30.4.06

Contra-cultura ( aproximação a uma definição)



Costuma-se associar o termo de contra-cultura – que foi popularizado pelo livro «The making of a Counter Culture» de Theodore Roszak em 1969 – aos anos sessenta. Mas se ensaiarmos uma definição logo veremos que a contracultura não é privativa do ambiente cultural vivido nessa década e que, pelo contrário, podemos encontar manifestações contra-culturais em muitas outras épocas e latitudes.

«…o essencial de uma contra-cultura, enquanto fenómeno histórico perene, é marcado pela afirmação do poder do indivíduo a criar a sua própria vida, e não tanto em aceitar os diktats das convenções sociais ou das autoridades da época, quaisquer que sejam as configurações com que o pensamento dominante e as subculturas se apresentam»

Trata-se, é certo, de uma definição algo vaga, que carece de precisões acerca dos princípios e valores, sobre o que distingue o pensamento dominante e as subculturas dominadas, quer de grupos étnicos e religiosos minoritários quer de grupos dissidentes contra-culturais.

As características fundamentais da contra-cultura são de 3 ordens:

- a contra-cultura confere primazia ao indivíduo relativamente às convenções sociais e às condicionantes governamentais
- a contra-cultura questiona o autoritarismo em todas as suas formas, desde as mais subtis às formas mais brutais
-a contra-cultura pressupõe a relação estreita entre a transformação individual e as mudanças sociais.

O indivíduo está, pois, no centro da contra-cultura. Concepções segundo as quais a mudança social se funda em valores altruístas e em que o individualismo é sempre entendido como um egoísmo são logicamente estranhas à contra-cultura.
Com efeito, o individualismo deve ser compreendido conforme o preceito socrático « Conhece-te a ti mesmo», além de que o individualismo contra-cultural é um individualismo profundamente compartilhado.

No prefácio de um dos seus livros, Timothy Leary sublinha a diferenciação entre movimentos contra-culturais e movimentos políticos:

«O meio de acção privilegiado de uma contra-cultura é o poder das ideias, das imagens e da expressão artística, e não a obtenção de poderes pessoais ou políticos. Consequentemente grupos minoritários, alternativos ou partidos políticos radicais não são contra-culturais. Se é certo que os movimentos contra-culturais tem implicações políticas, a verdade é que a tomada do poder e o facto da sua conservação exigir a adesão a estruturas muito rígidas fazem que tal se torne incompatível com a inovação e a criação que estão na base e é a razão de ser da contra-cultura. Ou seja, organização e instituição são incompatíveis com a contra-cultura.»

Outras características da contra-cultura:
- rupturas e inovações radicais em matéria de arte, ciências, espiritualidade, filosofia e modos devida.
- A diversidade.
- Uma comunicação aberta e autêntica, um contacto inter-pessoal profundo, assim como uma generosidade e uma partilha de meios.»
E não menos preciosa é a distinção entre a contra-cultura e as subculturas:
«...as contra-culturas são movimentod transgressivos de vanguarda. As contraculturas revelam uma excepcional diversidade. Pelo contrário, as subculturas definem-se geralmente por uma espécie de conformismo minoritário ou alternativo.»

Qualquer fenómeno contra-cultural envolve uma reacção repressiva da parte do pensamento dominante do sistema instituído. E, no limite, até a sua recuperação:
« O sistema integra a fraseologia contra-cultural na sua própria propaganda, ao mesmo tempo que os poderes económicos reduzem a arte e a estética contra-cultural a produtos de consumo.»
Em contrapartida, os artistas contra-culturais optam pelo exílio ou pela retirada para comunidades mais ou menos isoladas.

De qualquer forma a separação e o distanciamento relativamente ao pensamento dominante não é propriamente de carácter geográfico e pode até exigir formas muito subtis para que se faça a sua diferenciação:

«Os beats distanciaram-se do hiperconformismo característico da sociedade norte-americana dos anos cinquenta recorrendo a uma maneira de se vestirem e a uma recusa em participarem nessa corrida de ratos, ainda que à custa de uma certa pobreza».

Eco-teologia ( Leonardo Boff)


«A mesma lógica que leva a explorar as pessoas, as classes, os países, é também a que leva a explorar a natureza».

«A mesma lógica que leva a explorar as pessoas, as classes, os países, é também a que leva a explorar a natureza». É o que diz o teólogo Leonardo Boff (n. Concórdia, Brasil, 1938) que deu ontem em Madrid uma conferência no fim de uma intensa semana de seminários e encontros realizados em vários fóruns. De manhã interveio na Universidad Carlos III a propósito da Biodiversidade e do futuro da terra, e às 8 horas da tarde já se encontrava na Casa da América a reflectir sobre a actualidade da teologia da libertação. Em ambas as iniciativas a apresentação esteve a cargo do também teólogo Juan José Tamayo.
Pioneiro da teologia da libertação e também a sua figura mais conhecida, Leonardo Boff doutorou-se em 1970 em Teologia e Filosofia pela Universidade de Munique (Alemanha), onde publicou, de resto, o seuprimeiro livro, aos 26 anos, apadrinhado e financiado pelo cardeal Joseph Ratzinger, hoje Papa Benedicto XVI. Quinze anos depois foi sujeito a um processo que lhe foi movido pela Congregação para a Doutrina da Fé ( ex-Santo Ofício da Inquisição), a que presidia o próprio Ratzinger, e no fim do qual foi remetido ao silêncio por decisão dos inquisidores. Alguns anos mais tarde Leonardo Boff viria a abandonar a Ordem dos Frades Menores ( franciscanos), continuando a exercer, no entanto, o cargo de professor de Ética, Filosofia da Religião e Ecologia na Universidade do Estado de rio de Janeiro. É autor de 72 livros em áreas como a Teologia, Espiritualidade, Filosofia, Antropologia e Mística, muitos deles traduzidos em diversas línguas.
Após a publicação da sua obra «Ecologia: grito da Terra, grito dos pobres», Leonardo Boff tornou-se um símbolo da chamada Ecoteologia da libertação.
Ontem, no decurso de uma das suas Conferências, Boff declarou:
«Temos que nos convencer que a Terra é Gaia, isto é, tem um comportamento típico dos seres vivos. Somos mais filhos e filhas da Terra. A nossa singularidade é a de ser os cuidadores da Terra, os jardineiros do Éden terreno, e não o Satã da Terra.»

Fonte: El País
Para ler mais: aqui

As castas costumam chamar aos outros de privilegiados !!!


A frase mais bem escrita da nossa imprensa escrita deste fim de semana:

«Um dos aspectos mais proeminentes do discurso político contemporâneo é que as castas dominantes, que não perfazem juntas mais do 1% da população, têm por hábito chamar privilegiados à maior parte dos restantes 99% da população.»
(…)
«Como dizia o padre António Vieira, se é preciso muito peixe miúdo para alimentar um peixe grande, somente um peixe grande bastaria para alimentar muitos dos pequenos.»

Autor: Rui Tavares, em artigo de opinião publicado no jornal Público de 29 de Abril de 2006

A Hipocrisia do Ocidente, em versão de sátira curta


«Não podemos deixar que tenha armas nucleares alguém que acredita no regresso do 12º imã e no fim do mundo. Este é um privilégio que, a bem dizer, deveria ser reservado a quem acredita no regresso de Cristo e no fim do mundo»


Autor: Rui Tavares, em artigo de opinião publicado no jornal Público de 22 de Abril de 2006

Prisão para o Presidente da Hyundai


Um tribunal de Seul ordenou a prisão de Chung Mong-koo, presidente do poderoso conglomerado automobilístico sul-coreano, por sobre ele impender a acusção de desvio ilegal de fundos e suborno a funcionários públicos. Segundo a acusação Hung utilizou cerca de 130.000 milhões de wones ( uns 114 milhões de euros) para criar um fundo ilegal com o qual comprava as decisões de altos funcionários.
Se a moda pega por cá desconfiamos que muito Conselho de Administração haveria de ir para trás das grades…

O maior oleoduto do mundo começou a ser construído


Começou a ser construído o oleoduto, considerado como o mais extenso do mundo, que vai ligar a Rússia à Ásia ( Sibéria Orinetal- Ocenao Pacífico), e que irá permitir levar o petróleo russo aos mercados asiáticos ( China e Japão, principalmente). A capacidade de transporte do oleoduto será de 80 milhões de toneladas de crude ao ano. Para além do Oceano Pacífico como destino principal, prevê-se ainda um ramal de desvio em direcção à China. O custo total da obra-se está estimado em 10.000 milhões de euros.

Como se vê o mercado do petróleo está de vento em popa…

Actual vice-presidente da RTP foi um oficial detido pelos militares que fizeram o 25 de Abril


Segundo notícia publicada no passado Sábado no semanário Expresso o actual vice-presidente da RTP, Jorge Ponce Leão, foi um dos oficiais detidos pelos militares revoltosos do dia 25 de Abril e que derrubaram o regime ditatorial de Salazar e Caetano. A detenção de Jorge Ponce Leão, então alferes e oficial de dia no quartel da Escola Prática de Administração Militar, foi decidida pelos militares sublevados por ter sido considerado um oficial afecto ao anterior regime, e conhecida em Coimbra pela sua ligação aos meios da extrema-direita, ao ponto de ter sido nomeado pelo governo fascista da altura como Presidente da AAC ( Associação Académica de Coimbra) em 1967 o que lhe valeu, junto dos demais estudantes, ser conhecido por «funcionário do Governo e não reconhecido como estudante».
Actualmente Jorge Ponce Leão é vice-presidente da RTP depois de ter estado na administração do conhecido grupo económico Jerónimo Martins.
Com gente desta laia, à frente do principal órgão de comunicação, sob tutela governamental, não espanta que a democracia esteja onde está, e a RTP ao serviço de quem está.
Com «democratas» destes, esta «democracia» nunca me convencerá…

Os 3 maiores bancos portugueses somam e seguem em…lucros


Os 3 maiores bancos portugueses – BCP, BES e BPI – registaram no seu conjunto lucro da ordem dos 377,8 milhões de euros no primeiro trimestre deste ano de 2006, o que representa mais de 31,6% de lucros do que os que foram registados no mesmo período ( 1º trimestre) do ano passado (2005).
E ainda falam eles de crise?

