28.11.05

Mercado Negro ( 28 de Nov. a 3 de Dez.) de livros alternativos, na cooperativa Árvore



Realiza-se a 5ª edição do Mercado Negro do livro alternativo na Escola Artística e Profissional Árvore, ao Passeio das Virtudes, na cidade do Porto, entre os dias 28 de Novembro a 3 de Dezembro, entre as 15h. e 20h.

Atenção à zona de roubo, onde será possível «roubar» um livro numa compra superior a 35 euros.

Mais informação:
http://edicoes-mortas.blogspot.com/

Como defender-se das agressões da publicidade


A publicidade é uma actividade extremamente agressiva pelo que importa adoptar-nos algumas precauções a fim de não sermos vítimas fáceis do seu assédio, agressividade e intrusão.
Para tanto bastará alguns gestos simples que podem ser seguidos por qualquer indivíduo.Por exemplo :
- cortar o som da TV quando começar o período dedicado às mensagens publicitárias. Gozar as delícias do silêncio.
- recusar os folhetos publicitários distribuídos na rua e na caixa de correio
- voltar ao contrário todos os papéis e os sacos de plástico que contenham mensagens publictárias
- retirar as marcas das roupas que se adquirir
- nunca utilizar nem se referir a nomes de marcas

Quando não houver possibilidade de nos furtarmos à publicidade, então pôr-se a reflectir e a interrogarmo-nos a si mesmo :
- Terei necessidade disto ?
- Terão as pessoas em geral necessidade disto ?

Finalmente pôr-se a pensar sobre o não-dito, sobre o que está oculto na mensagem publicitária, assim como nas consequências sociais e ambientais da produção daquele produto em concreto

27.11.05

Desmantelemos as grandes superfícies comerciais (1)


Por cada emprego precário (por ex., 1 emprego com contrato a prazo) que criam, as grandes superfícies comerciais eliminam 5 empregos definitivos ( de duração ilimitada)


O sistema da grande distribuição nasceu e prosperou à sombra de políticas catastróficas. Por interesse inconfessados e por uma questão ideológica. Cabe-nos rejeitar um tal sistema desumano.

O modelo da grande distribuição em Portugal nasceu no início dos anos 80 com um atraso considerável relativamente ao seu aparecimento nos restantes países europeus que se deu regra geral no período do pós-guerra.
Foi mais concretamente na época cavaquista que as grandes superfícies se instalaram no mercado português e, quais eucaliptos comerciais, começaram a desertificar e a controlar todo o circuito comercial à sua volta. Desde então, Portugal entrou definitivamente na depredadora sociedade de consumo ( e do desperdício). Desaparece o comércio de proximidade e começam as peregrinações aos shoppings. Pululam também as «rapariguinhas do shopping» e multiplicam-se os multiplexes com pipocas e filmes de Hollywood.
Entretanto, a actividade comercial concentra-se nas mãos de uns poucos ( muito poucos) prejudicando os produtores, os fornecedores e iludindo os consumidores. Tudo isto sob o beneplácito dos politiqueiros à frente da máquina estatal e das autarquias, e em nome do suposto «crescimento económico»do país e da região.
Tanto mais que se constrói por artes e magias a ideia que as grandes superfícies criam emprego. A verdade é que, pelos estudos realizados até à data, conclui-se que por cada emprego a prazo ( isto é, um emprego precário) criado numa grande superfície são destruídos 5 empregos definitivos.
O modelo organizacional das grandes superfícies é bem revelador da globalização capitalista e da sua natureza profundamente desumana. Por via dele opera-se a cativação das riquezas, a concentração do poder, a destruição do tecido económico e social existentes, a intensificação da agricultura intensiva, produtivista e industrial, encorajando-se a deslocalização da produção para os países onde se explora mais a mão de obra, incluindo o trabalho infantil.
Pior que tudo, o modelo comercial das grandes superfícies erige-se como modelo único, pronto a ser exportado, mas que, na verdade, constitui uma autêntica arma de destruição maciça para os países que têm uma fraca segurança social ( como é o caso de Portugal), relativamente aos países com maior desenvolvimento, e onde as empresas construtoras das grandes superfícies se foram inspirar.
Os políticos foram os grandes responsáveis por esta implantação que destruiu e danificou sectores económicos inteiros. Só para darmos um pequeno exemplo sintomático do que aconteceu basta referir que o chamado comércio itinerante quase que desapareceu. Assim, em vez de uma carrinha ir abastecer 200 clientes, temos agora 200 carros individuais a virem a abastecer-se às grandes superfícies.
Além disso, não é verdade que os preços sejam compensadores no comércio das grandes superfícies. Só uma fortíssima campanha publicitária ( para isso mesmo é que serve a publicidade) é que induz as pessoas a acreditar que os preços dos hipermercados ficam mais em conta que o consumo de produtos locais.
É o expansionismo das grandes superfícies que explica o facto de um camponês desaparecer em cada 3 minutos ( na ex-Europa a quinze), sacrificado aos altos interesses do produtivismo industrial que tudo arrasa desde que o suposto «crescimento económico» fique saciado pelas estatísticas falaciosas. Privilegia-se uma agricultura intensiva, produtivista, estandardizada e subvencionada em prejuízo da agricultura camponesa local.
Há cada vez mais conselhos a verem o seu comércio local a definhar e desaparecer, levando à ruína os comerciantes independentes ( pequenos e médios comerciantes) substituídos pela grande superfície comercial, anónima e toda-poderosa.
Para travar esta lógica é necessário apostar em construir redes associativas e cooperativas locais que reúnam à sua volta os agricultores, os consumidores e os comerciantes independentes para melhor satisfazerem os interesses sociais de todos contra a intrusão do grande comércio capitalista.
A publicidade e os políticos não se cansam de matraquear-nos com o slogan de que é preciso baixar os preços para relançar o consumo e, desta forma, o próprio crescimento. Mas ignoram, ou fazem por isso, que as «nossas compras são os nossos empregos», e que por aquela via o mais certo é que o crescimento e o consumismo seja feito à custa da precarização dos nossos emprego, o abaixamento dos nossos salários, e quando não, baseado fundamentalmente em importações de países onde as condições de vida são muito péssimas e infra-humanas.
A malfadada directiva Bolkenstein só poderá vir piorar a situação permitindo a dessocialização do trabalho em larga escala, em nome da sacrossanta livre concorrência!!!
Importa re-apropriarmo-nos dos nossos próprios consumos, privilegiando e preferindo a troca (ou, então, em alternativa, a venda) directa, assim como os mercados e o comércio de proximidade, protagonizado por comerciantes independentes dos grandes jogos económico-financeiros, e no respeito por uma ética eco-social que defenda o ambiente e se inspire nos valores da igualdade e da solidariedade.

Um outro mundo é possível. Mas não apenas por palavras. Urge a construção de associações e cooperativas que promovam uma economia solidária e ecologicamente sustentável.
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(1) Para evitar qualquer interpretação mais precipitada importa esclarecer que a expressão que serve de título ao texto foi retirada de um artigo publicado numa das recentes edições do jornal francês «La Décroissance».
Rejeitamos como princípio, como sempre, o uso de qualquer meio de carácter violento na luta política, e defendemos convictamente a criação de circuitos e redes alternativos à grande distribuição comercial que é representada pelas grandes superfícies, com vista à sua completa superação e substituição pelo comércio de proximidade.

Bocas anti-fachos


Porque é que os fachos ficam tão contentes quando terminam um puzzle em 3 meses?
-Porque na caixa indicava um prazo entre 3 a 5 anos.

Porque é que os ataúdes dos fachos têm buracos?
-Para que as larvas e as moscas venham vomitar cá fora.

O que fazer para que um facho esteja alegre no Sábado à noite?
-Contar-lhe uma anedota na segunda-feira anterior.

Para que é que os fachos têm um neurónio a mais do que os cavalos?
-Para que não caguem durante os desfiles.

Porque é que os fachos não podem dizer «entrou por um ouvido e saiu-me pelo outro»?
-Porque o som não se propaga no vazio.

Quando demora um facho a morrer por efeito de um tiro na cabeça?
- Mais ou menos 7 ou 8 horas, dependendo de quanto tempo a bala demora até encontrar o cérebro.

Porque é que os caixões dos fachos têm duas asas em cada lado?
- Da mesma maneira que existem caixotes de lixo com duas pernas e dois braços.

Sou, para quem não saiba,… a anarquia!


Nasci com a primeira Revolta. Insubmissa, desgrenhada, irreverente e bela, construí-me a mim mesma. Desde as entranhas do meu corpo partiu a primeira blasfémia contra o opressor. Neguei-me a ser submetida, dirigida e apadrinhada. Transformei-me em apóstata, e logo me acusaram de herege. Fui logo ali condenada, mas as minhas asas de fénix levaram-me para longe das fogueiras e cadafalsos. Acabei por atravessar oceanos e continentes. No caminho encontrei servidões, fome, jugo e parlamentos. Ouvi poucas desculpas e mil lamentos. Experimentei o desespero. Cavei fundo uma trincheira onde me barriquei com sonhos, crianças loucas e poetas náufragos. Atravessei Espanha por volta de 1936. Parei, olhei à esquerda, depois à direita e vi caras sujas em limpos uniformes salpicados com o sangue dos povos em nome da "justiça", da dialéctica e de outras quinta-essências. Deu-me raiva ver aquela cena, e desde aí - confesso - nunca deixei de imprecar contra os tronos, invectivar os governos, troçar das pátrias, e sofrer com a dor do mundo.
Habito agora a humanidade inteira, jovial, livre e rebelde . Não me resigno nem rezo, e aqui deixo, para quem me quiser encontrar, a minha residência permanente: vivo lá aonde se resiste às tiranias, aos pequenos e grandes poderes, e a toda a autoridade ilegítima.

Sou, para quem ainda não saiba (nem me conheça),…

... a anarquia.


Versão em castelhano:


Nací con la primera revuelta insumisa, inquieta, desgreñada Me construí a mi misma desnuda, bella, irreverente. Desde mis huesos inermes partió la primera blasfemia hacia el creador... Me negué a ser sometida, dirigida, apadrinada. Me transformé en apóstata fui acusada de irreligión. Fui condenada, pero mis alas eran de fénix, y en raudo abandoné las hogueras y atravesé los océanos... Vi yugos por dondequiera, calambres y hambre, parlamentos y lamentos, aprendí la desesperación. Cavé con las uñas una trinchera de sueños y me embriagué con esa pandilla de niños locos, poetas náufragos allá en España del treinta y seis... Miré a la izquierda, miré a la derecha y vi rostros sucios ocultos tras limpios uniformes vertiendo la sangre de los pueblos en nombre de la justicia, la dialéctica y otras empalagosas quintaesencias... Y tomé la rabia Y la afilé y lancé truenos contra los tronos, enemiga de los gobiernos, enemiga de las patrias, enemiga del dolor. Abrazo al mundo, vivo y no ruego, amo y resisto sus tiranías.

Soy la Anarquia!!!

24.11.05

Dia sem compras ( 26 de Nov. de 2005)


O Dia sem Compras ( Buy Nothing Day) uma iniciativa tomada há já alguns anos atrás, e com alguma repercussão, do colectivo que edita a revista Adbusters vai acontecer novamente este ano um pouco por todo o lado, muito especialmente nas sociedades industrializadas que se têm mostrado serem também «sociedades do desperdício». Por isso é que a criação de um «dia sem compras» é extremamente oportuna para lançar a reflexão e a discussão sobre o consumismo desenfreado das sociedades contemporâneas.

Em Portugal a iniciativa é promovida pela Associação ecologista Gaia.
Consultar:
http://gaia.org.pt/semcompras/
http://gaia.org.pt/semcompras/menu.html

Acções previstas para o próximo dia 26 de Novembro:

NO PORTO:
Concentração na rua de Santa Catarina (a partir das 16h) numa acção de sensibilização com intervenção cultural e distribuição de material.
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VídeoForum às 21h30 no Espaço 555, na cidade do Porto (Vídeo + Fórum de Discussão Filme: The Corportation )

EM LISBOA:
Périplo por alguns dos maiores centros comerciais da Grande Lisboa (Dança, distribuição de panfletos sobre consumo responsável e outras surpresas.)Ponto de encontro: Pavilhão de Portugal às 10.30 no dia 25 de Nov.

Tertúlia - Hábitos de Consumo e Responsabilidade Ambiental e Social ( projecção de file e conversa) na Escola Secundária Leal da Câmara, Rio de Mouro10.00 h - 11.30 h no dia 25 de Nov.

Breve Sociologia do Consumo

A sociedade de consumo consiste num modelo de sociedade em que o consumo é manipulado pelas empresas, despertando necessidades artificiais, incitando à aquisição excessiva , fomentando o desperdício e originando desequilíbrios económicos e sociais.

A crescente concentração das empresas, e a emergência de grandes organizações nas sociedades contemporâneas, conferem aos vendedores de bens de consumo um grande poder económico e influência social, assim como uma posição contratual determinante sobre a outra parte contratante, o comprador.

A situação mais comum dos consumidores é a da ignorância sobre as condições do mercado e sobre a real situação dos bens e serviços adquiridos. A publicidade piora ainda as coisas quando exagera certas qualidades dos produtos para tentar seduzir os potenciais interessados. Por isso se diz que o consumidor é a parte mais fraca no contrato de compra e venda, e a necessidade de superar esta debilidade com legislação e campanhas de defesa do consumidor.


O consumo é simultaneamente um facto social e económico.
Existem factores sociais e económicos que o influenciam.
O principal factor económico é o rendimento. Segundo a «lei psicológica fundamental» de Keynes, quando o rendimento aumenta, as despesas para consumo aumentam também, mas menos que proporcionalmente, enquanto a poupança vai aumentar mais que proporcionalmente.

