Tanto as questões teórico-críticas como os estudos empíricos se abriram a novos horizontes. A Sociologia da Música desenvolveu-se num sentido integrativo, tomando em conta os contributos da História, Antropologia, Filosofia e Estética, Psicologia e Psicanálise, Economia, Teorias da Recepção, Comunicação e Sistemas, Estudos de Género, Culturais, Comparativos e da Globalização. Intensificou-se também a sua influência noutras áreas da Musicologia – por exemplo, nos Estudos de Composição e Interpretação ou na Análise Musical.
A maior parte das abordagens incide actualmente sobre as práticas musicais como interacção social, o material musical e as obras musicais como sociedade codificada, o significado musical como resultado de processos sociais que ocorrem em mundos vividos em constante mudança, as trocas sistema-meio na produção e na recepção musicais, etc. Mais recentemente emergiu a extensão a novas questões, como por exemplo, as colocadas em contextos de morte, guerra, conflitos étnicos e políticos. A Sociologia da Música tem ainda contribuído para uma musicologia auto-crítica, que se tornou consciente da construção social do conhecimento e, consequentemente, visa produzir um conhecimento socialmente mais válido.
Esta conferência internacional, reúne em Lisboa mais de quarenta especialistas de todos os continentes, representativos dessas diferentes abordagens e temáticas. A problemática da modernidade musical europeia, as músicas populares no espaço ibero-americano, a globalização e as transferências culturais (considerando, designadamente, a China), as novas tecnologias e as estratégias de mediação, a relação com a música na doença e na morte, os usos da música na manipulação política, enfim a reflexão teórico-crítica que interroga o objecto e as metodologias – eis todo um diferenciado leque de interpelações (entre outras) que alimentará os debates das quinze sessões públicas distribuídas por três dias.
A organização é do Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical da Universidade Nova de Lisboa (CESEM). Integram a Comissão Organizadora os professores Mário Vieira de Carvalho, Paula Gomes Ribeiro, Ângelo Martingo (CESEM) e Katrin Bicher (Universidade Humboldt de Berlim).
http://www.sociologyofmusic2009.com/programa.htm
http://www2.fcsh.unl.pt/cesem/
O Centro de Estudos funciona na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Portugal.
O CESEM tem três grupos de investigação em Musicologia Histórica, Filosofia e Psicologia da Música e Música Contemporânea.
O CESEM foi criado para promover a investigação nas áreas da Sociologia da Música e da Estética Musical, em articulação com outras disciplinas das Ciências Musicais e com as Ciências Sociais e Humanas em geral. O Centro tem como objectivos:
- Estudo da herança cultural na área da música em Portugal: instituições, sistemas de comunicação, músicos, obras, práticas de execução, iconografia musical, incluindo a identificação, preservação e edição crítica de manuscritos (partituras e outros documentos), fonogramas e outros suportes correlacionados;
- Estudo dos modelos sociocomunicativos através dos quais a música se manifesta com recurso à teoria da comunicação e à teoria de sistemas);
- Estudo da música na perspectiva estético-filosófica e de análise do material sonoro;
- Estudos cognitivos e de psico-acústica, incidindo na performance e na percepção musicais; - Investigação no campo da dramaturgia musical e da teoria e história dos diferentes géneros músico-teatrais;
- Estudo, numa perspectiva interdisciplinar, das relações entre música e literatura, música e outras artes, música e conhecimento científico, música e novas tecnologias;
- Desenvolvimento, em cooperação com investigadores da área das tecnologias da informação, de software para composição e análise musical, bem como de sistemas de conhecimento musical baseados na semântica ("semantic based knowledge systems").
Morada:
Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical
Av. de Berna, 26-C 1069-061 LISBOA
PORTUGAL
Telefone: 00351 21 7908300 ext. 1496
email: cesem@fcsh.unl.pt
PROGRAMAÇÃO
Quinta-feira, 23 de Julho
8.30 – Recepção / Acreditação
8.45 – Sessão de abertura
9.00 – 10.45
Pequeno auditório
Moderador: Christian Kaden
Antoine Hennion (Paris) – “Amar a música: Duma Sociologia da Cultura a uma Pragmática do Gosto”
Tia DeNora (Exeter, RU) - “Quando a música assume a liderança”
Richard Leppert (Minneapolis – Minnesota) - “Música, Estética e a Dialéctica do Compromisso Social”
10.45 – 11.15 – Intervalo
11.15 – 13.00
Pequeno auditório
Moderador: Diósnio Machado Neto
Mikuláš Bek (Brno) – “O famoso ‘gosto checo’: Uma crítica social da musicalidade checa”
Pedro Boia (Porto / Exeter) – “Modernismo, Pós-Modernismo e Sentido no(s) Movimento(s) de (re-)Interpretação da Música Antiga”
Angelo Martingo (Braga) - “Contextos de modernidade: identidade e significação na recente prática composicional em Portugal”
Sala 2
Moderador: Carlos Sandroni
Luís Melo Campos (Lisboa) – “Músicos e modos de relacionamento com a música”
Iñigo Sánchez (Barcelona) – “Del salón a la cocina: haciendo etnomusicología en casa”
Ana Brinca (Lisboa) – “O som e a escuta no ‘KZ-Lager’: Auschwitz, Buchenwald, Ravensbrück”
13.00 – 14.30 - Intervalo
14.30 – 16.15
Pequeno auditório
Moderador: Hansjakob Ziemer
Daniel Koglin (Berlim) - “Espaços semânticos de Factos ou Artefactos Musicais?”
Paula Gomes Ribeiro (Lisboa) - “A construção operática da hiperrealidade: Paradigmas da representação social na dramaturgia da ópera contemporânea”
Manuel Deniz Silva (Lisboa) - “O som e a música de filme como objectos sociológicos”
Sala 2
Moderador: Antoine Hennion
Katrin Bicher (Berlim) – “Verein für musikalische Privataufführungen [Sociedade para Audições Musicais Privadas]. Objectivos, Estruturas, Protagonistas”
Mark Clague (Ann Arbor – Michigan) - “Para uma socialidade da invenção artística, ou a instituição como musa: A Associação Auditorium de Chicago e a criatividade das organizações musicais nos Estados Unidos”
José Júlio Lopes (Lisboa) – “O compositor contemporâneo no seu labirinto. Arquivo.Memória. Reprodução. Recepção. Instituições. Mediação. Novas tecnologias. Música no mundo”
16.15 – 16.45 - Intervalo
16.45 – 18.30
Pequeno auditório
Moderador: Tia DeNora
Wolfgang Fuhrmann (Viena) - “Para uma teoria de sistemas sociomusicais: reflexões sobre o desafio de Niklas Luhmann para a Sociologia da Música”
Hansjakob Ziemer (Berlim) - “Escutar as Diferenças: O debate Stravinsky-Shoenberg nos anos 20 na perspectiva de uma Antropologia Histórica da Música”
António Pinho Vargas (Coimbra) - “A Música Europeia após 1945 como um espaço restrito de enunciação”
Sexta-feira, 24 de Julho
9.00 – 10.45
Pequeno auditório
Moderador: Philip V. Bohlman
Salwa Castelo-Branco (Lisboa) – Discurso sobre música, política cultural e construção nacional no século XX em Portugal”
Carlos Sandroni (Pernambuco) –- “Mudanças recentes na música tradicional do Nordeste brasileiro: o caso de Pernambuco”
Peter J . Martin (Manchester) - “O negócio da gravação e a internet: Dumbo encontra-secom o inimigo lá dentro?”
10. 45 – 11.15 – Intervalo
11.15 – 13.00
Pequeno auditório
Moderador: Salwa Castelo-Branco
Juan Manuel Pavía Calderón (Bogotá) – “Sociologia da música popular na Colômbia”
Denise Milstein (Nova Iorque) - “Repressão, re-orientação e ciclos de vida dos movimentos de música popular na América Latina”
Pedro Russo Moreira (Lisboa) - “A Rádio e a Música para Trabalhadores: Política de programação da Emissora Nacional nos Anos 40”
Sala 2
Moderador: Juan-Pablo González
Michel Nicolau (Berlim / Campinas) - “A percepção da ideia de diversidade na indústriamusical”
Paula Abreu (Coimbra) – “A indústria fonográfica e o mercado da música gravada: um longo equívoco”
Nunes, Pedro (Lisboa) – “O Jornalismo e a Crítica Pop-Rock em Portugal: entre o gatekeeping do gosto e o grilo falante da indústria”
13.00 – 14.30 – Intervalo
14. 30 – 16.45
Pequeno auditório
Moderator: Denise Milstein
Mariano Muñoz-Hidalgo (Talca – Chile) - “Psicossociologia da cultura popular: marginal versus subterrâneo na música popular”
José Juan Olvera Gudiño (Monterrey, Mexico) – “O dia em que Kumbia Kings desceu à cidade. Negociações e confrontos na configuração das culturas musicais”
Luzia Rocha / Luís Sousa (Lisboa) – “Viagens e mutações de uma obra de arte: usos e apropriações da pintura de Malhoa ‘O Fado’ ”
Sala 2
Moderator: Bernd Hornung
Diósnio Machado Neto (S. Paulo) – “A ‘viola’ e o véu: o estilo de canção da ‘modinha’ no processo de redefinição da critica social brasileira setecentista”
Elisa Lessa (Braga) - “Vozes femininas, regras masculinas: Patriarcado e prática musical nos conventos portugueses setecentistas”
Maria José Artiaga (Lisboa) – ı“A recepção de Verdi no meio intelectual português nos anos 70 do século XIX”
16.15 – 16.45 – Intervalo
16.45 – 18.30
Pequeno auditório
Moderador: Max Paddison
Mário Vieira de Carvalho (Lisboa) - “ ‘Esperança para a verdade’: Uma indagação das concepções de Arte e Teoria Social em Adorno”
João Pedro Cachopo (Lisboa) – “Quão política é a música? Uma abordagem através de Adorno e Rancière”
Andreas Stascheit (Dortmund) – “A Música na História do Pensamento Social”
Sábado, 25 de Julho
9.00 – 10.45
Pequeno auditório
Moderador: Richard Leppert
Philip V. Bohlman (Chicago) - “Som, Silêncio e Sociedade – A estética da acção numa sociologia da música globalizada”
Ruth Finnegan (Milton Keynes, RU) - “Música: um médium humano universal?”