Apetece mesmso dizer: se em «crise económica» os lucros aumentam exponencialmente, o que seria se não houvesse a tão propagandeada «crise»???

26.4.06

Entrevista com Valéria Amorim, activista defensora dos índios brasileiros (parte I)




Awá Guajá, a teimosia de continuar existindo, resistindo e lutando contra o homem branco!

“É incrível imaginar que existem povos que conseguiram se isolar por mais de 500 anos e vivam de forma autónoma e autogestionária, recusando o contacto e vivendo as suas vidas em paz com a natureza e em constante fuga para não ter de contactar com o “lobo do homem, o próprio homem.”

Quem diz isto e muito mais na entrevista a seguir, dividida em duas partes, é Valéria Amorim, uma anarquista maranhense, que abraçou com paixão, sensibilidade e utopia a luta indígena, contra a devastação das florestas naturais, a destruição dos ecossistemas e crimes de genocídios praticados contra povos indígenas há mais de cinco séculos pelo capital e governos.

Agência de Notícias Anarquistas - Como você se envolveu com questões, lutas indígenas?
Valéria Amorim - Tudo começou na universidade. Um projecto de extensão abria vagas para uma selecção de alunos da Pedagogia para participarem no Curso de Formação em Magistério para Professores Indígenas. Curiosa, fiz a minha inscrição e participei do processo selectivo. Fui aprovada! [risos] Uma bolsa de meio salário-mínimo e na mochila muitos sonhos e expectativas. Meu primeiro contacto com os povos indígenas iria começar a se dar e eu já estava fascinada só com essa possibilidade.

Na época não me autodenominava anarquista, mas iniciava algumas leituras das quais estava começando a me identificar. Foi mamão com açúcar: leituras anarquistas, mais ter contacto com a realidade de sociedades sem estado foi paixão a primeira vista! Sou anarquista e o anarquismo é viável!

Com esse projecto de extensão nós, alunos da graduação, desenvolvíamos actividades de monitoria durante as etapas presenciais onde eram reunidos em dois pólos povos indígenas de todas as etnias do estado, e fazíamos visitas nas aldeias para acompanhar as actividades passadas pelos professores para que os indígenas desenvolvessem na aldeia. Foi uma experiência muito importante do ponto de vista que pude conhecer e viver um pouco com a organização de povos Tupi e de povos Timbira, percebendo como se davam as relações familiares, a organização política e económica, a educação e a relação com o sagrado. Pude também, mais que observar, mas também sentir a discriminação que a sociedade envolvente tem e alimenta em relação aos povos indígenas. Vi antenas parabólicas de algum projecto governamental de acesso a tecnologias na educação servindo de varal para roupas. Vi o poder da televisão seduzindo os mais jovens enquanto o cantor chamava para o pátio e realizava uma cantoria. Vi a mobilização indígena por “Outros 500” quando esta passou em Imperatriz antes de seguir para Cabralia... Quanta resistência naquelas peles coradas, descendentes e sobreviventes do massacre da colonização européia. Uma revolução começou a se processar dentro de mim...

ANA - Faça um pequeno histórico das lutas dos Awá Guajá.
Valéria - Antes de tudo, atenção aos navegantes de primeira viagem: eu sou extremamente prolixa. [risos] Logo vou sempre querer dar uma justificativa aqui... e um esclarecimento ali... sempre com o objetivo, muito bem intencionado, de melhorar o entendimento! [risos] Então, prepare-se...

Eles ficaram conhecidos, desde a época do contacto, como Awá Guajá, é a forma como eles se autodenominam que significa homem de verdade. São considerados como um dos últimos povos nómades e sem agricultura. Falam a língua Guajá, da família lingüística do Tupi-Guarani e ocupam as terras indígenas Alto Turiaçu, Awá, Caru e Araribóia.

No Maranhão, são 17 terras indígenas, o que corresponde a cerca de 5% do território do estado. As terras indígenas Alto Turiaçu, Awá e Caru formam o grande corredor que permite a perambulação dos Awá Guajá que vivem em grupos livres, ou seja, isolados do contacto com a sociedade "branca". As terras Awá e Caru são afectadas directamente pela Ferrovia Carajás que passa ao lado dessas terras.

O Povo Awá Guajá vivia na floresta organizados em grupos familiares de cerca de 20 a 30 pessoas que perambulavam na mata, negando-se a fazer contacto e fugindo de seus inimigos tradicionais, Kaapor e Guajajara.

A sobrevivência do Povo Awá Guajá começou a ser seriamente ameaçada a partir da década de 60 com a implantação do projeto desenvolvimentista que se não foi responsável, mas foi grande incentivador do povoamento daquela região, Noroeste do Maranhão. A abertura das BR 316 e 222 (respectivamente Recife-Belém e São Luis-Açailandia) atraiu frentes agrícolas e camponeses, grilagem de terras e a criação de cidades onde antes era habitat dos Awá Guajá, Guajajara e Kaapor.

Com essa ocupação muitos conflitos estouraram e as conseqüências para os Awá Guajá foram o contagio de doenças como sarampo, malaria etc, e até assassinatos premeditados, o que fez com que muitos grupos se dispersassem. Em 1982 houve a implantação do Projeto Grande Carajás, o que tornou a situação mais dramática, pois trouxe para a região as siderúrgicas de ferro gusa que são movidas a carvão vegetal e, por conseguinte, o corte ilegal de madeira, carvoarias e todas as pestes e parasitas que vivem a sombra do dito desenvolvimento, criado e concebido aos moldes do capitalismo.

Porém, desde a década de 40 o Serviço de Proteção ao Índio (SPI), e depois a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), mantiveram contactos temporários com os Awá Guajá, a princípio movido por razões de cunho integracionista. Destes primeiros contactos os resultados geralmente eram a morte de muitos indígenas, infectados pelas doenças “de branco” adquiridas no primeiro contacto. A partir de 1973 os contactos foram mais sistemáticos e três Postos Indígenas (PI) foram criados para prestar assistência aos índios contactados, cerca de 145 pessoas. A frente de atracção, como se chama às equipes da FUNAI responsáveis em realizar os contactos de indígenas isolados, migrou para outro estado e cerca de 100 indígenas ficaram vivendo de forma isolada, sem nenhum contacto.

Hoje estima-se que a população Awá Guajá chegue a cerca de 360 pessoas, entre indígenas contactados e indígenas isolados. Habitantes da floresta pré-amazonica, os Awá Guajá são povos Tupi que praticam a caça, a pesca e a colecta como forma de subsistência. Logo, são considerados povos colectores e caçadores. Acredita-se que eles vivam o nomadismo como forma de garantir a sua sobrevivência, pois no início fugiam de seus inimigos tradicionais, depois fugiam das agressões consequentes da expansão das frentes de colonização e dos grandes projetos desenvolvimentistas (construção de BR e implantação do Grande Projeto Carajás) e suas mazelas.

Somente depois do aldeamento a FUNAI introduziu a agricultura como forma de garantir mais uma alternativa alimentar para este povo. Actualmente a população Awá Guajá contactada vive em aldeamentos próximos aos PI da FUNAI, praticando o semi-nomadismo. No período das chuvas permanecem mais tempo na aldeia, no período da seca algumas famílias chegam a passar até um mês na mata caçando e coletando mel, raízes e larvas.

Sobre a organização política, estão organizados em grupos familiares. Não existe a figura do cacique, mas as lideranças correspondem aos chefes das famílias extensas ou as pessoas mais velhas da aldeia, fiéis depositários da história e do modo de ser Awá Guajá.
ANA - E quais são os principais problemas deste povo hoje?
Valéria - A questão fundiária e a subsistência do povo. As terras onde hoje vivem os Awá Guajá são o que restou de mata pré-amazônica no estado. Logo, são objeto de cobiça de madeireiros e carvoeiro da região, muitos deles responsáveis pelo abastecimento das siderúrgicas existentes ao longo da Ferrovia Carajás.

O processo de invasão e destruição da floresta tem-se intensificado. Os grupos isolados novamente estão correndo risco, pois o cerco ao redor deles começa a se fechar e a sobrevivência novamente está sendo ameaçada. Nenhuma providência séria tem sido tomada para preservar o território deste povo. E eles seguem seu caminho relegados à sua própria sorte.

Os Awá Guajá contactados vivem hoje a realidade de 33 anos de pós-contacto. Da teimosia de continuar existindo como povo, resistem a todas as formas de adversidades. Superaram doenças como a gripe, tuberculose e malaria, hoje não mais mortais, e continuam firmes enfrentando o “lobo do homem, próprio homem”. Com o crescimento populacional, vitória conquistada nos últimos anos, a população, em sua maioria constituída de jovens e de crianças, enfrenta os desafios de garantir a subsistência. Com a intensificação dos invasores dentro da área e diante da inexistência de um plano de vigilância do território, a caça já não é mais tão abundante. Fica então o dilema: como garantir a sobrevivência das nossas crianças?! São mais de 500 famílias que moram ou tem seus sítios dentro da terra indígena Awá, são cinco grandes fazendas localizadas dentro desta terra indígena etc. Na região do Caru e Araribóia algumas lideranças indígenas estão ameaçadas de morte pelos madeireiros. E o governo brasileiro segue seu curso ignorando a voz e o clamor dos povos indígenas, primeiros habitantes dessa terra que se convencionou chamar Brasil.
ANA - Fale um pouco dos índios isolados, de etnia Awá Guajá, da situação deles...
Valéria - Não se sabe ao certo quantos são, estima-se que possam ser entre 60 a 100 pessoas, divididas em grupos pequenos e que perambulam pelas Terras Indígenas Alto Turiaçu, Awá, Caru e Araribóia, o que corresponde ao que sobrou de floresta dentro do estado. A situação atual deles é: encurralados! Estão vivendo nas regiões mais cobiçadas pelos madeireiros, logo devem estar vivendo terror e medo, com sérios riscos de vida.