Em 1867, Ernst Engel, especialista em Estatística, demonstrou que o aumento do rendimento provoca uma modificação na estrutura do consumo. Assim seria possível distinguir 3 categorias de bens:
- os bens «inferiores»,cujo consumo desce à medida que aumenta o rendimento
- os bens «normais» cujo consumo aumenta à medida que o rendimento aumenta,mas proporcionalmente menos
-os bens «superiores» cujo consumo aumenta mais que proporcionalmente ao aumento do rendimento.

A estrutura do consumo varia conforme a composição demográfica do agregado familiar: quanto mais numerosa for a família, maior é o peso das despesas de consumo para a alimentação.

A idade dos elementos que compõem cada agregado familiar constitui também um factor que influencia a estrutura de consumo: uma família com uma média de idades elevada tem tendência a privilegiar as despesas da alimentação, saúde e habitação, em prejuízo das despesas para o lazer e transporte.

A localização da habitação do agregado familiar influencia também a respectiva estrutura de consumo. As famílias urbanas gastam mais nas despesas de lazer e transportes que as famílias rurais.

O sociólogo J. Baudrillard mostrou como o acto de consumir é um acto eminentemente simbólico: o consumidor não compra um bem unicamente para satisfazer uma necessidade, mas para afirmar a sua vinculação a um determinado grupo ( ou classe) social que lhe serve de referência. Sendo assim, podemos dizer que o consumo faz parte do processo de comunicação social através do qual os indivíduos comunicam uns aos outros o seu status, a sua personalidade.


Outro sociólogo, Pierre Bourdieu, associa o acto de consumir à noção de habitus ( trata-se de um conceito que se refere aos padrões de comportamento interiorizados pelos elementos de um determinado meio social). Os indivíduos têm gostos e preferências que aos seus olhos parecem ser o mais natural possível, mas que são na realidade o resultados de padrões comportamentais interiorizados que o indivíduo recebeu do meio social em que está inserido.

Em 1899 o sociólogo Thorstein Veblen demonstrou o aspecto ostentatório do acto de consumir. Para ele, o consumo ostentatório não é exclusivo das classes dominantes, mas estas servem-se deste meio para exporem socialmente a sua riqueza e ociosidade ( "sinais exteriores de riqueza").


Segundo outro autor, Duesenberry, o consumo evolui em razão da existência de um duplo efeito: um efeito de demonstração ( que consiste, no essencial, num efeito de diferenciação) e um efeito de imitação.
As camadas sociais mais baixas procuram imitar o consumo das camadas sociais mais altas, as quais procuram por sua vez novos modos de consumo a fim de poderem afirmar a sua diferença social relativamente às camadas sociais baixas. Exemplo: cada vez que o desporto das camadas altas se democratiza, estas optam por uma nova modalidade desportiva a fim de se distinguirem das camadas baixas.


Certamente que o indivíduo dispõe de uma certa margem de livre escolha, mas os seus gostos e preferências são determinados em grande parte pelo meio e cultura do grupo social em que se insere. Com efeito, o acto de consumir não serve unicamente para satisfazer uma necessidade individual, ele serve igualmente para responder a uma necessidade social: mostrar aos outros o grupo ( ou a classe) social a que se pertence.


A partir de 1950 o fenómeno do consumo nos países industrializados sofreu profundas transformações, tendo aparecido o chamado consumo de massas, ao qual não é alheio o aumento do poder de compra das populações destes países graças à melhoria substancial do seu nível de vida.
Estas transformações acompanham as mudanças registadas nos circuitos de distribuição: do comércio tradicional e de proximidade passou-se para o comércio dos centros comerciais e dos hipermercados localizados nas periferias das grandes cidades.

A crise económico dos anos de 1973 e seguintes, derivado do 1º choque petrolífero, travou esta evolução, tendo o seu impacte sido diferente conforme as camadas sociais.

Certos autores defendem que o consumo, entretanto, de um acto social e simbólico se tornou com os anos um acto mais racional.

No século XIX o consumo das famílias operárias era muito diferente das famílias ricas e abastadas. Mas com o crescimento demográfico, a emergência da cultura de massas e dos mass media a tendência recente têm sido no sentido da homogeneização e uniformização do consumo. Esta uniformização incide tanto em regiões geograficamente distantes, como entre classes e grupos sociais distintos. Várias razões explicam esta tendência: o recurso sistemático ao crédito, a influência da publicidade, a produção em série, etc


Não obstante esta uniformização a verdade é que o consumo continua a ser heterogéneo conforme os meios sociais e as culturas de cada contexto social. Se a posse de determinados bens se massificou, não é menos verdade que novos factores de diferenciação social irromperam no consumo, como a marca, o tipo do objecto, o preço, etc.

O coeficiente orçamental da alimentação continua a ser maior nas famílias operárias que nas famílias ricas.. Estas gastam mais no lazer, na educação e em bens de luxo que as primeiras.

O dia sem compras ( buy nothing day) e a oniomania

Uma das taras características de um certo modo de vida é aquilo que, em linguagem psiquiátrica, se designa por oniomania, isto é, a tendência obsessiva para fazer compras. Trata-se, com efeito, de um dos legados das nossas sociedades contemporâneas. Tendência essa que, de resto, ameaça expandir-se e transformar-se num síndroma social do consumismo compulsivo e larvar das futuras relações sociais se não atalharmos a tempo a evolução de tudo transformar em valor de troca os bens e serviços da mais variada natureza.
Ao contrário do século XIX em que a preocupação maior dos economistas era como produzir em mais quantidade, o principal motivo de apreensão dos actuais responsáveis empresariais prende-se em encontrar os meios e as estratégias que melhor garantam o crescimento das despesas por parte dos consumidores de forma a assegurar a continuidade do ciclo económico da produção-rendimento-despesa, para o que contam com os mais variados instrumentos, de uma sofisticação e eficácia jamais vista.
Acontece que esta “modernização económica” releva mais de um eufemismo de linguagem do que propriamente de um verdadeiro processo de desenvolvimento social e humano uma vez que a um tal processo “modernizador” está presente um fervor religioso em tudo submeter aos diktats imperativos da razão económica senão mesmo do deve-e-haver contabilístico, ignorando completamente todos os outros aspectos da vida social e humana. A “doxa” económica e contabilística converteu-se hoje efectivamente em dogma indiscutido e indiscutível a que, sem hesitação, prestam vassalagem as élites arrastando consigo a massa informe das nossas sociedades .
As sociedades de consum0 - que também, sintomaticamente, são conhecidas por sociedades do desperdício - constituem um modelo social e económico que tem sido objecto de estudos e análise pelas mais variadas áreas científicas, desde a antropologia até à economia, passando pela sociologia, psicologia social, ecologia, etc, e graças aos quais tem sido possível a compreensão e a crítica da sua lógica interna e dos respectivos dispositivos de funcionamento.
Paralelamente a tomada de consciência dos consumidores da sua função económica e do seu papel face aos interesses empresariais levou à verificação de quanto era frágil a sua posição no jogo de interesses em presença. Daí à acção de defesa dos direitos e interesses do consumidores e respectiva consciencialização para o consumo responsável foi um pequeno passo, logo dado, em 1º lugar, nos países onde se regista maior nível cultural e participação das pessoas na vida pública, mas rapidamente propagado para os demais países. Emerge então o movimento consumerista destinado a sensibilizar os próprios consumidores para as múltiplas implicações que o acto de consumo envolve, desde logo,as consequências de carácter ambiental, mas também de ordem económica, social, cultural,etc. Aliás, um outro movimento precedente tinha tido um papel pioneiro na defesa e consciencialização dos consumidor: falamos, como não podia deixar de ser, do cooperativismo (em especial, das cooperativas de consumidores) que, constituiu na sua face inicial, uma viva esperança, alimentada pelos espíritos mais lúcidos da época, contra o poder abusivo das empresas e os efeitos danosos provocados pela mão cega do mercado.
Já mais perto de nós no tempo surgiram novas iniciativas e movimentos como é o caso do comércio justo que são tentativas de criar circuitos comerciais paralelos de forma a satisfazer quer os interesses dos consumidores como inclusivamente dos próprios produtores, muitos deles do mundo subdesenvolvido que são, literalmente, espoliados pelas grandes cadeias de comercialização dos seus produtos e das suas matérias-primas. Tudo isto vem a desaguar numa nova ética do consumidor, mais exigente em termos ambientais, sociais e económicos.
A última iniciativa para alertar as consciências individuais foi a promoção do Buy Nothing Day por ONGs internacionais como forma de relançar o debate e a reflexão acerca da problemática relacionada com o consumo desenfreado. O próximo dia 26 de Novembro foi justamente escolhido para marcar a nível internacional o dia sem compras. Apesar do carácter simbólico, esta iniciativa não deixa de ter um interesse redobrado se constituir um momento para a consciencialização dos indivíduos para o estado actual do planeta e da humanidade, de que o fenómeno consumista é, infelizmente, um triste sinal. Cabe a todos nós assumir a sua quota de responsabilidade nessa situação e retirar daí as suas devidas consequências.
Um Dia Sem Compras é um dia em que sabemos apreciar as coisas do mundo que não têm preço.

20.11.05

Subcontratados, explorados, irregulares e roubados (a triste sorte dos trabalhadores portugueses em Espanha)


O despertador toca às 5 da manhã de 2ª feira na casa de António Fernandes da Silva, operário de construção civil, na cidade do Porto. Os seus 53 anos e a crise económica portuguesa obrigaram-no a colocar-se sob a direcção de uma empresa subcontratada para a construção de um grande centro comercial em Vigo, para onde se dirige numa carrinha da empresa, com os seus companheiros de trabalho, em cada 2ª feira. Esperam-no duas de viagem , outras 11 de jornada laboral, cinco dias de convívio com outros operários portugueses num pequeno apartamento da cidade galega e um salário que não chega aos 1.500 euros.
António, porém, não se queixa. É que, depois de uma camada de cimento que o endurece, mais o seu farto bigode, lembra-se dos seus colegas que continuam a trabalhar em Portugal com metade do dinheiro que actualmente ganha. E também não se importa muito que os trabalhadores espanhóis a trabalhar na mesma obra ganhem quase o dobro que ele, quando desabafa: « Em Portugal há muito pouco emprego e dinheiro. Lá muitos operários não ganham mais que o salário mínimo, de 374,70 euros, enquanto aqui ganha-se o mínimo».
António é só um entre dezenas de portugueses que trabalham na obra que se está a construir nas margens da Gran Via da cidade de Vigo e em cuja empreitada participam 9 empresas subcontratadas portuguesas. Dos quase 50.000 trabalhadores portugueses inscritos na Segurança Social espanhol, segundo o Ministério do trabalho português, a grande maioria trabalha em empresas subcontratadas no sector da construção civil. No passado mês de Julho estavam registados 48.463 emigrantes regulares, quase 10% a mais que no anterior mês de Abril, apesar de tudo indicar que esse número seja muito maior se contarmos os irregulares.
Na Galiza, por exemplo, os trabalhadores registados não ultrapassam os 5.000, mas segundo Javier Dongil, secretário da Acción Sindical das CCOO da região, podem na realidade alcançar os 30.000, incluindo os trabalhadores temporários, que cruzam diariamente a fronteira para trabalhar em Espanha e que regressam à noite para as suas casas.
Os sindicatos lusos calculam que haja cerca de 12.000 portugueses trabalhando de forma clandestina sem contrato nem segurança social no território do Estado espanhol. «É quase impossível quantificar, mas existem zonas inteiras de Portugal em a maioria da população masculina cruza a fronteira para trabalhar», diz-nos Albano Ribeiro, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil e Obras públicas do Norte. E, caso não se faça nada, esse número irá aumentar, ao esclarecer: «Nos próximos meses de Janeiro e Fevereiro vão ficar no desemprego outros 6.000 operários portugueses.»
Exploração, abusos, comissões, subcontratados, piores salários, trabalhos mais perigosos, jornadas laborais intermináveis…Tudo isto aparece frequentemente nos media portugueses quando se referem à emigração lusa para Espanha. E que veio à luz do dia com muito mais desde o acidente de Almuñécar ( Granada) no passado dia 7.
«Não é nenhuma casualidade que, dos seis mortos, cinco eram portugueses», diz Ribeiro que, depois de um périplo por Espanha, para visitar centenas de obras onde trabalham operários portugueses, denunciou a situação generalizada de irregularidades, de precariedade, de subcontratação irregular, fraude, evasão, sinistralidade e morto que caracteriza o sector da construção civil espanhol.
Ribeiro explica como funciona esse submundo em que vivem «pelo menos 60% dos 20.000 operários temporários» que trabalham desde há dois anos em Espanha, por causa da crise portuguesa: « As máfias de engajadores (comissionistas) contratam-nos aqui como se fossem trabalhar em Portugal, mas anunciando salários mais atraentes. Cada engajador tem centenas de trabalhadores a seu cargo e ficam com cerca de 35% do salário, com o pretexto de pagar custos de deslocação e manutenção. Eles próprios encarregam-se de cobrar junto das empresas espanholas, que pagam salários próximos aos trabalhadores espanhóis, distribuindo aos trabalhadores português o montante acordado depois de terem descontado para si próprios aquela percentagem.». Feito o descontos, os trabalhadores acabam por receber apenas pouco mais que o salário sectorial que é habitualmente pago em Portugal, e que é de 496 euros.«Um trabalhador espanhol que esteja a trabalhar nos andaimes durante 8 horas ao longo de cinco dias ganha 1.400 euros. Os português, em contrapartida, têm que trabalhar 12 horas diárias, incluindo Sábado, para ganhar o mesmo.». Muitos trabalham de sol a sol, fazendo tarefas para as quais nem sempre estão capacitados.
Estas redes mafiosas «não têm nem sede nem escritórios, nem registo legal, nem valor imobilizado, nem muito menos apresentam qualquer declaração ao Fisco». Segundo o Sindicato, conseguem ganhar fortunas em muito pouco tempo e operam entre Espanha, França e Portugal. «Quando têm problemas com alguém transferem os operários para outro país», adianta. Apesar de serem fantasmas, estes engajadores seriam fáceis de detectar, nas palavras de Albano Ribeiro .
O dirigente sindicalista crê que tudo isso é um reflexo da ilegalidade em que vive o sector da construção civil português: «Das 20.000 empresas de construção a metade não cumpre com as suas obrigações fiscais.»
Recorde-se que a actividade de intermediação laboral está proibida por lei que obriga as empresas que deslocam mão de obra a comunicar a chegada de trabalhadores às autoridades laborais da região onde aqueles vão trabalhar, obrigando ao respeito pelas tabelas salariais, normas de segurança e horários de trabalho vigentes.
O problema é que as inspecções de trabalho não podem comprovar nada disso, se o empregador não tiver comunicado que tem trabalhadores a seu cargo em determinada obra !!!