Max Paddison (Durham, RU) – “Aspectos Teóricos na Mediação Sociocultural da Música”
10.45 – 11. 15 – Intervalo
11.15 – 13.00
Pequeno auditório
Moderador: Peter J. Martin
Karsten Mackensen (Berlim) - “Teoria sociológica universal e criação teórica empírica numa sociologia da música histórica: capacidade de intervenção, racionalização e a realidade de um cosmos musical no limiar da idade moderna”
Minghui Bi (Peking) – “ ‘Ópera Modelo’ na China: O fenómeno musical específico sob uma específica forma social”
Morag Josephine Grant (Göttingen) - “Musicologia, estudos de conflitos e direitos humanos: lições do passado, abordagens para o futuro”
13.00 – 14.30 – Intervalo
14.30 – 16.15
Pequeno auditório
Moderador: Mário Vieira de Carvalho
Bernd Hornung (Marburg) - “Holismo – O Cerne da Arte e da Estética – Uma Abordagem na perspectiva da Teoria da Informação”
Juan-Pablo González (Santiago – Chile) - “Para uma história social da actualidade: música, juventude e política no Chile na década de 60”
Christian Kaden (Berlim) - “A loucura de Schumann. Horizontes da Antropologia Histórica da Música”
16.15 – 16.30 – Sessão de encerramento
RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES QUE VÃO SER APRESENTADAS:
Abreu, Paula (Coimbra) – “A indústria fonográfica e o mercado da música gravada:um longo equívoco”
Paula Abreu é investigadora do CES – Centro de Estudos Sociais, membro do grupo de investigação sobre Cidade e Estudos Culturais Urbanos, lecciona na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, é estudante de doutoramento de Sociologia na mesma universidade. Licenciou-se pela Faculdade de Artes e Humanidades da Universidade do Porto (FLUP) e possui um Diploma de Proficiência Científica e Pedagógica da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.
É membro da Rede Brasil-Portugal de Estudos Urbanos, no âmbito da qual desenvolve actualmente investigação sobre Património Imaterial e Cultura Popular. Como membro do grupo de investigação sobre Cidade e Estudos Culturais Urbanos, participaem actividades de pesquisa sobre turismo cultural. Simultaneamente está a terminar a sua tese de doutoramento sobre a indústria fonográfica, o caso português. Os seus actuais interesses de pesquisa são a produção e o consumo culturais, políticas culturais, culturas urbanas, cidades e turismo, herança imaterial e culturas populares.
Resumo :
Baseando-se em investigação recente sobre a indústria fonográfica portuguesa, esta comunicação trata da situação crítica com que esta indústria presentemente se confronta, em resultado das profundas transformações no Mercado de música gravada das últimas décadas. A discussão centrar-se-á no debate público sobre os formatos, canais de distribuição e suportes físicos legítimos de música gravada, e considera as diversas partes envolvidas: produtores, indústria fonográfica, empresas de distribuição e consumidores.
Elaborando sobre os contributos teóricos da perspectiva institucionalista na sociologia económica (Powel e DiMaggio, 1991; Fligstein, 1996 e 2001), da sociologia económica das convenções (Boltanski e Thévenot, 1991 e 1999; Thévenot, 2002), Actor Network Theory (Callon, 1998; Callon e Muniesa, 2005) ane sociologia do apego (Hennion, 2001 e 2004), a comunicação identificará e discutirá os principais dilemmas que a indústria fonográfica tem enfrentado nos últimos vinte anos. Tais dilemmas serão interpretados como um reflexo da incerteza produzida a dois níveis diferentes:
a) os princípios e dispositivos institucionais de regulação e controlo dos mercados;
b) a reelação com os gostos, solicitações e decisões dos consumidores.
Serão exploradas duas hipóteses relacionadas quanto às fontes e focos de incerteza. A primeira respeita às discrepâncias entre as compreensões de produtores e consumidores relativamente aos padrões e às convenções das gravações musicais. A segunda hipótese considera a pluralidade de ordenações de julgamentos de qualidade e valor cuja intervenção é permitida pelos novos mercados musicais, afectando o cálculo e a decisão dos consumidores.
Artiaga, Maria José (Lisboa) – “A recepção de Verdi e a Geração de 70”
Maria José Artiaga é doutorada em Musicologia pelo Royal Holloway University daUniversidade de Londres. Actualmente é professora coordenadora da área de música na Escola Superior Educação de Lisboa e investigadora no Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical. Os seus domínios de investigação incluem a Música Portuguesa, no período entre 1870-1910, e a história do Ensino da Música, no período entre 1870- 1974.ı
Resumo
A década de 1870 em Portugal caracteriza-se por um intenso debate de ideias. A maior parte dos críticos detes período que escreviam na imprensa, eram intelectuais vindos de vários campos, em particular da literatura. Um dos objectivos principais desta geração eracombater o romantismo nas artes. Para eles, a arte devia ser redentora e militante. Num período dominado pelas teorias da decadência entre a intelectualidade portuguesa, permeando todos os campos de actividade, incluindo as artes, pensava-se que o País podia juntar-se de novo à Europa, como lugar de progresso e também de nomes como Baudelaire, Proudhon e Taine, se as artes contribuíssem para esse grande esforço e cumprissem a missão de educar o povo. Considerava-se que a crítica social contida no chamado "drama de actualidade" de origem francesa, estava longe abalar a ordem social vigente. Segundo os críticos musicais, o cansaço provocado pela "fatal e cruel exclusividade" das óperas de Verdi, apresentadas regularmente no Teatro de São Carlos desde 1843, contribuíra não só para a exaustão do repertório italiano, como sobretudo para a rejeição de obras do compositor, em particular da Traviata. Esta crítica baseava-se na ideia de que a objectividade, a observação minuciosa e descrição dos comportamentos deviam constituir a finalidade principal, tanto da literatura como das outras artes, como a forma mais importante de caracterizar a sociedade, de modo a que as pessoas pudessem assumir nela uma intervenção positiva. Contrariamente às ideias que viam em La
Traviata um modelo de realismo, em Portugal, onde as mesmas teorias dominavam, a ópera era rejeitada. É neste clima de ideias, com o romantismo e o realismo em pano de fundo, que a recepção da ópera de Verdi na imprensa portuguesa será introduzida e discutida nesta comunicação.
Bek, Mikuláš (Brno) – “O famoso ‘gosto checo’: Uma crítica social da musicalidade checa”
Mikuláš Bek (1964)é actualmente professor associado de musicologia na Universidade Masaryk de Brno, República Checa. Estudou musicologia e sociologia na Universidade Masaryk em Brno, na Humboldt-Universität de Berlim e na Universidade Karl em Praga (PhD 1994). Ensinou musicologia nesta última universidade (1995-1999), desde 1999 ensina no Instituto de Musicologia da Universidade Masaryk em Brno, em 1999-2004 director do instituto, desde é Vice-Reitor para estratégia e relações externas da mesma universidade. Em 1994 foi conferencista visitante do Royal Holloway College (Universidade de Londres). Especializou-se em sociologia da música (entre outras publicações, 2 livros sobre o assunto publicados em checo) e história da música da Europa Central cerca de 1900.
Resumo
A música e as reais ou alegadas aptidões musicais da nação checa ganharam uma posição proeminente no processo de construção da moderna sociedade nacional checa desde cerca do início do século XIX. Frases como “Conservatório da Europa” ou “Todos os Checos são músicos” penetrou profundamente não só na linguagem da antiga musicologia e crítica musical checas, mas foi também adoptada por um público mais alargado, formando estereótipos do quotidiano de auto-identificação do “ser checo”, dos “Checos”. Será um tanto surpreendente que esta mitologia nacional tenha sido um dos factores que estimularam positivamente o desenvolvimento da investigação em sociologia da música na República Checa. Após os primeiros passos realizados nos anos 30 e 40, tem havido, desde o início dos anos 60, uma série quase contínua de investigação empírica mapeando o gosto musical ou preferências do público checo. Eu próprio acrescentei duas abordagens abrangentes a esta série em 2001 e 2005. Esta feliz situação, algo única, permitiu-me reconstruir correntes e desenvolvimentos diacrónicos na história da recepção ao longo de décadas. Baseado nos dados apurados, situarei as preferências musicais da população checa num contexto social mais vasto e apresentarei uma tipologia de ouvintes de música baseada na pesquisa empírica.
