9.2.06

Quantos pobres são necessários para se produzir um rico?


Reproduz-se, com a devida vénia, a crónica de Manuel António Pina, publicada na edição de hoje do Jornal de Notícias (9/1/06) sob o título «Uma resposta incompleta a Garrett»


A propósito de uma destas crónicas sobre a tão propalada crise, que significa, segundo dados do Eurostat, 2,5 milhões de portugueses pobres, dos quais 200 mil em situação de miséria extrema, e, ao mesmo tempo, alguns outros portugueses, exactamente os que mais falam de crise, imoralmente ricos, recorda-me um leitor Almeida Garrett:
«E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria (…) para produzir um rico?»

Ocorreu-me fazer contas servindo-me dos lucros dos principais bancos portugueses em 2005: 11 milhões de euros ( mais de 20% do que em 2004), grande parte resultante de privilégios concedidos pelos mesmos governos que todos os dias nos pedem sacrifícios ( os bancos pagam metade da taxa de IRC das outrsa empresas e, enquanto em 1998 pagaram impostos sobre lucros na valor de 22,8%, em 2004 pagaram apenas 12,1%....)
Ora dividindo 11 milhões por 244 euros ( o mínimo que, segundo o INE, uma família portuguesa precisa por mês para sobreviver) obtém-se cerca de 45.082.
Não será a resposta exacta a Garrett, mas o número dá uma ideia de quantas famílias portuguesas terão sido em 2005 condenadas à miséria para produzir os 11 milhões de lucros dos bancos.

Manuel António Pina, in JN de 9/1/2006