrbios, as velhacarias e as coisas que o Camilo fazia lá por Vila Real. Velhacarias não, o termo tem de ser outro... Os desmandos! Eu cresci com o Camilo sempre por perto, e depois lia e gostava imenso...



A gente da sua geração seguiu outros caminhos...

Na minha geração senti-me sempre sozinho.

Mas alguns cresceram nos mesmos ambientes, com as mesmas influências...

Cada um é como é. Em Vila Real o convívio estava baseado em duas coisas: o gosto pelos copos (a boémia possível numa cidade pequenina, de província, fechada) e depois ir jogar futebol para o Calvário (risos).

O seu estilo de vida, que já se esboçara nos últimos anos de liceu em Vila Real, adquire em Lisboa uma forma que é algo mais do que um sfumatto. Aqui inicia a ruptura com qualquer exclusividade profissional. O que lhe apetece são as coisas fáceis, aquelas que lhe permitem experimentar tudo sem a nada se prender. O desenho, que pratica com iniciática assiduidade em publicações como Riso Mundial, Picapau, Cara Alegre, Parada da Paródia, Diário de Lisboa, República, Diário Ilustrado e Mundo Ilustrado, permite-lhe essa relação desprendida com o mundo laboral.

Vai tendo contacto com os desenhadores estrangeiros através dos jornais que vão chegando à capital. Autodidacta, estuda-os, aprende com eles. Começou aí o seu fascínio por Saul Steinberg.

O Steinberg é um génio absoluto, é, seguramente, o artista mais interessante, mais importante de toda a história da arte americana. Que, de resto, não tem história, começou nos anos 40/50... Uma pintura estilo folclórica, à Malhoa, ou menos que isso, à Rosa Ramalho... Depois mitificaram o Andy Warhol e outros... Gajos com uma obrazinha assim assim (e a do Warhol acho-a absolutamente medíocre, detestável, até). Tornaram-nos vedetas porque na América funciona o cacau, o dinheiro. Esqueceram os desenhadores porque os trabalhos eram em A4. Claro, não eram comercializáveis como os quadros de 3 por 4 metros...

A arte está pervertida por várias ideias. Uma delas é o comércio. A crítica, a história da arte, estão ao serviço desses interesses. E chega-se a extremos (estamos no plano zero da estética): esta matulagem com mentalidade de merceeiro chega a isto de dizer "a arte é aquilo que a certo momento se convencione que é arte!" Tudo é arte... É falso! É falso! Isto é falso! Em Paris fiz uma coisa, por irrisão, por gozo... Uma noite qualquer deu-me vontade de cagar e caguei ali no passeio. Com giz fiz um risco à volta e assinei. Olha: obra de arte! (risos) Isto é uma idiotia!... São estórias que a história lavará, saudavelmente.

Em Lisboa experimentou a pintura e foi-se envolvendo ou despoletando publicações culturais. De outubro de 1958 data o n.º 1 (e único) da Coordenada — Cadernos de Convívio literários com capa e coordenação de Agostinho [Vasco] de Castro e onde era redactor outro vilarrealense, o escritor António Cabral. No editorial pode ler-se que «Convívio é um encontro entre jovens escritores e artistas que, lutando até aqui isoladamente, pretendem unir-se para a expansão das suas obras e, juntamente com todos aqueles que se interessam pela cultura, lutar pela concretização de um programa de autêntica divulgação cultural, pondo de parte partidarismos políticos ou religiosos». Um programa actualíssimo, como se vê.

Diferente entre iguais, Vasco surgia aos olhos do Estado como um entre muitos: foi chamado para a tropa em 1960. Inventou padecimentos e conseguiu adiar a ida para Mafra por um ano. 1961 vê-lo-ia integrando um dos primeiros contingentes da guerra colonial se o rapaz não tivesse zarpado para Paris, a cidade-luz


MONTPARNASSE


Foi para Paris em busca de ar que respirar, para se «lavar de tudo o que era português e cheirava a bafio». Ali encontrou, como ele próprio diz, a sua pátria, encontrou «amigos, mulheres, a noite, o prazer, e as artes... todas!».