Em 2004, na Terra Indígena Caru, um casal, mãe e filho, foi encontrado pelos Awa Guajá que vivem hoje a situação do pós-contacto. Eles haviam ido para uma caça demorada, num ponto bem distante da aldeia. Lá encontraram o casal, fizeram o convite para que viessem morar com eles na aldeia e eles aceitaram.

No ano passado, na Terra Indígena Araribóia, um grupo de cerca de 20 pessoas fez contacto com os Guajajara que vivem naquela terra. Os Guajajara não conseguiram chegar muito perto do grupo, pois eles se assustaram e sumiram no mato, deixando todos os seus pertences para trás (arco e flechas, utensílios etc). A partir de contactos como esses narrados por indígenas e por pessoas dos lugarejos próximos as terras indígenas, é possível detectar a presença desses grupos nessa região.

Anteriormente a política da FUNAI para esses casos era criar uma frente de atracção e contactar os índios. Os objetivos eram parte de uma política nacional de integração dos indígenas na sociedade nacional, entende-se integração como a negação de suas raízes culturais em favor da criação de um Estado-Nação uno. Em outras palavras, genocídio cultural.

Passado algum tempo a FUNAI desenvolveu como prática demarcar e homologar as terras onde existissem indígenas isolados, fazendo contacto apenas nos casos em que os povos isolados estejam correndo risco de vida.

É incrível imaginar que existem povos que conseguiram isolar-se por mais de 500 anos e vivam de forma autónoma e autogestionária, recusando o contacto e vivendo as suas vidas em paz com a natureza e em constante fuga para não ter contacto com o “lobo do homem, o próprio homem”. Será que inconscientemente ou conscientemente eles sabem as consequências de se deixar envolver com o “homem branco” e seus sistemas? Incógnita...

ANA - Você participou recentemente do bloqueio da Ferrovia Carajás em protesto contra a Fundação Nacional da Saúde (Funasa) e o descaso com os indígenas e mortes de crianças. Como foi tudo isso?
Valéria - Isso é uma longa história. Com o governo Collor criou-se uma portaria que retirava da FUNAI, órgão indigenista e não de saúde, a responsabilidade pela saúde indígena, o que passou para o Ministério da Saúde. Daí uma portaria fez com que a FUNASA assumisse a questão da saúde indígena no Brasil. Com as conferências de Saúde Indígena foi pensado um modelo de estrutura e atendimento que respeitasse minimamente as especificidades de cada povo, onde os indígenas pudessem decidir e pensar o atendimento a saúde de suas comunidades, nasce assim um subsistema de saúde indígena.

Teoricamente deveria haver os Conselhos Locais, Conselhos Distritais e o Distrito Especial de Saúde Indígena. No Maranhão, a princípio se pensava na instalação de cinco distrito, ao final apenas um distrito foi instalado e funciona em São Luis, lugar bem distante das aldeias. Dos Conselhos Locais apenas um foi criado. O Conselho Distrital foi composto e desarticulado. Resultado, não havia o controle social. Na III Conferencia Nacional de Saúde Indígena foi aprovado a terceirização de algumas ações da saúde indígena por organizações não governamentais. A FUNASA deliberadamente incentivou a criação de associações indígenas para descentralizar as acções, porém não ofereceu formação.

As ONG’s indígenas, como ficaram conhecidas, conseguiram prestar os atendimentos emergenciais a que se prestaram, mas as lideranças avaliaram que os recursos repassados não eram suficientes para cobrir todas as despesas, que as parcelas atrasavam e os “parentes” começaram a cobrar deles mesmos ao invés de cobrar do Estado, o que aumentou o número de divisões entre os indígenas etc.

O coordenador regional da FUNASA desenvolveu uma política de racha entre as lideranças indígenas, o que gerou muitas divisões. Enquanto isso acreditasse que recursos foram desviados para as campanhas eleitorais.

Em 2003 cerca de 800 indígenas ocuparam a sede da FUNASA em São Luis exigindo a exoneração do coordenador regional da FUNASA, o fim dos contratos e da terceirização do atendimento da saúde indígena, que a FUNASA assumisse execução da saúde etc.

Depois de quase oito dias um TAC foi assinado, todas as reivindicações foram atendidas, menos a exoneração do coordenador, indicação do velho conhecido Sarney.

A situação piorou, a FUNASA teve o prazo de novembro de 2003 até julho de 2004 para se preparar para assumir a execução da saúde indígena no estado. Porém, terminado os contratos com as ONG’s indígenas houve uma lacuna no atendimento a saúde. Nada de remédios, vacinas, só descaso. Em quanto isso, crianças e idosos morriam por falta de atendimento médico ou por falta dos remédios de uso controlado. Na aldeia Bananal, 14 crianças morreram ano passado e dois homens cometeram suicídio. A FUNASA fez convenio com a Missão Kaiuwa, sem convocar o Conselho Distrital, sem ouvir as lideranças indígenas e descumprindo com mais um dos acordos contidos no TAC.

Muitos indígenas tentaram pelas vias legais garantir o atendimento de suas comunidades, mas os acordos e documentos assinados eram sempre desrespeitados pela Coordenação Regional da FUNASA. Em atitudes desesperadas apreenderam veículos e funcionários, o que levou a uma onda de criminalizacão das lideranças indígenas por todo o estado.

A gota d’água foi quando a FUNASA marcou uma reunião em Grajaú com representantes indígenas e na véspera da reunião informou a impossibilidade de suas presença na reunião. Representantes de todos os povos do estado se sentiram ultrajados e decidiram pela interdição da ferrovia.
A situação nas aldeias era de calamidade e desespero. Com isso cerca de 500 pessoas, dos povos indígenas Guajajara, Awá Guajá, Krikati e Gavião compuseram o movimento da aldeia Maraçanduba, que fica a cerca de 1 km da ferrovia. As famílias abrigaram os companheiros que chegaram de todos os cantos do estado, duas grandes cabanas foram construídas para abrigas os parentes e mais a escola da aldeia se transformou em um grande alojamento.

Foi lindo ver tantos povos diferentes, muitos grupos inclusive rivais, se unindo em prol da vida. As reuniões para fazer as discussões se davam ao ar livre, as mulheres da aldeia se revezavam para fazer a comida. A pauta de reivindicação foi montada e a união fez vitória na interdição da ferrovia.

O coordenador regional da FUNASA foi finalmente exonerado, os indígenas conquistaram legalmente a autonomia político e financeira do Distrito Especial de Saúde Indígenas, demissão de alguns funcionários e nova coordenação para a FUNASA, para o Distrito Especial de Saúde Indígena, uma intervenção nacional, investigação das denúncias de desvio de recurso, o não indiciamento das lideranças envolvidas na interdição etc.

Iniciava-se então uma nova batalha. Efetivação das conquistas. O movimento da aldeia Maçaranduba não morreu com a desinterdicão da ferrovia, mas está firme e atuante. Porém, existe uma má vontade política muito grande e acredito que interesses muito fortes estão por trás dessa omissão. É preciso sempre ficar vigilantes, principalmente as estratégias de cooptação e divisão de lideranças.
ANA - E desde longe, em que podemos apoiar a luta dos Awá Guajá?
Valéria - Tomando consciência de sua existência, divulgando essas informações e pressionando a FUNAI para tomar iniciativas de preservação e vigilância do território. A Terra Awá teve um decreto de homologação assinado pelo presidente Lula, porém existem vários processos pedindo a revisão do decreto de homologação. Enquanto esses processos não forem julgados os invasores não serão retirados e a destruição acelerada.

Na verdade, a Terra Awá sofreu um processo de degradação muito grande e é preciso pensar no seu reflorestamento. As cartas de apoio podem ser enviadas para a Funai ou para o CIMI.

ANA - Você sempre me presenteia fotos belíssimas do universo indígena, queria que você comentasse aquela do macaco morto, moqueados...
Valéria - Aquela cena meio desumana no primeiro olhar, não é assim tão desumano. O povo Awá Guajá é povo caçador, como bom carnívoro aprecia a carne, principalmente se com ela existe uma história de aventura e muitos feitos que valorizam o caçador.
Mas essa coisa tão bárbara na verdade é um rito milenar que se repete e que tem como princípio a sabedoria de gerações que fazem a gente reconhecer a harmonia com a natureza que esses povos souberam desenvolver como ninguém. Eles vêem a natureza com respeito, a terra como mãe fecunda. Não se vêem como superior à natureza, o princípio está em se vê como parte dela, como mais um elemento dentro deste bioma. Não é à toa que a maior parte das florestas que restaram no nosso Brasil estão nas terras indígenas.

É dentro deste contexto que existe uma relação de respeito. Quando eles vão caçar e encontram um bando de porcos do mato ou de macacos guariba são os macacos adultos os objectos da caçada. Se existem filhotes, estes não são mortos nem abandonados, mas são pegos e levados de presente para as suas respectivas mulheres ou, se não as tiver, para as suas mães. As mulheres daí terão o papel de criar aquele filhote como se fosse seu filho e este vira um membro da família que nunca, nunca será levado para a panela e que morrerá, se tudo der certo, de morte natural.

Uma das imagens que mais ficou conhecida deste povo é a de uma mulher dando de mamar a um filhote de porco do mato.

Esse povo tem cerca de 33 anos de contacto, não há circulação de dinheiro e os poucos produtos adquiridos pós-contato são resultado de trocas ou dados pela FUNAI. Logo, sobrevivem da caça, da pesca e da coleta, agora iniciou a agricultura de arroz, feijão, mandioca, abóbora e milho.

