Retrato de Aquilino Ribeiro em 1925
Jean Grave
Recensão crítica do livro « A Anarquia – Fim e meios» (L’Anarchie – son but, ses moyens») de Jean Grave , segundo a tradução para português realizada por Raul Pires e Aquilino Ribeiro, que foi editada em 1907 pela Livraria Central de Gomes de Carvalho, Lisboa.
Esta recensão crítica saiu no nº 19, Março de 1910 da Sementeira, publicação dirigida por Hilário Marques.
A anarquia, diz o autor ( está a referir-se a Jean Grave – Nota deste blogue), não se dirige só aos que morrem de miséria. Abraça todas as aspirações e não despreza necessidade alguma. A lista das suas reclamações compreende todas as da humanidade. A anarquia não é mais do que a continuação do eterno protesto dos explorados e dos oprimidos contra os exploradores e os opressores. Demonstra a inanidade de toda a tentativa de melhoria que não ataque os efeitos, deixando subsistir as causas; pretende transformar as bases da ordem económica; visa estabelecer, não a impondo, todavia, uma sociedade igualitária, pela transformação o mais completa possível do estado social, pela abolição de todas as instituições políticas e económicas da hora actual, pela entrega à disposição de cada um, do solo e dos instrumentos de trabalho.
Esta recensão crítica saiu no nº 19, Março de 1910 da Sementeira, publicação dirigida por Hilário Marques.
A anarquia, diz o autor ( está a referir-se a Jean Grave – Nota deste blogue), não se dirige só aos que morrem de miséria. Abraça todas as aspirações e não despreza necessidade alguma. A lista das suas reclamações compreende todas as da humanidade. A anarquia não é mais do que a continuação do eterno protesto dos explorados e dos oprimidos contra os exploradores e os opressores. Demonstra a inanidade de toda a tentativa de melhoria que não ataque os efeitos, deixando subsistir as causas; pretende transformar as bases da ordem económica; visa estabelecer, não a impondo, todavia, uma sociedade igualitária, pela transformação o mais completa possível do estado social, pela abolição de todas as instituições políticas e económicas da hora actual, pela entrega à disposição de cada um, do solo e dos instrumentos de trabalho.
A emancipação humana, diz ainda o autor, não pode ser obra de nenhuma legislação, de nenhuma outorga de liberdade porparte dos que dirigem; só pode ser obra do facto realizado, da vontade individual, afirmando-se por actos. Os indivíduos devem ter a estima de si mesmos, a convicção da sua própria força, devem fazer respeitar a sua dignidade. Para que o estado social anárquico possa estabelecer-se é preciso que cada indivíduo, tomado isoladamente, saiba governar-se por si, saiba fazer respeitar a sua autonomia, sabendo respeitar a dos outros e igualmente livrar a a sua vontade das influências ambientes: - este deve ser o fim positivo das nossas aspirações, da nossa propaganda; dele devemos procurar aproximarmo-nos o mais possível.
Pelo que respeita aos meios. Afirma o autor que aos indivíduos bastará quererem ser livres, para encontrarem os meios de o ser. Onde quer que haja oprimidos, pobres, assalariados, espíritos sequiosos de independência – conservando como ponto de referência, o ideal nitidamente definido, traga cada um a sua parte de desejos e de aspirações à obra de transformação. A guerra é de todos os dias, de todos os instantes: o combate começa a ser travado por algum mais impaciente, e , imitado por outros, continua até que a intensidade da luta faz mover as multidões. À táctica, portanto, só preside a iniciativa individual: comando superior, unidade determinada por chefes não existe, - o que não quer dizer que não possa ou não deva haver coordenação pelo acordo das diversas iniciativas.
E, saindo deste campo mais ou menos abstracto, depois de defender a abstenção geral como o começo da acção, e de analisar a violência em geral, a propaganda pelo facto e o roubo, ocupa-se detidamente daquilo que o autor chama as cinco correntes principais que na anarquia tendem a realizar alguma coisa. Essas correntes ou modos de actividade são:
1º) a recusa do serviço militar;
2º) a fundação de colónias, agrupamentos, onde núcleos de anarquistas vivam o mais conformemente possível com a sua maneira de pensar;
3º) as questões operárias, o sindicalismo, as cooperativas;
4ª) a educação das crianças;
5º) a propaganda nos campos.
Modos de actividades, diz. É que existem outros – ao tempo e aos acontecimentos cabe indicar ainda outros. Uma comparação define magnificamente o papel dos anarquistas. A propaganda, a evolução e revolução, como ele as entende, parecem-se com a obra desses micro-organismos, imperceptíveis a olho nú, cujo labor individual não é apreciável pelos nossos sentido, mas que continuando o seu trabalho de agregação e desagregação, multiplicando-se ao infinito, chegam pelo seu pululamento a transformar o meio em que evoluem, pondo toda a matéria em fermentação e transformando-a sem nenhuma outra força para além da sua própria actividade.
José Luiz
Informação suplementar:
Note-se que Jean Grave, tal como a maioria dos dirigentes anarquistas franceses, era opositor à prática do terrorismo bombista como forma de luta contra o Estado. Jean Grave era director da influente revista Les Temps Nouveaux e assumia um certo destaque no movimentos anarquista internacional. Da sua obra sobressaem «A Sociedade Futura», «A Anarquia – fins e meios» ( traduzido por Aquilino Ribeiro), e «A sociedade moribunda e a Anarquia», todos traduzidos para português em 1902, 1907 e 1909, respectivamente.