10.11.09

Homenagem a João Martins Pereira


Amigos de João Martins Pereira juntam-se na Casa da Achada-Centro Mário Dionísio, um ano depois da sua morte, na sexta-feira 13 de Novembro às 21h30.

A Casa da Achada é a sede do Centro Mário Dionísio.
Fica na Rua da Achada, nºs 11 r/c e 11B, em Lisboa, na Mouraria, na freguesia de S. Cristóvão e S. Lourenço, perto da Praça da Figueira, da Rua da Madalena, do Martim Moniz e do Castelo

«Talvez alguns, conheço casos, sejam capazes de gerir a vida como se gere uma empresa (estou a exagerar: a maioria das empresas são, elas também, geridas às apalpadelas…): estabelecer objectivos (uma carreira!), definir os meios necessários para os atingir, aplicá-los controlando a progressão, avaliando e corrigindo os desvios. Nunca o fiz – e talvez haja quem me julgue frio a esse ponto…
Foram sempre os pequenos prazeres do «logo à tarde» ou do «logo à noite» que me ajudaram a sobreviver, e não qualquer longínqua certeza ou desígnio. E se alguns planos fiz, foram sempre de curto prazo, para me libertar de tutelas insuportáveis e aumentar a margem desses pequenos prazeres. Pequenos, mas não diria fúteis: a conversa de café (ou a saborosa solidão do café), as leituras, os cinemas, os encontros, os amores passageiros, os passeios pela cidade, os pés de dança, mais tarde as viagens, as chamadas «acções colectivas» (não diria, no meu caso, militantes). Para não falar dos prazeres maiores, das amizades, dos amores «definitivos», e também da Gazeta e das escritas. Tudo isto foi a construção de mim próprio, num pano de fundo de enorme curiosidade pelo futuro, que sempre foi para mim uma aventura no desconhecido, nunca um projecto. »
João Martins Pereira, in O Dito e o Feito. Cadernos 1984-1987

