A POESIA NÃO VAI
A poesia não vai à missa,
não obedece ao sino da paróquia,
prefere atiçar os seus cães
às pernas de deus e dos cobradores
de impostos.
Língua de fogo do não,
caminho estreito
e surdo da abdicação, a poesia
é uma espécie de animal
no escuro recusando a mão
que o chama.
Animal solitário, às vezes
irónico, às vezes amável,
quase sempre paciente e sem piedade.
A poesia adora
andar descalça nas areias do verão.
Eugénio de Andrade, O Sal da Língua, 1995.
Os restos mortais do poeta Eugénio de Andrade, falecido há três anos (13 de Junho de 2005), foram no aniversário da sua morte, trasladados do jazigo municipal do cemitério do Prado do Repouso, Porto, para um túmulo desenhado e oferecido pelo arquitecto Siza Vieira.
"Creio que com este túmulo, com esta pedra lisa de mármore branco, ele [Siza Vieira] foi extremamente fiel à poesia de Eugénio de Andrade. Diria que os dois se entenderam muito bem", considerou Arnaldo Saraiva, presidente da Fundação com o nome do poeta. O escritor sustentou que a "simplicidade" da obra "diz bem não só com o poeta, mas também com o homem". "Tenho a certeza que ele [Eugénio de Andrade] gosta deste túmulo, porque viveu sempre de uma forma discreta e pobre. Eugénio de Andrade nunca viveu com luxo e até detestava o luxo", salientou.
Na "morada definitiva" de Eugénio de Andrade, uma campa rasa em mármore branco, estão inscritos uma quadra do livro "As Mãos e os Frutos", que o próprio sugeriu que poderia constar do seu túmulo, e um poema escolhido pelos amigos.
Autor de uma importante obra poética, de que se destacam "As mãos e os frutos" (1948), "Limiar dos Pássaros" (1972), "Memória de Outro rio" (1978), "Branco no Branco" (1984), "O outro nome da terra" (1988), "O Sal da Língua" (1995) e "Poesia" (2000), Eugénio de Andrade é um dos poetas portugueses mais traduzidos. A sua obra foi premiada por diversas vezes, destacando-se o "Prémio Europeu de Poesia", em 1996, o "Prémio Vida Literária", da Associação Portuguesa de Escritores, em 2000, e o "Prémio Camões", em 2001.
A poesia não vai à missa,
não obedece ao sino da paróquia,
prefere atiçar os seus cães
às pernas de deus e dos cobradores
de impostos.
Língua de fogo do não,
caminho estreito
e surdo da abdicação, a poesia
é uma espécie de animal
no escuro recusando a mão
que o chama.
Animal solitário, às vezes
irónico, às vezes amável,
quase sempre paciente e sem piedade.
A poesia adora
andar descalça nas areias do verão.
Eugénio de Andrade, O Sal da Língua, 1995.
Os restos mortais do poeta Eugénio de Andrade, falecido há três anos (13 de Junho de 2005), foram no aniversário da sua morte, trasladados do jazigo municipal do cemitério do Prado do Repouso, Porto, para um túmulo desenhado e oferecido pelo arquitecto Siza Vieira.
"Creio que com este túmulo, com esta pedra lisa de mármore branco, ele [Siza Vieira] foi extremamente fiel à poesia de Eugénio de Andrade. Diria que os dois se entenderam muito bem", considerou Arnaldo Saraiva, presidente da Fundação com o nome do poeta. O escritor sustentou que a "simplicidade" da obra "diz bem não só com o poeta, mas também com o homem". "Tenho a certeza que ele [Eugénio de Andrade] gosta deste túmulo, porque viveu sempre de uma forma discreta e pobre. Eugénio de Andrade nunca viveu com luxo e até detestava o luxo", salientou.
Na "morada definitiva" de Eugénio de Andrade, uma campa rasa em mármore branco, estão inscritos uma quadra do livro "As Mãos e os Frutos", que o próprio sugeriu que poderia constar do seu túmulo, e um poema escolhido pelos amigos.
Autor de uma importante obra poética, de que se destacam "As mãos e os frutos" (1948), "Limiar dos Pássaros" (1972), "Memória de Outro rio" (1978), "Branco no Branco" (1984), "O outro nome da terra" (1988), "O Sal da Língua" (1995) e "Poesia" (2000), Eugénio de Andrade é um dos poetas portugueses mais traduzidos. A sua obra foi premiada por diversas vezes, destacando-se o "Prémio Europeu de Poesia", em 1996, o "Prémio Vida Literária", da Associação Portuguesa de Escritores, em 2000, e o "Prémio Camões", em 2001.