A nova emigração portuguesa

Portugal é, no momento actual, um dos grandes fornecedores de mão de obra barata para as empresas espanholas, tal como acontecia nos anos 60 com Portugal e Espanha relativamente aos países como França e Alemanha.
Ainda hoje vivem em França cerca de 788.603 portugueses, e 200.000 na Inglaterra.
A emigração portuguesa não se limita já ao sector agrícola ou de construção. Segundo dados recentes, 20% dos licenciados portugueses trabalham fora do país. E os números globais ainda são mais impressionantes: existem cerca de 4,8 milhões de portugueses ou descendentes ( note-se que Portugal tem 10 milhões de habitantes) repartidos pelos cinco continentes: 1.386.292 pessoas na Europa; 2.993.127 na América; cerca de 300.000 em África; 30.000 na Ásia e mais de 55.000 na Oceânia.
A crise económica e as profundas desigualdades estão na origem da nova vaga de emigração portuguesa para o estrangeiro, com destino desta vez para território espanhol. Uma emigração que vai encontrar trabalhos precários, perigosos e normalmente subcontratados.

Tradução de grande parte de um texto originalmente publicado no jornal El País de 10 de Novembro de 2005 de autoria de Pablo Campos e Miguel Mora.

O preço do «progresso» da China é a sobre-exploração dos trabalhadores


A china regista presentemente um saldo positivo no seu comércio externo que não pára de aumentar. Este ano crescerá 50 % relativamente ao ano passado ( 2004) atingindo o valor de 48.000 milhões de dólares.
Mas há dados que importa divulgar, até para servirem de reflexão para uso caseiro. Na verdade, 50% das exportações chinesas procedem de empresas com capital estrangeiro, ou seja, são empresas resultantes de investimento estrangeiro ou muito simplesmente de empresas deslocalizadas de outros países que procuram a China para se instalarem por causa da inexistência e desrespeito pelos direitos laborais que caracteriza o capitalismo chinês.
Jornadas de trabalho com duração de 15 horas, semana de 7 dias de trabalho, baixo salários, obrigação de horas extra, remunerações em falta ou muito simplesmente não pagas, condições insalubres de trabalho, proibição de conversas, videovigilância, alojamento em dormitórios construídos nas instalações da própria empresa, retenção de documentos pessoais e limitação na circulação dos trabalhadores são realidades vulgares na China actual, especialmente entre os 140 milhões de emigrantes que deixaram as zonas rurais para virem trabalhar nas orlas industriais do litoral. Sem esquecer, evidentemente, a terminante proibição imposta pelo governo e Estado chinês na constituição de sindicatos independentes.
Li Qiang, que está à frente da «China Labour Wath», afirma: «A China está apostada numa política de crescimento económico independentemente dos custos humanos. Tem uma abundante oferta de mão de obra, cujos salários baixos são artificialmente mantidos e, num sistema em que as vidas são tão baratas, não surpreende que os lucros sejam elevados»

Os motins nos subúrbios nas últimas décadas


Breve lista dos últimos motins nos subúrbios das cidades industrializadas:

- Watts, subúrbios de Los Angeles, em 1965, durante o período de expansionismo económico norte-americano. A causa imediata foi a morte de um negro de 21 anos e que originou 10 dias de tumultos com 34 mortes.

-Soweto, Àfrica do Sul, em 1976, em pleno período de apartheid sul-africano. A causa imediata foi a decisão governamental de obrigar os jovens negros a estudar o afrikaan, a língua da minoria branca. Nos tumultos desencadeados a polícia mata uma criança de 13 anos e morrem 23 pessoas.

-Brixton, Grã-Bretanha, em 1981, durante o governo de Thatcher, por motivo da política governamental contra as minorias antilhesa e indiana que reivindicavam sair da situação de pobreza em que viviam. Durante os tumultos morreram 9 pessoas e outras 50 ficaram feridas.

-South Central, um bairro pobre de Los Angeles, em 1992, por motivo de um espancamento de polícias a um motorista negro, filmado por um vídeo amador que provocou um revolta generalizada ao grito «Não pode haver pez sem justiça» e de que resultará em 55 mortos e 2.000 feridos.

-Subúrbios de Paris, Novembro de 2005

Madalena:desfeito o último tabu do cristianismo


Um livro saído recentemente de Juan Árias, «La Magdalena, el último tabu del cristianismo» ataca um dos pilares do cristianismo, o poder masculino. E fá-lo tratando de uma figura feminina, Madalena.
A imagem tradicional de Madalena que a Igreja Católica difundiu ao longo de séculos era que se tratava de uma mulher pecadora pública ( leia-se, prostituta) e que se convertera quando conheceu o fundador do cristianismo, enquanto este comia na casa de um fariseu. Durante séculos, a hierarquia eclesial não hesitou em manipular esta figura a seu bel prazer de forma a transmitir uma imagem arquetípica de mulher segundo as conveniências da Igreja Católica.
Ora o que Juan Árias nos apresenta é antes uma apaixonada história de amor entre Jesus e Madalena que levou, inclusivamente, os apóstolos a se escandalizarem e ocultarem uma tal relação. Jesus era, afinal, casado com Madalena – o que é hoje aceite como consensual - e que explica, aliás, o facto de quando se produz a ressurreição Jesus preferir comunicá-la a Madalena do que à sua própria mãe. Nota ainda o autor que os evangelistas nunca em momento algum apresentam a figura de Jesus como exemplo de celibato.Madalena foi realmente uma peça importantíssima nos primeiros tempos do cristianismo e o conhecimento que começamos ter dela constituirá sem dúvida uma verdadeira revolução no machismo eclesiástico da Igreja Católica

18.11.05

O consumismo é uma nova forma de exploração

Extraído de: www.rebelion.org

Autor do texto:
Francisco Sánchez Legrán


As formas clássicas de exploração do homem pelo homem já denunciadas pelos pensadores do socialismo desde há centenas de anos, ainda que perduram, uma vezes maquilhadas outras na sua expressão mais cruel, estão a ser complementadas por outras formas de exploração que se vêm desenvolvendo e se impõem fundamentalmente nas chamadas sociedades desenvolvidas.
Refiro-me a essa nova forma de exploração do indivíduo e da sociedade que é representada pelo consumismo. Um nova forma de exploração que aparece no século XX e cujas consequências vão para além dos efeitos negativos e dolorosos que sempre teve e continua a ter a exploração dos trabalhadores sob o sistema capitalista de produção.

Consumismo significa a destruição do planeta

A Cimeira do Rio de Janeiro de 1992 alertou para que a modificação dos actuais níveis de consumo no mundo industrializado, isto é, a eliminação do consumismo, deveria ser uma das tarefas principais da humanidade para o próximo século, pois só assim se poderia salvar o planeta da catástrofe que se avizinha. Já se passaram mais de 11 anos desde a realização daquela cimeira convocada pelas Nações Unidas, e descontando as centenas de discursos, o incumprimento de compromissos e as mil promessas dos governantes dos países ricos e industrializados, a verdade é que muito pouco se fez. Enquanto isso, a consciência do perigo mortal vai crescendo e os efeitos da deterioração ambiental multiplicam-se.
Ninguém dúvida que as principais vítimas a sofrer com as consequências da grave deterioração do meio ambiente são os habitantes pobres dos países menos desenvolvidos. São os que não têm automóveis, nem aparelhos de ar condicionado, provavelmente nem sequer frigoríficos, ou seja, não são eles que contaminam a terra e, não obstante, é sobre eles que recai mais directamente os efeitos das emissões de dióxido de carbono causadoras do aquecimento do planeta e do efeito-estufa. Também são eles que, quando estão doentes, não têm hospitais, médicos nem medicamentos suficientes como os que existem na outra parte do planeta.
Tão pouco podemos esquecer que a população mundial demorou dezenas de anos a atingir a soma de 1.000 milhões de habitantes, soma essa que foi alcançada por volta do ano de 1800. Acontece que só nos últimos 200 anos a população mundial atingiu a cifra superior aos 6.300 milhões de habitantes, e que as previsões apontam para que no ano 2050 se chegue aos 9.000 milhões.
Esta grande explosão demográfica, junto à acelarada degradação das condições naturais básicas para a sobrevivência da humanidade está a provocar uma enorme preocupação em muitos países, sobretudo nos menos desenvolvidos já que é nestes que se regista um maior crescimento da população.
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A grande mentira do consumismo
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Há que perguntar aos dirigentes políticos dos países mais ricos e industrializados se vão continuar a mentir aos habitantes da Terra. Há que interrogá-los para saber se vão continuar a dizer que é necessário consumir cada vez mais a fim de garantir o nosso desenvolvimento e bem estar e, com isso, ajudar ao desenvolvimento dos países pobres.
Até quando esta mentira será repetida, uma vez que todos os estudos realizados por instituições prestigiadas demonstram que não é possível que todos ao habitantes do nosso planeta possam alcançar algum dia o nível do bem estar e de desenvolvimento que os habitantes dos países desenvolvidos usufruem, pois o planeta Terra não tem recursos suficientes para os 6.000 milhões de habitantes, quanto mais para os futuros 9.000 milhões poderem consumir e desperdiçar da mesma maneira como fazem os que vivem actualmente na parte priviligiada do planeta. Seriam precisos 3 planetas Terra para dispor de recursos necessários a fimdos 6.000 milhões de habitantes poderem viver com o mesmo nível de consumismo insustentável.
Esta é que a verdade, ainda que cruel, e por isso, os indivíduos, os consumidores dos países ricos e industrializados não podem fechar os olhos face a esta realidade, pois o certo é que para nós, os tais 20% da população mundial, podermos continuar a viver com este nível de consumismo e de desperdício de recursos naturais será necessário que os outros 80% continue a viver nas condições de pobreza que todos conhecemos. Ou seja, o funcionamento da economia dos países ricos apoia-se no consumismo e na existência dessas grandes desigualdades.
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Há que globalizar a justiça social
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Globalizou-se a desigualdade e por isso é que há cada vez maiores diferenças entre os países ricos e pobres. Mas isto não é inevitável e há que afirmar que esta situação pode ser mudada, pois outro mundo é possível, outros sistemas são possíveis, e que é possível globalizar a cultura, a saúde, o respeito pelo meio ambiente, e sobretudo que é possível globalizar uma alimentação justa para todos os habitantes do planeta chamado Terra, mas isso só será possível se travarmos a corrida armamentista , o domínio de uns países sobre outros e a destruição dos recursos naturais.
Há que apostar por um consumo racional e sustenável numa sociedade justa e sustentável, e esses dois objectivos devem estar unidos.
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O consumo sustentável significa a mundança do sistema
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Há que dizer não a este novo sistema de exploração da humanidade que é representado pelo consumismo actual e contrapor a essa exploração um consumo sustentável.
O consumo sustentável ou consumo racional supõe muito mais que trocar um produto prejudicial para o meio ambiente ou para os seres humanos por outro menos nocivo. Nem significa apenas seleccionar os resíduos urbanos das nossas casas. Implica, acima de tudo, questionar o nosso sistema social, examinar o nosso papel face às desigualdades da economia mundial e exigir políticas que favoreçam uma real mudança no actual sistema de produção e consumo.
Mas significa principalmente assumir que a manutenção do actual modo de vida das sociedades consumistas só poderá acontecer à custa da manutenção do actual modo de vida das populações dos países pobres, além de justificar guerras e invasões a fim dos recursos naturais dos países pobres serem apropriados por aqueles outros.
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O consumismo representa a exploração
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Podemos pois afirmar que o consumismo afecta de maneira negativa todos os cidadãos do mundo, independentemente do local onde habitem. Além disso, afecta-nos porque somos vítimas de uma dupla exploração.
A que sofremos como trabalhadores e a que sofremos como consumidores, provocando comporatmentos generalizados de consumo irracional, quase compulsivo, com a ilusão de que quanto mais consumirmos mais felizes seremos, e mais nos aproximaremos dos patrões e dos conceitos de vida que nos impõem os poderosos que governam a terra.
Por outro lado, há a exploração dos habitantes dos países pobres que, em consequência do consumismo e da sobrexploração dos recursos do planeta, não podem sair da pobreza e do subdesenvolvimento em que vivem e que permitem o consumismo e o desperdício no mundo dos ricos.
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A dependência dos consumidores
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Para além dos efeitos que o consumismo está a provocar com a destruição do meio ambiente pondo em causa a própria sobrevivência do planeta, há que assinalar os efeitos desse modelo de comportamento consumista para a qualidade de vida e para a própria situação económica.
Este aspecto é objecto de um manto de silêncio, o que não surpreende uma vez que se o conseguirmos romper a sociedade começara a interrogar-se sobre o estilo de vida que tem adoptado, para além de começar a colocar em questão a noção de que ter mais significa ser mais feliz e gozar de maior qualidade de vida.
Verificamos que os consumidores das economias industrializadas empenham-se em consumir cada vez mais bens de consumo. Sofrem quase que uma dependência paranóica deste tipo de bens e que servem de estímulo externo para compernsar o défice interior, para além de servir para constituir um símbolo de estauto social. As classes dominates incarnam um imagem de realização das possibilidades humanas: poder, segurança, comodidade, refinamento e cultura. As demais pessoas, ao quererem imitá-las, perdem a sua capacidade autónoma de definir aquilo que é digno de se possuir. A formação dos gostos e preferência fica subordinado aos valores de uns poucos de priviligiados. Toda esta análise constitui a chave para conhecermos a ideologia do consumismo.
O consumo de bens satisfaz necessidades físico-objectivas e, por consequência, tem sempre um ponto de saturação. O bem estar ou a satisfação de bens relacionais ou de posição mede-se através da comparação com outros consumidores e outros momentos históricos, sem limites, já que a vontade de diferenciação é infinita.
Esta situação está a levar os consumidores dos países com economias desenvolvidas a um sobre-endividamento, isto é, a gastar acima do seu rendimento e, com isso, a tornarem-se reféns do sistema.
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Há que denunciar os efeitos do consumismo
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Sempre que pensamos em evitar ou limitar os danos ambientais gerados pela produção, distribuição e consumo de bens, aceitamos a necessidade de produtos e técnicas menos prejudiciais. O que não é fácil de aceitar é a redução da produção e do consumo.
Nesse sentido, a promoção do consumismo através da publicidade, da tv e dos centros comerciais deve ser objecto de contestação dos consumidores.Uma forma de fazer com que o consumo seja a simples satisfação de necessidades passa por nos libertarmos dos automatismos que nos impõem o hábito de um consumismo exacerbado. No fundo, são automatismos que fazem infelizes por nunca conseguirmos imitar os padrões de felicidade que a publicidade nos vende.
Terminamos com uma afirmação sobre o futuro da sociedade de consumo: esta não é mais que uma etapa da história que será ultrapassada. O que não se pode ainda prever é será tal dará por via de uma mudança de mentalidades ou então por via de uma situação apocalítica do capitalismo em consequência do esgotamento dos recursos e da destruição do meio ambiente.

