28.2.06

Nós somos contra todas as guerras. Todas as guerras são contra nós


Jornada de acção internacional dos anarquistas contra a guerra
( 18 de Março de 2006)
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Nós somos contra todas as guerras.
Todas as guerras são contra nós
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Foi convocada pela IFA ( Internacional das Federações Anarquistas) uma jornada de acção internacional contra a guerra que pretende reunir todas e todos quantos se insurgem e lutam contra o militarismo em todos os níveis das nossas sociedades.
Convidam-se assim todos os colectivos para, a nível local, levarem a cabo nesta data iniciativas de modo a recordar o início da guerra contra o Iraque há 3 anos atrás..
Infelizmente,esta não é apenas a única guerra. Permanentemente as nossas vidas são invadidas pela omnipresença de forças armadas, de elementos armados, de polícias de choque, de bandos violentos.
Em 2006 a questão da construção da paz no mundo está, mais do nunca, na ordem do dia. Sob o pretexto de defenderem os direitos humanos e de lutar pela democracia e contra o terrorismo, os Estados mais poderosos do mundo inteiro continuam a perpetrar crimes contra as populações e o ambiente.
Como se isso não fosse suficiente, à custa das suas próprias economias os exércitos e as forças armadas dos Estados, em especial, dos Estados mais poderosos ( e prepotentes) do mundo parasitam os orçamentos sociais, assim como absorvem somas cada vez mais avultadas aplicadas na pesquisa científica.
Por isso, é chagada a altura das populações de todas as partes do mundo fazerem ouvir a sua voz a favor do desarmamento e da paz no mundo inteiro.
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Para mais info:

Recordar Rosalinda ( canção de Fausto) em Ferrel, 30 anos depois


"...E em Ferrel, lá para Peniche,
vão fazer uma Central
que para alguns é nuclear,
mas para muitos é mortal.
Os peixes hão-de vir à mão,
um doente, outro sem vida,
não tem vida o pescador.
Morre o sável e o salmão,
"Isto é civilização",
assim falou um senhor.
Tem cuidado,
Rosalinda,
se tu fores à praia,
se tu fores ver o mar,
cuidado não te descaia
o teu pé de catraia
em óleo sujo à beira-mar...".

(excerto retirado da letra da canção de Fausto «Rosalinda»)

Reprodução do texto integral da letra da canção:
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ROSALINDA


Rosalinda
se tu fores à praia
se tu fores ver o mar
cuidado não te descaia
o teu pé de catraia
em óleo sujo à beira-mar

a branca areia de ontem
está cheiinha de alcatrão
as dunas de vento batidas
são de plástico e carvão
e cheiram mal como avenidas
vieram para aqui fugidas
a lama a putrefacção
as aves já voam feridas
e outras caem ao chão

Mas na verdade Rosalinda
nas fábricas que ali vês
o operário respira ainda
envenenado a desmaiar
o que mais há desta aridez
pois os que mandam no mundo
só vivem querendo ganhar
mesmo matando aquele
que morrendo vive a trabalhar
tem cuidado...

Rosalinda
se tu fores à praia
se tu fores ver o mar
cuidado não te descaia
o teu pé de catraia
em óleo sujo à beira-mar

Em Ferrel lá p´ra Peniche
vão fazer uma central
que para alguns é nuclear
mas para muitos é mortal
os peixes hão-de vir à mão
um doente outro sem vida
não tem vida o pescador
morre o sável e o salmão
isto é civilização
assim falou um senhor
tem cuidado

Discografia de Fausto:

· "Fausto" (1970)
· "A preto e branco" (canções sobre letras de poetas africanos)
· "Para além das Cordilheiras" (nada mau...)
· "Histórias de Viageiros"
· "A Madrugada dos Trapeiros"
· "Beco com saída"
· "P'ró que der e vier" (1974)
· "Por este rio acima" (que dizer disto ?...)(obrigatório) - baseado em "A Peregrinação" de Fernão Mendes Pinto (1982)
· "O Despertar dos Alquimistas" (lindo...) (1985)
· "Crónicas da Terra Ardente" - baseada na "História Trágico Marítima"
· "O melhor de Fausto" (colectânea) (1994)
· "Atrás dos Tempos vêm Tempos" (1996)

Fonte:
aqui
e ainda em:
http://natura.di.uminho.pt/~jj/musica/fausto.html


Vamos a Ferrel, 30 anos depois da manifestação popular contra a construção de uma central nuclear no local


Convidam-se todos os cidadãos (e associações cívicas, de ambiente e segurança civil, e outras) que querem marcar a sua posição de rejeição de centrais nucleares em Portugal e a primazia de fontes realmente alternativas e renováveis conciliáveis com baixos impactos ambientais, a estarem presentes no domingo 19 de Março próximo na aldeia de Ferrel, no concelho de Peniche, a cerca de 80 km de Lisboa.
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No dia 15 de Março, a quarta feira anterior, perfazem-se 30 anos sobre amarcha do povo da aldeia de Ferrel sobre o local onde decorriam trabalhospreparatórios para a então projectada central nuclear, numa impressionante manifestação de recusa, pacífica e determinada.
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Note-se que em Abril decorrem 20 anos sobre o acidente nuclear de Chernobil, a prova provada do que o movimento antinuclear sempre afirmou: as centrais nucleares representam um perigo desmesurado e inaceitável.
Tornou-se entretanto moda atribuir o acidente à tecnologia nuclear "soviética", hoje descartada, como se em 1979 não estivesse estado iminente um acidente de enorme envergadura em Three Mile Island, nos Estados Unidos, e como se na Europa Ocidental, nos EUA e no Japão (tudo tecnologia "ocidental") não sejam numerosas e constantes as situações de maior ou menor perigo que contam já várias vítimas mortais e que têm feito passar calafrios na espinha dos poucos que tomam conhecimento imediato desses riscos, capazes de degenerarem catástrofe de dimensões incalculáveis.
Assim, comemoraremos os 30 anos da recusa do nuclear em Ferrel e lembraremos os 20 anos de Chernobil, numa evocação de solidariedade com as vítimas do nuclear.
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Um programa mínimo e indicações de carácter prático serão divulgadas dentro de dias. Da Comissão Organizadora fazem parte os seguintes membros:
-J. Delgado Domingos, Professor Catedrático do IST e autor do livro"Inteligência ou Subserviência Nacional?" com enfoque na recusa do nuclear ena proposição de alternativas
-Afonso Cautela, jornalista, autor do livro "O Suicídio Nuclear Português"
-Viriato Soromenho Marques, Professor Catedrático na Universidade de Lisboa,ex-presidente da Quercus
-Silvino Conceição João, presidente em exercício da Junta de Freguesia deFerrel
- António José Correia, presidente em exercício da Câmara Municipal de Peniche
- Mariano Calado, escritor e mestre em História Regional e Local, residente em Peniche
-José Luís Almeida e Silva, director do jornal Gazeta das Caldas e que teve papel fulcral na luta antinuclear em Portugal de 1976 a 1982 (ano em que o projecto nuclear foi posto na gaveta)
-Manuel Ferreira dos Santos, engenheiro, representante das ONGA no CNADS -Conselho Nacional do Desenvolvimento Sustentável
-José Carlos Costa Marques, tradutor e editor, participante dos preparativos do Festival Pela Vida Contra o Nuclear que, em Janeiro de 1978, assinalou nas Caldas da Rainha e em Ferrel a recusa do país ao nuclear.



Vamos a Ferrel!

INSCREVA-SE AGORA
19 DE MARÇO: VAMOS A FERREL (PENICHE)
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Lembra-se de Chernobil?
Em Abril de 1986 dava-se perto de Kiev o maior desastre de sempre em centrais nucleares, cujos efeitos ainda persistem.
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Sabia que, DEZ ANOS ANTES, em 15 de Março de 1976, o povo de Ferrel, uma aldeia situada a 4km de Peniche, marchou unanimente do centro da freguesia até aos campos do Moinho Velho, a 4km, onde se tinham iniciado obras relacionadas com a projectada "primeira" central nuclear portuguesa, e exprimiu a sua categórica recusa de que ela fosse ali construída? Esse foi o início de um processo que levou praticamente ao abandono, em 1982, pelo governo de então, de centrais nucleares em Portugal.
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Agora que alguns querem ressuscitar a perigosa e inútil ideia de centrais nucleares em Portugal, vamos a Ferrel, no domingo 19 de Março, comemorar os 30 anos sobre essa primeira grande manifestação de carácter ambiental no nosso país e relançar o debate sobre o problema energético em bases realmente sustentáveis, renováveis e alternativas.
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INSCREVA-SE AGORA
Para a deslocação a Ferrel em autocarro, promovida pela Campo Aberto e aberta a todas as associações e pessoas na região do Porto, consultar:
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25.2.06

Para os amantes da poesia francesa vai ser criada uma Comunidade de Leitores (déLire)



déLire – uma nova comunidade de leitores para os amantes da poesia francesa


Vai ser criada uma nova comunidade de leitores na cidade do Porto, desta vez por iniciativa de Serge Abramovici ( mais conhecido por Saguenail) , poeta, cineasta e professor na Faculdade de Letras do Porto, radicado há alguns anos nesta cidade.