Bi, Minghui (Peking) – “ ‘Ópera Modelo’ na China: O fenómeno musical específico sob uma específica forma social”
Minghui Bi. B.A. em Piano, Música e Pedagogia Musical Psicologia, em 1996, Mestre em etnomusicologia, em 1999, Doutorado em Musicologia, em 2004, no Conservatório Central de Música. Trabalhou como supervisor no Programa TV asiática em Hong Kong, antes de iniciar a sua pesquisa para doutoramento no Departamento de Língua e Literatura Chinesa, Universidade Fu Dan, em 2005. Actualmente, é Professor do Departamento de Música da Universidade de Pequim. Os seus interesses de investigação incluem a interpretação e direcção musicais, o ensino da música, música tradicional chinesa, história da música ocidental história, sociologia da música e estética musical. Neste momento, prepara um livro sobre a relação entre a filosofia chinesa e o pensamento de John Cage do pensamento; outro tópico incluído no seu estudo é a relação entre a música ocidental e a sociedade chinesa. O seu livro “Características chinesas na música ocidental do século XX” foi publicado em 2007.
Resumo
Em articulação com a revisão da evolução histórica da forma social na China, no século XX, o autor aborda as “8 Óperas-Modelo” influenciadas pelo Partido Comunista no poder desde 1949, tentando analisar como é que essa forma específica ocorre nas especiais circunstâncias sociais e, em seguida, procede a uma apreciação critica da relação entre contexto social e cultura musical na China no século XX.
Este trabalho é constituído por três partes:
1. A evolução histórica da forma social na China, no século XX;
2. O fenómeno cultural “Ópera-Modelo”;
3. Valor social e cultural da “Ópera-Modelo”.
Bicher, Katrin (Berlim) – “ ‘Sociedade para Audições Musicais Privadas’. Objectivos, Estruturas, Protagonistas”
Katrin Bicher. Estudos de musicologia e literatura alemã na Universidade Humboldt de Berlim. Estudante assistente do Prof. Christian Kaden (cátedra de sociologia da música e história social da música). Projectos de investigação: correspondência de Theodor Storm - Gebrüder Paetel (Publ. Berlim: Erich Schmidt Verlag, 2005); “Correio silencioso. Contactos inoficiais entre escritores do Leste e do Ocidente” (Stille Post. Inoffizielle Schriftstellerkontakte zwischen Ost und West) (Publ. Berlim: Christoph LinksVerlag 2005). Diversas actividades na edição e elaboração de textos para orquestras, concertos e festivais.
Resumo
As atividades da “Verein für Musikalische Privataufführungen” fundada em 1918 são descritas como se segue na homepage do Centro Arnold Schönberg de Viena:
“ ‘Schönberg tem outra ideia magnífica [...] estabelecer uma sociedade que define como sua própria tarefa interpretar semanalmente para os seus membros obras musicais do período de Mahler até ao presente.’ (Alban Berg a sua esposa, Helene, 1 julho de 1918). A ideia da “Sociedade de Espectáculos Musicais Privados” nasceu em Mödling e a sociedade foi fundada em Novembro seguinte. [...] A Sociedade definiu padrões, não só como espaço privilegiado de inovação, mas também pela sua estrutura não convencional. O programa preciso era mantido em segredo (“para garantir a uniformidade da afluência”); havia obras repetidas; os concertos da Sociedade não eram públicos; era proibido tanto aplaudir como vaiar – tudo tendo em vista “fornecer a artistas e amadores de arte um genuíno e aprofundado conhecimento da música moderna.”
Esta curta declaração resume a maior parte do que conhecemos acerca desta sociedade secreta. Apesar de vários desejos formulados em 1999, e de o legado de obras literárias e artísticas estar bem apresentado e facilmente acessível através da página inicial do ASC, só muito dificilmente se consegue obter qualquer informação adicional através de pesquisa musicológica sobre a funcionalidade, a estrutura organizacional, ou mesmo a natureza das relações entre os próprios protagonistas (quanto a gestão, adesão, intérpretes, ou ao próprio ‘Mestre’).
Poucos factos e principalmente anedotas imprecisas têm moldado a imagem da sociedade até hoje. Um olhar mais atento para além de histórias em segunda e terceira mão, sobre o início da ‘Verein’ e o seu maior período de actividade, permitiria reconstruir motivações e intenções e acima de tudo descobrir a razão por que o conceito falhou – sem nos darmos por satisfeitos com a desculpa convencionalmente aceite de uma crise financeira.
Estes factores poderiam levar a uma nova imagem e a uma nova apreciação da importância histórica da ‘Verein’. Lançar um novo olhar sobre história da Sociedade oferecer-nos-ia a oportunidade de aplicar um repertório de métodos que até este momento têm gozado de pouco crédito entre investigadores da área da musicologia: métodos de história antropológica. Em vez de nos fixarmos nas estruturas ou “grandes” personalidades únicas como foco principal, devíamos empurrar para o centro do palco protagonistas históricos do dia-a-dia. Experiências de vida aparentemente marginais e e fontes tais como auto-testemunhos de pessoas “simples” e, muitas vezes esquecidas em torno das franjas do objeto de investigação poderiam ser reunidas, a fim de proporcionar um máximo de visão contextual. Além disso, o entrelaçar das perspectivas emic e tradicionalmente etic poderia permitir, ou mesmo levar a novas ideias.
O objectivo da investigação histórica não deveria ser a persistência do individualismo histórico ou o “ponto de vista nativo”, mas antes a transferência de uma perspectiva histórica e teoria moderna, incluindo a perspectiva do investigador. Mas o ponto de partida de tais estudos devia ser a fonte histórica imparcial.
Ao contexto histórico como ponto de partida deviam ser adicionadas interpretações, teorias e explicações – como um novo passo após a situação ser reconstruída. Esta mudança de perspectiva, que consequentemente afecta a relação de macro e microhistória, é nova para a escrita da história musical e devia ser testada utilizando o exemplo da Schoenberg-‘Verein’. A descrição da “Verein für Musikalische Privataufführungen” com base nestas premissas deve:
• Em primeiro lugar, apresentar o modo de funcionamento da Sociedade e • Em segundo lugar, testar a capacidade de adaptação dos métodos históricoantropológicos a questões musicológicas.
Bohlman, Philip V. (Chicago) – “Som, Silêncio e Sociedade – A estética da acção numa sociologia da música globalizada”
Philip V. Bohlman é Mary Werkman Distinguished Professor do Departamento de Música e Ciências Humanas da Universidade de Chicago / E.U.A., onde também ocupa os cargos de Professor Adjunto na Divinity School, e membro do Centro de Estudos do Médio Oriente, Estudos Hebraicos, Estudos do Sudeste Asiático, e Estudo de Raça, Política e Cultura. Em Chicago, é também um membro adjunto nos Estudos Germânicos e Director Artístico da “Nova Budapeste Orpheum Sociedade”, uma trupe de cabaré judaica que é Ensemble-in-Residence da Universidade de Chicago. A investigação de Bohlman atravessa amplamente várias disciplinas e áreas de interesse, enfatizando as maneiras como o encontro – cultural, político e religioso – molda a interacção entre música e sociedade. Publicou numerosos livros e CDs, editados em várias línguas. Entre prémios com que foi distinguido contam-se a Medalha Edward Dent Medalha da Royal Music Society, de Prémio Berlim da Academia Americana, e Prémio Derek Allen de Musicologia da British Academy.
Resumo
A música faz alguma coisa? À superfície, esta questão sugere uma simplicidade ontológica, bem como uma simples ontologia. Nos últimos anos, desde a viragem cultural no mundo académico musical, a questão tem vindo a marcar uma divisão disciplinar, entre a compreensão da música como objecto e o reconhecimento da música como sujeito, portanto, entre a música como produto sonoro, cuja objectividade é propriamente deixada à interpretação, e como uma condição para posições subjectivas que permitem o engajamento social e político. Linhas de batalha ideológica têm-se formado entre estas duas posições da música como objecto e como sujeito, enquanto um conservadorismo político e musical coalescente em torno dos que afirmam que a música não faz nada, só os músicos agem, e uma musicologia engajada – até mesmo uma “musicologia radical”, como é afirmado no novo jornal online britânico de mesmo nome – insiste na necessidade de situar música num campo de acção social.
Neste trabalho examino o paradoxo que acompanha a formação de linhas de batalha entre objeto e sujeito, analisando a complexa relação entre som e silêncio. Abordo o paradoxo reflectindo sobre aquilo a que chamo a “estética da acção”, que justapõe condições objetivas e subjetivas da música ao redor da acção musical, a fim de as gazer entrar em colapso.
Os estudos empíricos em que me baseio para esta comunicação desenvolveram-se a partir de pesquisa recente e do projecto de um livro sobre “O Silêncio da Música”, em que eu apelo a práticas de “escuta do silêncio” para ouvir as vozes daqueles silenciados por actos de violência e genocídio, mas também pelas salas de concertos, pelo discurso público sobre música, e por disciplinas curriculares de música que permanecem surdas à diversidade musical e à diferença. Ao invés de tratar o silêncio como uma condição a priori em que a música não existe, examino-a a partir de perspectivas estéticas e religiosas que o olham como plenamente dotado de som. Defendo, além disso, que estas perspectivas são críticas para uma sociologia da música globalizada, uma sociologia da música que nos permita compreender as sociedades no plural, e já não apenas as ocidentais e industrializadas, mas sim como espaços cosmopolitas interligados através da transitoriedade e transmissão da cultura através da acção humana.
Examino o cluster de som, silêncio, e sociedade em torno de três diferentes tipos de subjectividade.
(1) A condição de silêncio em rituais e na religião, em particular em práticas fora do Ocidente (por exemplo, o Islamismo e o Budismo), fornece a base para a primeira condição.
(2) As condições globais de representação sonora e de circulação, em especial as docolonialismo e pós-colonialismo dentro da rede de espaços metropolitanos interligados
(cf. p.ex. , “Cidades globais” de Saskia Sassen), fornecem o meu segundo cluster.