13.11.05

Apostasia colectiva em Sevilha


No passado Sábado 8 de Outubro cerca de 200 pessoas reuniram-se na Alameda de Hércules em Sevilha, de onde partiram em direcção ao Palácio arcebispal a fim de aí entregar uma 140 petições de apostasia.
Sob o lema «Apaga y vámonos» a assembleia Pró-Apostasia APAGA convocou esta saída colectiva da Igreja Católica na qual estive presente um conjunto muito heterogéneo de pessoas que partilhavam todas a mesma vontade festiva de abandonar voluntariamente a Igreja
Em frente ao Palácio de las Sirenas, local da convocatória, foi montada uma mesa informativa de como realizar uma apostasia, assim como forma distribuídos formulários, guias e folhetos. Não faltaram também adereços elegantes e foi possível observar como as pessoas vinham festivamente vestidas para um momento tão especial como é o acto da sua apostasia.
O cortejo dos apóstatas decorreu com música e canções num ambiente convivial de grande alegria. A dado passo um grupo de fascistas começou a lançar insultos e provocações aos quais respondemos com canções sobre a liberdade cantadas em uníssono.
À chegada ao Palácio Arcebispal uma comissão representativa do cortejo apóstata entregou os requerimentos de apostasia a um elemento da Viçaria, tendo-se solicitado às pessoas para contactarem com a APAGA caso o Bispado não desse resposta aos seus requerimentos no prazo de algumas semanas.
O acto foi noticiado favoravelmente por alguns meios de informação local, com algumas excepções, mais que previsíveis. De forma geral, o acto de apostasia colectiva teve um bom acolhimento junto da população, tendo valido a pena a sua realização para que todos saibam e conheçam como realizar a sua apostasia.
Mais a mais e face às denúncias recebidas de que o Arcebispado costumava levantar obstáculos para a concretização da vontade dos interessados em abandonarem a Igreja Católica e tornarem apóstatas, o próprio Arcebispo de Sevilha teve necessidade de vir para a comunicação social desmentir tais entraves e declarar que os trâmites burocráticos serão aligeirados tornando mais expedito e rápido o acto administrativo da apostasia, o que representa sem dúvida uma grande vitória para o movimento de apostasia.
Recorde-se que a APAGA mantém um serviço de informação apóstata no gabinete dos direitos sociais localizado no Centro Vecinal Pumarejo (Plaza del Pumarejo) e prepara já uma nova apostasia colectiva para o início do ano de 2006. Temos também conhecimento que grupos de interessados, residentes em Huelva, Códoba, Granada, Málaga, Barcelona e Madrid se preparam para levar a efeito acções semelhantes.

Madame la misère (de Léo Ferré))

A Senhora Miséria ( letra e Música de Léo Ferré)


Madame la misère écoutez le vacarme
Que font vos gens le dos voûté la langue au pas
Quand ils sont assoiffés il ne soûlent de larmes
Quand ils ne pleurent plus il crèvent sous le charme
De la nature et des gravats

Ce sont des suppliciés au ventre translucide Qui vont sans foi ni loi comme on le dit parfois Régler son compte à Monseigneur Ephéméride Qui a pris leur jeunesse et l’a mise en ses rides Quand il ne leur restait que ça

Madame la misère écoutez le tumulte
Qui monte des bas-fonds comme un dernier convoi
Traînant des mots d’amour avalant les insultes
Et prenant par la main leurs colères adultes
Afin de ne les perdre pas

Ce sont des enragés qui dérangent l’histoire Et qui mettent du sang sur les chiffres parfois Comme si l’on devait toucher du doigt pour croire Qu’un peuple heureux rotant tout seul dans sa mangeoire Vaut bien une tête de roi

Madame la misère écoutez le silence
Qui entoure le lit défait des magistrats
Le code de la peur se rime avec potence
Il suffit de trouver quelques pendus d’avance
Et mon Dieu ça ne manque pas

Telhados verdes são pulmões para as cidades

Fonte:
http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,1772334,00.html



Há bastantes vantagens na criação dos chamados "telhados verdes" em espaços urbanos densamente habitados.

"De facto, as áreas verdes do município do Rio de Janeiro somam 27,51% do total da área da cidade. Ora considerando que o índice de área verde ideal para cada ser humano é de 12m2/habitante, o Rio estaria muitíssimo bem, com nada menos que 57,4m2/habitante. No entanto, observa-se a presença de ‘ilhas de calor’ em determinados pontos da cidade, provocadas pela falta de vegetação. Por mais que se tenha uma área verde dentro de um município, a sua concentração em determinadas regiões só é benéfica para quem mora próximo", explica a arquicteta Sylvia Rola, que desenvolve na Universidade Federal do Rio de Janeiro um projecto de pesquisa sobre sistemas de «naturação»


«Naturação» sob condições tropicais

Um procedimento amplamente disseminado em países escandinavos, os "telhados verdes" têm uma longa história também na Alemanha. E vão, aos poucos, conquistando adeptos na América Latina. O México, por exemplo, é um país onde a implantação de jardins nos telhados das edificações das grandes cidades desperta enorme interesse e aceitação.
"No momento, o governo mexicano estuda a criação de leis que regulamentam a «naturação» em grande escala", conta Christel Kappis, especialista do Instituto de Ciências Agrárias e Projectos em Ecologia Urbana da Universidade Humboldt de Berlim.
Além do México, os telhados verdes começam a surgir também na Bolívia (em La Paz, os primeiros projectos estão em andamento) e em Cuba, onde pesquisadores buscam soluções específicas para a naturação sob condições tropicais.
Para Sylvia Rola Bildunterschrift: a naturação no Brasil ainda "é tímida, pois várias são as incógnitas a respeito de sua adaptação à realidade biotecnológica brasileira. O principal ponto de estudo é a possibilidade de se montar um sistema usando materiais e plantas tipicamente brasileiros. Isso porque se o impermeabilizante for importado, já inviabiliza economicamente a sua aplicação em grande escala".
Visando fomentar o intercâmbio científico em relação aos "telhados verdes", foi criada pela Universidade Humboldt de Berlim, com financiamento da União Europeia, uma rede de cooperação entre instituições académicas dos dois continentes. No projecto estiveram envolvidos pesquisadores de universidades da Alemanha, Brasil, Espanha, Grécia, Bolívia, Cuba, México e Equador.
Através de experimentos práticos (learning by doing), foram criados grupos de trabalho voltados para a pesquisa sobre o melhor tipo de vegetação a ser utilizado em cada "telhado verde nacional". Desde então, conta Kappis, existe um intercâmbio informal entre especialistas de todas estas universidades.
Com apoio técnico da Universidade Humboldt, por exemplo, foi formada a Rednatur (Red Latinoamericana de Naturación). A ideia é criar ainda uma plataforma na internet, na qual poderão ser publicados os resultados das pesquisas relacionadas à naturação nos dois continentes.


Criação de corredores verdes

Bildunterschrift: As vantagens dos "telhados verdes" para o espaço urbano são diversas, diz Rola: "O sistema de naturação é como uma alternativa real para sanar não só problemas como as ilhas de calor, mas também de poluição atmosférica, redução do calor transmitido para o interior das edificações. A naturação urbana trata de transformar em biótopos os edifícios e espaços urbanos, a fim de que, unidos através de corredores verdes, eles facilitem a circulação atmosférica e melhorem o microclima da cidade".



Além de reduzirem o consumo de energia, provocando um decréscimo no uso do ar condicionado em regiões quentes, os telhados verdes também são capazes de isolar o frio em regiões com Invernos rigorosos.
Sob um telhado coberto de vegetação, as baixas temperaturas demoram mais para chegar aos espaços internos. Um facto de pouca ou nula importância para o Brasil, mas essencial para os países europeus e para determinadas regiões montanhosas no México e na Bolívia.
O aumento do volume de plantas no espaço urbano, explica a pesquisadora Rola, acaba afectando de forma benéfica o microclima das cidades. Além disso, para as regiões de chuva intensa, as áreas naturadas podem servir de retentoras da água de chuva, prevenindo, desta forma, a ocorrência de enchentes.
E esta retenção significa uma economia para o consumo de água, uma vez que se garanta a potabilidade desta água, através dos devidos sistemas de colecta e armazenamento.
Bildunterschrift: Um dos problemas vistos pela população em geral em relação aos "telhados naturados" são os cuidados exigidos para que eles se mantenham em funcionamento. Quando se fala em área verde sobre uma edificação urbana, por exemplo, pensa-se automaticamente em jardins ou terraços, usados como "ilhas verdes" em meio às selvas de concreto.
"Tais jardins são possíveis, mas requerem muito trabalho para serem criados e cuidados, além de serem relativamente caros", observa a especialista Kappis.
Para este tipo de "telhado intensivo", tanto o processo de impermeabilização quanto o de drenagem são bastante onerosos. "Nos projectos de pesquisa na América Latina, nós especializamo-nos noutro tipo de telhado naturado, ou seja, nos chamados sistemas de vegetação extensiva", diz Kappis.
Estes sistemas, que requerem menos cuidados no dia-a-dia, são freqüentemente tidos como "pouco estéticos". Embora possam passar a imagem de um mato desordenado, defende a pesquisadora alemã, "o sentido e o objectivo deste tipo de sistema estão menos no uso destes espaços como jardins, mas principalmente no alto potencial destas áreas na produção de efeitos ecológicos".
Feios ou não, os "telhados verdes extensivos" contribuem para a redução do efeito de poluentes, mostrando-se como uma das poucas alternativas viáveis a serem desenvolvidas para melhorar a qualidade do ar em espaços urbanos densamente habitados.
Disseminada em países como a Alemanha e a Espanha, a naturação tem certamente um futuro promissor no Brasil. "Acreditamos que a consciência ambiental se vai solidificar também em países latino-americanos. Principalmente quando se podem sentir os efeitos económicos de procedimentos como a naturação", conclui Christel Kappis.
Para isso, pesquisadores se debruçam sobre o tema dos dois lados do Atlântico. "Buscando respostas às demandas ambientais e tentando redireccionar as cidades para o desenvolvimento sustentável. Para que se possa criar uma maior integração entre espaço urbano, cidadão e natureza", finaliza a arquitecta Sylvia Rola.