A população vem crescendo e a caça está cada vez mais escassa. Quais serão os motivos? O consumo doméstico dessa população ou será a presença nefasta dos invasores que vem derrubando metros e metros cúbicos de madeiras, destruindo a floresta e afugentando os animais? Ou será os caçadores que entram às escondidas para pegar veados, tatus e outras iguarias para vender para restaurantes locais especializados em caça?

Acredito que o desequilíbrio e a ameaça não está no consumo e nas actividades de caça dos povos indígenas, mas sim nas actividades de cunho predatória de pessoas que não tem a mínima responsabilidade com as conseqüências de suas ações para os povos indígenas e para as futuras gerações.

Se dependesse dos Awá a mata ainda estaria preservada e muitos bichos poderiam viver e se desenvolver, afirmo isto porque vejo de perto o sofrimento deste povo quando eles expressam sua preocupação com o futuro de suas crianças, porque os “Karai" (homem branco) estão matando a floresta e o que será dos Awá sem a floresta?!", "Awá não sabe dinheiro, não é enfermeiro, não recebe "tamatare" (dinheiro), como vai ficar se Karai acabar com o mato?", "eu, Awá, não vou do outro mato, do lado de Karai, por que Karai vem pro meu mato?", dizem os índios.

Não sei se convenci, mas a intenção não era de facto convencer, mas sim compartilhar com você a angustia de quem está entregue a própria sorte e que não domina as estruturas da sociedade não índia cheia de artifícios, onde a impunidade e o descaso se escondem e fazem muitas vítimas. Maldito sistema!


(reprodução da entrevista que me chegou via correio electrónico do amigo e companheiro Moésio)

Não sou o público-alvo ( crónica de Jorge Silva Melo)




(Tinha lido esta crónica do Jorge Silva Melo há cerca de 15 dias na coluna onde normalmente escreve, no suplemento de fim de semana do Público. Li-o e fiquei logo com a ideia e vontade de o inserir no Pimenta Negra. Entretanto, outros afazeres lançaram aquela intenção no saco do esquecimento. Voltei agora a ler a crónica graças à escolha oportuna do
http://xatoo.blogspot.com e, desta vez, seria imperdoável não trazê-la também eu para aqui.
Aproveito para enviar um agradecimento para o autor do Xatoo-blog. )

Texto retirado de:
http://xatoo.blogspot.com/



Não sou o público-alvo
( crónica de Jorge Silva Melo, publicada no suplemento literário do jornal Público)

O erro foi meu, entrei numa livraria. Parecia-me ter entrevisto na montra o novo livro de António Tabucchi, entrei. Para chegar ao fundo, ao lugar onde há vários livros (numa livraria, não devia ser o lugar principal?), atravessei várias bancas de bugigangas, revistas que oferecem chinelos e cafeteiras Bodum, agendas, os ominipresentes Moleskine. E as primeiras Bancas eram de “Best sellers e novidades com capas picantes, pernas de mulher por todo o lado, um rabo ou outro, siglas iniciáticas. Fiquei, parvo, a olhar para aqueles livros todos, quilos de papel. Aquilo não era para mim, fora um erro entrar ali, aquele negócio é para outras pessoas (sexodependentes? E compraram livros?), as editoras e os livreiros tentam desviar para dentro daquelas casas sombrias a senhora talvez licenciada que a essas mesmas horas há de mas é estar no cabeleireiro, talvez mesmo no café ao lado a comer uma sande de queijo fresco sem manteiga. Foi a primeira vez que me senti a mais numa livraria, tantas foram as que me foram familiares desde a adolescência.
Definitivamente: não sou público alvo. Com base 60 anos, boas notas na universidade, conhecimento de algumas línguas estrangeiras, não é para mim que agora se produzem livros, passei ao quadro dos excedentes da clientela. Aliás, não encontrei o Tabucchi que, sereia falaciosa, me atraíra lá para dentro, para onde só vi um mundo de conselhos práticos ou fantasias erótico medievais político iniciáticas que, de todo, não é para a minha idade e condição cardíaca. Já na rua, horrorizado, snob, e com a Primavera a trazer-me saudades de Saint-Germain des Prés (tantos livros a descobrir confiando na tenacidade dos editores a defender o seu bom nome), pus-me a fazer contas. E posso apostar em que não haveria, naquela loja moderna e central, mais de 8 por cento “de literatura”. Estranho que a literatura seja agora minoritária precisamente no negócio dos livros, ou não será? Aqueles produtos eram o que se chama entretenimento mas quem se entretem com aquilo tudo, ou livros de conselhos mas as pessoas lerão estes milhares de conselhos para emagrecer, fazer saladas, engordar, amar, falar com o chefe, arranjar emprego? Romances históricos desde o Monge de Cister de Herculano que não os quero ver à frente fábulas, livros de engane ou paródia. Está bem, nem há literatura nas livrarias nem eu sou o cliente pretendido, eis me reformado. E lá fui à tabacaria em frente onde aí sim, se encontram agora Bulgakov, Calvino, Pavese, Hamsun, Andric, Tolstoi, Migueis, Cervantes, e até Teixeira – Gomes, literatura, coisa para velhotes, imagino, entre dois registos para a Santa Casa.
E eu que queria tanto ser público alvo, que se me dedicassem edições, programações, que ainda se dirigissem a mim. É que ainda gastava algum dinheiro, juro…quando leio por todo o lado que o desígnio das políticas é a formação dos públicos para comprar livros com pernas abertas de rapariga elegante?, entro na melancolia, sinto-me folha morta. O que farão comigo, público já formado? Lixo comigo? Ou terei de passar por educando, iletrado, ignorante para poder entrar num teatro?
A pouco e pouco, o meio político, cultural, editorial, curatorial, programatorial… descobriu outro destinatário, senhoras ginasticadas, moçoilas aprendizas do amor e os jovens, esses jovens que lhes enxameiam os discursos. E que é deles, que não os vejo nas livrarias, a nenhum desses alvos?
E não é só com livros, não é filmes, é teatros, nada disso será doravante para mim. Lembrem-se das recentes declarações da ministra segundo a qual o Teatro Nacional terá como público alvo os jovens e eu, que nunca o quis ser? Não tenho direito a ir ver um teatrinho normalmente para adultos ou mesmo velhos? A ver mais ou menos sic se eles ficam mais tolerantes. E percebo que, para existirem, as artes ??? terão de se portar muito bem à mesa, não citar os intolerantes, serão bem comportadas, iogurtes de frutos vermelhos com bifidus, artes limpinhas, para poderem ser propagandeadas como calmantes sociais, gerando boas maneiras políticas.
Saudades ao Vítor Silva Tavares, casquinemos!; Ou também a mim me reciclam, laranja mecânica, a ver se fico “tolerante”?
Foi um erro entrar naquela livraria, vi-me dispensado da vida. Mas talvez seja essa a verdade.



http://www.artistasunidos.pt/jorge_silva_melo.htm

www.artistasunidos.pt

Moésio, um anarquista graças a Deus, ou às Deusas?


(reproduzimos uma entrevista que nos chegou por correio electrónico dada pelo nosso amigo e companheiro libertário Moésio ao jornal Vila Nova, acerca do seu activismo eco-libertário no Cubatão, região em que reside.)


Nome: Oficialmente Moésio Rebouças, informalmente Peixinho Chuva de Fogo.

Formação: Jornalista, mas aprendi mais com a biodiversidade e mistério da vida que qualquer banco escolar

Idade: Existe uma sabedoria indígena que diz que falar a idade para desconhecidos é abrir um pouco da alma, sendo assim, não vou abrir totalmente minha alma para tantos leitores e leitoras desta entrevista que não conheço cara-a-cara, mas já passei dos 30. [risos]

Jornal Vila Nova - Há quanto tempo você é anarquista?
Moésio Rebouças - Desde meados da década de 80. Ainda adolescente abracei com muita paixão as ideias e práticas libertárias, que no início do século passado já teve muita tradição na nossa região, inclusive em Cubatão, basta conhecer um pouco da história de Afonso Shimidt, Martins Fontes.
E que fique bem claro que anarquismo não tem nada a ver com bagunça, como muitos pensam, mas pelo contrário, anarquia é a vida lutando contra a morte, em todos os sentidos.

JVN - Como nasceu o seu interesse pelo Meio Ambiente?
Moésio - Nasceu junto com o anarquismo, com essa coisa de querer ser livre, viver sem opressões, nem oprimir nenhum ser vivo da Terra, respeitar todas as formas de vida. E isso vem se radicalizando com o passar do tempo, pois nunca na história humana a Mãe Terra foi tão agredida pelo homem civilizado, não é à toa que o clima enlouqueceu, de tantos desastres ecológicos, tantos animais em extinção, florestas... Cada vez mais o inconformismo e a acção fazem sentindo, virou questão de sobrevivência.

JVN - Você acredita na implantação do Turismo em Cubatão, mesmo com a existência do Pólo Industrial?
Moésio - Esse de Cubatão eu não acredito, pois está sendo feito sem nenhum estudo de impacto ambiental, por pessoas gananciosas, sem sensibilidade, que só vêem a natureza como um negócio, um trampolim político. Natureza não é negócio, muito menos politicagem! Eu acho surreal esses roteiros eco-turísticos da secretária de turismo, pois ao mesmo tempo que estás navegando num rio você encontra beleza, mas também lixo, cheiro ruim, aquele visual sinistro das indústrias... Um dia estava descendo a estrada velha, e lá no alto muita beleza, ar praticamente puro, mas quando chega no pé da serra, perto da petrobrás, um cheiro enorme de gasolina... [risos]
Sinceramente eu prefiro o “turismo” do boca-a-boca, de menos impacto. Hoje já há estudos contra a indústria do turismo, pois se o projeto não for bem feito, essa indústria acaba acelerando a destruição da natureza. Eu sou um pouco romântico, e não acredito muito na perfeição deste casamento entre natureza e indústrias, ademais de indústrias pesadas, petrolíferas, químicas etc.