(3) Para a minha terceira condição, regresso à política do silêncio na história da modernidade, nomeadamente a mobilização do som para silenciar a diferença através da globalização da guerra e do genocídio (por exemplo, na chamada “Guerra Global ao Terror” actualmente em curso). O documento irá terminar com uma compreensão da acção musical que considera as possibilidades de fazer ressoar a música em espaços de silêncio.
Bóia, Pedro (Porto, Exeter) – “Modernismo, Pós-Modernismo e Sentido no(s) Movimento(s) de (re-)Interpretação da Música Antiga”
Pedro dos Santos Boia prossegue estudos de Doutoramento em Sociologia na Universidade de Exeter (Reino Unido), sob orientação da Professora Tia DeNora. É Investigador no ISFLUP – Instituto de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde foi Bolseiro no âmbito do Projecto ‘Construções Identitárias de Género nas (Sub)culturas club’ (FCT), sob orientação do Professor João Teixeira Lopes.
É licenciado em Sociologia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (1997) e mestre em Sociologia pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (2003), onde elaborou a sua tese sob orientação do Professor João Arriscado Nunes e com o apoio de uma Bolsa de Mestrado (apoio à Dissertação) da FCT. Estudou no Conservatório de Música do Porto (1994-2001), onde obteve elevada classificação no exame final de Viola d’Arco. Prosseguiu estudos superiores de Viola d’Arco no Koninklijk Conservatorium (Conservatório Real) de Haia (Países Baixos) (2001-2006), onde estudou também Pedagogia e Interpretação Historicamente Informada.
Resumo
O(s) movimento(s) de (re-)interpretação de Música Antiga (MMA) é fascinante pelas reflexões que estimula e pelas suas próprias contradições. Esta comunicação debruça-se sobre alguns temas que são alvo de debate entre defensores e detractores do movimento, sem deixar de considerar diferentes abordagens à interpretação da Música Antiga no âmbito do mesmo – quer enquadradas pela noção de «práticas interpretativas históricas» («historical performance practice»), quer de «interpretação historicamente informadas» («historically informed practice») – bem como as transformações que ao longo do tempo ocorreram a este nível.
Serão abordados vários tópicos importantes para a sociologia da música, para a musicologia e para a interpretação, tais como as noções de significado social e musical (no e para além do texto musical), de alteridade e de heterotopia.
Não sem ambiguidades e contradições (e sem nunca esquecermos de que não se trata de uma entidade homogénea), o MMA encerra em si características modernas/istas bem como pós-modernas. No primeiro caso, por exemplo, pode ser visto como reflectindo (entre outros fenómenos) uma configuração das sociedades ocidentais como ‘sociedades dos museus’, tendo sido criticado por se fundar sobre uma abordagem filológica e positivista da interpretação musical, especificamente no que se refere à sua ambição de proceder a ‘reconstituições’ históricas. Por outro lado, a crítica a uma visão evolucionista das transformações sofridas pelos instrumentos musicais ao longo da história e a crescente ênfase na retórica, entre outros aspectos, podem ser reconhecidos como características pós-modernas. Finalmente, é relevante reflectir sobre o papel desempenhado pela história em todo o movimento, procurando detectar aquilo que há de moderno e de pós-moderno nos modos como a história e o discurso histórico funcionam como ingredientes do MMA, sendo este entendido como produto cultural.
Brinca, Ana (Lisboa) – “ O som e a escuta no ‘KZ-Lager’: Auschwitz, Buchenwald e Ravensbrück”
Ana Brinca é antropóloga e investigadora no CRIA (Centro em Rede de Investigação Antropológica – Portugal). Aguarda, no presente momento, a realização da prova pública de defesa da tese de doutoramento em Antropologia, especialidade em Antropologia Cultural e Social, na FCSH/UNL; tese cuja temática se centra na articulação da problemática das fronteiras étnicas com as estratégias de exibição e/ou manejo do segredo accionadas por portugueses ciganos nas suas representações identitárias para os não-ciganos.
Nalguma literatura dedicada ao Holocausto, são recordadas várias dimensões dos sons: a experiência de escutar o sino, a orquestra do Lager ou a palavra ‘polaco-latina’ ‘selekcja’ (Levi, 1988) ou outros sons humanos/não-humanos. Esta comunicação analisa a relevância da escuta nas relações sociais e interpessoais que tiveram lugar em campos de concentração da Segunda Guerra Mundial como uma estratégia ‘invisível’ de sobrevivência física e identitária. Baseados nos testemunhos escritos de sobreviventes do Holocausto, focaremos, a) o lugar e o uso dado pelos ‘Häftlinge’ à escuta na sua socialização e ‘integração’ na vida diária do ‘Lager’, para prever o dia seguinte ou descodificar signos em termos de comportamentos, tarefas ou efeitos emocionais; ou, mais tarde, já depois da Guerra, como cadre de mémoires desses momentos e experiências passadas; b) a escuta como a melhor maneira para entender os feedbacks dos diferentes interlocutores. Consideramos, a este nível, não apenas a experiência de ser (ou não) escutado e a sua conexão com emoções particulares (dor, humilhação, sentimento de superioridade ou prazer…), mas também, similarmente, a produção, o papel e o uso dado aos sons como marcadores identitários ou indicadores semânticos de fronteiras e hierarquias entre soldados Alemães, ‘Kapos’ e ‘Häftlinge’.
Cachopo, João Pedro (Lisboa) – “Quão política é a música? Uma abordagem através de Adorno e Rancière”
João Pedro Cachopo, licenciado em musicologia (maior) e filosofia (minor) pela FCSHUNL, redige actualmente uma dissertação de doutoramento co-orientada pela Professora Filomena Molder e pelo Professor Christoph Menke, subordinada ao tema “Verdade e enigma no pensamento estético de Adorno”. No contexto deste trabalho tem desenvolvido investigação em Lisboa, Potsdam e Paris. Os seus interesses incluem os campos da estética, da filosofia contemporânea, da musicologia e dos estudos literários.
Autores principais: Nietzsche, Adorno e Deleuze. Colabora com o Teatro Nacional de São Carlos (desde 2006) e com a Fábrica de Braço de Prata (desde 2007).
Resumo:
Nesta comunicação pretende-se explorar a hipótese segundo a qual o conceito de “mediação” [Vermittlung] e a noção de “partilha do sensível” (partage du sensible), respectivamente desenvolvidos por Adorno e Rancière nos seus escritos estéticos, lidam no fundo com o mesmo tipo de problema e, consequentemente, podem constituir em conjunto uma rede conceptual estimulante para pensar o teor político da música, sem o reduzir a uma mensagem ou a um programa ideológico.
Começarei por elucidar alguns dos seus aspectos comuns, baseando a análise em alguns textos cruciais da sociologia da música de Adorno, nomeadamente no artigo “Mediação” e em alguns dos últimos trabalhos de Rancière, entre os quais importa destacar A partilha do sensível. Por um lado, ambos os filósofos trabalham a partir da ideia de que sociedade e arte não são radicalmente separáveis. Por outro, ambos recusam a ideia segundo a qual a última seria finalmente redutível à primeira. Por outras palavras, nem a pretensa autonomia absoluta, nem um reducionismo positivista constituem o pano de fundo teórico das abordagens de Adorno e Rancière em matéria de estética.
Apesar de Rancière – neste ponto contrastando drasticamente com Adorno – raramente considerar a especificidade da música, tentarei demonstrar como a noção de “partage du sensible”, ligada à de “Vermittlung”, surge analiticamente fértil no âmbito da análise do “teor político” de algumas obras musicais. Neste ponto, o Coro de Berio acabará por revelar-se um excelente ponto de partida.
Globalmente, tentarei tornar claro como estes dois conceitos contribuem para esclarecer o modo imanente como a música, pelos seus próprios meio, quer dizer, desdobrando a sua dinâmica, lógica ou estratégia particulares, se revela “política”, “crítica”, ou mesmo – como Adorno pretende em última instância –, intrinsecamente ligada a uma noção nãorepresentativa
de verdade, na medida em que engloba, desenvolve e reelabora o tipo de hierarquias sensíveis, de distribuições horizontais/verticais ou de processos dinâmicos, cujo desenvolvimento constitui o próprio âmago da política.
Campos, Luís Melo (Lisboa) – “Músicos e modos de relacionamento com a música" Luís Melo Campos (1961). Doutorado em Sociologia (ISCTE, 2007); Mestrado em Sociologia (ISCTE, 1995); Licenciado em Sociologia (ISCTE, 1988). Docente nos Departamentos de Sociologia do ISCTE (1996-2008) e da UAL (1989-2001): Métodos e Técnicas de Investigação Sociológica; Classes e Estratificação Sociais; Teorias Sociológicas; Sociologia do Desenvolvimento. Investigador do CIES-ISCTE-IUL. Desde 1989 desenvolveu vários trabalhos de investigação sociológica designadamente nas seguintes áreas: família e classes sociais; mercado de trabalho e desenvolvimento local; e, mais recentemente, sociologia da música.
Resumo
Apresenta-se o conceito de modos de relação com a música que, compreendendo três planos conceptuais, organiza treze dimensões analíticas susceptíveis de operacionalização para efeitos de observação de situações empíricas. Trata-se de aprofundar de modo integrado um diversificado conjunto de relações específicas às práticas musicais, tipificando qualitativamente as modalidades da sua fruição em torno de dois pólos: o essencial e o relacional. Embora construído para analisar músicos profissionais, sustentase que o conceito é também adequado (com adaptações) para analisar consumos musicais, assim como outras sedes de produção cultural (intelectual e artística).