Soraia Vilela


http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,1772334,00.html

12.11.05

As diferentes políticas económicas


Diferenças entre as políticas económicas de crescimento versus políticas de desenvolvimento durável versus políticas de decrescimento

Os objectivos e características das políticas de crescimento económico:

-consumir automóveis para dar trabalho à indústria automóvel
-construir estradas para dar trabalho às empresas de empreitadas públicas
- os portugueses têm uma moral, em função da qual vão consumir
- dar subsídios aos desempregados para relançar o consumo das famílias
- produzir objectos frágeis e irreparáveis para estimular novos consumos
- ficar doente para dar trabalho à industria farmacêutica
- fazer a guerra para manter a indústria de armamento
- poluir sem remorsos


Objectivos e características das
políticas do desenvolvimento durável:

-subvencionar inovações nos dispositivos dos catalizadoras e reciclar o lixo da produção automóvel ( 15 toneladas por viatura)
-favorecer as ferragens para poder continuar a aumentar o tráfico automóvel
-os portugueses têm consciência ecológica pelo que irão certamente consumir produtos ecológicos
-empregar os desempregados a limpar os contendores de lixo e as sujidades provocadas pelos cães nas vias públicas
-produzir gadgets «ecológicos» e fazer negócios «bio»
-ficar doente para dar trabalho à indústria farmacêutica bem assim como às medicinas doces
- fazer a guerra para manter a indústria de armamento
. poluir para dar trabalho aos despoluidores


Objectivos e características das políticas económicas de decrescimento:

-favorecer os transportes comuns, assim como os planos de partilha dos automóveis
-favorecer a produção e o consumo local. Taxar fortemente os transportes.
-os portugueses são felizes e não se importam de possuir carro, desde que seja um bem partilhado e útil para todos
-dar terra e casa a toda a gente para ganharem mais autonomia
-produzir unicamente objectos úteis, sólidos e possíveis de serem reparados para que durem mais
-adoptar um tipo de higiene de vida de acordo com as suas ideias, desembaraçar-se dos tóxicos.
-julgar os comerciantes de armas e os fabricantes de canhões em tribunais de guerra, e desmantelar as fábricas nocivas
-eliminar a poluição na raiz, fechar a fábrica se tal se tornar necessário



«Toda a pessoa que crê no crescimento exponencial infinito num mundo de recursos finitos ou é um louco ou é um economista»
Kenneth Boulding

As ideologias explicadas aos iniciados


Um reaccionário é alguém que, sabendo que morrem de fome dezenas de milhares de crianças por dia, considera que isso está na ordem natural das coisas

Um conservador é alguém que, sabendo que morrem de fome dezenas de milhares de crianças por dia, considera que se faz o que se pode.

Um social-democrata/socialista é alguém que, sabendo que morrem de fome dezenas de milhares de crianças por dia, defende que nos devemos esforçar mais.

Um comunista
é alguém que, sabendo que morrem de fome dezenas de milhares de crianças por dia, defende que se deve organizar rapidamente a mudança do poder político para combater e eliminar a fome das crianças.

Um libertário
é alguém que, sabendo que morrem de fome dezenas de milhares de crianças por dia, está pronto a fazer por essas crianças a mesma coisa que faria para os seus próprios filhos.

11.11.05

Jardins Comunitários


Desde há alguns anos florescem em algumas cidades os jardins «solidários», «familiares», «culturais», «pedagógicos» ou de «reinserção». Instalam-se ao longo das ruas, ao pé dos edifícios, no coração de bairros, nos enfiamentos ou nas franjas de certas ruas e aglomerações.
Tais realizações, com diversas escalas, são de iniciativa de residentes locais que formam associações para o efeito e que pretendem dar força às actuais tendências para a ecologia urbana assim como do desenvolvimento da democracia participativa ao nível dos bairros e quarteirões urbanos.
Este tipo de projectos resulta da má consciência ambiental que ocupa hoje o espaço mediático e que se explica pelo desfasamento entre as promessas a longo prazo próprias dos discursos políticos e a mais que constatada ausência de uma melhoria significativa das condições de vida das metrópoles ( barulho, poluição atmosférica, carácter anónimo da vida urbana,…). Quem participa na criação destes jardins pretende partilhar a ocupação física do solo e levar à prática as suas preocupações numa pequena parcela. Reivindicam com algum esforço cândido o uso de ancinhos e enxada, apesar dos dois séculos de urbanização e cimento que tivemos, e através de protocolos e acordos com duração limitada conseguem obter que terrenos públicos fiquem à sua disposição para serem tratados e ajardinados. Os detractores são muitas vezes os profissionais da política ou do urbanismo que não vêem com bons olhos os habitantes de uma cidade a tratarem a sua própria cidade. Ironizam mesmo sobre a sua incultura urbana, a sua ingenuidade ou o seu entusiasmo pelos legumes.
Todavia se prestarmos atenção a estes habitantes não é difícil encontrar o gosto e prazer que eles sentem pela realização desta actividade pública que resta inclassificável no âmbito institucional. Nos seus gestos vê-se menos o predomínio da palavra sobre o agir, mas sobretudo os encontros através da partilha de tarefas e actividades. Os trabalhos de limpeza e as práticas de jardinagem entre os interessados, muitos deles vizinhos de todas as idades permitem experimentar a todos o carácter mítico-poético dos trabalhos artesanais de outrora.
Na maior parte dos casos os terrenos são redescobertos após um período de abandono nas múltiplas dobras que a cidade não deixa de mostrar. O sentimento de abandono que impregna os terrenos abandonados à vegetação espontânea confere-lhes uma poética e pouco a pouco toda um novo estatuto.
Dentro da programação levada a cabo por várias associações as actividades estritamente hortícolas misturam-se quase sempre com projectos de outra natureza ( de carácter pedagógico, cultural, …) que se renovam ao longo das estações do ano. Assim, o jardim não é o fim em si mesmo mas um quadro onde aventuras culturais e sociais se podem desenvolver.
Encontramos mesmo, por vezes, animais como coelhos e galinhas cuja presença sonora em pleno meio urbano marcam a diferença e subentendem uma rede que os sustenta.
Em certos destes jardins familiares e de reinserção paira algum espírito comunal, semelhante ao que existia antigamente, durante o Ancien Regime, em que os habitantes detinham verdadeiros direitos adquiridos. ( eram terrenos que eram cultivados para garantir a autosuficiência alimentar tal como nos diz Nadine Vivier no seu livro « Propriété collective et identité communale, les liens communaux en France, 1750-1914).
Nas nossas sociedades sobrepovoadas a exclusão, a pobreza levaram muito longe a aridez orgânica dos solos entregues à lógica imobiliária. Donde o desejo das povoações em retomar as competências iniciais de apropriação por parte das comunidades e a sua reivindicação de uma base territorial que não esteja comprometida à lógica da especulação e ao aumento aberrante dos custos dos terrenos.
Estes jardins improvisados reforçam as práticas sociais baseadas nas relações de vizinhança e visam uma certa reterritorialização do ordenamento no sentido dado por Alberto Magnaghi quando fala de uma mundialização por baixo em reacção à globalização por cima.

(texto de Xavier Bonnaud, publicado na Revue de l’Urbanisme nº 343, Juillet-Aout 2005 com o título «Cultiver la conscience du lieu»)

Consultar:
www.jardinons.com
www.jardins-familiaux.fr
http://jardinons.com/cadrexp.htm

Law and Globalization from Below. Towards a Cosmopolitan Legality ( O Direito e a globalização vistas de baixo. Para uma legalidade cosmopolita)

Novo livro de Boaventura Sousa Santos


Acabou de ser editado o livro «Law and Globalization from Below. Towards a Cosmopolitan Legality» ( O Direito e a globalização vistas de baixo. Para uma legalidade cosmopolita), com organização de Boaventura de Sousa Santos e César A. Rodríguez-Garavito
Edição da Cambridge Studies in Law and Society (2005), Cambridge University Press

Índice

1. Law, politics, and the subaltern in counter-hegemonic globalization Boaventura de Sousa Santos and César A. Rodríguez-Garavito;


Part I. Law and the Construction of a global economy of solidarity:

2.Beyond neoliberal governance: the world social forum as subaltern cosmopolitan Politics and legality, Boaventura Sousa Santos

3.Nike's law: the anti-sweatshop movement, transnational corporations, and the struggle over international labor rights in the Americas, César A. Rodríguez-Garavito;

4.Corporate social responsibility: a case of hegemony and counter-hegemony, Ronen Shamir;

5.Campaigning for life: building a new transnational solidarity in the face of HIV/AIDS and TRIPS, Heinz Klug;

6.Negotiating informality within formality: land and housing in the Texas Colonias, Jane E. Larson;

7.Local contact points at global divides: labor rights and immigrant rights as sites for cosmopolitanism legality, Fran Ansley;

Part II. Transnational Social Movements and the Reconstruction of Human Rights:

8.Limits of law in counter-hegemonic globalization: the Indian Supreme Court and the Narmada Valley struggle, Balakrishnan Rajagopal;

9.The movement of the landless (MST) and modalities of legal change in Brazil, Peter P. Houtzager;

10.Indigenous rights, transnational activism, and legal mobilization: the struggle of the U'wa people in Colombia, César A. Rodríguez-Garavito and Luis Carlos Arenas;

11.Defensive and oppositional counter-hegemonic uses of international law: from the International Criminal Court to the common heritage of humankind, José Manuel Pureza


Part III. Law and Participatory Democracy: Between the Local and the Global:


12.Political and legal struggles over resources and democracy: experiences with gender budgeting in Tanzania, Mary Rusimbi and Marjorie Mbilinyi;

13.Two democracies, two legalities: participatory budgeting in Porto Alegre, Brazil, Boaventura Sousa Santos


14.Life, life world and life chances: vulnerability and survival in Indian constitutional law, Shiv Visvanathan and Chandrika Parmar;

15.Bottom-up environmental law and democracy in the risk society: Portuguese experiences in European context, João Arriscado Nunes e Susana Costa



Sem Justiça não há Paz ( a propósito dos motins nos subúrbios de Paris)


Os acontecimentos que tem agitado os subúrbios franceses desde há duas semanas são bem a expressão de uma revolta cujo aspecto político não se pode negar. Não se pode negar a existência de uma situação de contestação contra os representantes ou os símbolos de uma ordem social injusta, racista e opressora que considera os jovens dos bairros populares como «escumalha» que deve ser limpa senão mesmo vir a acabar de apodrecer na prisão. Neste contexto, incendiar uma viatura, um edifício público ou estabelecimentos comerciais é um acto político, sobre o qual podemos interrogarmo-nos sobre o seu fundamento, sobretudo se pensarmos que prejudicam mais as classes trabalhadoras do que a burguesia e aos verdadeiros responsáveis por esta situação, é mesmo assim o único meio de expressão de uma juventude a quem a sociedade não oferece nenhuma outra perspectiva que a marginalização, a frustração e a delinquência. Rejeitar as origens sociais desta violência é o primeiro passo que permite a concretização de políticas repressivas de criminalização da misérias dos subúrbios.

Ignora-se que são seres humanos que vivem nessas cidades dormitórios construídas à volta da grande cidade e para onde foram lançados os imigrados e os pobres. Todas essas cidades são um condensado de erros urbanísticos e de dificuldades para a vida das pessoas. Cidades em que não qualquer espaço de socialização. Cidades em que o desemprego e a miséria são o dia-a-dia dos adultos e o futuro das crianças. Não é necessário ser-se sociólogo ou bruxo para prever o que se iria passar. Quando se nega o indivíduo a este ponto é natural que ele se revolta. Quando os políticos se escandalizam pela falta de respeito pelas instituições republicanas demonstrada por esses jovens, parecem que estão a esquecer que a República não os ajuda há décadas.
Face às frustrações eleitorais e às provocações de Ministério do Interior com «sentido de diálogo» estes jovens marginalizados revoltaram-se espontaneamente. O que não impede o Ministério do Interior acreditar numa organização estruturada. Mas os verdadeiros responsáveis são aqueles que permitiram a construção daquelas urbanizações e os que deixaram degradar as condições de vida dessas populações não as apoiando a satisfazer as suas necessidades.
O policiamento dos bairros pelas forças anti-motim e pelas unidades de choque da polícia apoiadas pelos helicópteros, que voam toda a noite por cima dos edifícios, assim como a chamada de reservistas não são mais que um novo passo na militarização governamental que só contribuirá para atiçar ainda mais o fogo e a cólera. Milhares de interpelações e detenções, mais de 700 prisões preventivas por razões frágeis e provas inexistentes não resolvem de modo algum o mal estar social da juventude dos subúrbios.
A aplicação de medidas legais excepcionais como o recolher obrigatório na base das leis especiais do tempo da guerra da Argélia constitui uma verdadeira provocação para esta juventude em cólera, para além de ser um atentado às liberdades públicas.

Após a repressão sistemática dos movimentos sociais e sindicais ( intervenção do GIGN contra os trabalhadores dos correios em Bègles, inculpações maciças dos activistas anti-OGM, assalto helitransportado do GIGN e de comandos contra os trablhadores amotinados do ferry «Pascal Paoli») o Estado prepara-se para a guerra social contra os pobres e contra todos os resistentes a esta sociedade de classes. Fuga para diante do governo numa deriva fascisante inquietante deve mobilizar todos quantos compõem o movimento social e sindical a fim de organizar a defesa das nossas liberdades e das nossas conquistas sociais.

Sim, há razões para a revolta, ainda que queimar carros ( que pertencem a pessoas também pobres) e atacar quem quer que seja não faz mais que reforçar as marcas identitárias (sejam elas nacionalistas ou religiosas). A nossa revolta deve ter como objectivo os verdadeiros responsáveis da miséria e da precariedade: o capitalismo e o Estado. E a nossa revolta só ganhará sentido se nos organizarmos contra o capitalismo e os seus efeitos destrutivos, se nos organizarmos nos bairros contra os mandatários e a carestia dos alojamentos e lutarmos por verdadeiros serviços púbicos.
A Federação anarquista exige a retirada das forças repressivas, a abrogação das medidas de urgência e das leis de excepção, a cessação das perseguições judiciárias contra os jovens revoltados, a libertação de todas as pessoas detidas assim como a clarificação das mortesde Ziad Benna e Bouna Traoré. A Federação anarquista pretende testemunhar o seu apoio aos habitantes, às famílias assim como aos trabalhadores dos bairros que foram vítimas da violência social quer dos amotinados quer da polícia.
A denúncia deste governo fascisante, desprezível e arrogante só se pode fazer no terreno por via de uma relação de forças, livre de parasitas politiqueiros e burocratas, e por via de uma coordenação na base do federalismo libertário, da gestão e da democracia directa numa perspectiva revolucionária da sociedade como condição indispensável para a conquista da igualdade económica e social.