JVN - Qual a sua maior preocupação em relação ao Meio Ambiente?
Moésio - Caramba, são tantas, não daria para apontar tudo nesta entrevista, até porque não defendo só o meio da nossa cidade, mas defendo a Mãe Terra como um todo. Um desastre, uma agressão à vida que acontece na Índia, por exemplo, também me afecta, tem consequências aqui. A poluição não reconhece fronteiras, e a defesa da Mãe Terra também não. Enfim, é aquela história, pensar globalmente, agir localmente.
Mas especificamente sobre Cubatão há vários problemas, desde a poluição dos nossos rios, poluição sonora, visual; poluição dos mangues; poluição do ar, através da emissão de co2 por uma quantidade cada vez maior de caminhões e carros que circulam no centro de Cubatão, como no seu entorno; poluição das indústrias, o descaso aos parques ecológicos de Cubatão, tanto das autoridades locais, como dos próprios moradores de Cubatão, que são os primeiros em sujá-lo, agredi-lo... Enfim, a fauna e flora de Cubatão vêm sofrendo muito ao longo de décadas, e parece que isso continuará por muitos anos ainda. O panorama não é dos melhores, infelizmente.

JVN - Qual a sua opinião sobre os trabalhos realizados até aqui pelas Secretarias Municipais de Turismo e Meio-Ambiente?
Moésio - Um horror! Como o espaço é curto, vou falar só da secretária do meio ambiente, mas a secretária de turismo não fica muito atrás não, pelo contrário. Aliás, acho o actual secretário de turismo e cultura um falastrão, que gosta muito da política do “pão e circo”, quer dizer, mais circo do que pão, é assim que ele cala e domestica às consciências. Longa história.
Mas, para começar, o secretário do meio ambiente nem de Cubatão é, não mora aqui, não sente essa cidade no dia-a-dia. Eu pergunto, qual é a relação histórica e sentimental deste senhor com Cubatão? Nenhuma! Será que este senhor já andou de bicicleta pelas trilhas no pé da serra, sentiu o vento beijar seu rosto? Será que ele já passou uma noite no pé de alguma cachoeira de Cubatão, com a companhia de vaga-lumes? Será que ele já se embrenhou nas matas desta cidade e avistou um casal de preguiças, ou outros animais? Duvido! A relação dele é tecno-burocrática, é de politicagem, para não falar outras coisas.
Este senhor deveria aprender que ecologia não é fazer marketing verde com projectos de “educação ambiental”, não é financiar ONG’s que estão mais para OPG’s, ou seja, Organizações Pró-Governamentais. É ir muito além, é defender a natureza com unhas e dentes, ter sensibilidade, ter coragem de denunciar as grandes indústrias. É amar a água, o ar, a terra...
Para você ter uma ideia da demagogia, da falta de sensibilidade e vergonha na cara destes senhores, é que a prefeitura com apoio das secretárias de turismo e meio ambiente, realizaram um evento no verão de 2006 lá no Parque Ecológico do Perequê, e diga-se de passagem um evento que foi um verdadeiro desastre e agressão ao meio ambiente. Se você fosse no outro dia do evento, após aqueles shows, encontrava o parque detonado de sujeiras de todos os tipos, a trilha machucada com tanto impacto promovido por milhares de pessoas subindo e descendo sem um mínimo de respeito com a natureza, a trilha cheirando a merda e mijo e tudo mais. Aquela trilha do Perequê não é um lixo porque eu e outras pessoas gostamos e admiramos aquele lugar, sempre estamos ali limpando as trilhas, recolhendo os lixos, tarefa que a própria prefeitura não faz. Aliás, no entorno do parque, não tem uma lixeira da prefeitura! E isso há anos!
Mas o que queria dizer especificamente, é que se você for ao parque hoje, encontrará lá dentro restos de madeiras e entulhos da própria prefeitura, e até barra de ferro, e isto tudo está lá desde o verão, desde a organização deste evento. Um absurdo! Um total descaso! E isso sem falar da poluição visual do parque, com aqueles bancos horrorosos de concretos com propagandas que colocaram lá, da sujeira que fica no entorno do parque, que estão lá há meses, anos, dos caminhões que estacionam lá na beira do rio e fazem sua limpeza com a água do rio. Enfim, poderia falar aqui sobre uma série de absurdos que acontecem nas áreas verdes de Cubatão, de tanta demagogia e descaso ao meio ambiente. Em resumo, o que vejo é muita hipocrisia verde.

JVN - Que sugestões você daria para melhorar Cubatão?
Moésio - Quem faz uma cidade bonita, moderna, feliz, que respeita todas as formas de vida, são as pessoas que nela vive, mas, infelizmente, as pessoas que moram em Cubatão, na sua maioria, não se envolvem nas questões da sua cidade, deixam tudo nas mãos de políticos oportunistas e inescrupulosos, aí já viu. A meu ver, as pessoas têm que se informar, pois um povo bem informado, não é enrolado com conversa mole de políticos demagogos, forasteiros, e nem se vende por um empreguinho, ou presentinhos. A população tem que se juntar, se organizar à margem de partidos, e fazer valer a sua voz, seus direitos, lutar contra tanto descaso, roubalheira e oportunismo nessa cidade tão rica em dinheiro, mas pobre de espírito, de carácter, de dignidade... com alma tão opaca. Uma cidade não se constrói só com dinheiro, mas com pessoas dignas, inteligentes, fortes, com almas iluminadas. As pessoas têm que aprender a se revoltar, afinal revolta é vida, é sinal que um povo está vivo, que estamos vivos. Não sei, confesso que sou bastante desiludido com as pessoas desta cidade, se as pessoas continuarem assim, amorfas, alienadas, submissas... Cubatão continuará sendo o que é.

JVN - Qual a sua opinião sobre a Agenda - 21?
Moésio - Eu costumo dizer que do alto só vem mentiras, demagogia, conversa mole, e do que pude perceber na reunião no bloco cultural do último dia 18 de Abril, o futuro de Cubatão é sinistro. Aquele dia foi um dos dias mais deprimentes da minha vida, pois, se for levado à efeito, se se concretizarem os projectos das indústrias, via Fiesp, Ciesp, Cubatão será transformada num inferno. Essa cidade não suportará tanta agressão ao meio ambiente, à vida em geral. Eu fico só imaginando Cubatão no ano 2020, com uma população de mais de 150 mil pessoas, mais favelas, mais sub-empregos, um monte de carros e caminhões cortando a cidade, muito co2 no ar, poluição visual e sonora, os rios ocupados por navios de médio e grande porte, a fauna e flora sendo agredidas por tantos empreendimentos de médio e grande porte... Isso é progresso?
Enfim, Cubatão não seria Zanzalá, mas o caos. E o triste é perceber que a própria prefeitura apoia esses projectos megalomaníacos, de grandes empresários que nem em Cubatão moram, e só querem dinheiro, lucros, em detrimento da qualidade de vida das pessoas que moram aqui. Lamentável.


Entrevista conduzida por Roberto Costa - Jornal Vila Nova - Edição 21/04 a 27/04 de 2006

Judeus pacifistas lutam pela paz com os palestinianos


O meu amigo João Soares do http://bioterra.blogspot.com/ acabou de divulgar a notícia de que judeus pacifistas tanto de Israel como da Europa lançaram uma campanha a defender a paz e uma solução pacífica para o conflito entre israelitas e palestinianos.

Há também um petição a correr pela net e um site de várias ONGs a defenderem a Paz a resolução pacífica do conflito. Ver:

To:

The European Union, the US congress and the Israeli Government
We condemn the actions taken by the US, the EU and Israel to exert penal economic pressure upon the Palestinian people. The withdrawal of economic aid by the US and the EU and the criminal withholding of internationally agreed custom duties by Israel will lead to widespread suffering, starvation and death among the Palestinian people, with the weakest, children and the elderly, dying first.
This aid is desperately needed because the Israeli government systematically pursues policies that prevent economic self sufficiency on the west bank and in Gaza. these policies include:
*Use of the separation wall to cut off Palestinian farmers from their fields *Import of labourers from East Asia rather than employ Palestinians
*Placing deliberate obstacles in the path of Palestinian exports of agricultural produce and handicrafts
*Use of the Israeli banking system to block remittances from Palestinians working abroad
*Disruption of Palestinian school and Higher Education
*Withholding of customs duties due to the Palestinian Authority under international law
These criminal policies are linked to demands that Hamas recognize the state of Israel, such recognition would be the end of a negotiating process, it should not be a precondition. The Palestinian people have affronted the US, the EU and Israel by electing a Hamas government. It was not made clear, when they insisted on democratic elections in Palestine, that these they should only be held if the result were acceptable to Israel.
We further note that Hamas is maintaining a ceasefire and that Israel is not and that Israel is killing far more Palestinians than vice-versa but this does not impede massive US aid to Israel nor favourable trade agreements between the EU and Israel.
In the name of justice and to end these economic crimes and murders we demand:
The immediate restoration of aid by the US and the EU The end of Israel's economic blockade The end of US military aid to Israel The end of exceptional favourable EU agreements with Israel.

Sincerely,

25.4.06

25 de Abril, sempre!

Manifestação popular espontânea no Largo do Carmo durante a manhã do 25 de Abril de 1974 quando se soube que o governo ditatorial se refugiara no quartel da GNR do Carmo.
A bandeira vermelho e negra serve para recordar que também os libertários estiveram na rua a lutar pela liberdade e a festejar a queda da ditadura.



Cartaz alusivo ao 25 de Abril onde se pode ler
«A poesia está na rua»




Um esbirro de um pide (polícia secreta do regime ditatorial) a ser detido pelos militares revoltosos no dia 25 de Abril de 1974




Os presos políticos a saírem da prisão, logo depois do 25 de Abril



Grândola, Vila Morena
( letra e voz de José Afonso)

Grândola, vila morena

Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena

Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade


Terra da fraternidade

Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena

À sombra d’uma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade

Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade

24.4.06

Semana sem televisão ( 24 a 30 de Abril)




O TV-B-Gone é o terror do homem-Tv

O TV-B-Gone é o terror do Homer Simpson


Um activista anti-TV inventou um dispositivo de controle remoto (TV-B-Gone) que permite de forma anónima, e sem pedir licença a ninguém, desligar os aparelhos de televisão que se encontram nos espaços públicos e centros comerciais.