Em Paris cumpriu o desígnio de qualquer emigrante ou exilado. Experimentou os mais variados trabalhos até descobrir que tinha um modo de sobreviver sem vergar grandemente a espinha, sem vínculo efectivo a nenhum patrão: o desenho. Com este métier, que lhe era agradável, nada custoso, garantia o vil metal que lhe sustentava os dias, e, sem que o soubesse, iniciava a carreira (por mais que o termo lhe desagrade) que lhe há-de dar pôr o nome numa rua (a homenagem póstuma é um dos desportos nacionais...).

O Stuart Carvalhais tem o nome numa rua em Vila Real. O Vasco está-se a ver com o nome numa rua?


Como?! Não me goze... Não me goze... Nem me esteja a empurrar para o buraco, porra! (risos)


Não vê que em Oeiras até erguem estátuas contra a vontade dos artistas vivos? Quer-me parecer que o Vasco não se livrará de ter o nome numa rua de Vila Real. O problema vai estar em saber se será "Rua Vasco de Castro" ou "Rua do Vasco"...


Não goze comigo, por favor... Falemos de outra coisa.

Até poderia ter sido a escrita em jornais a salvá-lo de trabalhos mais árduos, mas não dominava suficientemente o francês. Por isso eram folhas rabiscadas o que levava debaixo do braço quando ia bater às portas das redacções dos jornais a oferecer os seus préstimos. Com bons resultados, porque o desenho beneficiava de muito prestígio nos jornais de França.


Paralelamente, ou principalmente, depois de se instalar em Montparnasse (bairro a que chamaria «mon village»), foi fazendo vida, descobrindo gente, conhecendo os lugares mais interessantes, fazendo activamente a oposição possível ao regime português, namorando uma filha de Sartre... Mas, para lá dos prazeres que obteve, do cinema que chegou a fazer, ou dos méritos do seu panfletarismo anti-salazarista, o que sobressaiu da sua cidadania parisiense foi a colaboração nos jornais franceses. E foram muitos aqueles onde deixou a sua marca: inicialmente L’Humanité, mas depois sucederam-se Le Monde, Figaro-Magazine, L’Unité, L’Actualité, France-Observateur e outros. No L’Unité, enquanto ilustrava a primeira página, François Miterrand escrevia uma nota de análise política e cultural na última, e, por isso, tiveram alguns contactos. Regista-se esta curiosidade pelo pícaro da visita de Miterrand a Portugal, quando este, a um Mário Soares algo incomodado, lhe pergunta se conhecia son ami Vasco...


Mas, por mais que a atmosfera de Paris estivesse nos antípodas da bolorenta existência portuguesa, não houve portuga que resistisse a um prometedor 25 de Abril. Vasco foi um deles. Regressou. De Montparnasse, son village, ficariam as surpreendentes (e deliciosas) crónicas no Diário de Notícias que escreveria mais tarde.


LISBOA


No catálogo Viagens aos Amares da China Vasco confessa que regressou ao país por ingenuidade. E, se ainda se envolveu nalguma militância política, rapidamente se encheu de frustrações e percebeu que, de algum modo, as suas coordenadas ideológicas o ostracizavam. Um novo exílio não tardaria. Mas, antes que a desilusão o tomasse de todo, fez o que sempre fez: jornalismo. Criou ou ajudou a criar jornais e suplementos com muita gente conhecida que ainda hoje se mantém no activo, embora dispersa; escreveu, desenhou... Satirizou. De relevo, para além das crónicas no Diário de Notícias (e do mais que a ignorância dos repórteres não permite realçar) são os perfis que fez para a extinta revista Mais sob o título genérico "Photomaton".

FONTANELAS


Cansado do ambiente lisboeta, refugiou-se em Fontanelas. Antes de tudo, «porque era campo». O transmontano regressa à serrania.


