9.1.13

Leitura das Histórias em três linhas, de Félix Fénéon, na livraria-bar Gato Vadio no dia 12/1/2013 por Rui Manuel Amaral e Pedro Amaral

Leitura das "Histórias em três linhas", de Félix Fénéon,
 
por Pedro Amaral e Rui Manuel Amaral,
 
no Gato Vadio, dia 12 de Janeiro de 2013, pelas 17h00.
 
Gato Vadio: Rua do Rosário, 281, Porto.
 
No próximo sábado, 12 de Janeiro, pelas 17h00, há mais uma sessão das Leituras do Gato Vadio. Desta vez dedicada às "Notícias em três linhas", de Félix Fénéon, traduzidas por Manuel Resende. O convidado é o Pedro Amaral.
 


 
 

Interrogatório a Fénéon pelo juíz no processo judicial contra os 30 acusados de actividades anarquistas


— Êtes vous un anarchiste, M. Fénéon ?
— Je suis un Bourguignon né à Turin.
— Vous étiez aussi l'ami intime d'un autre anarchiste étranger, Kampfmeyer?.
— Oh, intime, ces mots sont trop forts. Du reste, Kampfmeyer ne parlant qu'allemand, et moi le français, nos conversations ne pouvaient pas être bien dangereuses. (Rires.)
— À l'instruction, vous avez refusé de donner des renseignements sur Matha et sur Ortiz.
— Je me souciais de ne rien dire qui pût les compromettre. J'agirais de même à votre égard, monsieur le Président, si le cas se présentait.
— Il est établi que vous vous entouriez de Cohen et d'Ortiz.
— Pour entourer quelqu'un, il faut au moins trois personnes. (Explosion de rires.)
— On vous a vu causer avec des anarchistes derrière un réverbère.
— Pouvez-vous me dire, monsieur le Président, où ça se trouve derrière un réverbère ? (Rires forts et prolongés. Le président fait un rappel à l'ordre.)
— On a trouvé dans votre bureau, au ministère de la Guerre, onze détonateurs et un flacon de mercure. D'où venaient-ils ?
— Mon père était mort depuis peu de temps. C'est dans un seau à charbon qu'au moment du déménagement j'ai trouvé ces tubes que je ne savais pas être des détonateurs.
— Interrogée pendant l'instruction, votre mère a déclaré que votre père les avait trouvés dans la rue.
— Cela se peut bien.
— Cela ne se peut pas. On ne trouve pas de détonateurs dans la rue.
— Le juge d'instruction m'a demandé comment il se faisait qu'au lieu de les emporter au ministère, je n'eusse pas jeté ces tubes par la fenêtre. Cela démontre bien qu'on pouvait les trouver sur la voie publique. (Rires.)
— Votre père n'aurait pas gardé ces objets. Il était employé à la Banque de France et l'on ne voit pas ce qu'il pouvait en faire.
— Je ne pense pas en effet qu'il dût s'en servir, pas plus que son fils, qui était employé au ministère de la Guerre.
— Voici un flacon de mercure que l'on a trouvé également dans votre bureau. Le reconnaissez-vous ?
— C'est un flacon semblable, en effet. Je n'y attache pas l'ombre d'une importance.
— Vous savez que le mercure sert à confectionner un dangereux explosif, le fulminate de mercure].
— Il sert également à confectionner des thermomètres, baromètres, et autres instruments. (Rires)

Art et anarchie dans le Paris fin de siècle

Joan Halperin, Félix Fénéon, éd. Gallimard, 1991, p. 321-326
 
 

Félix Fénéon (1861 - 1944) foi um anarquista e crítico de arte francês em Paris durante finais do século XIX. Ele criou o termo do "Neoimpressionismo" em 1886 para identificar a um grupo de artistas encabeçados por Georges Seurat, ao que tanto apoiou.
 
 
 
"Apesar do seu aspecto voluntariamente frio, da sua política um pouco rígida, do dandismo especial das suas maneiras, reservadas e altivas, tinha um coração caloroso e leal. Mas não o abria a toda a gente, visto que pessoa menos banal não havia. Quem conquistasse a sua confiança, podia abrigar-se nele como sob um tecto acolhedor. Sabia que lá havia de ser acarinhado e defendido, sempre que necessário."Octave Mirbeau, a propósito de Félix Fénéon.
 
 
 
Quando se conhece a fundo a vida de Félix Fénéon, tem-se a consciência clara de que lhe importavam pouco os seus antecessores e nada, ou quase nada, os que viessem depois: viveu sempre aferrado à grave matéria do presente. E é por isso que, como cidadão, teve uma existência marcante, e se dedicou de forma inesgotável ao tempo que lhe tocou viver, a ponto de se relacionar com terroristas e de ter chegado a participar, de forma mais ou menos directa, em algumas acções de terrorismo anarquista. (…) No entanto, o mais curioso de tudo isto é que alguém com esta impetuosidade seria hoje, de forma quase automática, pasto para a atenção do público, em boa medida porque ele próprio se postularia como objecto de notícia e comentário. Mas ele preferiu sempre o anonimato. Nesse sentido, parece também um oblíquo precursor dos personagens de Walser, do protagonista do único romance de Ville de la Mirmont, dos protagonistas dos textos kafkianos que têm por nome apenas uma letra. O desejo de anonimato de Fénéon parece quase inverosímil se tivermos em conta a sua participação em tantas actividades. E, contudo, podemos aceitar como totalmente sincera a sua afirmação de que aspirava ao silêncio, ao esquecimento, a passar completa e absolutamente incógnito.Antonio Jiménez Morato.


O fotógrafo Joachim Berthoud não conseguia
consolar-se da morte da mulher. Matou-se em
Fontenay-sous-Bois.


O abade Andrieux, de Roannes, a Aurillac,
trespassado na quarta-feira a tiros de espingarda
por impiedoso marido, morreu ontem à noite (Havas).


Por desaguisado político, os Srs. Bégouen,
publicista, e Bepmale, deputado, tinham-se
tratado de «ladrão» e «cobarde». Reconciliaram-se (Despacho particular).

Juiz: O que é que tem a dizer aos testemunhos de ter sido visto detrás de um candeeiro público a falar com um conhecido anarquista?



Fénéon: Terei todo o prazer em responder a essa questão se o meritíssimo juiz tiver a gentileza de me indicar qual é a parte detrás de um candeeiro público.

Félix Fénéon durante o julgamento em que foi acusado de envolvimento no atentado anarquista do restaurante Foyot, em 1894.

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