As acções dos activistas anti-TV têm mais a ver com objectivos de saúde mental do que com fins simplesmente de carácter político ao defenderem o desaparecimento ou a secundarização da TV como razão de vida de muitos dos cidadãos telespectadores espalhados pelos quatro cantos do mundo. Um dos métodos de acção directa preferidos pelos activistas anti-TV – e dos mais eficazes – é desligarem os aparelhos de televisão que se encontrarem nos espaços públicos graças a um dispositivo técnico inventado.
Mitch Altman, um engenheiro electrónico de Sillicon Valley, na Califórnia, e defensor do uso social da tecnologia, inventou há cerca de dois anos o TV-B-Gone ( em português, «a TV foi-se») que consiste num dispositivo de controle remoto universal ( que dá para todos os aparelhos e marcas) mediante o qual é possível apagar qualquer tipo de aparelho de TV situado num raio de 17 metros com um simples botão de carregar. Com esta «bomba», os activistas anti-TV cometem os seus «atentados» em espaços públicos como cafés, restaurantes, bares, aeroportos, etc. «Hoje os aparelhos de TV estão por todo o lado, acesos, independentemente de haver pessoas a vê-los ou não. Basta um minuto para pensar nos efeitos que este poderoso media tem hoje em dia na nossa vida diária.», diz Altman que se vê a si próprio como alguém que ajudou com a sua invenção a levar a paz a alguns lares. Confessa que já não TV desde 1980 e que tal lhe permitiu já usufruir algumas boas horas de bem-estar de que estaria privado se tivesse continuado a possuir televisão em casa. Altman, que tem o seu próprio website (
http://www.tvbgone.com/) onde é feita a divulgação da sua invenção, que é distribuída comercialmente quer nos Estados Unidos quer na Europa, não esconde a sua satisfação: «O TV-G-Gone» dá-te a possibilidade de teres algum poder sobre aqueles milhares de aparelhos que enxameiam o nosso espaço público visual».

Todos ao anos realiza-se a nível internacional um iniciativa com a designação genérica de «TV turn-off week» («A semana sem televisão») que defende a ideia de que a nossa qualidade de vida seria muito melhor sem a presença ( e intromissão) do pequenos ecrãs nas nossas casas, assim como nos espaços públicos por onde passamos no dia-a-dia. A iniciativa foi desencadeada com base em estudos realizados que indicam que a televisão aumenta a depressão, a ansiedade e diminui a auto-estima. Está também provado que aumenta a demência e a obesidade; já para não falar do facto das crianças que estiverem mais expostas à TV serem habitualmente mais propensas à violência ( segundo estimativas feitas, só nos Estados Unidos e Reino Unidos haverá cerca de 18 mil «tele-assassinos» em idade escolar). E, ainda que não custe a reconhecer que nem toda a TV é má, o certo é cada telespectador que passe 4 ou 5 horas por dia a ver televisão, como nos mostram os recentes inquéritos sobre os hábitos televisivos, perderá 10 anos da sua vida sentado no sofá a fitar o aparelho de televisão!!!
Os contestatários da televisão afirmam que não actuam contra a televisão em si mesma. Trata-se de uma tecnologia útil que não desaparecerá tão cedo. Pretendem apenas sensibilizar um cada vez maior número de pessoas para mudarem os seus hábitos, além de preconizarem a criação de espaços públicos sem televisão.
Recorde-se, por exemplo, que nos Estados Unidos o canal de programas infantis Nickelodeon decidiu certo dia ( 2 de Outubro de 2004) cancelar a sua programação habitual durante 3 horas, e limitar-se a transmitir ao longo dessas horas um cartaz onde se convidava os seus telespectadores a aproveitar esse tempo livre para actividades recreativas. Esse caso serve de exemplo para o que se pretende com uma iniciativa internacional como é a «TV turn-off» ( televisão desligada) e que decorre todos os anos na última semana do mês de Abril ( em 2006, de 24 a 30 de Abril).
Mais do que acções que firam a susceptibilidade dos teledependentes o que se pretende é levar a cabo acções de carácter persuasivo. Convencer os donos dos restaurantes de que a presença da TV nos seus estabelecimentos, em vez de atrair clientes, tem justamente o efeito contrário, poderia ser um bom exemplo de uma acção que se enquadra nos objectivos desta «semana sem televisão». Mas, no fundo, o que se pretende é passar a mensagem de que viver sem a televisão constitui uma experiência de vida libertadora, divertida e até mesmo enriquecedora.
Não se trata, pois, de aferir se existem bons ou maus programas, ou se a programação televisiva tem estas ou aquelas características. Não, nada disso. O que se trata é de constatar que a televisão é uma verdadeira indústria e, como tal, cabe-lhe oferecer produtos fantasiosos e cativar a maior audiência possível, uma vez que o êxito dessa indústria se mede em quantos minutos da nossa vida ela consegue roubar. Actualmente, por exemplo, nos Estados Unidos e no Reino Unido o número de horas que em média cada pessoa passa a ver televisão cifra-se em cerca de 4 horas/dia, isto é, metade do tempo em que não se está a dormir e a trabalhar. Uma dose diária excessiva, sem dúvida, que gera efeitos devastadores para uns mas que representa para outros um grande negócio. Na verdade, quando o aparelho de televisão não te diz o que deves comprar, nem o que deves pensar, nem o que deves sentir, então é quando ele te está a convencer a não mudares de canal, e a não perderes mais este episódio.
Há alguns anos atrás um dos activistas anti-TV, David Burke, realizou uma perfomance pública em Londres - em nome da White Dot, organização inglesa que organiza no Reino Unido a semana sem TV - colocando uma grande televisão à frente da abadia de Westminster com uma legenda « White Dot says GET A LIFE» ( White Dot diz-te para que tenhas uma vida), enquanto lia uma carta ao príncipe Carlos a pedir para não permitir a transmissão por televisão do acto da sua futura coroação. Esta acção teve reprcussão na grande imprensa e permitiu que a semana sem televisão fosse notícia dos jornais principais.

O dispositivo TV-B-Gone permite, além do mais, o desencadeamento imediato de um debate/discussão no próprio local em que a acção decorrer, o que tem vantagens acrescidas. O TV-B-Gone corresponde a mil flyers ao suscitar uma reflexão e debate público, quase que espontaneamente.

Se valorizarmos a nossa liberdade, o mínimo que nos cabe fazer é questionarmos porque é que estamos a ver televisão.
Na realidade, uma poderosa indústria não cessa em gastar milhões de euros para produzir programas e transmitir publicidade que não visam senão seduzir e manipular os seus destinatários. E não são poucos os que passam horas inteiras a ver televisão, absorvendo cada minuto aquelas fascinantes imagens, num autêntico bombardeamento visual que tem precisamente como alvo o próprio telespectador passivo.
Convidar as pessoas a questionarem a presença excessiva, e até abusiva, da TV no seu dia-a-dia, e convidá-la a tirarem melhor proveito do seu tempo de vida é, no essencial, o objectivo primeiro de iniciativas como a da
«Semana sem Televisão».
Enjoy it

Tradução e adaptação de um texto de autoria de Leonardo Oliva, publicado no nº 24 da revista The Ecologist, versão em castelhano.

Mais info sobre o TV-B-Gone: aqui


Sobre a conexão entre a televisão e a obesidade ler: aqui





Mais info sobre a iniciativa «TV-turn off week»:
wwv-turnoff.org/

A televisão no Árctico (!!!) e os seus efeitos catastróficos!


Ao longo do livro « Quatro argumentos para acabar com a televisão» é possível encontrar muitos exemplos do impacte da televisão nas culturas nativas e o tipo de visões do mundo matizadas que não se prestam a serem representadas por este meio de comunicação. Dez anos depois de acabar de redigir o livro tive ocasião de tomar contacto directo com o chamado processo de homogeneização cultural a que me referi, quando visitei uma comunidade de indígenas que tinham acabado de ver pela primeira vez uma televisão. O que observei confirmou plenamente a ideia de como esse meio de comunicação pode transformar negativamente uma cultura, reconfigurando-a de forma a adptá-la ao mundo industrial das grandes empresas.

Fui convidado pela Associação de Mulheres Nativas dos territórios do Noroeste do Canadá para visitar as aldeias mais a norte dos índios dene e dos inuit (esquimós) precisamente quando a recepção de televisão acabava de ser possível naqueles longínquos territórios. Tudo se passou nos meados da década de 1980. Aqueles territórios eram uma região muito remota, descrita como «terra baldia, vazia e despovoada», perto do círculo árctico. Para começar, o território referido, longe de estar «vazio», possui cerca de 26 comunidades nativas de nómadas itinerantes ( num total de 22.000 pessoas) que vivem dispersas ao longo dos lagos, bosques, e, a norte, da tundra. Na maior parte dos casos, estas comunidades haviam conservado a sua economia tradicional e as suas práticas culturais: a pesca através do gelo, a caça com tiro, com cães e armadilhas. Viviam em casas comunitárias, feitas de troncos de madeira para várias famílias que compartilhavam o trabalho. Nesses locais, as temperaturas baixam a -30º e a estação de Verão era muito pequena. As precipitações eram de tal modo escassas que a região se considera desértica. Esses povos iam sobrevivendo, aparentemente, com alegria, desde há mais de 5 mil anos, até que chegou a televisão.