A comunidade de leitores receberá a designação genérica «déLire» e tem marcada a sua 1ª reunião para as 12.30 nas instalações da Faculdade de Letras do Porto do próximo dia 2 de Março de 2006 na sala de Estudos Franceses, Torre A piso 3, Quinta-feira

Como habitualmente acontece, as Comunidades de Leitores são espaços livres e abertas a todos os interessados, em especial, aos amantes dos livros e da literatura e, neste caso em particular, aos amantes da poesia francesa.

Perspectivas actuais da poesia

A Fundação Eugénio de Andrade ( R. Passeio Alegre, 584, no Porto) vai realizar um conjunto de palestras sob o título «Perspectivas actuais da Poesia Internacional».

O programa será o seguinte:

Durante o mês de Março

4/3 – Poesia portuguesa ( por Rosa Maria Martelo)

8/3 – Poesia francesa ( por Ana Paula Coutinho)

18/3 – Poesia inglesa ( por Gualter Cunha)

25/3 – Poesia italiana ( por Maria Bochicchio)

Durante o mês de Abril

1/5 – Poesia alemã ( por João Barrento)

8/5 – Poesia espanhola ( por Maria Eugénia Díaz)

22/5 – Poesia estadunidense ( por Maria Irene Ramalho)

29/5 – Poesia brasileira ( por Arnaldo Saraiva)

Todas as sessões realizam-se às 18.30 na sede da Fundação Eugénio de Andrade ( ver supra)


A entrada é livre para todos.

Breve balanço da obra de Sócrates (o da Beira Baixa, não o outro)


Após um ano de governo de Sócrates, podemos fazer um breve balanço:

Taxa de Desemprego no final de 2004 – 6,7%
Taxa de Desemprego no final de 2005 – 7,7%

Taxa de juro( Euribor/3 meses) no final de 2004 – 2,1%
Taxa de juro( Euribor/3 meses) no final de 2005 – 2,2 %

Défice Público no final de 2004 – 3%
Défice Público no final de 2005 – 6%

Inflação no final de 2004 – 2,4%
Inflação no final de 2005 – 2,3%

Palavras para quê?

23.2.06

José Afonso morreu há 19 anos, mas a obra e a sua música perduram e continuam connosco


Passam hoje 19 anos do falecimento de José Afonso, poeta, músico e notável cantor, e destacado resistente e activista social durante a ditadura fascista como ainda durante o regime democrático. A homenagem merecida à sua figura não deve fazer esquecer a importância da divulgação da obra e do património musical legado por José Afonso. Para o efeito estão programadas várias sessões e iniciativas a serem realizadas em Guimarães no Centro cultural Vila Flor naquela cidade e outras actividades organizadas pelos amigos e pela Associação José Afonso.

José Salvador no livro que dedicou a José Afonso refere-se a este nos seguintes termos: «Libertário, anarquista por vocação, uma personalidade inquieta e devoradora das suas próprias angústias.»

Informações:
http://www.aja.pt/
http://www.aja.pt/homenagemguimaraes.htm


Canto Moço ( canção do álbum «Traz outro amigo também»)

Somos filhos da madrugada
Pelas praias do mar nos vamos
À procura de quem nos traga
Verde oliva de flor no ramo
Navegamos de vaga em vaga
Não sabemos de dor nem mágoa
Pelas praias do mar nos vamos
À procura da manhã clara
Lá no cimo de uma montanha
Acendemos uma fogueira
Para não se apagar a chama
Que dá vida na noite inteira
Mensageira pomba chamada
Companheira da madrugada
Quando a noite vier que venha
Lá no cimo de uma montanha

Onde o vento cortou amarras
Largaremos p´la noite fora
Onde há sempre uma boa estrela
Noite e dia ao romper da aurora
Vira a proa minha galera
Que a vitória já não espera
Fresca brisa moira encantada
Vira a proa da minha barca

«Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro», novo livro de A. Pedro Ribeiro


Já se encontra em circulação o novo livro de A. Pedro Ribeiro, poeta e autor de textos e manifestos político-literários. Acresce a isto o reconhecimento de um extraordinário «diseur» de poesia e performer. Chama-se «Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro» e foi editado pelo novel editora Objecto Cardíaco, sedeada em Vila do Conde.


Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro" é o título do novo livro de A. Pedro Ribeiro (Objecto Cardíaco). Ver

www.objectocardiaco.pt/
Ou
http://last-tapes.blogspot.com.

No passado ano de 2005 A. Pedro Ribeiro (Porto, 1968) manifestou-se contra tudo e contra todos, chegando a alardiar uma candidatura à Presidência da República para abanar consciências e reclamar lugar para a liberdade mais absoluta. Estabelecendo uma relação com a poesia equivalente à do militar com seu arsenal e estratégias, o autor faz da palavra uma arma inesgotável e vê no capitalismo o inimigo público número um. Politicamente incorrecto, A. Pedro Ribeiro com o seu manifesto incondicional é ainda um artista, conferindo aos textos um espaço de acção que a arte solidifica e ratifica. Realidade ou encenação, A. Pedro Ribeiro é tanto personagem dos seus escritos quanto a sociedade contemporânea que retrata.

Lançamento do nº 8 da revista Águas Furtadas (literatura, música e artes visuais)

É hoje lançado o nº 8 da revista Águas Furtadas, da responsabilidade do núcleo de jornalismo académico do Porto, e vocacionada para as áreas da literatura, música e artes visuais. A sessão de apresentação e lançamento está marcada para as 22 h. na nova livraria « Sem mais ou menos» da Rua Mártires da Liberdade, Porto. Contará com música, imagens e poesia.

Oficina de iniciação ao palhaço

Durante os dias 25,26 e 27 de Fevereiro e ainda 4 e 5 de Março vai decorrer no ESMAE ( Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo), à Rua da Alegria 503, uma Oficina de Iniciação ao Palhaço sob a direcção de Graça Ochoa.

22.2.06

Os 28 anos de educação livre da Escola Paideia


Em Mérida há 28 anos que uma escola utiliza os valores e as metodologias anarquistas na educação de crianças e jovens: educar de forma assemblária, substituir a competição dos exames pelo conhecimento partilhado e fomentar o desejo de aprender. É a Escola Livre Paideia onde actualmente trabalham 5 pessoas a tempo inteiro, sendo frequentada por 31 pessoas na Primária e no Secundário e 15 pessoas na educação infantil.

Evidentemente que não se trata de um colégio como os demais. Na Escola Livre Paideia não existem nem se reproduzem hierarquias nem se utilizam os castigos e punições como nas outras escolas. Nem muito menos existem exames, nem tão pouco a obrigação de repetir mecanicamente a matéria e o programa de cada nível educativo. Todas estas regras e rotinas, típicas do sistema educativo oficial, foram aqui postas de lado desde o dia 9 de Janeiro de 1977. Escolheram-se outras formas de ensinar e aprender. Na verdade, a Escola livre Paideia tem sido, desde a sua criação, o único centro educativo que mais empenho e persistência tem mostrado em seguir e aplicar as ideias anarquistas sobre igualdade, cooperação e não-autoridade.
A sua prática educativa baseia-se fundamentalmente na iniciativa pessoas e nas inquietações pessoais de cada estudante. Considera-se mesmo que as escolas tradicionais impedem e obstaculizam as capacidades que as pessoas revelam ao longo da sua infância. Daí que na Paideia não se seguem programas predefenidos mas, antes pelo contrário, são os próprios alunos que decidem o que querem aprender.

Liberdade responsável

Para isso os professores dedicam-se às tarefas de orientação. Enquanto docentes a sua função consiste em estimular o desejo de conhecimento e saber e em transmitir valores e assegurar a convivência entre todos. A importância e o valor que se dá à liberdade é, nesse sentido, a principal motivação. «Quem critica a escola confunde liberdade com não estudar ou com perda de tempo. Mas não é assim», explica uma das responsáveis pela escola, Josefa Martín Luengo. E acrescenta: «O valor que ensinamos é o da liberdade responsável, ensinamos-lhes que há que conquistar a liberdade.»
Na prática isso traduz-se em compromissos de trabalho. Na Escola Paideia aproveita-se a curiosidade inata dos estudantes para que sejam estes, no início de cada semana, que indiquem e proponham atingir certos e determinados objectivos. O compromisso pode ir desde um trabalho sobre certa matéria, fazer exercícios e preencher o caderno de Matemático ou de uma Língua até realizar uma investigação sobre um tema de história ou uma composição sobre valores e convivência.
A sua não realização não implica a aplicação de qualquer sanção ou castigo. «O alunos – explica Luengo – demonstram, ao ser-lhes aplicado uma sanção, que são responsáveis, habituando-se a receber ordens e em segui-las. Ora não é isso que eles gostam. Por isso é que procuram cumprir com os seus compromissos a fim de poder continuar a ser pessoas livres.» Desde os primeiros momentos a aprendizagem é identificada com liberdade.«É fácil demonstrar que o poder, os poderes e os sistemas autoritários sempre se basearam na ignorância, no fanatismo e nas religiões para se perpetuarem», argumentam os elementos da Escola Paideia que sempre defendeu que um dos seus principais desafios é dotar os seus estudantes de amplos conhecimentos, devidamente acompanhados com um apurado sentido crítico.