Alguns dados biográficos

1932 – Nasce em Lisboa.
1951 – Entra para o Instituto Superior Técnico.
1954 - 1956 – Pertence à Direcção da Associação de Estudantes do IST, tendo participado nas lutas estudantis contra o 40900 e na criação da RIA (Reunião Inter-Associações).
1956 – Licencia-se em Engenharia Químico-Industrial pelo IST, em Lisboa. É engenheiro fabril e de projecto.
1956 - 1958 – Faz o serviço militar em Alcabideche.
1958 – Depois de uma curta passagem pela CUF (Barreiro), entra para a Siderurgia Nacional, onde será engenheiro-chefe da Aciaria.
1958 - 1960 - Faz estágios profissionais em fábricas siderúrgicas na Alemanha e na Áustria. É quando descobre Sartre, para sempre sua grande referência.
1961 – Participa no arranque da unidade do Seixal da Siderurgia Nacional.
1962 – Resolve sair da Siderurgia Nacional e parte para a Venezuela onde trabalha como director de produção numa fábrica de vidro impresso e garrafaria, em Guarenas.
1963 - 1964 – Está em Paris onde estuda Economia no Institut des Sciences Sociales du Travail, obtendo os certificados de «Sociologia do Trabalho», «Economia do Trabalho» e «Problemas do Trabalho em países em vias de desenvolvimento».
1965 - 1982 – Trabalha no Departamento de Estudos Económicos da PROFABRIL.
1967 - 1968 – Faz parte da redacção da revista Seara Nova.
1969 - 1971 – Faz parte do grupo que lançou a segunda série da revista O Tempo e o Modo.
1969 – Integra a equipa colectiva que publica o livro Alguns Aspectos do III Plano de Fomento (Ed. Seara Nova), com o pseudónimo Álvaro Neto.
1970 - 1972 – É assistente de Economia Industrial no ISCEF (actual ISEG).
1971 – Publica nas Publicações D. Quixote o seu primeiro livro, Pensar Portugal Hoje, que num mês esgota a edição (3000 exemplares).
1974 – Publica, nas Edições Afrontamento, Indústria, Ideologia e Quotidiano (ensaio sobre o capitalismo em Portugal). Colabora em Portugal pode viver sem as colónias? (Iniciativas Editoriais).
1974 - 1975 – É responsável pela secção económica da revista Vida Mundial, na altura em que Augusto Abelaira é director.
1975 – É durante 4 meses Secretário de Estado da Indústria e Tecnologia do IV Governo Provisório, presidido por Vasco Gonçalves, a convite de João Cravinho, Ministro da Indústria e Tecnologia. Cabe-lhe nacionalizar as grandes empresas industriais. Sai em 16 de Julho de 1975. Torna pública a sua carta de demissão. Publica, na editora Iniciativas Editoriais, Portugal 75: dependência externa e vias de desenvolvimento. Colabora em Debate sobre o Programa de Política Económica e Social (Moraes Editora) e em Portugal, momentos críticos (Zero S.A., Bilbao).
1976 – É apoiante de Otelo Saraiva de Carvalho, candidato à Presidência da República. Publica, na Bertrand, O Socialismo, a transição e o caso português. Foi feita a tradução para francês pelas Éditions Rupture que anunciaram a sua publicação no Outono de 1978, mas o livro não chegou a sair. Colabora em Le Portugal d’Otelo (org. Jean-Pierre Faye, Comité Russell/Lattès, Paris)
1976 - 1977 – É director interino do semanário Gazeta da Semana (Abril 76 a Dezembro de 77), um jornal sem publicidade, que acompanhou criticamente o que se ia passando em Portugal e no resto do mundo, dando particular atenção aos movimentos populares, feito por jornalistas (Jorge Almeida Fernandes – director-adjunto interino –, Adelino Gomes, Joaquim Furtado, António Salvador, entre outros) e não jornalistas, paginado por Zé d'Almeida e ilustrado por este e João Botelho, que promoveu «reuniões de leitores» e «grupos de apoio» em vários pontos do País.
1978 – Colabora em Solutions socialistes (org. Serge-Christophe Kolm, Ramsay, Paris).
1980 – É director da Gazeta do Mês, que retomou e transformou o projecto da Gazeta da Semana com os mesmos e outros e que durou três números. Publica (edição da Fundação Calouste Gulbenkian) Sistemas Económicos e Consciência Social – para uma teoria do socialismo como sistema global.
1983-1998 – Trabalha na TECNINVEST, empresa de projectos e consultadoria ligada à PROFABRIL, como director de projecto e consultor sénior. Também faz projectos e é consultor para diversas outras entidades, entre as quais o IAPMEI e o Instituto de Prospectiva.
1984 – Publica, na editora A Regra do Jogo, No Reino dos Falsos Avestruzes – um olhar sobre a política, onde afirma «aflige-me ver a sociedade portuguesa estirada no divã».
1987 – Entra para a redacção do jornal Combate, onde publicará, ao longo dos anos, numerosos artigos, crónicas e notas.
1989 – Publica, nas edições Salamandra, O Dito e o Feito – cadernos 1984 -1987, livro em forma de diário.
1993 – Coordena, com Francisco Louçã e João Paulo Cotrim, uma antologia de textos de vários autores publicados no jornal Combate, intitulada À Esquerda do Possível ( Edições Colibri).
1994 – Nos 20 anos do 25 de Abril, é um dos fundadores da Abril em Maio – Associação Cultural, onde colabora durante 10 anos. Faz uma conferência na Câmara Municipal de Matosinhos, em Abril, intitulada «Indústria e sociedade portuguesa hoje», que será publicada.
1999 – Participa, com uma intervenção de fundo, na convenção fundadora do Bloco de Esquerda.
2005 – Publica, na Imprensa de Ciências Sociais, Para a História da Indústria em Portugal, 1941-1965: Adubos azotados e siderurgia, resultado de um projecto de investigação que vinha muito de trás e que deixou incompleto, que consistia em fazer o estudo, sector a sector, da indústria portuguesa para tentar compreender as razões pelas quais a indústria portuguesa tem uma geração de atraso e as razões do fracasso da burguesia portuguesa como projecto económico e social.
2008 – Morre de cancro em Lisboa, em 13 de Novembro.
2008 -– As Edições Combate publicam As voltas que o capitalismo (não) deu, selecção de textos de João Martins Pereira publicados no jornal Combate entre 1988 e1999.