Quem semeia a miséria recolhe a cólera

Por uma sociedade igualitária e libertária
(tradução de um comunicado da FA)

Défice dos EUA atinge recorde de 66 biliões de dólares


O défice comercial dos Estados Unidos com o resto do mundo atingiu o valor recorde de 66,1 biliões em Setembro último, quando os preços do petróleo tiveram uma alta acentuada após a passagem do furacão Katrina.
As importações pelos Estados Unidos subiram 2,4% no mês, atingindo 171,3 biliões de dólares, enquanto as exportações do país caíram 2,6%, chegando a 105,2 biliões, segundo o Departamento de Comércio americano.
A divulgação do aumento do déficie americano coincidiu com a divulgação, pela China, de um saldo positivo recorde na sua balança comercial em Outubro, de 12 biliões de dólares.
Os números devem aumentar as tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China.
Segundo o Departamento de Comércio, o défice dos Estados Unidos no seu comércio com a China chegou a 20,1 biliões em Setembro.

7.11.05

Há um ano Sébastien Briat morria debaixo de um comboio atómico

Em 7 de Novembro de 2004 Sébastien Briat, 22 anos, jovem activista libertário e anti-nuclear morria ao ser trucidado por um comboio atómico, carregado de lixo nuclear, na Lorraine, região de França., por ocasião de uma manifestação pública de protesto contra o comboio atómico La Hague-Gorleben ( Alemanha).
A iniciativa era de carácter não-violenta e foi devidamente ponderada e reflectida. Todas as hipóteses foram encaradas. Acontece que um conjunto de circunstâncias imprevisíveis determinaram a não paragem do comboio, entre as quais a ausência de medidas de cautela e prudência que são exigíveis no transporte ferroviário de matérias perigosas desta natureza, o que provocou a morte de Sébastien.
Uma ano depois os seus companheri@s apelam à concentração de todos os activistas anti-necleares e solidários com Sébastien junto das estações de caminho de ferro de toda a França às 18h do próximo dia 10 de Novembro ( em Paris a concentração realizar-se-á em frente da Gare de l’Est às 18 h.)

Nunca te esqueceremos.

Continuaremos a tua luta por um mundo sem o perigo do nuclear.

Curso sobre Movimentos Sociais, Protesto Público e Cidadania


11 e 12 de Novembro de 2005 no Centro de Estudos Sociais, da Faculdade de Economia de Coimbra

Inscrições : Tel. 239 855 570; Email: ces @fe.uc.pt

Local de funcionamento: CES – Colégio de S. Jerónimo, Largo D. Dinis – Coimbra (2º Piso)
(Entrada junto ao Posto de Turismo ao cimo das escadas Monumentais – o CES fica ao lado da agência da CGD)

Duração: 12 horas

Objectivos: O presente curso procura divulgar à sociedade civil e à comunidade resultados de estudos e da análise sociológica acumulada sobre as temáticas dos Movimentos Sociais e outras formas de Protesto Público e de Acção Colectiva, na sequência de projectos e pesquisas desenvolvidas no CES. Para além das perspectivas teóricas com que estes fenómenos têm sido abordados importa estabelecer o diálogo e a reflexão com os actores sociais empenhados na mudança social e na participação cívica dos cidadãos a todos os níveis. Procura-se por isso ter presente as diversas formas de acção colectiva que têm marcado a sociedade portuguesa nas últimas décadas, desde o movimento sindical aos novos movimentos e formas de acção e de protesto contra a globalização neoliberal, passando pela contestação de carácter comunitário e local, questionando as actuais tendências sociais e políticas que afastam os cidadãos da participação na vida pública e perspectivando os caminhos possíveis para inverter essa tendência.

Destinatários: Dirigentes de associações; membros de ONGs e de movimentos sociais; dirigentes e activistas sindicais; estudantes, jovens e demais cidadãos que queiram desenvolver conhecimentos sobre os problemas sociais e políticos do tempo presente.

Dia 11 de Novembro de 2005 (sexta-feira)
Sessão 1 - 10,00h às 13,00h: Movimentos sociais novos e velhos: do sindicalismo de classe às lutas identitárias
Elísio Estanque

Sessão 2 - 15,00h às 18,00h: Protestos públicos e mass media
José Manuel Mendes

Dia 12 de Novembro de 2005 (sábado)
Sessão 3 - 10,00h às 13,00h:
Acção e participação: ambientalismo e minorias sexuais
Ana Cristina Santos
e Madalena Duarte

Sessão 4 - 15,00h às 18,00h: Movimentos sociais, cidadania e participação cívica
Mesa Redonda com todos os participantes

Para reflectir e agir em consequência…


Estatísticas para reflectir e agir em consequência:

*As 3 pessoas mais ricas do mundo são também mais ricas que os 48 países mais pobres do mundo.

*Os bens das 84 pessoas mais ricas do mundo ultrapassa o produto interior bruto da China com os seus mil e duzentos mil milhões de habitantes


*As 225 pessoas mais ricas do mundo possuem uma fortuna equivalente ao rendimento anual acumulado de 47% das pessoas mais pobres do planeta, ou seja 3 mil milhões de pessoas.


*Bastaria cerca de 4% da riqueza acumulada dessas 225 pessoas mais ricas para dar a toda a população do mundo acesso à satisfação das suas necessidades de base ( saúde, educação e alimentação)


* 122 empresas são as causadoras de 80% de todas as emissões de dióxido de carbono


* Para o seu fabrico um iate de luxo precisa de 200.000 horas de trabalho, ou seja, 96 anos de trabalho de um pessoas ( a trabalhar 8 horas/dia ao longo de 5 dias/semana). Assim.com o que ganha em poucos dias um multimilionário pode-se apropriar da vida de um ser humano.


* Nos Estados Unidos os 100 mais importantes administradores ganham cada um em média mais de 100 vezes mais que os seus empregados.


*A fortuna pessoal de Bill Gates ( 50 mil milhões de dólares) é igual à fortuna cumulada dos 106 milhões de norte-americanos mais pobres.


*O orçamento militar norte-americano durante o ano de 2004 foi de 480 mil milhões de dólares, o que representa uma despesa de 27.342 dólares por hora desde o nascimento de Cristo.


*Em 2002 Bush decidiu aumentar o montante das despesas militares em 40 mil milhões de dólares. Ora esta soma representa exactamente o que seria preciso para resolver definitivamente o problema da fome no mundo.


Por estas e outras razões é que os verdadeiros donos do mundo não são os governos, mas os dirigentes dos grupos multinacionais financeiros ou industriais, e das instituições internacionais opacas como o FMI, o Banco Mundial, a OCDE, a OMC, etc. Resta dizer que os dirigentes de todas estas entidades empresariais e institucionais não são eleitos, muito embora as suas decisões tenham um enorme impacte sobre a vida das populações.

O poder dessas organizações exerce-se sobre uma escala planetária e mundial, enquanto o poder de grande parte dos Estados exerce-se dentro das suas fronteiras.

Aliás, o peso das multinacionais nos fluxos financeiros escapa regra geral ao poder dos Estados.



O Governo japonês quer militarizar-se e modificar a sua Constituição pacifista!


A Constituição japonesa de 1947 não admite que o Estado possua forças armadas, sendo por isso caracterizada por ser uma Constituição pacifista. Ora nos últimos tempos o actual governo japonês de cariz liberal-conservador não se tem cansado de ensaiar tentativas de introduzir profundas alterações na Constituição Política japonesa com vista a dotar o Estado de umas forças armadas poderosas. A oposição declarou já o seu repúdio a tais intenções.
A emenda ao artigo 9 no qual se diz que o Japão « renuncia à guerra como meio de regular os diferendos internacionais» é o alvo da sanha militarista do governo japonês e das forças nacionalistas que têm recebido o aval dos Estados Unidos, os quais pretendem inscrever o Japão no sistema regional norte-americano.
Um dos pretextos para a modificação do citado artigo é o envio para o Iraque de soldados japonesas de…autodefesa do Japão!!!
Este facto tem servido para os partidários da militarização do Japão dizerem que o artigo 9 foi…esvaziado de sentido!!!
Cá para nós quem violou o articulado constitucional, isto é, o actual governo liberal-conservador japonês é quem devia estar hoje a prestar contas por ter violado a Constituição.
Recorde-se que foram os Estados Unidos que, curiosamente começaram por esvaziar o artigo 9 da Constituição do Japão, para o qual tinham contribuído insistentemente no período imediato ao pós-Guerra em 1945, quando inseriram o país do Sol nascente na sua estratégia anti-comunista durante a chamada Guerra fria. O primeiro passo foi uma decisão secreta de 1948 a autorizar o Japão para a constituição de uma força de polícia nacional de 150 .000 homens cuja missão era, entre outras, proteger as bases norte-americanas no Japão e as famílias dos soldados norte-americanos!!!
Os próprios governos norte-americanos não escondem o seu desejo de tornar o Japão uma potência militar moderna, ainda que sob controle militar americano e ao serviço dos objectivos estratégicos de Washington.
Não admira pois que, apesar da sua Constituição rejeitar a constituição de forças armadas, o Japão já ter sido considerado em 1973 a sétima potência militar do mundo, tendo hoje cerca de 240.000 soldados e ter gasto em 1998 50 mil milhões de dólares para as suas forças de….«auto-defesa» !!!
E não faltam líderes políticos no Japão a pedir armas nucleares para as suas forças armadas…

Criação de uma nova agência de espionagem norte-americana ( a National Clandestine Service)


No passado mês de Outubro os directores da National Intelligence e da Central Intelligence Agency ( CIA), John D. Negroponte e Porter J.Gross anunciaram a criação de uma nova agência de espionagem: a National Clandestine Service (NCS)
Sob a direcção directa da CIA este novo serviço foi criado por recomendação dos autores de um inquérito realizado para o efeito e visa reforçar a coordenação das 15 agências norte-americanas existentes e entregues ao trabalho de informação. A NCS será dirigida por um responsável «undercover» da CIA, cujo nome será secreto.
A criação da NCS segue-se à criação em Junho de 2005 da National Security Service, organismo a trabalhar no seio do FBI.

Com tantas e tão variadas agências secretas e serviços de informação e de espionagem, o actual Estado Imperial não se pode queixar de estar mal «informado»…

Breve Cronologia do Anarquismo


1563
Morre Etienne de la Boétie, autor do Discurso sobre a Servidão Voluntária, um livro clássico do pensamento libertário, em que analisa o conformismo do povo e aponta a desobediência como um instrumento de mudança social e de luta contra os poderosos.

1789
Revolução Francesa, um momento decisivo de derrocada da velha ordem feudal e clerical na Europa. Na Revolução participaram grupos populares radicais que defendiam posições próximas do pensamento libertário. A Revolução Francesa mereceu estudos de anarquistas como Piotr Kropotkin e Daniel Guerin e foi vista pelos movimentos libertários como precursora das revoluções sociais do século XIX e XX.

1792
Mary Wollstonecraft, companheira de William Godwin , precursora libertária e feminista, publica Reividicação dos Direitos da Mulher.

1793
William Godwin, pensador inglês, precursor do anarquismo, publica o livro Investigação Acerca da Justiça Política.

1837
Morre o socialista utópico Charles Fourrier.

1840
Pierre Joseph Proudhon emprega pela primeira vez, no seu livro O Que é a
Propriedade?, a palavra anarquia no sentido de sociedade autogovernada.

1842
Marx e Bakúnin começam a colaborar na revista Anais Alemães de Arnolde Ruge. Neste ano Marx elogia os "trabalhos penetrantes de Proudhon".

1844
Marx conhece Proudhon, então já um famoso pensador socialista, em Paris. Nesse mesmo ano morre em França a revolucionária socialista, de origem peruana, Flora Tristán, avó do pintor Paul Gauguin.

1845
Nesse ano o pensador anarquista individualista Max Stirner, escreve O Único e a sua Propriedade.
Nos Estados Unidos o libertário Josiah Barren funda a colônia Utopia.

1846
Proudhon escreve a Filosofia da Miséria. Marx e Proudhon trocam correspondência. Na última carta o anarquista francês, depois de criticar todo o dogmatismo, adverte Marx: "não nos tornemos os chefes de uma nova intolerância". É o sinal da irreconciliação entre os dois pensadores.

1847
Marx publica A Miséria da Filosofia tentando refutar a obra de Proudhon.
Constituem-se na Colômbia as sociedades democráticas, influenciadas pelo pensamento de Proudhon.

1848
Kar Marx e Friederich Engels publicam o Manifesto Comunista.. Agitações revolucionárias em vários países da Europa, a mais importante das quais foi a chamada Revolução de 1848 em França.

1849
David Thoreau publica o clássico libertário americano Desobediência Civil.
Bakúnin é preso, após ter participado em várias rebeliões, só vindo a escapar em 1861 da Sibéria.

1852
Primeira viagem aos Estados Unidos de Victor Considérant, discípulo de Fourier, para criar um falanstério.

1856
Morre precocemente Max Stirner.

1861
. Bakúnin foge para o ocidente, indo viver na Inglaterra e posteriormente na Suiça.

1862
Operários franceses e ingleses reunem-se em Londres durante a Exposição Internacional e decidem constituir uma organização internacional, que viria a ser fundada oficialmente em 1864, a AIT.

1863
Proudhon publica um de seus principais livros O Príncipio Federativo.

1864
É criada em Londres a Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) e Bakúnin funda Aliança Internacional da Democracia Socialista.