Cultura assemblária

Apesar de tudo, o mais frequente é que os compromissos assumidos sejam levados a cabo sem excessivas dificuldades. Tratam-se de actividades livremente escolhidas por cada estudante que, por sua opção, se decide e assume a realizá-las. A que acresce a satisfação em explicar aos demais o que se aprendeu no decurso das reuniões assemblárias. Com efeito, uma vez por mês, cada um expõe a todos os outros elementos da escola o que aprendeu ao longo do período mensal anterior, respondendo igualmente às perguntas e questões que lhe são apresentadas pelos seus companheiros, o que lhes permite dar conta do que lhes falta, ou não, ainda aprender.
A cultura assemblária é a cultura característica da Escola Paideia. Cada assembleia aglutina todos os elementos da escola, estando presentes desde a professora mais veterana até às crianças de 5 e 6 anos. É durante essas assembleias que se organiza a autogestão da escola, se decidem os objectivos de cada curso e de cada nível educativo, assim como se resolvem os conflitos que tenham, porventura, aparecido. Não por acaso a ausência de violência é um dos traços mais marcantes do funcionamento interno da escola. Grupos de estudantes actuam, quando necessário, como pacificadores. E quando se desencadeiam conflitos reúnem-se as duas partes até que ambas cheguem a um acordo. Se a divergência se mantiver então cabe à Assembleia decidir.
Através do diálogo razoável a escola livre Paideia resolve os problemas que hoje em dia assolam o sistema oficial de ensino, como é o caso da violência, o cansaço e as frustrações dos professores, ou então a falta de interesse dos alunos.

Autor do texto: Miguel Ángel de Lucas
Texto publicado no último número do jornal Diagonal (16/2/2006)
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Lista completa das vítimas mortais do Rali Paris-Dakar…mas só até à próxima edição!!!


Nota de esclarecimento: a presente lista oficial de vítimas mortais do Rali Paris-Dakar está completa, mas ….. só até à próxima edição do Rali( a realizar no final deste ano, e com saída prevista de Lisboa) porque, à imagem das edições anteriores, também não deixará de provocar mais mortes e feridos. Até quando?


Lista das vítimas mortais do Rali Paris-Dakar

Desde 1979, ano de início do Rali Paris-Dakar, ultimamente rebaptizado Lisboa-Dakar, registaram-se 53 vítimas mortais, das quais 17 espectadores ( em que se incluem 8 crianças), 23 concorrentes e até …o próprio fundador da prova, Thierry Sabine!!!

1979
Patrick Dodin - motard ( 1ª vítima mortal desta lista negra das vítimas do rali Paris-Dakar)

1982
Uma criança do Mali é atropelada por um concorrente
Morre o concorrente motard holandês Bert Oosterhuis
A jornalista francesa da revista Le Point, Úrsula Zentsch morre num acidente com um camião de reabastecimento

1983
Morte de Jean-Noël Pineau, motard

1984
Uma mulher morre debaixo de um Range Rover no Burkina Fasso

1985
Uma criança morre esmagada por um carro da competição

1986
Morte de Yasuo Kaneko - motard japonais
Num acidente de helicóptero morrem ainda :
Thierry Sabine – fundador e organizador da prova
Nathaly Odent - jornalista
François Xavier-Bagnoud – piloto do heli
Jean-Paul Le Fur – técnico de rádio
Daniel Balavoine – cantor

1987
Henri Mourem, antigo co-piloto do rali, morre num carro ao serviço da imprensa, quando transportava jornalistas ao longo do trajecto do rali.

1988
Morte de duas crianças e uma mulher no troço entre Moudjeria et Nouakchott
Morte do navegador holandês Kees Van Loevezijn, que seguia ao lado de Daf de Van de Rijt
Morte de Patrick Canado – co-piloto de de René Boubet – devido a uma colisão do carro em que seguia com outro concorrente
Morte do motard Jean-Claude Huger
Entre Moudjeria et Nouakchott, dois jornalistas são mortalmente feridos num acidente.

1990
O jornalista Kaj Salminen morre na sequência de um acidente

1991
O condutor de um camião de assistência, Charles Cabanne, morre por ter sido alvejado no Mali.

1992
Entre Syrte et Sabha (Libia), Jean-Marie Sounillac e Laurent Le Bourgeois morrem a bordo de uma viatura de assistência
Ferido mortalmente o motard Gilles Lalay.

1994
Um criança é mortalmente atropelada por um motard (factos relatados no Canard enchainé de 18/01/06)
O motard belga Michel Sansen é vítima mortal duma queda

1996
Na Guiné uma criança é atropelada mortalmente
O condutor de um camião, Laurent Gueguen, morre por ocasião de uma explosão que atingiu a sua viatura

1997
Morte do motard Jean-Pierre Leduc

1998
Perto de Dakar morrem cinco ocupantes de um veículo quando a sua viatura choca com um carro da competição

1999
Uma viatura da polícia local choca com um automóvel da competição, e do acidente resultou a morte de um polícia.

2001
Morte de um condutor de uma viatura de assistência técnica

2002
Daniel Vergnes, mecânico da equipa Toyota, morre durante a 11ª etapa da prova

2003
O navegador Bruno Cauvy, 48 anos, morre num deslizamento das dunas aquando da sua primeira participação no rali

2005
Uma rapariga de cinco anos é mortalmente ferida e, Kebener, a 160 km de dakar, por um camião de assistência técnica.
Mark Delvigne e Michel Lemaire, espectadores belgas, são mortos por um camião da assistência técnica
O motard espanhol Jose Manuel Perez morre com 41 anos na 7ª etapa, na Mauritânia
No dia seguinte, outro motard italiano, Fabrizio Meoni, duplo vencedor do rali, sofre uma queda mortal durante a 11ª etapa.

2006
Morte do motard Andy Caldecott por efeito de uma queda da sua mota
Morte de uma criança de 10 anos, Boubacar Diallo ( ferido mortalmente em 13/06/06 por uma viatura a 6 km da aldeia de Kourahoye)
Morte de uma criança guineense de 12 anos , Mohamed Ndaw, atropelado por um camião da assistência técnica
2007 ( próximo ano)
Quantas vítimas mais?

Nota Importante:
Nesta lista só estão incluídos as vítimas mortais contabilizadas pelas estatísticas oficiais da organização do Rali, faltando contabilizar os feridos e os inúmeros acidentes registados ao longo das várias edições da prova.
Todavia, o que importa ressaltar é que não estão registados, por falta de registos fidedignos, o número de residentes locais africanos que têm sido vítimas dos potentes bólides que anualmente atravessam e invadem aquelas terras africanas

Mais informações:

http://padak.wordpress.com/


21.2.06

Mais de 350.000 britânicos deixaram o seu país em 2005 à procura de uma vida melhor.


Geralmente o Reino Unido é conhecido como um país para onde se dirigem os emigrantes de muitos e variados países. O que é já menos conhecido é que existem – e têm mesmo aumentado – o número de britânicos que fazem justamente o caminho inverso, isto é, procuram fora do seu país de origem – a Grã-Bretanha – melhores condições de vida. Com efeito, segundo estatísticas oficiais foram 359.500 pessoas que emigraram no ano de 2005 para o estrangeiro nas ilhas britânicas. Mais. Calcula-se que um diplomado universitário em dez saíram da Grã-Bretanha no ano passado . Um inquérito recente confirma esta tendência: 54% dos britânicos gostariam de instalar-se nu país diferente da sua terra natal. Aos destinos tradicionais de emigração ( Austrália, Nova Zelândia, Canada, África do Sul e EUA) ao que acresce agora os países do continente europeu, desde a integração das ilhas britânicas no União Europeia. As razões para esta vontade são diversas, desde o desejo de ter um qualidade de vida melhor até a razões ligadas ao clima chuvoso e depressivo que é apanágio do país. Outro inquérito mostra como nos próximos anos um em oito reformados têm intenção de se instalarem fora das fronteiras britânicas.
Note-se, porém, que o saldo demográfico revelou ser, mesmo assim, positivo uma vez que entraram para a Grã-Bretanha durante o ano anterior cerca de 582.000 estrangeiros.
Mas a tendência para sair da Grã-Bretanha parece ser cada vez mais forte e acentuada...

Movimento contra a gravata («no-tie movement»)


Uma nova campanha nasceu no Brasil nos últimos dias. Trata-se do movimento contra a gravata, mais especificamente, contra a obrigação do uso da gravata nos actos oficiais, políticos e diplomáticos. A ideia foi lançada por Guaracy de Freitas, da Federação Nacional de Advogados do Brasil, e tem em vista aproveitar a figura mediática do novo presidente da Bolívia, Evo MOrales, que se tem apresentado nos vários actos oficiais sem gravata, com uma indumentária simples e informal, para lançar um movimento generalizado contra o uso obrigatório deste acessório pelas figuras cinzentas do Estado e da política.

Movimento similares já tinham surgido em vários pontos do mundo com o mesmo propósito ( «no-tie movement»)

Campanha a pedir o controle sobre o comércio internacional das armas


Esta em curso uma campanha internacional contra o comércio de armamento sob o lema «Armas: um comércio que mata» . Um dos objectivos é entregar uma petição de 1 milhão de assinaturas a pedir o controle internacional do comércio de armas que será entregue às Nações Unidas em Junho de 2006.