Segundo a Associação de Mulheres Nativas logo que chegou a televisão as coisas começaram a mudar. O governo canadiano tinha insistido junto destas comunidades para que aceitassem a sua oferta grátis de instalação de televisão por satélite, admitindo que a sua intenção era para que os indígenas se sentissem mais canadianos. Acontece que a descoberta de novas jazidas de petróleo nos territórios mais a noroeste requeria uma maior abundância de mão de operários, e os índios bem poderiam desempenhar essa função, para mais como uma mão de obra barata, desde que abandonassem os seus hábitos tradicionais. Ora a televisão era o único meio de poderia realizar essa tarefa de desculturalização e de reculturalização que levaria a estimular o desejo de abandonar os costumes índios, e tornar estes povos mais urbanizados, à procura de comodidade e de salários regulares.
A Associação das Mulheres Nativas confirma que a chegada da televisão provocou mudanças repentinas na vida familiar, em especial no comportamento e nos valores dos jovens, principalmente quanto ao seu interesse em aprender as habilidades tradicionais de sobrevivência num habitat dos mais duros do mundo. Para além do mais, os jovens deixaram de ir à caça e pesca. O que eles passaram a querer a desejar era comida junk, carros novos ( apesar daqueles territórios não teres estradas), e roupa de moda.

Mas o mais grave, segundo aquelas mulheres, era a extinção de práticas culturais como «narrar histórias». Até a televisão chegar uma das actividades mais típicas era, depois do cair da noite, a refeição em comunidade, após a qual os jovens se reuniam num canto com os mais velhos para escutar as suas histórias. Escusado dizer que eram histórias fabulosas que tinham passado por gerações, e através das quais se realizavam processos de aprendizagem, essenciais para a preservação da cultura. Mais do que isso, as pessoas eram criadas com essas histórias. Estar sentada com os mais velhos, a ouvir os seus contos, era como uma janela aberta para o passado, para as raízes ancestrais da existência índia. Reuniões como essas estimulavam também, o amor de integração, a confiança e o respeito. Com a chegada da televisão, acabaram as narrativas e os contos.
Quando eu lá cheguei encontrei toda a gente, jovens e menos jovens, sentada diante de um aparelho de televisão a ouvir «histórias» de Los Angeles, de Toronto e Nova Iorque sobre polícias e ladrões, casas esplendorosas e refeições opíparas.
Ao fim de escassos 3 anos os jovens começaram a dizer que lhes custava serem «índios» e que, por sua vontade, queriam ir trabalhar para o oleoduto, e ir viver para as barracas, construídos para o efeito pelos projectistas da empresa de extracção do petróleo.

Autor: Jerry Mander
O texto é o prefácio da tradução em castelhano do conhecido livro de Jerry Mander « Os quatro argumentos para acabar com a televisão» ( existe tradução portuguesa na Antígona)

23.4.06

Letra Livre – uma livraria contra o pensamento único (já abriu)

Livraria Letra Livre
Calçada do Combro, 139
1200-113 Lisboa

Abriu finalmente neste sábado, dia 22, a Livraria Letra Livre, criada por três dos ex-trabalhadores da Ler Devagar. Uma livraria de livros novos, usados e fundos,mas onde se poderão encontrar as edições da pequenas editoras e muitas dasedições esgotadas nas áreas de história social, sociologia, antropologia eliteratura como também em temas hoje quase ausentes das livrarias como críticasocial, anarquismo, marxismo, ecologia e género.


Notícia retirada das agências noticiosas:

"Tendo como critério a qualidade, vamos especializar-nos nas edições esgotadas e nos fundos de catálogo, ou seja, livros que estão disponíveis para venda mas não encontram lugar nas livrarias", disse à agência Lusa Eduardo Costa, sócio-gerente da Letra Livre.
Conseguir edições esgotadas é, aparentemente, um contra-senso, mas Eduardo Costa explicou que "muitos livros são dados como esgotados porque já não existem nas editoras - algumas entretanto extintas - nem nas distribuidoras, mas é possível encontrá-los".


A livraria Letra Livre, que abre portas sábado ( dia 22 de Abril) em Lisboa, afirma-se contra o ritmo acelerado dos livros nas grandes superfícies e pretende disponibilizar livros usados e obras cujas edições já estejam esgotadas

"O que acontece com essas obras é que perderam o contacto com o mercado e andam de armazém em armazém", acrescentou o responsável livreiro, esclarecendo que, "para descobrir livros nessa situação vai ser muito útil a experiência acumulada no sector".

Eduardo Costa é um dos vários antigos funcionários da livraria Ler Devagar, já encerrada, que decidiram reunir esforços num novo projecto assim que souberam do destino do espaço em que trabalhavam, na rua da São Boaventura, Bairro Alto, em Lisboa.

"Em Setembro do ano passado, ao saber que a Ler Devagar ia perder o seu espaço, alguns funcionários começaram a pensar em abrir outra livraria, mas apenas em Novembro teve início a escolha da localização e dos livros", afirmou Eduardo Costa.
A nova livraria, na Calçada do Combro, em Lisboa, vai ter disponíveis 10.000 exemplares, "embora existam mais entre 30.000 e 40.000 no armazém", que serão colocados numa base de dados até final do ano, para permitir a venda através da Internet.

Com destaque para a ficção e as ciências humanas, a Letra Livre vai também divulgar livros novos, que vão chegando ao mercado, "desde que tenham qualidade", mas recusa assumir qualquer compromisso com os êxitos de vendas que não preencham o anterior critério.

"Como não é possível competir com grandes cadeias como a FNAC ou a Bertrand, que destacam as novidades literárias, optámos por estabelecer ligações privilegiadas com editoras como a Antígona, a Fenda, a &Etc e a Frenesi, cujos catálogos teremos quase integralmente disponível", revelou Eduardo Costa.

Esta é mais uma forma de contrariar "a voragem actual, em que o tempo médio de exposição de um livro numa livraria oscila entre os 30 e os 60 dias, o que não deixa espaço para obras cujo ritmo de venda seja mais lento", criticou o sócio-gerente da Letra Livre.

Os livros anarquistas são armas contra o fascismo

Cartaz publicado em Barcelona entre 1936 e 1939


Neste dia internacional do livro (23 de Abril) fui buscar estas fotografias e algumas informações sobre elas a um weblog que vivamente recomendo:
http://bibliotecarioanarquista.blogspot.com/


Books are weapons ( Os livros são armas)


Cartaz publicado entre 1941 e 1942 pela Biblioteca Pública de Nova Iorque a encorajar os cidadãos negros a utilizar com mais frequência os recursos da biblioteca para conhecerem a História de África, a História Afro-Americana e a cultura negra. O cartaz foi exibido também numa exposição realizada em 2003 no Holocaust Memorial Museum intitulada “Respostas dos EUA à queima de livros pelos nazis”.

21.4.06

V for vendetta





Está actualmente em exibição nas salas de cinema do Porto e de Lisboa um filme que pretende ser a adaptação para o cinema da banda desenhada «V for Vendeta» criada por Alan Moore e David Lloyd (desenho) no início dos anos 1980, e cuja publicação começou pela editora Warrior com uma série a preto e branco, mas que depois foi retomada e republicada, já a cores, pela Vertigo/DC Comics nos Estados Unidos, e pela Titan Books no Reino Unido, nunca tendo sido editada em Portugal.
Esta banda desenhada tornou-se célebre por inspirar-se nas ideias sociais anarquistas de uma organização social caracterizada por uma ordem livremente construída, assente na liberdade individual. Esta marca ideológica está aliás bem patente nas capas dos livros desta banda desenhada pois o V de Vendetta é apresentado graficamente como o A do anarquismo.

O enredo consiste na denúncia de uma sociedade totalitária e o combate contra a tirania instalada.
A acção desenrola-se em 1997 na cidade de Londres, reconstruída depois de ter sido devastada por uma guerra nuclear, e que é dominada por um governo e um regime totalitário, cujos governantes se intitulam a mão, o ouvido e a cabeça, conforme as suas funções. O governo impõe uma tirania que não reconhece quaisquer direitos civis e impõe a censura, perseguindo e impedindo qualquer manifestação de oposição.
Trata-se de um estado que vigia os cidadãos através de câmaras de vigilância e que monta campos de concentração para quem não segue nem obedece a essa ordem social totalitária, onde são interrogados, torturados e mortos os contestatários. O paralelismo com a distopia de Orwell é óbvia, mas os criadores da banda desenhada tinham em mente criticar e contestar a politica da então primeira-ministra inglesa, Margareth Thatcher que no inicio da década de 80 foi o alvo preferido dos comics ingleses pela sua política de liberalismo selvagem e, responsável, pelos ataques aos direitos sociais.

A dada altura surge um justiceiro solitário para fazer frente a este totalitarismo. Conhecido simplesmente por V ( a Vendetta pretendia ser uma espécie de justiça popular anónima, uma retaliação contra a injustiça e os abusos de poder), o vingador solitário aparece vestido com trajes do século XVII e uma máscara reproduzindo a cara de Guy Fawkes, um personagem histórico que viveu entre 1570 e 1606 e que participou numa conspiração de católicos contra o rei inglês Jaime I, que pretendia m fazer explodir o edifício do Parlemento em 5 de Novembro de 1605, quando ali estivessem reunidos o rei, a rainha, o herdeiro do trono, os ministros e os paralamentares. A conjura abortou por acção da denúncia de um traidor, o que levou Fawkes a ser preso, torturado e executado em frente ao edifício do Parlamento.
A banda desenhada começa exactamente com V a salvar uma jovem de ser violada por polícias do regime que a leva em seguida para o cimo de um edifício onde ambos pudesse observar a explosão do edifício do Parlemento que ele preparara. V adopta então a jovem Evey e transmite-lhe a sua visão de liberdade e explica-lhe o significado das palavras anarquia e anarquismo, cujo significado sempre foi adulterado e pervertido pelo poder, nada interessado na difusão dos ideais libertários.
Nota-se ainda que a personagem V é uma mistura de características de vários heróis. Tem uma cara sorridente e age como aqueles heróis de capa e espada, tipo Scaramouche, mas é também um poeta espadachim como Cyrano de Bergerac. A sua agilidade e firça faz lembrar a dos super-heróis, ao mesmo tempo que o seu esconderijo está repleto de livros, obras de arte e uma jukebox que toca, por exemplo, Cole Porter e o tema Martha and the Vandelas: Além disso, o nosso herói cita frequentemente Shakespeare, William Blake, Loud Reed, Rolling Stones, etc