Castelo-Branco, Salwa (Lisboa) – “Discurso sobre música, política cultural e identidade nacional no século XX em Portugal”
Salwa EL-Shawan Castelo-Branco. Professor de Etnomusicologia e Director do Instituto de Etnomusicologia, Universidade Nova de Lisboa, Portugal. Realizou pesquisa de campo no Egipto, Portugal e Oman, de que resultaram várias publicações: sobre politicas culturais, revivalismo, identidade, media musicais, modernidade e transculturação. Recentes publicações, entre outras: “Vozes do Povo: A Folclorização em Portugal” (editor e co-autor com Jorge Freitas Branco), Oeiras, Celta Editora (2003); “Politics and Aesthetics of Diaphonic Singing in Southern Europe “, in Ardian Ahmedaja (ed.) “European Voices: Polyphonic Singing in the Balkans and the Mediterranean”, Viena, The University of Music and the Performing Arts (2008); Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX (3 vols) (ed.), Lisboa, Círculo de Leitores (in print). Vice Presidente da Sociedade de Etnomusicologia desde 2007. Vice- Presidente do Conselho Internacional para a Música Tradicional (1997-2001). Presidente da Associação Portuguesa de Ciências Musicais (1996 – 2006). Vice Reitor, Universidade Nova de Lisboa, 2005-2007. Coordenador, Departamento de Ciências Musicais, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 1984-1988, e 1995-1997.
Resumo
Esta comunicação trata da dinâmica do discursosobre música em Portugal desde fins do século XIX até à actualidade, no quadro da política cultural e da formação de uma identidade nacional. Analisa a moldura conceptual que subjaz ao comportamento e prática musicais, aos significados atribuídos aos principais conceitos de diferenciação de géneros e estilos, às formas como tais conceitos são ressemantizados por diferentes actores em diferentes períodos, e como a categorização da música afecta o discurso musical, o discurso sobre música e a sua recepção. Também examina a forma como as ideologias, a diferença e o poder são reconhecidos e inculcados através do discurso sobre música.
Clague, Mark (Ann Arbor – Michigan) - “Para uma Socialidade da Invenção Artística, ou A Instituição como Musa: A Associação Auditorium de Chicago e a Criatividade das Organizações Musicais nos Estados Unidos”
Mark Clague é Professor Assistente de Musicologia, Cultura Americana e Africana e de Estudos Africanos e Afro-Americanod na Universidade de Michigan (Ann Arbor). A sua edição das memórias de Alton Augustus Adams, primeiro Chefe de Banda negro da Marinha dos Estados Unidos, foi publicado pela University of California Press e “Music for the People”; o livro ‘Chicago’s Auditorium Building and the Institutional Revolution of Gilded Age Culture’ será publicado em breve pela University of Illinois Press. Na qualidade de Director Associado do Instituto Americano de Música da Universidade, publicou vários artigos em revistas como American Music, Opera Quarterly, and the Black Music Research Journal. Apresentou comunicações em diversas conferências que abrangem desde a American Musicological Society e a Society for American Music à Society for Ethnomusicology e ao Experience Music Project.
Resumo
Explorações da criatividade na música envolvem tradicionalmente os compositores e as suas obras. Abordagens mais recentes abordagens analisam o papel criativo dos intérpretes ou mesmo dos públicos na realização e recepção de obras musicais. No contexto dos Estados Unidos, possivelmente ainda mais influente é o trabalho do colectivo, não só de grupos de compositores, grupos musicais, ou conservatórios, mas também as estruturas administrativas, constituindo associações e sociedades profissionais que gerem, encomendam, legitimam e apresentam a música na vida cultural americana.
Esta comunicação tem por objecto a Auditorium Association (fundada em 1888), que construiu uma novo teatro de ópera para a cidade de Chicago como tentativa de transformar o negócio das artes nos Estados Unidos, reformular a sociedade americana, e inspirar uma nova era de ópera americana. Concluo que as organizações culturais podem ser analisadas como instituições essencialmente criativas, na medida em que mudam as práticas artísticas ao oferecerem um locus de novas práticas culturais e encomendas de novas obras e forjarem relações únicas entre a arte e o público.
À superfície, o Auditorium de Chicago consiste na tentativa de transformar o mecenato artístico, resolvendo a tensão entre abordagens não-lucrativas e abordagens empresariais, encarando a cultura como um investimento. O edifício, que incorporava um espaço comercial para uma farmácia, hotéis, escritórios e restaurantes, bem como actividades tais como uma estação meteorológica da guarda costeira e uma empresa de engarrafamento artesiano, visava contribuir para transformar a cultura em lucro. No entanto, este ardil pressupunha que quem investiria em cultura seria a classe mais alta dos barões da indústria e da finança, afirmando poder social através da cultura, como política para manipular a hierarquia social de Chicago. Os construtores do Auditorium proclamavam uma abordagem “democrática” da produção cultural, que usava a enorme dimensão do auditório, na altura o maior edifício nos Estados Unidos, para acolher um público mais amplo do que o normal: mais de 5.000 pessoas por espectáculo. Foram criados espectáculos especiais para trabalhadores, ali se realizaram também reuniões da Conferência Económica Chicago que juntava os líderes da indústria e do trabalho. Por último, o edifício dispunha da maquinaria de palco tecnologicamente mais sofisticada, um sistema adaptado de Budapeste e Viena, na esperança de melhorar o realismo cénico e dar início a uma nova era da produção de ópera nos Estados Unidos, inspirando por sua vez os compositores a florescer no género. Considerado como um todo, a Associação Auditorium funcionava como uma décima musa, no sentido de inspirar a arte musical a redimensionar a cidade da era industrial.
DeNora, Tia (Exeter, Reino Unido) – “Quando a música assume a liderança”
Professor de Sociologia da Música, na Universidade de Exeter. Autora de ‘Beethoven e a construção do génio” (Califórnia / Fayard), “Música na vida quotidiana” (Cambridge) e “Depois de Adorno: Repensar a Sociologia da Música” (Cambridge). Além disso, tem publicado extensivamente sobre a música dos séculos XVIII e XIX na Europa, a música e o corpo, a música no quotidiano, e músicoterapia. É Directora de Pesquisa do SocArts Team em Exeter (www.projects.ex.ac.uk/socarts ) onde actualmente supervisiona oito projectos PhD sobre tópicos relativos a arte / música. Pertence ao conselho editorial de MAIA (http://musicandtheartsinaction.net/ ), fundado pelos doutorandos da SocArts em Exeter.
Resumo
A comunicação irá considerar recentes desenvolvimento da sociologia da música que esclarecem o papel activo da música relativamente à acção e e formação identitária. Como é que a música, por outras palavras, “entra em acção”? Vou discutir esta questão com base em dados e perspectivas da investigação de dois projectos em curso: (1) colaboração na pesquisa que está a ser desenvolvida na área da música e da saúde mental e (2) pesquisa também em curso que analisa a corporização da interpretação musical, a diferenciação social e a formação do conhecimento (ciências, ciências sociais, filosofia), na Viena de Beethoven. Em ambos os casos, procurarei explicar como a música desempenha frequentemente um importante papel na formação social e na mudança social – como um recurso para a acção, cognição e consciência, emoção, expressão corporal e hierarquia social.
Finnegan, Ruth (Milton Keynes, RU) - “Música: um médium humano universal?”
Ruth Finnegan FBA tem publicado extensamente sobre aspectos da expressão oral e da interpretação (especialmente “literatura oral” e música) em África, Grã-Bretanha e na perspectiva transcultural. Além de trabalhar em África e nas ilhas Fiji, passou a maior parte da sua carreira na Open University, Reino Unido, onde é agora Professor Emérito e Professor Investigador Visitante na Faculdade de Ciências Sociais. Livros recentes: “Comunicar: os múltiplos modos de interconexão humana”, 2002; “Participar na sociedade do conhecimento: os investigadores para alem dos muros universitários” (ed.) 2005; “Oral e mais além: fazer coisas com as palavras em África”, 2007, e “Os músicos ocultos: fazer música numa cidade inglesa”, 2. ª edição de 2007 [1 ª edição 1989].
Resumo
Há óbvios méritos heurísticos - e éticos - em considerar a música como um médium humano universal: evita exclusões elitistas, políticas e etnocêntricas, tanto práticas como ideológicas, e fornece uma base para o trabalho comparativo em sociologia da música.
Tem apoiado muito do trabalho produtivo em etnomusicologia e abriu fronteiras outrora encerradas para trazer estudos, por exemplo, de música popular e práticas locais para o âmbito das disciplinas de sociologia, antropologia e folclore em articulação com as tradicionais preocupações da musicologia. Há também problemas bem conhecidos com este modelo: pois, em que sentido é a “música” universal? e expressa em médium? A comunicação centra-se principalmente nesta última questão. A resposta intuitiva do “auditivo” pode não ser suficientemente robusta para abranger diversidades e ideologias interculturais (ou intra-culturais), e as fronteiras entre a “música” e outras formas de expressão humana, nada menos que a linguagem, a voz, a escrita, o movimento, não foram dissolvidas. A comunicação sugere que é problemática precisamente a questão de saber que canal ou canais de expressão humana estão envolvidos e defende a necessidade de ser mais explícito sobre o médium ou os media em relação aos quais nós (diversamente) rotulamos ou analisamos algo como “musical” . Apesar das mudanças de perspectiva no sentido de dissolver a velha dicotomia ‘Sociedade’ / ‘Música’, ainda é tentador tomar a delimitação de “música” como algo auto-evidentes, e, nesse sentido universal; mas, na prática, nem sempre temos uma ideia clara sobre o que fazemos ou sobre o que podia diferenciar o “musical” de outras dimensões de expressão e comunicação humanas, e se na verdade é produtivo fazê-lo.