Para mais informações:

http://secours-catholique.asso.fr
http://agirici.org
http://amnesty.asso.fr
http://obsarm.org

Banco ético de Badajoz


O Banco ético é um espaço de ajuda mútua das pessoas mais excluídas, empobrecidas e exploradas, sem atender à sua origem e nacionalidade, da cidade e da região circunvizinha de Badajoz.
O Banco ético de Badajoz é uma entidade sem fins lucrativos que pretende captar e utilizar as poupanças de uma forma responsável, e muito especialmente utilizá-lo como um instrumento de transformação social. Para tal visa apoiar as iniciativas daquelas pessoas que, pela sua situação económica e pessoal, estão em situação de exclusão social, pelo menos, financeiramente falando.
O objectivo é também contribuir para uma sociedade mais justa e solidária, evolvendo protagonismo às pessoas e não tanto ao dinheiro, para além de pretender sensibilizar para a importância dos princípios da economia solidária, alternativa e justa.
Para mais informação:
http://www.badajoz.org/bancaetica/

15.2.06

Falsos mitos do livre comércio agrícola

Mito 1

Se aumentarmos o comércio agrícola internacional, reduziremos a fome no mundo

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Realidade: o comércio internacional de alimentos está a aumentar a um ritmo muito maior que a população e a produção e, apesar disso, a fome não pára de crescer. Entre 1968 e 1998 a produção de alimentos cresceu 84%, a população 94% e o comércio 184%. A fome, entre 1995 e 2002, também cresceu 2,5%. Ou seja, mais 20 milhões de pessoas.

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Mito 2

Se os países empobrecidos aumentarem o seu comércio agrícola, reduzirão os seus índices de pobreza

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Realidade: no último relatório das Nações Unidas sobre os 48 países mais pobres do mundo indica-se que a imensa maioria dos países que aumentaram as suas exportações e importações ( a maior parte delas, agrícolas) viram a pobreza a aumentar nos seus territórios. Para continuar a aumentar as suas exportações agro-alimentares, esses países tiveram que importar um número cada vez maior de materiais agrícolas, necessários para completar o modelo produtivo intensivo tipicamente exportador. Com tudo isto, as suas exportações ficam dependentes da importação daqueles materiais.

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Mito 3

Se os países pobres aumentarem as suas exportações, as divisas geradas permitir-lhes-ão importar o que necessitam

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Realidade: nos países menos desenvolvidos que obtiveram a maior parte dos seus ganhos graças à exportação de produtos agro-pecuários ( os agro-exportadores pobres) os ganhos obtidos pelas exportações permitem-lhes cobrir somente 54% das importações totais. Ou seja, exportar e importar é, para eles, um péssimo negócio.

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Mito 4

O problema é o acesso aos mercados do Norte por parte dos países pobres

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Realidade: Existem produtos agro-alimentares para os quais o acesso está garantido, e apesar disso a pobreza não melhora. A soja da Argentina entra livremente na EU e, não obstante isso, actualmente os argentinos comem em média 10 kg menos de carne, 1,5 kg a menos de ovos e 50 litros a menos de leite do que no ano de 1980. O salmão tem entrada livre no mercado dos EUA e apesar disso os rendimentos familiares na região de salmão no Chile foram os que menos aumentaram nos últimos 10 anos em todo aquele país. A explicação reside no facto da maior percentagem dos lucros ter ido parar aos bolsos da oligarquia local e às transnacionais.. No Quénia a exportação da fruta duplicou e apesar disso o consumo local da fruta desceu de 30,5 a 26,5 kg de fruta por pessoas, segundo dados da FAO

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Mito 5

O livre comércio somente beneficia os países ricos

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Realidade: O livre comércio somente beneficia as agro-empresas que podem produzir, transformar e comercializar internacionalmente. Ou seja: 1) Produzindo os valores acrescentados ou as matérias primas alimentares ( Commodities); 2) Transformando as matérias primas agro-alimentares em alimentos manufacturados, ou 3) Comercializando com tudo isso a nível mundial. Os lucros vão directos para as grandes explorações agrícolas e as empresas transnacionais, qualquer que seja a sua origem e nacionalidade. Os grandes prejudicados são as famílias camponesas, qualquer que seja a sua nacionalidade. Espanha viu aumentar 400 vezes as suas exportações de carne de porco entre os anos de 1985 e 2002, ao mesmo tempo que numa das suas regiões privilegiadas de produção, em Aragón, registou-se o desaparecimento de 75% das explorações porcinas, e as que se mantiveram viram o seu tamanho aumentar 10 vezes durante o mesmo período.

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Mito 6

O livre comércio reduz os preços finais dos alimentos ao consumidor

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Realidade: O Banco Mundial anunciou que desde 1974 até 1997 os preços dos produtos básicos baixaram, enquanto os preços pagos pelos consumidores aumentaram. O preço do café desceu cerca de 18% entre 1974 a 1993, o que não impediu que se registasse um aumento de 240% no preço final do café ao consumidor nos EUA. Em Espanha os índices dos preços ao agricultor e ao consumidor duplicaram entre 1997 e 2003. No México o preço do milho a pagar aos agricultores desceu 50%, enquanto o preço que o conbsumidor paga pelo milho aumentou 297%. A causa disto é o controle monopolista pelas empresas agro-alimentares que baixam os preços na produção e aumentam no consumo,arrecadando lucros chorudos.

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Mito 7

O livre comércio melhora e moderniza a agricultura e a pecuária tornando-as mais competitivas

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Realidade: O livre comércio através da competência desigual entre produtores de distintas regiões destrói a agricultura e a pecuária transformarndo-as em agro-indústria, industrializadas em matérias-primas alimentares nas mãos de uma poucas grandes explorações agrícolas ou nas mãos das empresas do agrobusiness. Argentina perdeu 25% das suas explorações agrárias desde que aumentou as suas exportações agrícolas. Espanha perdeu 50% da sua população agrícola nos últimos 15 anos e 40% das suas explorações agrárias desapareceram. No México 15 milhões de agricultores ficaram excluídos do mercado agrícola a partir do momento em que houve a liberalização do mercado dos seus cereais. Segundo o PNUD o México perdeu 700.000 a 800.000 meios de subsistência como consequência da livre comercialização do milho para os EUA

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Mito 8

Os países pobres ainda têm economias fechadas e deveriam inserirem-se na economia mundial para melhorar os seus indicadores sociais

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Realidade: Os países pobres são os estão mais abriram as suas economias, calculando-se em cerca de 51% do seu PIB, ao passo que os países desenvolvidos têm um grau de abertura das suas economias em 43% do seu PIB

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Mito 9

O livre comércio agrícola aproveita as vantagens comparativas entre regiões-países e a melhoria na competitividade que isso representa resulta num melhor nível de vida

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Realidade: As vantagens comparativas não são geográficas, climatológicas ou de qualidade relativos dos solos agrícolas, mas sim relativas aos custos salariais menores. Os baixos salários são a grande vantagem dos países pobres. Basear o desenvolvimento humano de um país em salários de subsistência e em condições miseráveis não parece ser o melhor caminho. Marrocos exporta tomates a Espanha, não porque o seu clima ou os seus solos sejam melhores, mas porque os salários dos trabalhadores rurais marroquinos são muito mais baixos que os dos seus colegas espanhóis. México vende tomates aos EUA não porque o seu clima seja melhor que o da Califórnia mas sim porque um trabalhador rural mexicano ganha num dia o mesmo que um trabalhador norte-americano ganha numa hora.

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Mito 10

O livre comércio agrícola estimula a actividade empresarial dos países

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Realidade: o livre comércio agro-alimentário destrói a actividade empresarial e comercial e permite o controle em condições de oligopólio das grandes empresas agro-alimentárias transnacionais ( os chamados global players). A Costa Rica lançou um processo de liberalização do seu comércio agrícola nos princípios dos anos 80. Nos finais dessa década, 50% dos negócio agrícolas estavam nas mãos das empresas estranhas à Costa Rica. O controlo de certos produtos como a papaia passou de 99% para 11%. No Chile, em meados de 1990 havia mais de 100 médias empresas chilenas que produziam e exportavam salmão. No ano de 2005 esse número era de 35, das quais 12 produzem 75% da produção, e metade das empresas transnacionais. Na Zâmbia a liberalização do comércio agrícola durante os anos 90 teve como consequência a queda de 20% do consumo interno de milho, pois enquanto o seu preço para exportação desceu, o preço para o consumidor zambiano subira.

www.notecomaselmundo.org

13.2.06

O anarquismo profético do Prof. Agostinho da Silva ( a propósito do centenário do seu nascimento)



Passam hoje 100 anos do nascimento do Professor Agostinho da Silva (1906-1994), um dos autores mais interessantes das letras e da cultura escrita e falada em português. Estão programadas várias iniciativas, para os próximos dias e meses, a fim de comemorar a data e chamar a atenção para a figura, o valor e importância do seu pensamento.
Agostinho da Silva é certamente dos autores, juntamente com Pessoa e Teixeira de Pascoais, que mais falaram e se dedicaram a perscrutar o que é ser português. Mas, ao contrário de qualquer nacionalismo serôdio, o seu motivo de interesse é eminentemente de tipo universalista e humanista. Aliás, uma das suas frases mais conhecidas - « Só então Portugal, por já não ser, será» - revela todo a sua visão universalista que encontra em Portugal a consumação da Humanidade. Talvez não por acaso Agostinho da Silva é um biógrafo dedicado, um autor para quem a educação é um dos seus temas predilectos.