Na verdade, Fontanelas e arredores era campo, mas campo-perto-da-cidade. Como o próprio Vasco explica, «a Praia das Maçãs [ali perto] era um sítio muito cotado já na 1.ª República. Os nossos impressionistas, Malhoas e outros, faziam muitas pinturas da Praia das Maçãs. Colares [outra localidade próxima] era de certo modo um sítio snob». A inteligência, ontem como hoje, tinha ali a sua casinha de fim de semana. Acreditamos que não foram estas as razões que levaram Vasco para aquelas bandas (ele que já se manifestou ruidosamente contra a nova invasão de vip's), mas uma certa proximidade da Serra de Sintra, substituto possível do medieval Trás-os-Montes da sua infância.


Ali, em Fontanelas, Vasco conviveu com um dos mais importantes escritores portugueses do século XX (assumimos a responsabilidade da classificação) — Vergílio Ferreira. O escritor era um habitué do "Zé", onde tinha mesa marcada. No local há uma placa alusiva ao facto com uma reprodução da caricatura que Vasco lhe fez.


No retiro sintrense, Vasco de Castro regressou à pintura. Montou ateliê e soltou os pincéis. Fomos lá para ver os seus trabalhos, mas acabámos a provar um tinto de Fontanelas (arenoso, portanto). Entre dois goles falámos.

Picasso é, para mim, o pintor nuclear do século XX.


Também tem uma predilecção especial pelo Bacon, não tem?


Pois. O problema é o das grandes famílias. O Bacon é o Picasso com alucinógenos e com sexualidade homo.


E isso tem influência na pintura?


Claro. A sexualidade tem influência em tudo, também na pintura. Ainda há dias li uma frase do Picasso (daquelas coisas que às vezes são tiradas do contexto), que dizia: "A arte toda é sexual", ou coisa parecida.


Aquela "desfiguração", se assim se lhe pode chamar, que o Vasco usa nas suas pinturas à semelhança do Bacon é só uma inspiração estética ou é algo mais?


Uma pessoa quando faz qualquer coisa, pintura, desenho, seja o que for, preenche-a conforme a sua personalidade e a sua sensibilidade artística, de criador. Só as criancinhas fazem arte ingénua. O adulto já está informado de muitas coisas, portanto encontrou a sua família. Eu sou, se não é muita petulância, filho do Bacon e do Picasso.


Mas há uma intenção de desfigurar, ou de buscar a figura por trás de...


O problema da transformação... Toda a arte é transformação, é deformação... Há uma ideia absolutamente errada e bicharoca em termos estéticos de que a arte é a fidelidade ao real. Não é! O real é uma ficção... estética. Um quadro não é uma representação passiva do visível; é uma representação conforme a história estética, a sensibilidade, as capacidades, as ideias criadoras, o talento de alguém. Agora, o que devemos entender é que houve qualquer coisa, que tomou fôlego no século XIX, que é a transformação, o absurdo, e isso foi feito em primeira mão pelos desenhadores satíricos.


O desenho satírico é o estilete sobre o abcesso. A ver se a merda salta, o pus...



Nós temos defeitos genéticos, somos muito maneiristas. Temos a tendência normal de fazer o bonitinho, o amaciado. O desenho satírico tem de ser o mais cru possível, o mais fero... Claro que tem de ter algumas regras estéticas, estilísticas.


E como vê o desenho satírico actualmente em Portugal?


Eu acho que, de uma maneira geral, o desenho satírico cá é mais ilustração do que desenho satírico. Ilustração de uma ideia. Há uma ideia e há a ilustração daquela ideia. O desenho satírico tem a obrigação de ser ele mesmo a informação primeira, e não qualquer texto.

Antes que este relato se pareça com a crónica póstuma de Vasco de Castro, seja-nos permitido dizer que o transmontano exilou-se mas não se reformou. Dos desenhos e da vida. Todas as semanas, religiosamente aos Domingos, os desenhos de Vasco dizem-nos de Portugal (e do mundo) no jornal Público. Mas, para além disso, criou um site na Internet (www.vascoSATIRI.COM) onde mensalmente comenta a actualidade política e social sem os pruridos da imprensa diária. E, se é capaz de deixar o presidente da República pendurado nas exposições (como aconteceu na sua última, este ano, promovida pelo Museu da Imprensa), não se inibe de envergonhar os conterrâneos repórteres dando-lhes lições de como bem comer e melhor beber. Coisa que, o leitor sabe, não é fácil...


