A revista francesa Marianne, no seu número 572 de 5/4, recorda a situação de Mumia Abu-Jamal com uma crónica de Jack Dion que merece tradução integral.
Mumia Abu-Jamal , o prisioneiro da vergonha
O seu nome simboliza simultaneamente a iniquidade da justiça americana e o escândalo da pena de morte.
Hoje, se voltamos a falar de Munia Abu-Jamal, jornalista, antigo membro das Panteras Negras, condenado à morte pelo controverso assassinato de um polícia, em Filadélfia, em 1981, é porque renasce a esperança daqueles, numerosos, que esperam vê-lo sair para sempre do corredor da morte, onde está aprisionado há 26 anos.
No momento actual, Mumia Abu-Jamal não está mais oficialmente condenado à pena capital, por força de irregularidades processuais. Com efeito, os juízes de um tribunal federal de recurso proferiram uma sentença que não anula em nada a culpabilidade deste jornalista de 53 anos, mas simplesmente a pena à qual tinha sido condenado, no fim de um processo que é um insulto à consciência. Perante a imprensa, Lynne Abraham, procurador do Estado da Pensilvânia, não hesitou em declarar : «Não chorem lágrimas por M. Abu-Jamal. Ele está onde deve estar, em prisão, pelo menos até ao fim dos seus dias.» Em suma, se o jornalista não é morto por envenenamento, ou por electrocussão, ele sê-lo-á de outra maneira, estando prisioneiro por toda a vida. Mumia Abu-Jamal foi condenado à morte em 3 de Julho de 1982, pela morte do polícia Daniel Faulkner. Na época, Abu-Jamal, conhecido como «a voz dos sem voz», tinha-se convertido em taxista da noite, após ter perdido o seu emprego de jornalista sob pressão do FBI que o tinha na sua linha de mira.
O que é que verdadeiramente se passou na noite do drama, em que Mumia Abu-Jamal foi encontrado ferido e Daniel Faulkner morto ? Ninguém o sabe, tantas são as zonas de sombra que permanecem. Em contrapartida, é certo que o julgamento se realizou na sequência de um processo ubuesco: peritagem balística inexistente, balas não identificáveis, testemunhas subornadas ou ameaçadas, relatórios de polícia contraditórios... Mumia Abu-Jamal foi condenado à pena capital em Julho de 1982. Depois desta data, foi encerrado no corredor da morte, onde se bate por obter um novo processo, encorajado por um campanha de solidariedade internacional onde brilha um grande ausente: Repórteres sem Fronteiras, uma organização mais preocupada com a justiça chinesa do que com a americana.
Quarenta anos depois do assassinato de Martin Luther King, o líder negro que se batia pelos direitos cívicos, a América honrar-se-ia se não se obstinasse em justificar o injustificável.»
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