Nasceu no Porto em 1906, de seu nome completo George Agostinho Baptista da Silva, frequenta aí o Liceu e passa depois para a Faculdade de Letras do Porto, onde sob a orientação de Leonardo de Coimbra, fez parte daquela geração que esteve na origem da chamada escola filosófica do Porto. Dedicando-se mais tarde ao ensino teve, porém, a dado passo, que se exilar para o Brasil face às suas incompatibilidades para com Regime salazarista. Provavelmente vem daí a sua propensão para o nomadismo que se reflecte nas suas ideias: a vida ficaria mais empobrecida se se lhe retirasse a dimensão do imprevisto; é preciso, portanto, estar sempre disposto a partir, como um nómada.

Claro está que Agostinho da Silva é um pensador religioso, e até mesmo cristão, mas de uma forma muito sui generis, pois que se trata de alguém que nunca cultivou a dogmática eclesial, nem faz do cristianismo ortodoxo a sua doutrina. Há quem lhe aponte simpatias pelo culto do Espírito Santo de Joaquim de Flora, mas ele ao proclamar que qualquer terceira Revelação, a vir, será de carácter íntimo, algo do foro interno de cada um, afasta-se daquela identificação, se bem que nunca deixa de estar imbuído dum certo messianismo, presente quer na história portuguesa quer nas tradições de certos movimentos heréticos e revolucionários. Ele próprio anuncia o reinado do Espírito Santo para «restaurar a criança em nós, e em nós a coroarmos imperador».

É ele próprio que confessa: « Claro que sou cristão; e outras coisas, por exemplo, budista, o que é, para tantos, ser ateísta; ou, por exemplo, ser pagão. ( in «Reflexões, Aforismos e Paradoxos, 1999, Brasília).

Na verdade, ele – que jamais se mostrou místico – mesmo nas suas afirmações mais transcendentais, nunca deixou de ser um racionalista, um racionalismo diverso e distinto do racionalismo comum que geralmente encontramos. Para Eduardo Lourenço, com efeito, não se pode dizer que Agostinho da Silva fosse um místico, pois tinha pela natureza e a vida uma visão naturalista:
«Não se instalou na excepção, pregou e viveu no combate à ideia de excepção, em todos os domínios, numa espécie de anarquismo profético e radioso, no fundo mais próximo de Rousseau que de qualquer figura clássica da família mística» ( Eduardo Lourenço)

De qualquer forma o seu pensamento é irredutível a um sistema ou a uma doutrina; ele preferia antes vê-lo como um movimento, uma atitude, um espírito. Mais que um revolucionário, Agostinho da Silva é, e poderá ser visto, como um evolucionário radical.
Valoriza a ciência, o método e a prática científica. Para ele a técnica é encarada como um precioso instrumento do progresso, muito embora só se for integrada numa economia cooperativa que subordine a produção e o comércio aos consumidores.
Rejeita a sociedade centrada no lucro e preconiza a simplicidade e o espírito de exigência na vida do quotidiano. As suas três principais fontes de inspiração são: a) a meditação interior; b) a convivência aberta; c) o empenhamento na acção social, predominantemente pedagógica.

Por razões diversas, explicadas em parte pelo seu pensamento paradoxal, imbuído de terminologia religiosa e de referências históricas a Portugal, já para não falarmos do género de abordagens académicas e institucionais que normalmente se debruçam sobre a obra, o certo é que a caracterização do pensamento de Agostinho da Silva é objecto de algum entorse senão mesmo de um certo desvirtuamento, quando ela teria todas as condições para ser qualificado como uma das obras mais originais e subversivas dos últimos cem anos. Bastaria, para tanto, lê-la com alguma atenção e reconhecer aí a secreta voz anunciadora da anarquia.
Transcrevamos, por exemplo, um dos excertos mais brilhantes e inconfundíveis:

«No Político distingo dois momentos, o do presente e do futuro. Principiando pelo segundo, desejo o desaparecimento do Estado, da Economia, da Educação, da Sociedade e da Metafísica; quero que cada indivíduo se governe por si próprio, sendo sempre o melhor do que é, que tudo seja de todos, repousando toda a produção, por uma lado, no , por outro lado, na fábrica automática; que a criança cresça naturalmente segundo as suas apetências, sem as várias formas de cópia e do ditado que têm sido nas escolas, publicas e de casa; que o social com as suas regras, entraves e objectivos dê lugar ao grupo humano que tenha por meta fundamental viver na liberdade, e que todos em vez de terem metafísica, religiosa ou não, sejam metafísica. Tudo virá, porém, gradualmente, já que toda a revolução não é mais do que um precipitar de fases que não tiveram tempo de ser. Por agora, para o geral, democracia directa, economia comunitarista, educação pela experiência da liberdade criativa, sociedade de cooperação e respeito pelo diferente, metafísica que não discrimine quaisquer outras, mesmo as que pareçam antimetafísicas. Mas, fora do geral, para qualquer indivíduo, o viver, posto que no presente, já quanto possível no futuro; eliminando o supérfluo, cooperando, aceitando o que lhe não é idêntico – e muito crítico quanto a este -, não querendo educar, mas apenas proporcionando ambiente e estímulo, e procurando tão largo pensamento que todos os outros nele caibam. Se o futuro é a vida, vivamo-la já, que o tempo é pouco; que a Morte nos colha e não, como é hábito, já meio mortos, aliás, suicidados. »
(Agostinho da Silva, in Reflexos, Aforismos e Paradoxos, 1999, Brasília
)

Está consciente porém das dificuldades de uma completa e perfeita anarquia, pois diz: «…é difícil imaginar que se possa algum dia ser na terra inteiramente livre.» ( in As Aproximações, 1990, Relógio d’Água), acrescentando ainda que a sociedade «…tem direitos sobre nós como seres sociais, não como homens»

A solução que ele propõe para as dificuldades da concretização e da viabilidade da anarquia está em substituir o burocrata pelo servidor público voluntário. Assim, o serviço público só seria convenientemente prestado por voluntários disciplinadamente integrados em organizações de tipo militar ( ver a esse propósito o seu livro «As Aproximações»)

Noutra altura, escreve
«O reino que virá é o reino daqueles que foram crucificados em todas a épocas, por todas as políticas e por todas as ideologias, apenas porque acima de tudo amavam a liberdade».

Ou ainda:
"O homem não nasceu para trabalhar, mas para criar."
Prof. Agostinho da Silva




12.2.06

Nada substitui a luta ( letra e voz de Alberto Júlio)



Nada substitui a luta
Nada, nada, meu irmão
Nem a força resoluta
Da tua mão na minha mão

Nada, nada, mesmo nada
Tem a força que nos vem,
De sabermos que quem vence
É quem luta – e mais ninguém

Que não venham ensinar
Este povo de esquecidos
A pensar, a não pensar
Em dias mais divertidos

Que não venha os doutores
Falar a quem os não escuta
De nós é que sai força
Que dá força a toda a luta

Que não venham dizer povo
Com voz que soa a traição
Senhores a quem nos vendemos
P’ra podermos comer pão

Que não venham com arzinhos
De quem já é democrata
Bem sabe o cão como é o dono
Inda quando lhe não bata

Que nos deixem repartir
O que sobra e o que falta
E que o fruto do trabalho
Seja bem de toda a malta

Somos todos um só povo
Quando tudo for de todos
E não seja o verbo ter
Conjugado de dois modos

Alberto Júlio, letra e voz
Álbum: «Não, não dobro o cachaço», disco editado em 1975

O maior merceeiro português, financeiro fracassado, quer ser empresário de 3ª geração!