Fuhrmann, Wolfgang (Vienna) - “Para uma teoria de sistemas sociomusicais: reflexões sobre o desafio de Niklas Luhmann para a Sociologia da Música”
Wolfgang Fuhrmann nasceu em Viena, onde estudou Musicologia e Literatura Alemã. Obteve o grau de Doutor na Universidade de Viena com uma tese sobre a ética e a estética medievais: “Coração e voz. Interioridade, Afecto e Canto na Idade Média”, estudo publicado pela Bärenreiter Verlag em 2004. Wolfgang Fuhrmann é afiliado à Universidade Humboldt Berlim, onde regeu vários cursos, e trabalha freelance como crítico musical para jornais como o “Berliner Zeitung” e o “Frankfurter Allgemeine Zeitung”. Também tem ensinado nas universidades de Leipzig e Viena e no Conservatório de Stuttgart. Actualmente, prepara um estudo em grande escala sobre a recepção de Joseph Haydn pelos seus contemporâneos. Os seus interesses no campo da sociologia da música incluem a teoria de sistemas, história dos media e da esfera pública musical.
Resumo
Juntamente com Weber, Durkheim, Parsons, Bourdieu e Habermas, o sociólogo alemãoNiklas Luhmann (1927-1998) deve ser considerado um dos mais importantes teóricos sociais do século passado. Frequentemente citada (pelo menos em países de língua alemã), muitas vezes mal compreendida, a influência da Teoria dos sistemas sociais de Luhmann tem sido limitada no discurso internacional. Isto é, sem dúvida, devido em parte à sua terminologia esotérica e modo de pensamento altamente abstracto (inspirado por teóricos tão diversos como Talcott Parsons, Humberto Maturana e George Spencer- Brown), o que tem limitado a sua atractividade; em minha opinião, o problema poderia residir, em parte, no facto de a teoria de Luhmann, embora altamente inspiradora no seu próprio plano, não ser particularmente aberta à fundamentação em projectos empíricos.
Por exemplo, um conceito como o de “cultura”, que é de uma crescente importância nas ciências humanas e sociais, foi desprezado por Luhmann como teoricamente inútil. O meu objectivo é duplo. Espero poder mostrar o que há de teoricamente atractivo em alguns dos conceitos básicos da Luhmann, tentando usar tão poucos termos esotéricos e tantos exemplos quanto possível. Especialmente,procuro defender que a definição de comunicação de Luhmann - para ele, o elemento básico da sociedade - abre ricas possibilidades para esclarecer as misturadas e confusas discussões das últimas décadas sobre o que constitui a música, uma obra musical, a ‘autonomia’ da música, as esferas intra e extra-musicais, e assim por diante. Esta discussão também é relevante para a questão dos media musicais.
Em segundo lugar, ousarei algumas reflexões sobre a forma como pode ser estabelecida uma conexão entre a teoria Luhmann e a mais genuína pesquisa empírica sobre práticas sociomusicais.
Luhmann considera a teoria dos sistemas sociais uma super-teoria; as super-teorias são (em suas próprias palavras) “teorias que se reclamam de universalidade (isto é, que incluem tanto elas próprias como as suas oponentes” ( “Social Systems”, Stanford 1995, 4). Espero mostrar que os conceitos de Luhmann são úteis e estimulantes do pensamento mesmo para estudiosos que não subscrevem a sua teoria dos sistemas sociais.
Gomes Ribeiro, Paula (Lisbon) - “A construção operática da hiperrealidade: Paradigmas de representação social na dramaturgia da ópera contemporânea”
Doutoramento em Música (especialização em Dramaturgia de Ópera), Universidade de Paris VIII. Desde 1998, investigadora do CESEM (Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical). Membro do DMCE (Dramaturgie Musicale Contemporaine en Europe), Paris. Lecciona no Departmento de Ciências Musicais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (Universidade Nova de Lisboa), e no ISEIT (Almada). As suas principais publicações incluem o livro “Le drame lyrique au début du XXe siècle – Hystérie et Mise-en-abîme” ( Paris, Harmattan, 2002). Como encenadora assinou várias produções de ópera, designadamente, entre as mais recentes, “Comedy on the Bridge”, de Martinu, no Teatro Nacional de S. Carlos (Lisbon). Ocupa-se actualmente de aspectos sociológicos da ópera em finais do século XX.
Resumo
A comunicação examina a urgência operatica contemporânea em descrever uma actualidade fragmentada, polifórmica e sedutora, que se oferece a incursões criativas como hipermercado sem limites de factos vividos, memórias e discursos sobre a realidade. O armazenamento e manipulação ultra-sofisticados da informação fornecem ao criador de ópera permanente acesso a incontáveis e desvairadas fracções de conhecimento e narratives do presente, estimulando a emergência de novos produtos operáticos, fascinado com a deslumbrante cultura popular e dos media.
Exuberanteas exigências diárias de desempenho e uma atracção activa para uma inexorável interconexão virtual, concorrem com as solicitações duma percepção artística cada vez mais intensa e instantânea e do consumo do presente, em redes complexas espaciotemporais. Aspirando a integrar o extremamente dinâmico mercado da cultura e da informação, a expressão operática deixa-se fascinar pela sedutora feira de estímulos consumistas e quer igualar-se ao mistério da notícia – como John Adams prova eloquentemente em “Nixon in China”. Relatórios sociais e políticos chegam ao palco de ópera em produções contemporâneas vivas e ousadas, seja através dos discursos dos compositores, seja através das leituras cénicas, gerando novas hiperrealidades mitológicas baseadas em repertórios icónicos apelativos e perturbantes e em manipulações da actualidade.
González, Juan-Pablo (Santiago – Chile) - “Para uma história social da actualidade: música popular e jovens angustiados no Chile na década de 60”
Juan-Pablo González é Professor Titular do Instituto de Música da Pontifícia Universidade Católica do Chile. Obteve o seu doutoramento em musicologia na Universidade da Califórnia, Los Angeles, em 1991, e foi o primeiro presidente latinoamericana do ramo da Associação Internacional para os Estudos de Música Popular (2000-2006) e da Sociedade Chilena de Musicologia (1996-2000). Tem publicado artigos e apresentado trabalhos em catorze países da América e da Europa. O seu principal foco da investigação é a história social e sócio estética da música popular chilena (e latinoamericana) a partir desde cerca de 1890 a cerca de 1980. O seu segundo foco de pesquisa é a arte musical chilena do século 20, considerando a sua relação com as vanguardas europeias e as línguas locais. Recebeu o prémio em musicologia “Casa de Las Américas”, La Habana. 2003, pelo seu livro, escrito com Claudio Rolle, “História
social da música popular no Chile, 1890-1950” (Santiago, Editorial Universidad Católica, 2005). O segundo volume, de 1950 a 1970, será publicado em 2009.
Resumo
Uma parte dos adolescentes dos anos cinquenta que começaram com o rock and roll e com o seu impacte na América Latina, tornaram-se estudantes universitários, músicos, poetas e escritores nos anos sessenta, expandindo a pesquisa e desconfiança da sua própria adolescência.
Em 1967, este desafio traduziu-se no Chile em duas formas opostas: o existencial e o social. A via existencial recebeu o impacte da cultura hippie e do beat inglês, criando os primeiros sinais de um rock progressivo local. A via social pesquisou as expressões de solidariedade e de oposição ao colonialismo cultural e económico norte-americano na canção da América Latina. Esta tendência foi encorajada pela Juventude Comunista do Chile, e deu origem à Nueva Canción Chilena. A música popular teve de adaptar o seu papel tradicional de entretenimento, dança e sedução às necessidades de jovens cada vez mais conscientes do seu papel histórico na mudança social e cultural da segunda metade dos anos sessenta.
Tudo isto aconteceu dentro das expectativas de mudança suscitadas pela “Revolução em liberdade” proposta pelo governo do democrata-cristão Eduardo Frei (1964-1970). Estas expectativas eram canalizadas pelo movimento estudantil em articulação com o processo de reforma universitária, a crítica da cultura e a defesa de valores latino-americanos,contra a uniformidade cultural promovida pelos Estados Unidos durante a Guerra Fria. Esta comunicação explora o papel da música popular na articulação do movimento de rebelião juvenil no Chile. Para tanto, concentramo-nos nas maneiras como a vanguarda, a crítica social e o apelo à acção foram abordados pela música popular. A questão é de saber como a música e o movimento juvenil se articulam em tempos em que a rebelião estudantil e o rock estão suficientemente próximos. É precisamente o espírito do rock progressivo experimental que está ligado ao clima de revolta e de mudança da juventude chilena de finais dos anos sessenta. Contudo, um rock em inglês, tocado com instrumentos importados, com a tecnologia e o mercado a apertarem as mãos, despertava a suspeita dos jovens chilenos mais politizados. Assim, o rock em inglês e o seu estilo de vida liberal passaram a ser vistos como mais uma forma de penetração do imperialismo na região. Consequentemente, a presente comunicação interroga-se sobre como a via social da reveliao juvenil no Chile, se articulou e deu sentido às suas próprias exigências na Nueva Canción Chilena, um movimento musical que fez diminuir a mediação do mercado, mas fez aumentar a mediação da ideologia.