Vasco, que numa versão resumida da lusa história nos tinha alertado que «Portugal é um país de desconfiar», prepara novas actividades subversivas. A deontologia impede-nos de as anunciar. Mas têm a ver com a sua opinião sobre a actualidade política que transcrevemos no último trecho da entrevista.

Como é que vê a actualidade política uma pessoa que viveu o Maio de 68?


Lá estão vocês outra vez... Eh pá, tratem-me bem! Não me insultem (risos)!


Como é que se situa politicamente nos dias de hoje?


Bem, o melhor é bebermos mais um copo...

Bebemos. Vários.

NOTA: Parte dos dados biográficos desta reportagem foram retirados dos Catálogos Vasco — Viagens ao Amares da China (Prémio Stuart-Regisconta '87) e Vasco — Desenhos Satíricos, 1955 – 2000 (Museu Nacional da Imprensa).

Seminário sobre Construção e Recuperação de Edifícios em Taipa (4 e 5 de Abril em Almodôvar)


A Câmara Municipal de Almodôvar é a organizadora e anfitriã do Seminário Construção e

Recuperação de Edifícios em Taipa, que se realizará nos dias 4 e 5 de Abril de 2008 na sede do concelho de Almodôvar.

Objectivos:
Promover e divulgar a construção e recuperação de edifícios em taipa;
Contribuir para a formação dos diversos intervenientes na construção e recuperação deste tipo de construção;
Contribuir para um desenvolvimento regional sustentável;
Promover o uso de materiais tradicionais.

Programa:


Dia 4 de Abril:


10.00h – Recepção aos participantes
10.20h – Abertura do Seminário
António Sebastião - Presidente da Câmara Municipal de Almodôvar
10.30h – Arquitectura de Taipa
– Arqª Maria Teresa
– Arq.ª Mariana Correia
11.30h – Coffee break

12.00h – Materiais e o seu comportamento
– Engª Gorety Margalha
12.30h – Almoço
14.30 h – Arq.ª Catarina Pereira
15.00h – Conservação e Recuperação
– Arqª. Patrícia Bruno
15.30 h – Coffee Break
16.00 h – Engº Pedro Lança/ Sofia Soares
16.30h – Arqº Miguel Mendes
17.00h – Encerramento

Dia 5 de Abril


10.00h – Arquitectura de Taipa
– Arqº Quintino
– Arqª Teresa Beirão
– Arqº Costa Cabral
11.30h – Coffee Break
– Visita (como se fabrica adobe, mestre Manuel Catarina a fazer
demonstração)
12.30h – Almoço
14.30h – Visita guiada por a autora do estudo "taipa no Alentejo" Arqª Mariana
Correia .
16.00h – Encerramento dos trabalhos.
Nota: as visitas programadas dependem das condições meteorológicas.


Participação: 30 euros


Enviar a ficha de inscrição para o
Sector Cultural da Câmara Municipal de Almodôvar.

Contactos:
Câmara Municipal de Almodôvar
Rua Serpa Pinto
7700-081 Almodôvar
Telf. 286 660 600
Fax: 286 662 282
saeas@cm-almodovar.pt
http://www.cm-almodovar.pt/

Conversa com um militante da CNT francesa sobre Movimento Social Subúrbios e Sindicalismo em França


CONVERSA ( em português) COM GEORGES
militante anarco-sindicalista da CNT-Paris

sobre

MOVIMENTO SOCIAL SUBÚRBIOS E SINDICALISMO EM FRANÇA


28 Março - 6ª feira às 21 H


Local:
CREW HASSAN
Rua das Portas de Santo Antão, 159
Lisboa


Organização:

Manifestação contra a precariedade (Rossio, 28 de Março às 14h30) promovida pela Interjovem da CGTP

20.3.08

A esquizo-análise do capitalismo real e como subvertê-lo pela filosofia do desejo


Finalmente editada e vertida para português corrente uma das obras fundamentais do pensamento contemporâneo, o livro de G. Deleuze e F. Guattari, «Mille Plateaux». Dele emergem conceitos e instrumentos de análise para ajudar a analisar a esquizofrenia do capitalismo real e o modo como poderemos subvertê-lo criando um mundo mais livre e desejante. Trata-se de uma obra de leitura difícil, entre a filosofia e a análise social, resultado da frutuosa colaboração da parceria entre o Deleuze, filósofo, e o Guattari, psicanalista.