O grupo Sonae tem, desde há 20 anos, uma fábrica de fazer dinheiro que se chama Continente e que se tornou na mercearia de Portugal, arrasando o comércio tradicional um pouco por todo o lado, proletarizando e precarizando milhares de pequenos e médios comerciantes e assalariados.
Sabe-se também que o mesmo Grupo económico é liderado pelo marcoense Belmiro de Azevedo, engenheiro químico de formação, mas que se mostrou mais habilitado, e infinitamente mais competente, no cargo de gestor de empresas do grupo Pinto de Magalhães porque, com uma mestria pouco comum, conseguiu por artes e magias reciclar-se de quadro superior do dito conglomerado capitalista em dono e proprietário das suas empresas mais valiosas e rentáveis.
Mas os seus dotes só foram devidamente reconhecidos quando o ex-gestor, e engenheiro químico, se dedicou ao retalho do ramo alimentar que é como quem diz quando se decidiu lançar em Portugal a moda dos hipermercados. O sucesso foi tal que os Continentes se tornaram rapidamente em verdadeiras catedrais de consumo do povo crente e humilde como passaram a servir de mina de ouro para os projectos empresariais do inefável engenheiro químico de Marco de Canaveses, que não deixou passar a ocasião para, aos solavancos, se tornar no homem mais rico do país, apesar do fracasso em que resultou a sua tentativa de se tornar em banqueiro do povo, com o seu Banco Universal e que teve de fechar portas, pouco tempo depois de abrir - amargos de boca esses que não beliscaram, no entanto, o seu capital tal era a liquidez que a maior mercearia de Portugal lhe assegurava.
Alcandorado a um alto patamar social, com algum marketing à mistura ( e muito Público pelo meio), este neófito das classes altas lusas, filho de modista e barbeiro de província, a quem o espírito do capitalismo e o risco do empreendorismo era, de todo, desconhecido, nascido lá para as fraldas do Marão, este espécime do Portugal profundo, decide agora fazer a aposta da sua vida ( ele conta actualmente com 68 anos) e anuncia, trovejante e determinado, a sua firme intenção e vontade de comprar a maior empresa portuguesa, e a mais cosmopolita que cá temos, a Portugal Telecom.
E eis que o nosso merceeiro-mor exibe toda a sua ambição em se reciclar. Aderir à novel e promissora sociedade de Informação. Tornar o seu empório económico em modelo tecnológico do futuro é agora o seu propósito. Não será de estranhar que a breve trecho se venha a desfazer-se do comércio a retalho, tentando ocultar a sua faceta anterior em que a venda do sustento alimentar aos portugueses era a sua principal fonte de enriquecimento. Daqui para diante – pensará ele – assumir-se-á como um empresário imaterial das comunicações.
Os nossos políticos não escondem o seu regozijo. Os «socialistas», então, já sonham com o capitalismo cognitivo do Bill Gates, a Sonae de terceira geração e o MIT sebastiânico. O problema é que, com tantas ilusões virtuais e capitalismo recauchutado, mais uma vez se esquecem da nossa triste e leda realidade - Marco de Canavezes, Pulo do Lobo e Freixo-de-Espada-a-cintra – onde vivem e lutam as pessoas de carne e osso

9.2.06

Quantos pobres são necessários para se produzir um rico?


Reproduz-se, com a devida vénia, a crónica de Manuel António Pina, publicada na edição de hoje do Jornal de Notícias (9/1/06) sob o título «Uma resposta incompleta a Garrett»


A propósito de uma destas crónicas sobre a tão propalada crise, que significa, segundo dados do Eurostat, 2,5 milhões de portugueses pobres, dos quais 200 mil em situação de miséria extrema, e, ao mesmo tempo, alguns outros portugueses, exactamente os que mais falam de crise, imoralmente ricos, recorda-me um leitor Almeida Garrett:
«E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria (…) para produzir um rico?»

Ocorreu-me fazer contas servindo-me dos lucros dos principais bancos portugueses em 2005: 11 milhões de euros ( mais de 20% do que em 2004), grande parte resultante de privilégios concedidos pelos mesmos governos que todos os dias nos pedem sacrifícios ( os bancos pagam metade da taxa de IRC das outrsa empresas e, enquanto em 1998 pagaram impostos sobre lucros na valor de 22,8%, em 2004 pagaram apenas 12,1%....)
Ora dividindo 11 milhões por 244 euros ( o mínimo que, segundo o INE, uma família portuguesa precisa por mês para sobreviver) obtém-se cerca de 45.082.
Não será a resposta exacta a Garrett, mas o número dá uma ideia de quantas famílias portuguesas terão sido em 2005 condenadas à miséria para produzir os 11 milhões de lucros dos bancos.

Manuel António Pina, in JN de 9/1/2006

Frases e ditos filosóficos


Seguem-se algumas frases e ditos filosóficos escolhidos aleatoriamente, sem um critério prévio nem uma selecção cuidada.
Claro está que esta escolha é altamente discutível, uma vez que muitas outras se poderiam fazer.
Nota-se, por exemplo, a ausência de autores contemporâneos ( do fim do século XX e da transição para o séc. XXI)
Nem sequer tivemos o cuidado de seleccionar com base numa grelha doutrinária ou ideológica para realizar a lista que se segue.
Por tudo isso, ela vale o que vale.
Sirva, pelo menos, para despertar o interesse para a reflexão, a análise e o estudo do vasto campo da filosofia. Se assim for, já não é pouca a sua utilidade.

Previnem-se, todavia, os menos cautos de que as frases devem ser interpretadas, não à letra, como muitos são tentados a fazer, mas inseridas no contexto da filosofia e da visão do seu autor, sob pena de se fazerem leituras espúrias e subjectivistas, sem qualquer fundamento ou nexo com o sentido que se pretendeu dar-lhes.

Selecções mais criteriosas ( e cuidadosas) terão de aguardar por outras alturas, com mais disponibilidade e exigência.
Até lá, façam bom proveito desta colheita feita numa manhã cinzenta de Inverno.



Tudo é instável
Heraclito

A ignorância é o único mal
Sócrates (470- 399 A.C.)

Eu só sei que nada sei
Sócrates

Uma vida sem questionamentos não é digna de ser vivida
Sócrates

Toda a filosofia começa na dúvida
Platão (428-347 A.C.)


O Homem é a medida de todas as coisas
Protágoras

Os fracos estão sempre ávidos de justiça e igualdade. Os fortes não dão importância a nenhuma delas.
Aristóteles ( 384- 322 A.C.)

Por natureza todos os homens desejam saber
Aristóteles

Por natureza o homem é um animal político
Aristóteles

Eu sou um cidadão do mundo
Diógenes

O prazer é o maior bem
Epicuro

Pelo cepticismo…chegamos primeiro à suspensão do julgamento e depois à liberdade de inquietação
Sexto Empírico


«Senhor, tornai-me casto, mas ainda não»
Santo Agostinho (354-430)

Uma pessoa é uma substância individual de uma natureza racional
Boécio


O pecado consiste não em desejar uma mulher mas em ceder ao desejo
Paulo Abelardo


Quem se arriscará a colocar a autoridade de Copérnico acima da do Espírito Santo?
Calvino


«E, no entanto, ela move-se»
Galileu


É muito mais seguro para um príncipe ser temido do que amado
Maquiavel

O conhecimento é poder
Francis Bacon

As palavras não passam de imagens da matéria. Apaixonarmo-nos por elas é como apaixonarmo-nos por um quadro.
Francis Bacon

Um pouco de filosofia atrai a mente do homem para o ateísmo, mas a profundidade na filosofia muda a mente dos homens quanto à religião
Francis Bacon

Ser é ser percebido
Berkeley (1685-1753)

Fiquei chocado com o elevado número de falsidades, que aceitei como verdades, na minha infância
Descartes ( 1596- 1650)

Penso, logo existo
Descartes

O bom senso é a comodidade mais bem distribuída do mundo, porque todos os homens estão convencidos de que possuem uma boa dose dele
Descartes

Esforcei-me por não rir dos actos humanos, por não chorar por eles e por não os odiar, mas sim por compreendê-los.
Spinoza


Os homens estão enganados se se julgam livres
Spinoza

O verdadeiro objectivo da governação é a liberdade
Spinoza

Uma coisa é mostrar a um homem que ele está enganado e outra é colocá-lo na posse da verdade
Locke (1632-1704)


As novas opiniões são sempre suspeitas e normalmente antagónicas, apenas porque ainda não são comuns
Locke

Todos os homens são passíveis de errar; e, em muitos aspectos, a maioria deles, devido à paixão ou ao interesse, sente-se tentada a fazê-lo
Locke


A beleza das coisas existe na mente que as contempla
David Hume (1711-1776)

A razão é a escrava das paixões
David Hume

A religião cristã estava, ao princípio, não só ligada aos milagres, como até mesmo hoje em dia não pode ser aceite por nenhuma pessoa razoável sem que aconteça um.
David Hume


O supérfluo é muito necessário
Voltaire

O primeiro passo para a filosofia é a incredulidade
Diderot

O homem nasce livre e está em toda a parte acorrentado
Rousseau (1712-1778)

Não existe perversidade no coração humano
Rousseau

O homem é naturalmente bom, amando a justiça e a ordem
Rousseau

O homem social vive constantemente fora de si
Rousseau

Duas coisas preenchem a minha mente com admiração e espanto crescentes, os céus estrelados por cima de mim e a lei moral dentro de mim
Kant (1724-1804)


O propósito da filosofia não é ditar regras, mas analisar os raciocínios individuais da razão comum
Kant

É precisamente por conhecer os seus limites que a filosofia existe
Kant

O mundo é a minha representação
Schopenhauer


O tipo de filosofia que escolhemos depende do tip de pessoa que somos
Fichte

Todo o conhecimento é conhecimento humano
Hegel (1770-1831)

O homem deve toda a sua existência ao Estado
Hegel

O real é o racional e o racional é o real
Hegel

A História ensina-nos que os homens nunca aprenderam nada da História
Hegel

Os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de várias maneiras; a questão agora está em mudá-lo.
K. Marx (1818-1883)

A história repete-se: da primeira vez como tragédia, da segunda como farsa
K. Marx,


A burguesia produz, antes de tudo, os seus próprios coveiros. A sua queda e a vitória do proletariado são inevitáveis.
K. Marx

Deus está morto
Nietzsche (1844-1900)