1865
Morre Proudhon, considerado o primeiro anarquista moderno. Conferência de Londres da AIT.

1867
Marx publica o primeiro volume do Capital.
Congresso de Lausanne da AIT.

1868
Bakúnin ingressa na AIT e os núcleos de partidários da Aliança Socialista passam a ser seções da Primeira Internacional.
As idéias internacionalistas chegam a Portugal e Espanha através do companheiro de Bakúnin, o italiano Giuseppe Fanelli.
O socialista espanhol partidário de Proudhon, Pi y Margall publica o livro Las Nacionalidades.

1869
É fundada a União Cooperativa Inglesa.
Congresso de Basileia da AIT.

1870
É formado o Gran Círculo de Obreros de México, de orientação proudhoniana.
Em Barcelona é criada a Federação Regional Espanhola, aderente à AIT.
Morre o pensador russo Aleksandr Herzen, um federalista amigo de Bakúnin e um dos mais influentes intelectuais russos do século XIX.

1871
Os trabalhadores de Paris declaram a Comuna, mas as tropas do governo invadem Paris em Maio desencadeando um massacre.
Bakúnin publica um dos seus principais livros Deus e Estado
. Os internacionalistas espanhóis Anselmo Lorenzo, Morago e Mora refugiam-se em Lisboa e fazem contatos para criar uma seção portuguesa da AIT.
O poeta português Antero de Quental, partidário da AIT, publica o folheto O Que é a Internacional?
Conferência da AIT em Londres.

1872
O Congresso de Haia da AIT, expulsa os anarquistas por proposta de Marx e transfere a sede a internacional para Nova York.
Este foi o último congresso da AIT, a partir daí dissolveu-se a Primeira Internacional. Os anti-autoritários reúnem-se em Saint Imier na tentativa de preservar a internacional.

Em Portugal , em Fevereiro, sai o jornal O Pensamento Social ligado aos internacionalistas.
No México são editados os jornais El Obrero Internacional e La Comuna.

1873
O médico Eduardo Maia, membro da seção portuguesa da AIT e um dos primeiros anarquistas do país, publica A Internacional, sua História, sua Organização e seus Fins.

1874
É publicada em Portugal a tradução Do Princípio da Federação de Proudhon. O anarquista francês era lido há vários anos em francês pelos intelectuais e trabalhadores socialistas.

1875
Constitui-se no Uruguai a Federación Regional de la República Oriental del Uruguay, mais tarde transformada em Federación Obrera Regional Uruguaya.
Reúne-se no México o Congreso General Obrero.

1876
Morre na Suiça o agitador e pensador anarquista russo Mikhail Bakúnin.
No México as ideias socialistas são discutidas no Primeiro Congresso Operário.
A ala marxista da AIT declara oficialmente, em Filadélfia, o fim da Primeira Internacional.
É publicado no México o livro de Prouhdon Idea General de la Revolución en el Siglo XIX.
Desencadeiam-se várias greves operárias com participação de trabalhadores anarquistas.

1877
Sublevações camponesas, de inspiração socialista e libertária, no México, nos Planes de la Barranca e Sierra Gorda. Levante de Benevento.
Um grupo de anarquistas, entre os quais Carlo Cafiero e Errico Malatesta precorrem aldeias do sul de Itália, queimam os arquivos, distribuem armas e apelam aos camponeses para declarar o comunismo libertário.

1878
Quatro anarquistas são enforcados em Chicago em conseqüência das manifestações pelas 8 horas de trabalho. Este acontecimento iria passar a marcar as comemorações do 1. de maio.
No México é fundado o primeiro Partido Comunista Mexicano, de idéias anarquistas. Em Montevideu começa a publicar-se o jornal El Internacional.

1879
Aparecem na Rússia vários grupos revolucionários de tendência populista e anarquista, que se dedicam a desencadear a acção direta contra o czarismo.
Começa a publicar-se na Suiça o jornal anarquista Le Revolté, sob direção de Kropótkin.
Publica-se em Cuba o jornal anarquista El Obrero.

1880
Engels publica Socialismo Utópico e Socialismo Científico.
Chega aos Estados Unidos o militante anarquista alemão Johann Most.

1882
Anarquistas celebram em Montevideo o aniversário da Comuna de Paris.

1883
É criada na Suiça a Emancipação do Trabalho, primeira organização marxista russa. Morre Karl Marx. É fundado em Buenos Aires o Circulo Comunista Anarquista.

1884
Reclus visita a Colômbia para pesquisar para a sua Nova Geografia Universal, tendo proposto ao governo a criação de uma comunidade agrícola, a que chamou República Idílica, em Sierra Nevada de Santa Marta.

1885
Malatesta chega à Argentina onde residirá por cinco anos.

1886
Começa a publicar-se em Londres o jornal Freedom, por um grupo anarquista reunido em torno de Kropótkin.
Reúne-se em Habana o Congreso Obrero Local. Em Buenos Aires, o militante anarquista Mattei edita El Socialista.

1887
É publicado o primeiro livro de Krópotkin em Portugal, A Anarchia na Evolução Socialista. Formam-se os grupos anarco-comunistas do Porto e de Lisboa. Trabalhadores anarquistas fundam, em Buenos Aires, o Circulo Socialista Internacional. Em Habana começa a se publicar o jornal anarquista El Productor.

1888
É fundada em França a organização Bolsas do Trabalho, de tendência libertária.
Kropótkin publica um dos seus mais famosos, e traduzidos, livros, A Conquista do Pão.

1889
É fundada em Paris a Segunda Internacional.
Em Santos, Silvério Fontes cria o Centro Socialista, um dos primeiros grupos dedicados à divulgação das idéias socialistas no Brasil.

1890
Generalizam-se as manifestações e comemorações do Primeiro de Maio na Europa. Embarcam para o Brasil o primeiro grupo de anarquistas que vai fundar a Colônia Cecília no Paraná.
Oscar Wilde edita A Alma do Homem sob o Socialismo, um livro de inspiração libertária.
No Chile greve promovida por trabalhadores anarquistas termina com uma violenta repressão. Em Buenos Aires começa a se publicar um dos primeiros jornais anarquistas El Perseguido. Em Nova York, o militante anarquista Pedro Esteve, começa a publicar El Despertar um dos mais duradouros jornais anarquistas, em língua castelhana, dos Estados Unidos.

1891
É fundada na Argentina a Federación Obrera Argentina (FOA). Que depois de um período de estagnação volta a ser reorganizada em 1901, sob uma linha anarco-sindicalista.

1892
É publicado, por emigrantes italianos, Gli Schiavi Bianchi, um dos primeiros jornais anarquistas brasileiros.
Ravachol, o mais famoso dos anarquistas partidário da ação direta, é guilhotinado em França.
Morre Carlos Cafiero um dos militantes socialistas que contribuiu para o desenvolvimento do anarquismo em Itália.
No Chile é criado o primeiro centro de estudos sociais anarquista.

1893
Giovanni Rossi, médico veterinário e anarquista idealizador da Colônia Cecília publica na Itália , Cecilia, Uma Comunidade Anarquista Experimental.
É criada na Holanda a National Arbeids Sekretariat (NAS), sindicalista revolucionária, onde teve um papel importante o anarquista Christian Cornelissen.
Chega a Cuba o tipógrafo catalão Pedro Esteve, que seria um dos principais militantes anarquistas do país. Nesse mesmo ano os trabalhadores cubanos fundam a Sociedad General de Trabajadores. Levantamento de trabalhadores em Bogotá, com influência anarquista. No Chile é publicado El Oprimido, considerado o primeiro jornal anarquista do país.

1895
É fundada a Confederação Geral do Trabalho (CGT) francesa que viria a inspirar o anarco-sindicalismo em todo o mundo. A Carta de Amiens, aprovada em 1906, é o documento que define as linhas do sindicalismo revolucionário libertário.


1896
No Congresso de Londres os anarquistas são expulsos da Internacional Socialista.
Em Portugal é publicado o importante estudo de Silva Mendes, O Socialismo Libertário ou Anarquismo.
Morre William Morris importante militante socialista inglês.
Reúne-se em Lima o Primero Congreso Obrero. No Chile é criado o Centro Social Obrero reunindo os principais militantes anarquistas que publicam também o jornal El Grito del Pueblo.
1897
É fundado em Buenos Aires La Protesta Humana, o mais importante jornal anarquista latino-americano.

1898
Realiza-se no Brasil, no Rio Grande Sul, o primeiro congresso que reúne organizações operárias a nível estadual. Chega a Buenos Aires, o advogado italiano e intelectual anarquista Pietro Gori.

1899
Na Colômbia Jacinto Albarracín, anarquista indígena, perseguido funda na floresta uma comuna libertária.

1900
É publicado no Rio de Janeiro o livro Estados Unidos do Brasil, o capítulo da Geografia Universal de Elisée Reclus, referente ao Brasil. O anarquista mexicano Ricardo Flores Magón funda o jornal La Regeneración.

1901
Morre Fernand Pelloutier operário e anarquista francês criador das Bolsas de Trabalho e idealizador do sindicalismo revolucionário, que influenciou o anarco-sindiclaismo à escala mundial.
É fundada na Argentina a Federación Obrera Argentina (FOA) e os trabalhadores de Rosário declaram greve geral.
Chega a São Paulo o advogado e militante anarquista português Neno Vasco.

1902
É editado o livro Apoio Mútuo de Kropótkin, uma crítica do darwinismo social e a defesa do princípio da cooperação como fundamento da evolução das sociedades.
A FOA declara greve geral na Argentina. No Chile, a greve dos tipógrafos marca o desenvolvimento do sindicalismo revolucionário no país

1903
O escritor e militante anarquista Fábio Luz publica o primeiro romance brasileiro de inspiração libertária, O Ideólogo.
Foma-se na Argentina a Unión General de Trabajadores (UGT), reformista, mas onde virá a surgir mais tarde uma tendência próxima do sindicalismo revolucionário. No Chile foi criada na capital uma comunidade anarco-comunista, tendo sido criado, pouco depois, no interior uma comunidade influenciada pelas idéias de Tolstoi. Em Valparaíso, em abril, os trabalhadores portuários influenciados pelo sindicalismo revolucionário desencadeiam uma greve, que acaba se generalizando, em maio, em fortes conflitos de rua na cidade, obrigando o governo a enviar tropas para a cidade. Calcula-se que morreram mais de cem trabalhadores e houve milhares de feridos e presos.

1904
No Quarto Congresso Sindical Argentino é criada a Federação Operária Regional Argentina (FORA) a mais importante e combativa organização anarco-sindicalista da América Latina.
Realiza-se em Amsterdam o Congresso Antimilitarista organizado pelo anarquista e pacifista Ferdinand Nieuwenhuis.

1905
Desencadeia-se a revolução russa que derruba o czarismo autocrático, iniciando uma abertura liberal.
Nos Estados Unidos foi criada a Industrial Workers of the World (IWW) a mais importante organização sindicalista revolucionário americana, que influenciou a criação de organizações semelhantes no Chile, Nova Zelândia e Austrália.
Morre Élisée Reclus destacado geógrafo e militante anarquista.
É criada a Federación Obrera de la Regional Uruguaya (FORU) de linha anarco-sindicalista, herdeira da linha libertária dos internacionalistas do século XIX.
Morre em França, Louise Michel, famosa militante anarquista que participou da Comuna de Paris.
No Chile realiza-se a Primera Convención Nacional de las Mancomunales, considerado o primeiro congresso operário.

1906
Primeiro Congresso Operário Brasileiro, aprova uma linha de actuação anarco-sindicalista e cria a Confederação Operária Brasileira (COB). Greve de mineiros no México deixa centenas de mortos. O agitador anarquista colombiano Biófilo Panclasta chega a Buenos Aires. No Chile foi criada a Federación de Trabajadores de Chile (FTCH), considerada a primeira federação operária sindicalista revolucionária.

1907
Congresso Anarquista Internacional em Amsterdam de que participou o colombiano Biófilo Panclasta representando os trabalhadores argentinos.
No Brasil desencadeiam-se lutas pelas 8 horas de trabalho.
Congresso dos anarquistas alemães reúne-se clandestinamente.

1908
Começa a se publicar, no Rio de Janeiro, A Voz do Trabalhador, órgão da Confederação Operária Brasileira, principal jornal anarco-sindicalista do Brasil. É fundada na Bolivia a Federación Obrera Local (FOL), que será recriada em 1926, após ter desaparecido por vários anos.
É fundada pelo operário Hilário Marques a revista Sementeira, a mais importante publicação anarquista portuguesa.
Morre em Paris o agitador anarquista individualista Albert Libertad.
Revoltas camponesas no México com o apoio de anarquistas.

1909
Semana Trágica de Barcelona. Greve revolucionária agita Barcelona, provocando uma repressão feroz.
O educador anarquista Francisco Ferrer Guardia é fuzilado acusado de ser responsável pela agitação revolucionária, mesmo que na época dos acontecimentos estivesse em Londres. Manifestações de indignação por todo o mundo contra o governo espanhol. Começa, em Portugal, o Congresso Operário Nacional , que encerra em 1910.

