As arruaças dos camionistas parecem ter feito escola. Agora é a tropa, com generais como Loureiro dos Santos e Garcia Leandro a chantagearem o Estado com eventuais "disparates" de oficiais "mais corajosos, destemidos e talvez menos prudentes", e Vasco Lourenço a avisar: "Não provoquem as pessoas…" e a sugerir que, se estivéssemos nos anos 60, estariam criadas condições para um golpe de Estado.
Isto porque parece que um coronel ganha metade do que ganha um juiz de círculo e porque os militares não têm um sistema de saúde decente.
O problema é que, contrariamente aos outros portugueses que ganham mal e não têm sistemas de saúde decentes, os militares possuem armas e, aparentemente, os "mais corajosos e destemidos" estarão dispostos a usá-las em proveito próprio.
Em Dezembro, a Costa Rica comemora 60 anos sem Exército e sem ameaças de golpes de Estado. Os milhões assim poupados foram para obras sociais, saúde e educação, e a Costa Rica é hoje um país pacífico e um dos mais desenvolvidos da América Latina. Talvez seja altura de também nós repensarmos para que precisamos hoje de Forças Armadas.
Quando entro em polémicas, escolho os interlocutores. Desta vez abro, sem exemplo, uma excepção. Escreve-me um leitor com péssimas relações com a gramática insultando-me (adivinho-o fardado) por aqui ter sido questionada a utilidade das Forças Armadas (FA) hoje em Portugal, e ter sido evocado o exemplo da Costa Rica, que comemora 60 anos sem tal coisa, assim canalizando recursos para o investimento produtivo, a saúde e a educação.
Pergunta-me esse leitor se sei qual é a dívida externa da Costa Rica. Sei: é de 7,4 mil milhões de dólares (a de Portugal é de 461,2 mil milhões, a que não será alheio o facto de a Costa Rica gastar com os seus 12 mil polícias 0,4% do PIB e Portugal 2,3% com as FA).
Sei ainda que a taxa de desemprego da Costa Rica, em 2007, foi (sem milhares de empregos nas FA) de 4,6% e a de Portugal de cerca de 8% e que, no mesmo ano, a sua economia cresceu 6,8% (a de Portugal 1,8%) e a sua produção industrial 7,3% (a de Portugal 2,3%).
Tudo pode e deve ser questionado, e as FA também, sobretudo quando, como agora, delas surgem ameaças surdas contra a normalidade democrática