A arte levanta a sua cabeça, quando as religiões afrouxam a sua influência
Nietzsche

O homem é uma corda, atada entre a besta e o super-homem - uma corda por cima do abismo
Nietzsche

O indivíduo é soberano acima de si próprio, acima do seu corpo e da sua mente
John Stuart Mill (1806-1873)

Pergunta ti próprio se és feliz e deixarás de o ser
John Stuart Mill


Tudo o que é real tem que ser, de alguma forma, experimentado e todos os tipos de coisas experimentadas devem ser, de alguma forma, reais.
William James (1842-1910)

Nada é vital para a ciência; nada pode ser
Charles Sanders Peirce


Quanto mais…interacções apuramos, mais conhecemos o objecto em causa
John Dewey


O segredo da felicidade é enfrentar o facto de que o mundo é horrível, horrível, horrível
Bertrand Russell (1872-1970)

Devemos passar em silêncio por aquilo de que não podemos falar
Wittgenstein

Designar é como colar um rótulo a uma coisa
Wittgenstein

O significado de uma palavra é a sua utilização na linguagem
Wittgenstein

Os limites da minha linguagem são os limites da minha realidade
Wittgenstein


Toda a consciência é consciência de algo
Husserl


Eu existo, e tudo o que não sou eu, é um mero fenómeno que se dissolve em ligações fenomenais
Husserl

Nós próprios somos as entidades a serem analisadas
Heidegger

O homem faz-se a si próprio
Sartre (1905-1980)

O inferno são os outros
Sartre

Eu sou eu, e a minha circunstância
Ortega e Gasset (1883-1955)

Tudo o que podemos fazer é pesquisar a falsidade do conteúdo da nossa melhor teoria
K.Popper


Apenas a especulação ousada nos pode levar mais longe, e não a uma mera acumulação de factos
Einstein

Os dogmas dos 3 monoteísmos: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo (explicação breve)


Por considerarmos oportuno entregamo-nos hoje a um pequeno exercício de recensear alguns dos principais dogmas e traços característicos das 3 religiões monoteístas (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo) e mostrar até que ponto o fanatismo religioso tem raízes em postulados dogmáticos desprovidos de qualquer nexo racional nem muito menos, como tem sido amplamente demonstrado pelas últimas investigações e pesquisas arqueológicas, de qualquer verosimilhança com os factos históricos.

Consideramos que a melhor forma de dessacralizar e desmistificar a impregnação religiosa que todos temos sido vítimas ao longo de séculos é divulgar a origem, evolução e toda a história das religiões ( sem esquecer a necessidade de uma antropologia do sagrado), com todas as vicissitudes que a marcam, e que mostram à saciedade como as religiões, mormente as monoteístas, devidamente aparelhados com as instituições que têm o condão de engendrar – as Igrejas – têm sido autênticas máquinas de guerra permanente ao longo de toda a história da humanidade.
O que está, aliás, na génese da lógica do pensamento e da atitude dogmática: o dogma como «verdade» irrefutável e inquestionável e nessa medida um absolutismo que não admite qualquer brecha ou questionamento, de que espécie for.


Deixamos no ar ainda umas perguntas:
Porque é que, se a religião é tão importante, não faz parte do currículo das nossas escolas o estudo e o conhecimento da história das religiões?
O que é se esconde dos nossos jovens para não lhes ser transmitido a verdade factual acerca da origem, evolução e os fenómenos da religiões?
Será porque se quer ocultar algo a fim de não perturbar a «santa ignorância»?




Os partidários do Judaísmo são designados por judeus. Crêem num só Deus que, segundo eles, revelou a Sua Lei ao Seu Povo. O símbolo desta religião monoteísta é a estrela de David.

O judaísmo surgiu cerca de 2.000 anos antes do início da nossa era na região de Canaã, a chamada Terra Prometida ( que corresponde, grosso modo, ao actual território de Israel).

O primeiro líder judeu foi Abraão que nasceu em Ur, na Caldeia ( actual Iraque) e que, por ordem do seu Deus, emigrou para Canaã. Foi esse mesmo Deus que lhe comunicou que os seus descendentes foram por Ele escolhidos para serem o Povo Eleito («Farei surgir de ti um grande povo; cumular-te-ei de bênçãos, abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem», in Génesis).
Mas Deus ordenou ainda a Abraão que matasse o seu único filho, Isaac, ordem que foi prontamente obedecida e que só não foi executada no último minuto graças à intersecção de um anjo.
A emigração ordenada levou a que o povo hebreu andasse errante pelo deserto até que, no Egipto, fosse reduzido à condição de escravos. Os faraós não se fizeram rogados e perseguiram-nos e massacraram-nos. Salvou-se o filho de uma escrava, Moisés (que significa «salvo das águas») e que viria a tornar-se no maior profeta dos judeus uma vez que tendo matado um egípcio teve de se refugiar no deserto, local onde teve uma aparição de Deus que lhe ordenou que libertasse o seu povo ( os hebreus) da escravidão e o conduzisse à tal Terra Prometida. A essa fuga foi dado o nome de êxodo, no decurso do qual Moisés recebeu de Deus, por revelação divina, portanto, as Tábuas da Lei, isto é, os Dez Mandamentos.

Moisés é visto como o primeiro e o maior dos profetas, o maior dos legisladores hebreus e o fundador da nacionalidade israelita.
O livro sagrado é a Tora


Algumas das regas do judaísmo:
- circuncisão dos rapazes ao 8 dias de vida
-O Sabbat ( sábado) é dia sagrado e de repouso
- é proibido comer carne de porco e marisco
-uma criança converte-se em adulto (bar-mitzvah) aos 13 anos



O Cristianismo surgiu há cerca de 2.000 anos atrás em Jerusalém e resulta da acção de um sujeito auto-proclamado profeta a quem os cristãos dizem ser o filho de Deus.

Jesus nasceu em Belém e começou a pregar e a curar doentes aos 30 anos. Três anos depois os judeus, com o beneplácito das autoridades romanas que ocupavam e geriam o território em nome do Imperador Romano, julgaram-no e executaram-no pela forma mais humilhante de todas, a crucificação, uma vez que ele pregara crenças contrárias à lei judaica.

Os cristão crêem ainda – o que constitui dos seus dogmas nucleares da sua religião – que Jesus ressuscitou entre os mortos, por ser filho de Deus, e que Deus, esses, é composto de 3 entidades unificadas ( a Santíssima Trindade): o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Para os cristãos só através do baptismo é que os seres humanos nascem, pelo que antes desse ritual vivem numa vida semelhante à dos restantes animais.
O livro sagrado é a Bíblia que é composta pelo Antigo Testamento ( que coincide grosso modo com os textos sagrados judeus) e o Novo Testamento que reúne os Evangelhos dos apóstolos e dos textos relativos aos primeiros tempos da igreja católica

Além disso, constituem dogmas da religião cristã os 10 Mandamentos das escrituras judaicas do Antigo Testamento que foram adequadamente adaptada, a saber:
1) Amar a Deus sobre todas as coisas; 2) Não dizer o nome de Deus em vão; 3) Santificar as festas; 4) Honrar pai e mãe; 5) Não matar; 6) Não cometer actos impuros; 7) Não roubar; 8) Não mentir; 9) Não ter desejos impuros; 10) Não invejar bens alheios.



O Islamismo aparece cerca do ano 600 da nossa era na cidade de Meca, na actual Arábia Saudita, e resulta da doutrina pregada por Maomé, o último dos 26 profetas islâmicos, que é considerado o enviado de Alá, nome que dão ao seu Deus.
O livro sagrado é o Alcorão que Alá revelou a Maomé e no qual se indica como devem viver os homens.

As 5 principais regras que todo o muçulmano deve seguir são: 1) Ale é o único Deus, e Maomé o seu enviado; 2) Cada muçulmano dever orar 5 vezes ao dia; 3) fazer a caridade; 4) Cumprir jejum durante o mês do Ramadão; 5) Deslocar-se pelo menos uma vez na vida a Meca.



Nota final:
Sublinhe-se que as 3 religiões arrancam de um mesmo tronco e contêm abundantes motivos de inspiração comuns a todas elas. Por seu turno cada uma das 3 religiões tem várias ramificações ( o Cristianismo subdivide-se, por exemplo, na Igreja Ortodoxa, no Catolicismo, e nas várias igrejas luteranas).
Também não é menos importante que se saiba que todas elas têm sido motivo de guerra e conflitos quer entre facções rivais dentro da mesma religião quer entre as 3 religiões entre si ( por exemplo, os cristãos acusam os judeus de serem deicidas o que originou, durante séculos, a perseguição e morte de milhares de judeus; estes, por sua vez, acusam os cristãos de renegados por considerarem a figura de Jesus, não como simples profeta, mas como algo autêntico filho de Deus…!!!)

O certo é que as últimas descobertas em Arqueologia demonstram o conteúdo fantasioso de todos aqueles livros sagrados, cujas histórias estão longe de corresponder à verdade histórica. Inclusivamente, a existência da figura histórica de Jesus é envolta de dúvidas, uma vez que não existem documentos históricos que consigam comprovar. Aliás, os mais categorizados investigadores cristão admitem já há bastante tempo ( há muitos anos mesmo) que a bíblia deverá ser lida como um texto metafórico e nunca como narrativas referenciadas à realidade histórica.