Grant, Morag Josephine (Göttingen) - “Musicologia, estudos de conflitos e direitos humanos: lições do passado, abordagens para o futuro”
MJ Grant (b. 1972) Junior Professor de musicologia na Georg-August-Universität Göttingen. Já estudou e trabalhou em Glasgow, Londres e Berlim. O seu primeiro livro,“Música Serial, Estética Serial”, foi publicado pela Cambridge University Press, em 2001. Recentemente, completou um segundo livro sobre a história cultural da cancão escocesa “Auld Lang Syne”. As incidências da sua pesquisa incluem a teoria e a estética da música nova e experimental, canções e canto, bem como ainda música, conflitos e direitos humanos. Fundou e dirige o grupo de pesquisa “A Música, o Conflito e o Estado”, sediado na Universidade de Göttingen, o qual investiga a utilização da música para incitar ao ódio e à violência, particularmente no contexto de conflito armado, e a crimes contra a humanidade e ao genocídio.
Resumo
Nos últimos anos, a investigação no domínio de música e política e de música e movimentos sociais tem abordado cada vez mais temas como conflitos armados, repressão estatal e graves violações dos direitos humanos, incluindo crimes contra a humanidade. Por exemplo, historiadores da música e pesquisadores da canção popular têm-se debruçado sobre a música em estados totalitários, enquanto etnomusicólogos se têm ocupado da vida musical em campos de refugiados, e têm-se interrogado sobre o papel que a música pode desempenhar na transformação dos conflitos. Outros estudos que têm saído de outras subdisciplinas musicológicas, incluindo a psicologia da música têm dado atenção à ligação entre música, agressão e violência, bem como à utilização da música como instrumento de tortura.
Apesar deste aumento no interesse pelo tema, a investigação sobre como a música pode ajudar a promover, prolongar ou exacerbar conflitos armados e ser utilizada para justificar ou relativizar graves violações dos direitos humanos permanece numa fase inicial, e ainda não se foi ao encontro de múltiplas interpelações. Estudos que exploram a relação entre música e violência tendem, muitas vezes, a testar ou refutar uma tese simplista, neoplatónica, que associa determinadas qualidades estruturais da música, ou de certos géneros musicais, ao desencadear de emoções negativas e violentas em ouvintes.
Há relativamente poucos estudos que considerem o contexto histórico e cultural mais amplo da música em situações de conflito, e muito poucas investigações que incidamem épocas anteriores ao século XX. Em 2008, um grupo de pesquisa criado na Universidade de Göttingen sob a minha liderança colocou-se a si próprio a tarefa de abordar algumas destas questões e trabalhar no sentido de um enquadramento teórico, histórico e comparativo para uma investigação interdisciplinar neste domínio. Nesta comunicação descreverei algumas das principais hipóteses de trabalho da nossa abordagem, possíveis focos de incidência para futura investigação nesta área, e quais são os mais largos benefícios que poderão ser extraídos desta pesquisa.
Hennion, Antoine (Paris) “Amar a Música: Duma Sociologia da Cultura a uma Pragmática do Gosto”
Nascido em 1952, é professor na École des Mines de Paris e ex-Director do Centro de Sociologia da Inovação (CSI). Engenheiro de Minas (1974), teve uma formação em musicologia (Paris IV-Sorbonne) e doutorou-se em sociologia na École des Hautes Études en Sciences Sociales (1991). Tem escrito extensivamente sobre sociologia da música, dos media e das indústrias culturais (rádio, design, publicidade, etc), e sobre inovação e utilidades. Ocupando-se da mediação, participou com colegas da CSI na definição de uma nova problematização da inovação (no domínio da Ciência, Tecnologia e Sociedade, e na sociologia das artes). Actualmente voltou-se para o estudo dos amadores, do gosto e da definição das formas de apego. Entre as sua publicações recentes contam-se um livro sobre música (“Figures de l’amateur”, 2000, com S. Maisonneuve e É. Gomart), um livro sobre J. S. Bach no século XIX França (“La grandeur de Bach”, 2000, com J.-M . Fauquet), e “Music as
Mediation” (a publicar), tradução de “La passion musicale. Une sociologie de la mediação” (1993, nova edição 2007).
Resumo
Esta comunicação trata do gosto musical como uma realização plena de significado e uma actividade situada, com os seus truques e bricolages, e não apenas como um jogo de diferenciação social e identitária em que as peças de música são meros signos e o gosto não tem espessura. Os “amadores” são competentes, activos e produtivos; transformam constantemente objectos e obras, interpretações musicais e gostos. A capacidade de ouvir, fruir, apreciar não é, nem uma qualidade pessoal, nem a contrapartida mecânica da história das obras musicais, mas sim o resultado final de ter-se colectiva e reflexivamente produzido o tempo e o espaço necessários para essa actividade, após uma longo aprendizagem histórica que produziu, ela própria, um mundo coordenado de objectos.
Novos métodos devem ser desenvolvidos, se quisermos aproveitar essas competências colectivas e situadas dos amadores.
O gosto é uma modalidade problemática de ligação ao mundo. Baseada em entrevistas e observações com amadores e fãs da música, uma tal concepção abrangente e pragmática desenvolve uma “etno-teoria” experimental do amor e da prática da música, mostrando como os próprios amadores mobilizam, produzem e se apegam a diversas concepções práticas do seu gosto, principalmente, tendo em vista melhorá-lo, torná-lo duradouro e pleno de significado e, desse modo, poder compartilhá-lo com os outros: o gosto é uma maneira de o próprio se situar num mundo em movimento de objectos, corpos e dos outros. O gosto é uma performance, uma actividade reflexiva, corpórea, emoldurada, colectivo, equipada, dependente de lugares, momentos e dispositivos, a qual simultaneamente produz as competências de uma amante de música e um repertório de objectos. Carece do sociólogo para se concentrar nos gestos, objectos, corpos, suportes, dispositivos e relações envolvidos. A música oferece um excelente estudo de caso, devido tanto à sua grande variedade de géneros (popular, oral, erudito, electrónico, comercial, etc.) como ao desdobramento das suas práticas num continuum de mediações: instrumentos, partituras, repertórios, músicos, palcos, meios de comunicação, redes, modas e disfarces. Tocar, escutar, gravar, dar a ouvir aos outros ..., todas estas actividades são mais do que a mera actualização de um gosto “que já existia”. São redefinidas durante a acção, com um resultado que é, em parte, incerto.
Esta é a razão por que os apegos dos amadores e as maneiras de fazerem as coisas podem tanto envolver e formar subjectividades como ter uma história, irredutível à do gosto pelas obras e por outras coisas. Compreendido desta forma, como trabalho reflexivo realizado sobre os seus próprios apegos, o gosto do amador é uma técnica colectiva, cuja análise ajuda a compreender a forma como nos tornamos sensíveis a coisas, a nós próprios, a situações e a momentos, enquanto simultaneamente controlamos reflexivamente como esses sentimentos podem ser partilhados e discutidos com os outros.
Hornung, Bernd (Marburg) - “Holismo – O Cerne da Arte e da Estética – Uma Abordagem na perspectiva da Teoria da Informação”
Bernd R. Hornung é investigador senior da Universidade Marburg, Alemanha, e responsável pela protecção de dados do Hospital Universitário de Marburgo. É expresidente do Comité de Investigação 51 (Sociocybernetics) da International Sociological Association (ISA) e foi membro do Comité Executivo do ISA durante o período de 2002 - 2006. Como sociólogo, esteve envolvido em sistemas e cibernética desde a sua licenciatura em Munique e Paris. Mais tarde, no Instituto Eduard Pestel para Investigação de Sistemas Aplicada, Hannover, Alemanha, trabalhou no desenvolvimento de sistemas baseados em computador para a elaboração de políticas e na modelagem e simulação de sistemas sociotécnicos. Após três anos de trabalhos práticos em África com a ONU, aplicou estas metodologias em Marburg a sistemas de cuidados de saúde e à avaliação das tecnologias da informação. Participou como cientista senior e coordenador no European EUROCARDS Concerted Action para sistemas de ‘smart-card’ (cartões magnéticos ‘inteligentes’) em cuidados de saúde e em actividades correlacionadas na Alemanha. Outra das suas pesquisas incluiu ‘cartões inteligentes’ em farmácias e em projectos patrocinados pela NATO em colaboração com Academia das Ciências do Usbequistão, em Tachkent, incidindo sobre cuidados de saúde e problemas ecológicos da Bacia do Aral. Além disso, trabalhou como consultor para a OMS e a Agência Alemã de Cooperação Técnica / Banco Asiático de Desenvolvimento sobre a gestão dos sistemas de informação. Como professor convidado realizou palestras em Lima, Peru, Universidade ‘Karl’ de Praga e Universidade de Saragoça, Espanha. A aplicação prática e a dimensão do seu trabalho sempre foram complementadas por uma forte componente teórica, que se concentraram cada vez mais, nos anos mais recentes, sobre os fundamentos filosóficos e epistemológicos da sociologia e da sociocibernética. Tal é também o contexto dos seus últimos trabalhos sobre arte e estética na perspectiva da teoria da informação.
Resumo
Arte e estética são analisados na perspectiva da sociocibernética e da teoria da informação. Isto implica o construtivismo como ponto de partida, o que relativiza a verdade e a objectividade, tornando a arte num fenómeno subjectivo, em triplo sentido, ou seja, (1) epistemologicamente, (2) como criação de um sujeito – o artista – e (3) como percepção subjectiva do espectador ou ouvinte. Considerações de teoria da informação e comunicação conduzem a uma noção mínima da obra de arte como uma espécie particular de expressão, e não como uma comunicação que pode ou não resultar da criação de uma obra de arte.