1910
Morre o famoso escritor russo e defensor de um cristianismo igualitário, com afinidades anarquistas, Liev Tólstoi, que influenciou grupos anarco-cristãos em vários países, principalmente na Holanda e Estados Unidos.
Em Barcelona foi fundada a Confederação Nacional do Trabalho (CNT), anarco-sindicalista.
Revolução Republicana em Portugal com participação de trabalhadores e militantes anarquistas.
Revolução Mexicana, com participação de camponeses e intelectuais libertários influenciados pelas idéias do militante anarquista Flores Magón.
Os trabalhadores suecos criam a Sveriges Arbetares Central (SAC) de tendência sindicalista revolucionária

1911
Primeiro Congresso Anarquista português e fundação Federação Anarquista da Região Sul.
São enforcados no Japão os anarquistas Denjiro Kotuku e sua companheira Yugetsu Sugo Kanno.
Greve geral no Peru promovida pelos anarco-sindicalistas. São editados os livros de Rafael Barrett, anarquista espanhol que atuou no Paraguai, El Dolor Paraguayo e Cuentos Breves.
O activo militante e jornalista anarquista Neno Vasco parte para Portugal, onde continuará sua militância.
Chega a Buenos Aires, José de Brito, que se tornará um activo militante anarquista na Argentina e, posteriormente em Portugal.
No Panamá começa a publicar-se El Unico, Publicação Individualista, um dos raros jornais anarquistas individualistas da América Latina.

1912
Constitui-se em Portugal a Federação Anarquista da Região Norte.
Tranbalhadores anarco-sindicalistas bolivianos criam a Federación Obrera Internacional (FOI). Morre Voltairine de Clayre, agitadora anarquista americana.
É criada em Itália a União Sindical Italiana (USI), anarco-sindicalista.
Morre em tiroteio com a polícia Jules Bonnot, ilegalista e anarquista francês.
No Chile é editado o jornal La Batalla, um dos mais importantes periódicos anarquistas do país.

1913
Segundo Congresso Operário Brasileiro mantém a linha sindicalista revolucionária.
Em Portugal formam-se as Juventudes Sindicalistas. Em Lisboa edita-se o importante jornal anarquista Terra Livre, dirigido pelo luso-brasileiro Pinto Quartim.
Criação da Unión Obrera de Colombia.

1914
Começa a Primeira Guerra Mundial dividindo o movimento socialista (inclusive os anarquistas) sobre a posição a tomar.
Começa a se publicar, no Rio de Janeiro, A Vida, a principal revista anarquista do começo do século. Reúne-se em São Paulo a Conferência Libertária. Semana Vermelha em Itália, onda de greves e agitações, desencadeada pela USI, paralisa o país.

1915
Tentativa de formar uma confederação anarco-sindicalista no México, resulta infrutífera pela violenta repressão desencadeada no ano seguinte. Congresso Internacional da Paz, realiza-se no Rio de Janeiro, com representações de vários estados brasileiros e delegados da Argentina.
Realiza-se em Ferrol (Espanha) o Congresso Mundial Contra a Guerra, com delegados de vários países.
Realiza-se no Rio de Janeiro o Congresso Anarquista Sul-americano, reunindo delegados do Brasil, Argentina e Uruguai.

1916
Morre James Guillaume o mais conhecido militante anarquista suiço, miliante da AIT e fundador da Federação do Jura, que seria o centro difusor do anarquismo do século XIX. Esta Federação recebeu e apoiou militantes anarquistas de todo o mundo.
Realiza-se no México um Congreso Obrero Nacional que cria a Federación del Trabajo de la Región Mexicana, anarco-sindicalista.
O revolucionário anarquista mexicano FloresMagón é condenado, nos Estados Unidos, a 20 anos de prisão.

1917
Explode a Revolução Soviética. O Partido Social Democrata Russo, de Lenin, desencadeia acções militares que lhe dão o poder.
Inicia-se a publicação de A Plebe, o mais importante jornal anarquista brasileiro. No Chile é criada a IWW, organização sindicalista revolucionária.

1918
Inicia-se no Rio de Janeiro a greve geral revolucionária que ficou conhecida por Insurreição Anarquista do Rio de Janeiro.
Publica-se, no Porto, A Comuna, um dos mais destacados títulos da imprensa anarquista.
No Brasil os anarquistas criam os Comitês Populares contra a Carestia de Vida. Chega à Argentina Diego Abad Santillán um dos mais importantes militantes e intelectual anarquista do nosso século, autor de uma vasta obra que inclui livros sobre o anarquismo e sindicalismo na Argentina.

1919
O anarquista português Manuel Ribeiro funda a Federação Maximalista Portuguesa, a primeira organização a defender o leninismo no país e que viria a dar origem ao Partido Comunista.
No mesmo ano no Brasil é fundado o chamado Partido Comunista do Rio de Janeiro, que mistura anarquismo e maximalismo.
Em Portugal, em Coimbra, no Segundo Congresso Operário Nacional, foi fundada a Confederação Geral do Trabalho (CGT), anarco-sindicalista e inicia-se a publicação do jornal A Batalha, o mais importante jornal anarco-sindicalista português.
Semana Trágica em Buenos Aires, greve geral violentamente reprimida, com centenas de mortos. É criada no Chile a IWW, central sindical de afinidade anarco-sindicalista.
É morto após a derrota da Revolução Alemã, o pensador anarquista Gustav Landauer. É fundada a organização anarco-sindicalista alemã Freie Arbeiter Union (FAU).
É criada em Moscou, a Internacional Comunista, conhecida por Terceira Internacional.

1920
Realizam-se, em Portugal, inúmeras greves, incluindo duas greves gerais. Morre precocemente em Portugal, Neno Vasco, um dos mais importantes militantes anarquistas de Portugal e do Brasil.
Realiza-se o Terceiro Congresso Operário Brasileiro.
Kropótkin escreve várias cartas a Lenin criticando a evolução autoritária da Revolução Russa.
É fundado em Milão o diário anarquista Umanità Nuova.
No Chile começa a publicar-se Claridad, a mais importante revista ácrata. Neste último país, durante a vaga repressiva deste ano, morreu na prisão o poeta libertário Gómez Rojas.

1921
Morre na Rússia o pensador anarquista Piotr Krópotkin, depois de um longo exílio na Europa. O seu funeral foi a última grande manifestação livre dos anarquistas russos.
Violenta repressão, na União Soviética, contra o soviete de Kronstadt e contra o movimento maknovista, abre caminho à violência autoritário do Partido Comunista.
É criado em Moscou a Internacional Sindical Vermelha (PROFINTERN) tendo por objetivo ampliar a influência dos partidos comunistas sob o movimento operário.
As tropas argentinas massacram os trabalhadores anarco-sindicalistas da Patagônia.

1922
Morre o importante escritor Lima Barreto autor de livros como Triste Fim de Policarpo Quaresma, colaborador da imprensa operária e simpatizante anarquista.
Terceiro Congresso Operário Nacional em Portugal reafirma o sindicalismo revolucionário.
Fundação do Partido Comunista do Brasil, aderente à Terceira Internacional, entre os fundadores estão vários ex-anarquistas.
Marcha sobre Roma dos fascistas italianos, lev a Mussolini ao poder, desencadeando a repressão sobre o movimento operário e socialista.
Em Salvador é fundada a Unión Obrera Salvadoreña, de tendência anarco-sindicalista e em Cuba a Federación Obrera de la Habana (FOH).
Nos Estados Unidos morre, de forma suspeita, na prisão o anarquista mexicano Flores Magón.
No Chile é fundada uma nova organização anarco-sindicalista, Federación Obrera Regional de Chile (que desaparece em 1927) e vai coexistir com a IWW também sindicalista revolucionária.

1923
É publicado um dos mais importantes livros anarquistas em língua portuguesa, A Concepção Anarquista de Sindicalismo, de Neno Vasco. Em Portugal greve geral de solidariedade com os mineiros. Realiza-se em Alenquer (Portugal) uma Conferência Anarquista que decide a criação da União Anarquista Portuguesa (UAP).
No México é fundada a Alianza Local Mexicana Anarquista (ALMA). No Peru anarco-sindicalistas criam a Federación Regional de Obreros Indios. O anarquista Kurt Wilckens mata na Argentina o coronel Varela, que comandou o massacre da Patagônia.

1924
Manifestações em vários países, incluindo Portugal e Brasil de solidariedade com os anarquistas Sacco e Vanzetti.
Criação, em Bogotá, do Grupo Sindicalista Antorcha Libertária, no ano seguinte seria criada a Federación Obrera del Litoral Atlântico (FOLA), anarco-sindicalista. É fundado por anarco-sindicalistas, no Panamá, o Sindicato General de Trabajadores. O anarquista colombiano Biófilo Panclasta participa de lutas operárias em São Paulo o que leva à sua prisão de deportação para o campo de concentração da Clevelândia, de onde veio a fugir. Chega à Argentina o militante anarquista francês Pierre Piller (Gaston Leval). No Chile a adoção do Código Trabalhista e de uma política de integração dos sindicatos no Estado, dá um rude golpe no sindicalismo autônomo.

1925
É fundada em Cuba a Confederación Nacional Obrera de Cuba, anarco-sindicalista. Realiza-se na Colômbia o Segundo Congresso Operário que decide criar a Confederación Obrera Nacional.

1926
Golpe Militar em Portugal abre o caminho à ditadura fascista, visando responder ao crescimento das lutas operárias.
Chega ao México o escritor e militante anarquista de origem polaca Ret Marut, que passou a assinar seus livros como Bruno Traven. Formação do primeiro grupo anarquista da Guatemala.

1927
Em Valência foi fundada a Federação Anarquista Ibérica (FAI) reunindo as organizações anarquistas das várias nacionalidades da península ibérica. Junto com a CNT, seriam as organizações que tiveram o papel decisivo na Revolução Espanhola de 1936.
São mortos nos Estados Unidos Nicola Sacco e Bartolomeu Vanzetti, trabalhadores anarquistas italianos, num processo judicial fraudulento, que provocou a indignação do movimento operário internacional.
Greve na Colômbia marca o momento mais alto do sindicalismo revolucionário no país.

1930
Golpe militar no Brasil prepara o caminho para a ditadura de Getúlio Vargas. Golpe militar do general Uriburu impõe uma ditadura a que seguirá uma outra de Perón, que destruirá o sindicalismo autônoma na Argentina.

1931
É fundada no Chile a Federación General de Trabajadores (CGT) anarco-sindicalista,
, com uma estrutura semelhante à FORA argentina.
Morre o anarquista francês Emile Pouget que, junto com Fernand Pelloutier, desenvolveu as idéias centrais do sindicalismo revolucionário.
Greves em Cuba promovidas pelos anarco-sindicalistas duram vários meses.

1932
Morre em Itália, sob liberdade vigiada, Errico Malatesta, o principal agitador e pensador anarquista italiano, que actuou em vários países, inclusive na Argentina.

1933
Os nazistas chegam ao poder na Alemanha desencadeando uma onda de repressão sobre as organizações operárias e socialistas.
Morre o poeta alemão John Henry Mackay, grande divulgador do pensamento de Stirner.

1934
A CGT portuguesa, anarco-sindicalista, desencadeia uma greve geral revolucionária em 18 de janeiro. A repressão que se seguiu, destruiu o sindicalismo revolucionário e institui o sindicalismo corporativista fascista.
Começa-se a publicar em França por iniciativa de Sebastian Faure a Enciclopédia Anarquista.
Diego Abad Santillán parte para Espanha onde teria um papel importante no contexto revolucionário.

1935
Morre em Paris o anarquista ucraniano, Nestor Mackhno, que teve de se refugiar no ocidente após ser perseguido pelo governo russo.
Morre, no Uruguai, o militante anarquista italiano Luigi Fabbri, companheiro de Malatesta que desenvolveu intensa atividade na Europa e no Uruguai.
Os anarquistas cubanos participam da luta contra a ditadura de Batista. É fundada clandestinamente na Argentina a Federación Anarco-Comunista Argentina (FACA)

1936
Como resposta ao golpe fascista do general Francisco Franco, os trabalhadores, sindicalistas e anarquistas assaltam os quartéis desencadeando um processo revolucionário libertário que teve de se confrontar com os fascistas de Franco, apoiados por Hitler, Mussoluni e Salazar e, internamente, com os estalinistas.
O revolucionário Victor Serge, ex-anarquista, que se tornou militante do Partido Comunista da União Soviética, consegue exilar-se no ocidente, após um movimento internacional de solidariedade, vindo a denunciar os crimes do estalinismo.
É morto a tiro, em condições nunca esclarecidas, Buenaventura Durruti, o mais famoso revolucionário anarquista do nosso século.

1937
Realizam-se vários atentados em Portugal contra objectivos ligados aos fascistas espanhóis e alguns militantes anarquistas executam um atentado contra o ditador Salazar, que consegue escapar com vida.
Militantes operários, incluindo anarquistas e comunistas são deportados para o campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde.
É implantada no Brasil a ditadura de Getúlio Vargas, adotando uma constituição de tipo fascista, passando a desencadear a sistemática repressão contra o movimento operário e particularmente sobre os anarquistas.
É morto por estalinistas em Espanha o militante anarquista italiano Camilo Berneri.
É criada em Portugal a Federação Anarquista da Região Portuguesa (FARP).

1939
As tropas de Franco derrotam as forças anti-fascistas, seguindo-se uma violenta repressão e o exílio de centenas de milhares de operários e anarquistas, que se refugiam em França, vindo alguns mais tarde para a América Latina. Franco e Salazar estabelecem o Pacto Ibérico, fundamentalmente destinado a articular a repressão contra, o movimento operário.
Começa a Segunda Guerra Mundial desencadeando-se a expansão nazi-fascista.
Morre em Monte Carlo, Benjamin Tucker um dos mais destacados pensadores libertários americanos.

1940
Morre Emma Goldman militante anarquista de origem russa, que teve uma importância central no anarquismo dos EUA. Expulsa em 1919 para a Rússia teve de deixar o país pelas suas críticas à evolução autoritária da Revolução Soviética. Foi uma das primeiras vozes a levantar-se contra o autoritarismo comunista


(continua...)