7.2.06

Nem proliferação, nem guerra nuclear

Acção dos cidadãos pelo desarmamento nuclear


Por uma solução pacífica da crise iraniana através de negociações para o desarmamento integral e universal

Ao mesmo tempo que a Agência Internacional de Energia Atómica entregou o dossier nuclear ao Conselho de Segurança da ONU, mais de 50 parlamentares e mais de 200 associações internacionais de 40 países, entre os quais o Presidente da Câmara de Hiroshima, acabam de escrever ao presidente dos Estados Unidos, ao presidente do Irão e ao primeiro-ministro de Israel a pedir-se para a resolução da crise por via diplomática, excluindo qualquer acção militar.
Pedem ainda às potências que possuem armas nucleares para as não utilizarem em algum caso, e ainda menos invocando o pretexto de impedir a proliferação e contra os países que as não possuem.

Recorde-se que os Estados nucleares. Signatários do Tratado de Não proliferação – Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França e China – não cumprem o seu compromisso de eliminar os seus próprios arsenais ( ver o Artigo 6 do TNP).
O incumprimento de tais compromissos coloca esses Estados em má posição para exigir aos outros Estados que respeitem o seu e renunciem a fabricar armas nucleares com os meios que eles próprios vendem.
A crise iraniana resulta desta dupla hipocrisia em que certos Estados defendem que as armas nucleares são indispensáveis à sua segurança, mas já não reconhecem essa necessidade relativamente a outros Estados e, por outro lado, ao facto de serem os próprios Estados nuclearizados a exportar tecnologias nucleares que permitem a outros a construção e o fabrico de armas atómicas.

Como se a guerra no Iraque já não fosse uma tragédia, um ataque ao Irão provocaria ainda mais vítimas, e lançaria o Médio Oriente para uma situação ainda pior ao agravar os riscos de represálias e desestabilizar toda a vida mundial.

Para lutar contra a proliferação das armas nucleares, os Estados nuclearizados devem preocupar-se, antes do mais, começar por cumprir os compromissos que eles próprios assumiram, ou seja, em negociar e realizar a eliminação gradual dos seus próprios arsenais nucleares sob um controle estrito e eficaz, como exige o Artigo 6 do Tratado de Não-Proliferação.

Evitar uma nova guerra no Médio Oriente, travar a proliferação nuclear e apelar para o desarmamento nuclear universal é o sentido do Apelo Internacional .

Todos os cidadãos são assim convidados a mobilizarem-se para evitar uma nova guerra, desta feita com recurso a armas nucleares, e a exigir e impor a abolição deste tipo de armas, no cumprimento das normas e dos compromissos assumidos em sede de Direito Internacional.


Acção dos cidadãos pelo desarmamento nuclear.
Se quiseres juntar-te a esta iniciativa e subscrevê-la, podes fazê-lo aqui:


http://acdn.france.free.fr/spip/article.php3?id_article=136&lang=en

4.2.06

Apelo Internacional contra as novas doutrinas nucleares dos Estados Unidos


Os cientistas franceses juntam-se aos seus colegas de todo o mundo, e apelam agora ao presidente francês para tudo fazer junto da Administração Bush no sentido desta não aprovar a nova doutrina nuclear norte-americana em preparação.

Ver:
http://science-appel.com


Para ler o texto da nova doutrina nuclear em preparação nos Estados Unidos, intitulada «Doctrine for Joint Nuclear Operations»:

http://www.globalsecurity.org/wmd/library/policy/dod/jp3_12fc2.pdf



Texto crítico de Hans M. Kristensen ( co-autor de «World Nuclear Forces», apêndice do «Stockholm International Peace Research Institute’s Yearbook »):
http://www.armscontrol.org/act/2005_09/Kristensen.asp




Notícia do Washington Post :

Pentagon Revises Nuclear Strike PlanStrategy Includes Preemptive Use Against Banned Weapons
By Walter PincusWashington Post Staff WriterSunday, September 11, 2005;

The Pentagon has drafted a revised doctrine for the use of nuclear weapons that envisions commanders requesting presidential approval to use them to preempt an attack by a nation or a terrorist group using weapons of mass destruction. The draft also includes the option of using nuclear arms to destroy known enemy stockpiles of nuclear, biological or chemical weapons.

The document, written by the Pentagon's Joint Chiefs staff but not yet finally approved by Defense Secretary Donald H. Rumsfeld, would update rules and procedures governing use of nuclear weapons to reflect a preemption strategy first announced by the Bush White House in December 2002. The strategy was outlined in more detail at the time in classified national security directives.

At a White House briefing that year, a spokesman said the United States would "respond with overwhelming force" to the use of weapons of mass destruction against the United States, its forces or allies, and said "all options" would be available to the president.

The draft, dated March 15, would provide authoritative guidance for commanders to request presidential approval for using nuclear weapons, and represents the Pentagon's first attempt to revise procedures to reflect the Bush preemption doctrine. A previous version, completed in 1995 during the Clinton administration, contains no mention of using nuclear weapons preemptively or specifically against threats from weapons of mass destruction.

Titled "Doctrine for Joint Nuclear Operations" and written under the direction of Air Force Gen. Richard B. Myers, chairman of the Joint Chiefs of Staff, the draft document is unclassified and available on a Pentagon Web site. It is expected to be signed within a few weeks by Air Force Lt. Gen. Norton A. Schwartz, director of the Joint Staff, according to Navy Cmdr. Dawn Cutler, a public affairs officer in Myers's office. Meanwhile, the draft is going through final coordination with the military services, the combatant commanders, Pentagon legal authorities and Rumsfeld's office, Cutler said in a written statement.

A "summary of changes" included in the draft identifies differences from the 1995 doctrine, and says the new document "revises the discussion of nuclear weapons use across the range of military operations."

The first example for potential nuclear weapon use listed in the draft is against an enemy that is using "or intending to use WMD" against U.S. or allied, multinational military forces or civilian populations.

Another scenario for a possible nuclear preemptive strike is in case of an "imminent attack from adversary biological weapons that only effects from nuclear weapons can safely destroy."
That and other provisions in the document appear to refer to nuclear initiatives proposed by the administration that Congress has thus far declined to fully support.

Last year, for example, Congress refused to fund research toward development of nuclear weapons that could destroy biological or chemical weapons materials without dispersing them into the atmosphere.

The draft document also envisions the use of atomic weapons for "attacks on adversary installations including WMD, deep, hardened bunkers containing chemical or biological weapons."

But Congress last year halted funding of a study to determine the viability of the Robust Nuclear Earth Penetrator warhead (RNEP) -- commonly called the bunker buster -- that the Pentagon has said is needed to attack hardened, deeply buried weapons sites.

The Joint Staff draft doctrine explains that despite the end of the Cold War, proliferation of weapons of mass destruction "raises the danger of nuclear weapons use." It says that there are "about thirty nations with WMD programs" along with "nonstate actors [terrorists] either independently or as sponsored by an adversarial state."

To meet that situation, the document says that "responsible security planning requires preparation for threats that are possible, though perhaps unlikely today."

To deter the use of weapons of mass destruction against the United States, the Pentagon paper says preparations must be made to use nuclear weapons and show determination to use them "if necessary to prevent or retaliate against WMD use."

The draft says that to deter a potential adversary from using such weapons, that adversary's leadership must "believe the United States has both the ability and will to pre-empt or retaliate promptly with responses that are credible and effective." The draft also notes that U.S. policy in the past has "repeatedly rejected calls for adoption of 'no first use' policy of nuclear weapons since this policy could undermine deterrence."

Rep. Ellen Tauscher (D-Calif.), a member of the House Armed Services Committee who has been a leading opponent of the bunker-buster program, said yesterday the draft was "apparently a follow-through on their nuclear posture review and they seem to bypass the idea that Congress had doubts about the program." She added that members "certainly don't want the administration to move forward with a [nuclear] preemption policy" without hearings, closed door if necessary.

A spokesman for Sen. John W. Warner (R-Va.), chairman of the Senate Armed Services Committee, said yesterday the panel has not yet received a copy of the draft.

Hans M. Kristensen, a consultant to the Natural Resources Defense Council, who discovered the document on the Pentagon Web site, said yesterday that it "emphasizes the need for a robust nuclear arsenal ready to strike on short notice including new missions."

Kristensen, who has specialized for more than a decade in nuclear weapons research, said a final version of the doctrine was due in August but has not yet appeared.

"This doctrine does not deliver on the Bush administration pledge of a reduced role for nuclear weapons," Kristensen said. "It provides justification for contentious concepts not proven and implies the need for RNEP."

One reason for the delay may be concern about raising publicly the possibility of preemptive use of nuclear weapons, or concern that it might interfere with attempts to persuade Congress to finance the bunker buster and other specialized nuclear weapons.

In April, Rumsfeld appeared before the Senate Armed Services panel and asked for the bunker buster study to be funded. He said the money was for research and not to begin production on any particular warhead. "The only thing we have is very large, very dirty, big nuclear weapons," Rumsfeld said. "It seems to me studying it [the RNEP] makes all the sense in the world."