19.3.08

O Hot Clube de Portugal faz hoje 60 anos. Viva o jazz!







Foi a 19 de Março de 1948 que Luís Villas-Boas fundou o Hot Clube de Portugal abrindo um espaço próprio para ouvir a grande música que é o jazz com todas as variantes que ela é capaz de oferecer.
Vivia-se um ambiente de claustrofobia ditatorial e toda a novidade, mesmo de carácter musical, esbarrava contra a inércia larvar de um Portugal pasmado. Apesar disso nas décadas seguintes viveram-se por lá momentos únicos com alguns nomes do jazz a marcarem presença e um auditório a mostrar-se cada vez mais ansioso por novas formas expressivas na música mas também na sociedade e na vida em geral. Por lá passaram lendas como Louis Armstrong, Count Basie, Dizzy Gillespie, Sidney Bechet, Vinicius de Moraes, Dexter Gordon...

A estrutura interna do Hot Clube com uma cave pequena estimulava a cumplicidade e a entrega a sensações entre os presentes que se acantonavam para ouvirem a estranha e deliciosa música dos negros... O nº 39 da Praça da Alegria era o ponto de passagem para quem habitava fora do provincianismo dominante. O Hot sempre teve, aliás, uma componente pedagógica, promovendo e organizando cursos de formação e divulgando o jazz.

O Hot Clube de Portugal tem na actualidade ao seu cuidado um vasto espólio que integra fundos doados por sócios , nomeadamente pelo seu sócio fundador Luiz Villas-Boas constituídos por discos, livros, gravações, jornais, cartazes, fotografias, etc. Estes documentos estão a ser tratados, catalogados e preparados para integrarem um futuro Museu do Jazz em Portugal.




Para comemorar o 60.° aniversário, o Hot Clube de Portugal tem um programa que ainda não está encerrado mas onde se destaca a exposição sobre o HCP, a realizar em Maio na Fábrica Braço de Prata. Quanto ao programa de festas e aos concertos, é este, por enquanto, o cardápio para os próximos tempos:

19 de Março Concerto no Cinema S. Jorge, com a Big Band do HCP, que tocará um inédito de Mário Laginha, com a colaboração da cantora Maria João.

20, 21 e 22 de Março às 23:00
Julian Argüelles Quartet
Julian Argüelles sax t
Bernardo Sassetti piano
Bernardo Moreira ctb
Alexandre Frazão bat


27, 28 e 29 de Março às 23:00
Sexteto de Zeca Neves "Future Now"
Jorge Reis sax alto
Nuno Ferreira guitar
Alexandre Diniz piano
Zeca Neves ctb;bx
Carlos Miguel bat
Sebastian Schiriff perc.


6 de Abril
Encerramento da 6.ª Festa do Jazz do São Luiz, em Lisboa, com a actuação da Big Band do HCP e convidados.

10 de Maio
Inauguração de uma exposição sobre o HCP, na Fábrica Braço de Prata, com a actuação do Septeto do Hot Clube de Portugal.

27/28 de Junho e 4/5 de Julho
Recriação dos ballroom dos anos 40, com a orquestra do HCP, no Teatro Municipal do São Luiz. Regresso à era das grandes orquestras de swing, com baile ao som de clássicos de Benny Goodman ou Duke Ellington.

Festas de Lisboa
Participação de combos de alunos do HCP nos elevadores da capital (datas por confirmar).

Website do Hot Clube:
http://www.hcp.pt/calendariogeral.asp