Ora foi esta história em banda desenhada que foi supostamente passada para o cinema pelos irmãos Andry e Larry Wachowski ( os autores de Matrix) num filme realizado por James McTeigue, com a participação dos actores Hugo Weaving no papel de V, e de Natalie Portman como Evey.
Dizemos supostamente porque na verdade o filme esvazia completamente a mensagem subversiva que se encontrava nos comics de Alan Moore e David Lloyd, cuja filosofia política sai totalmente branqueada tornando-se numa filme asséptico e incaracterístico, inócuo mesmo, que obrigou o autor do comics, Alan Moore a exigir que o seu nome fosse retirado do genérico do filme e que a sua pessoa não estivesse associada ao argumento montado pelos irmãos Wachowski.
O filme começa por mostrar Fawkes, em 1605, a encher as caves do Parlamento com pólvora, e depois a ser preso e enforcado. Mostra ainda a protagonista feminina a ser molestada pelos Apontadores ( polícia secreta) e a ser salva por V. Mas os grandes momentos da fita são as explosões dos edifícios do Parlamento ao som da «1812» de Tchaikovsky. O problema é que estas explosões que visam o símbolo por excelência do poder, que é o Parlamento inglês, não tem o sentido político que Alan Moore imprimiu na sua banda desenhada, tendo os argumentistas do filme convertido a forte carga política dos ataques ao poder totalitário num acto de pura vingança pessoal do sujeito que teria sido objecto de experiências médicas às mãos dos seus inimigos. O filme destrói e faz desaparecer qualquer conexão com a filosofia e a prática anarquista, ao arrepio e em oposição à vontade manifestada pelos autores do comics «V for Vendetta». Um ou outro resquício dessa mensagem releva da pura insignificância que passa perfeitamente despercebida a quem veja unicamente a fita, sem conhecer a banda desenhada que lhe serviu de base e inspiração. Os Estados Unidos, por exemplo, são ligeiramente beliscados quando no filme a sigla EUA pretende significar «Esfíncter Ulcerado da Asnérica» …

Em suma, trata-se de mais um filme-espectáculo da dupla Wachowski ( que também fez o Matrix), adulterando grosseiramente o obra «V for Vendetta» de Alan Moore, o faz com que o resultado final se aproxime mais de uma fita do Batman do que uma real adaptação para o cinema da banda desenhada «V for Vendtta», já tornada clássica na História recente dos Comics.
Um colectivo de libertário norte-americanos decidiu rectificar e expor os inúmeros cometidos na adaptação da banda desenhada para o cinema e criou um site para denunciar a situação:


Há também um site em castelhano:

http://vvvvv.vdevendetta.info/

Mais info:


http://en.wikipedia.org/wiki/V_for_Vendetta

http://en.wikipedia.org/wiki/Alan_Moore

http://www.alanmoorefansite.com/

http://www.shadowgalaxy.net/Vendetta/vmain.html

O site oficial do filme:


http://vforvendetta.warnerbros.com/



It’s no surprise that a film produced by multi-millionaires at Time-Warner, the largest f over $43 billion) would sell us the sizzle of violence and destruction while holding back the steak of anarchist opposition to capitalism. But it is worth taking a look at the differences between the book and the movie to see the specific ways they drain the story of its revolutionary politics.

Anarchy in the UK?
In Alan Moore’s comic book, V is an insurrectionary anarchist of the type that gave the ruling class nightmares around the turn of the 21st century—a bomb-throwing, dagger-wielding assassin and saboteur.
Most importantly, in the comic book, Moore’s V hints at the possibilities of a society organized without coercion. V is not only fighting against something, he is fighting FOR something. The constructive side of the anarchist vision is already downplayed in the comic book, but it is totally missing from the movie. What remains are V’s thrilling adventures in assassination and demolition. The viewer is left with a vague impression, however stirring, of rebellion tinged with nihilism. No alternative is proposed. The only mention of anarchism in the entire movie is when a wild-eyed stick-up-man shouts “Anarchy in the UK!” while robbing a grocery store.
Some of the characters are changed subtly as well: In the book, Evey Hammond makes the transition from helpless teenager to hardened insurrectionist. Evey’s character represents the possibility of people who are apathetic, cowed, and disengaged becoming transformed into active participants in revolutionary struggle. In the movie, she is from the beginning feisty and mistrustful of authority, and so her ‘transformation’ rings hollow. Are we to believe that only the natural rebels can fight the system, or that anyone can wake up and join in the good fight? In the movie too, the detective character Finch is made much more sympathetic, and only half-heartedly resists Evey’s final act. What would a Hollywood movie be without a good cop?
The movie’s presentation of fascism is watered down as well. It does draw some crucial links with the present situation in the US, making references to ‘rendition’, targeting of Muslim citizens, black hoods, detention centers, clampdown on radicals, profiteering by government cronies on mass vaccination, and fear-mongering over public catastrophes. But the comic’s clear-eyed presentation of fascism as a collusion between government and business elites to protect private capital is lost. In the movie, we are presented with an oppressive government, but its seems to be an oppression for oppression’s own sake. The real nature of fascism, which at root serves to protect private capital from the power of the people, is obscured.




Quem foi Guy Fawkers ?

Remember, Remember the Fifth of November The Gunpowder Treason and Plot I know of no reason why the Gunpowder Treason Should ever be forgot

Who is Guy Fawkes, and what is his relation to V for Vendetta? Well, before you can understand his relation to the book, you need to understand why Guy is so (in)famous to begin with.
The short answer is this: Guy (alias Guido) Fawkes was one of the members of The Gunpowder Plot of 1605 in which a group of Catholics attempted to blow up the Houses of Parliament and kill James I, the King of England, to protest Protestant rule. As the man chosen to light the fuse and the first captured, Guy has recieved the lion's share of attention among the conspirators. The long of it is as follows:
Since Henry the VIII's reign, England was divided between Catholics and Protestants with the factions fighting bitterly over control of the throne. Queen Elizabeth I had been staunchly Protestant, but with her death and the succession of James I as King, Catholics had thought their persecution was at and end. They were wrong. Shortly after James' coronation in 1603, it became clear he had no intention of granting leniency to the Catholics.
Guy himself was born in England in 1570 but by the turn of the century, Guy had spent several years fighting for Spain in the Netherlands, as well as participating in the Siege of Calais. His years of service earned him a reputation for his bravery and skill, especially with munitions. (Spain, a long-time rival of England, was staunchly Catholic and was often seen as an ally to English Catholics.) It was through his reputation and his pro-Catholic activities that he was brought to the attention of Thomas Wintour. It was Wintour who invited Fawkes into the circle of men that initially comprised The Gunpowder Plot.
The initial five members of The Gunpower Plot (of which Guy was one of; the Plot would eventually grow to thirteen members) first met in 1604 and began their plans. By March, 1605, the conspirators had rented a cellar under Parliament and began stockpiling 36 barrels of gunpowder. Guy was in charge of maintaining the stockpile, keeping the gunpowder fresh until Parliament's next session. In October, word of the conspiracy leaked, possibly by someone within the Conspiracy, although the warning did not mention the Plot specifically.
Believing they still had time, Fawkes and his conspirators went ahead with their plans. Parliament was due to meet on November 5th and it was that day that King James' men discovered the stockpile. They also discovered Fawkes, who was standing guard, and on his person they found all the tools necessary to light the gunpowder. Guy was captured, interrogated, and tortured; after two days he confessed the details of the Plot. Along with the surviving members of the conspiracy (several members died during attempts to capture them), Fawkes was tried on January 27th, 1606, and executed on Janury 30th.
After The Gunpowder Plot was foiled, King James decreed that on the anniversary of the plot's failure should always be remembered. 400 years later, that celebration is known as Bonfire Night where bonfires and fireworks are lit, and effigies of Fawkes (known, appropriately, as "guys") are burned, in celebration. (You'll have to ask the individual revelers whether or they are celebrating the Plot's failure or its attempt.)
It is in this context that we come to V for Vendetta. As Alan Moore wrote in his behind-the-scenes article "Behind the Painted Smile":
The big breakthrough [regarding what the character of V should look and act like] was all Dave's, much as it sickens me to admit it. More remarkable still, it was all contained in one single letter that he'd dashed off the top of his head . . . I transcribe the relevant portions beneath:
"Re. The script: While I was writing this, I had this idea about the hero, which is a bit redundant now we've got (can't read this next bit) but nonetheless . . . I was thinking, why don't we portray him as a resurrected Guy Fawkes, complete with one of those papier mache masks, in a cape and conical hat? He'd look really bizarre and it would give Guy Fawkes the image he's deserved all these years. We shouldn't burn the chap every Nov. 5th but celebrate his attempt to blow up Parliament!"
The moment I read these words, two things occurred to me. Firstly, Dave was obviously a lot less sane than I hitherto believed him to be, and secondly, this was the best idea I'd ever heard in my entire life. All of the various fragments in my head suddenly fell into place, united behind the single image of a Guy Fawkes mask.
With the idea of Guy Fawkes, Moore was able to crystallize his vision of who V was and helped give Moore further inspiration towards the themes of rebellion and revolution that exists in the novel. These days, the idea of basing the "hero" of a story on a terrorist is one that could give many people pause. If you are interested, you can read my own thoughts on this subject in the essay "V and Terrorism" found in the Analysis section.
Lengthy as this summary has been, there is far more to the story than what I've written here. If you are interested in reading further about Guy Fawkes, The Gunpowder Plot, or Bonfire Night, then I encourage you to click on the links below to learn more.
The Gunpowder Plot: Parliament & Treason 1605
The Gunpowder Society
The Center for Fawkesian Pursuits
Guy Fawkes - Treason in 1605
The Encyclopedia Britannica's Entry for The Gunpowder Plot
A Celebration of Guy Fawkes Day
Guy Fawkes and Bonfire Night