O conceito de “matéria informada” permite incluir num tal conceito de arte, para além dos artefactos, as performances musicais. Embora “matéria informada” aponte para comunicação, uma obra de arte nem sempre é produzida com a intenção de comunicar. Daí que se defenda que a essência da arte é um tipo particular de expressão. Uma obra de arte é criada, se algo for expresso que não pode ser directamente expresso numa linguagem, ou seja, por meio de signos que remetem para um referente mais ou menos claramente definido e claramente compreendido. Isto torna a arte, se então se transformar em comunicação, numa espécie emocional, intuitiva e holística de comunicação, que não segue o padrão cognitivo-racional. Arte como expressão do indizível aproxima esta visão da de Adorno, sem seguir, porém, a busca deste pela verdade, na medida em que partimos de um ponto de vista construtivista. Estética – e anti-estética – são usadas pelos artistas para tocar o ouvinte ou espectador e captar a atenção. Num contexto sistémico, a Teoria da Orientação de Bossel, que implica balanço, equilíbrio, optimização, e o aspecto da harmonia, pode fornecer uma base científica para a estética como um fenómeno holístico. Permite relacionar estética como um fenómeno cognitivo holístico, avaliado positivamente, com o estado emocional holístico positivo a que podemos chamar felicidade.
Sobre uma tal base teórica, esta comunicação especifica um número de características do holismo e procura ilustrá-las e aplicá-las a exemplos de pintura e música. Em relação com os murais da pintura mexicana e a New York School of Abstract Expressionism os exemplos escolhidos serão discutidos tendo em conta a música, esperando assim contribuir para uma discussão animada e produtiva com os especialistas em musicologia presentes.
Kaden, Christian (Berlim) - “A loucura de Schumann. Horizontes da Antropologia Histórica da Música”
Christian Kaden. Estudos em musicologia e Etnologia na Universidade Humboldt de Berlim. 1973 PhD (Dissertação: “Sintaxe musical e prática histórico-social na produção funcional-laboral de sinais dos pastores”, publ. Leipzig 1977). 1972-1973 Assessor de Dramaturgia no Landestheater Halle. 1973-1993 Constituição e desenvolvimento da Sociologia da Música na investigação e ensino na Universidade Humboldt de Berlim (desde 1973 Assistente; desde 1986, Professor de Sociologia da Música). 1983 qualificação pós-doutoramento (Dr. sc. Phil.), com uma dissertação sobre “Notação – Polifonia primitiva – Composição”. Desde 1993, Professor catedrático de Musicologia na Universidade Humboldt de Berlim (Foco em Sociologia da Música, História Social da Música). Desde 2005 membro de pleno direito da Academia de Artes da Saxónia (Música). Palestras ou cursos como professor convidado: Centro de Investigação Musical e Desenvolvimento Musical em Havan (1982); Universidade Nova Lisboa (1989); Universidade de Graz (1992); Universidade de Heidelberg (1992-1993), Universidade de Chicago (1995); Universidade de Hongkong (Rayson Huang Fellowship) (2000); Universidade de Viena (2001). Vários períodos de investigação na biblioteca Herzog August em Wolfenbüttel. De 1994 a 2001 Porta-voz da secção sociologia da música e história social da Sociedade Alemã de Musicologia (Gesellschaft für Musikforschung).
Resumo
A Sociologia da Música bem como a História Social da Música fazem geralmente incidir a sua investigação nas estruturas sociais, e não nas pessoas. Ocupam-se das interações e comunicações, instituições, papéis, hábitos de género, profissões, processos de civilização e de transferência cultural etc. E tendem a reconstruir história “como foi”: objectivamente. A Antropologia Histórica (ou como também é chamada: História Antroplógica), localizada na intersecção de Sociologia, História e Etnologia, enfatiza amplamente outros aspectos. O que também pode dar férteis impulsos para abordagens sociológicas da música.
1. A Antropologia Histórica está vitalmente interessada nos protagonistas da história: indivíduos, personalidades, directamente através de todos os grupos sociais e estratos sociais.
2. A sua atenção é atraída pelos modos de vida, estilos de vida, práticas de vida.
3. Por isso, leva a sério as mentalidades das pessoas e dos grupos, as suas motivações, os seus ideais, preconceitos, imagens. Na maioria dos casos, estes factos são resumidos como “o ponto de vista nativo”.
4. História, numa tal perspectiva, deixa de ser representada pelas suas correntes principais e tendências gerais. É entendida como um complexo de opções e pensáveis ramificações, baseadas em decisões e responsabilidades pessoais, como uma história da subjectividade.
5. No entanto: a História Antropógica nunca pode vincular-se exclusivamente às perspectivas internas a uma cultura, às suas normas emic. Enquanto ciência é influenciada por paradigmas teóricos, pela experiência do próprio pesquisador e pelo seu conhecimento. Assim, são inevitáveis elementos etic na escrita da história. Mas isso não significa que os horizontes emic e etic sejam incompatíveis. O desafio parece ser a sua combinação, de forma complementar, a sua mútua iluminação pelo antropólogo ou historiador.
Que essa concepção aplicada a musicologia possa provocar novos tipos de narração da história social da música – eis o que é exemplificado na minha comunicação através de um escandaloso estudo de caso: a reconsideração da “loucura” de Robert Schumann. A tese será a de que esta doença não foi, provavelmente, o resultado fatal de uma infecção, mas sim a essência da biografia do compositor, da sua disposição vital. Ela cresceu com os conflitos de base entre os ideais estéticos de Schumann, bem como as suas atitudes comportamentais, e as normas sociais que se tornaram dominantes desde a quarta década do século XIX. Eis a razão por que o compositor nunca terá sido “louco” no sentido patológico do termo, mas sim na verdade (como o termo alemão sugere) “ver-rückt” (“removido”), por ser incapaz de aceitar as normas sociais vigentes.
Koglin, Daniel (Berlim) - “Espaços semânticos de Factos ou Artefactos Musicais?” Daniel Koglin nasceu perto de Heidelberg, em 1972, e estudou musicologia, psicologia, filosofia em Freiburg, Salónica e Berlim. Fascinado pela vivacidade da cena da música oriental em Berlim, começou a concentrar-se no estudo da música clássica árabe e turca, aprendendo a tocar a flauta de bambu Ney. Em 2000, formou-se na Universidade Humboldt de Berlim, com um estudo sobre práticas improvisatórias na música folclórica grega que foi publicado na Bärenreiter, série “Musiksoziologie” (ed. Christian Kaden). Como membro do programa de investigação “Trácia e Macedónia Oriental” da Biblioteca de Música de Atenas, continuou a pesquisa de campo, em várias partes do norte da Grécia entre 2000 e 2003. Desde 2003, realiza pesquisas para uma tese de doutoramento sobre a recepção de música grega “rebetiko” nos dias de hoje, em Atenas e Istambul. Tem actuado como intérprete da flauta Ney com vários grupos música tradicional grega sediados em Atenas.
Resumo
Que significa o termo significação quando aplicado à música? Como muito bem sabemos, é extremamente difícil explicar em palavras o sentido das nossas experiências musicais. Haverá, assim, formas mais adequadas de o compartilhar com outras pessoas, preferencialmente na forma de símbolos visuais e, portanto, susceptíveis de ser impressos?
Embora possa haver alguma dúvida sobre se o significado da “música” pode ser representado visualmente, mais frequentes do que modelos não-espaciais são os meios à escolha para analisar o sentido que os seres humanos dão à sua actividade musical. Quer pensemos em vagas noções como as de campo, cena, subcultura ou paisagem étnica ou conceitos mais elaborados (vêm à mente o “espaço de posições sociais” de Bourdieu ou os “mundos da arte” de Becker), é notório que os musicólogos se têm servido muitas vezes de metáforas baseadas em distinções espaciais tomadas à sociologia e à antropologia social. Na minha comunicação, irei sondar a origem destas metáforas: são elas “factos” que existem nas mentes das pessoas cuja microcosmos musical nós estudamos, ou “artefactos”, isto é, as nossas próprias construções mentais? Por quê, então, são as metáforas espaciais aplicadas em todo o mundo à descrição do sentido musical, e isto não apenas nos discursos científicos, mas também na linguagem quotidiana? Será que o facto de os discursos sobre música serem muitas vezes expressos em termos espaciais indica uma tentativa, embora inconsciente, de superar as limitações que a língua (como um meio de comunicação sequencial), impõe à manifestação do
sentido musical?
Para além destas considerações gerais, o meu foco será sobre a questão de como podemos destilar concepções subjectivas de experiência musical numa estrutura de relações espaciais que (1) está firmemente fundada na experiência de um determinado tipo de actividade musical por indivíduos concretos em situações específicas; (2) é suficientemente complexa para permitir a representação de vários aspectos, interrelações e conotações; contudo (3), é suficientemente simples e abstracto para admitir a comparação inter-cultural e, portanto, pode legitimamente reivindicar que nos leva um pouco mais longe em direcção a um modo mais consciente, realista e sensível de interpretar o significado musical.Neste contexto, será discutida com mais detalhe uma técnica de modelação espacial específica, usualmente referida como “diferenciação semântica”. Método usado desde há muito na disciplina de psicologia, a diferenciação semântica também é uma ferramenta útil, embora meio negligenciada, para os musicólogos comparatistas, independentemente do tipo de configurações da actividade musical a comparar, social, geográfica ou cronologicamente distintas. Sem dar muita atenção aos aspectos técnicos deste método, tentarei demonstrar a sua eficiência aplicando-o a um tipo específico de fazer música que tenho vindo a estudar há largos anos e que está relacionado com um género de canao popular urbana grega conhecido como “rebetiko”. O resultado será um “espaço semântico” de rebetiko que pode ajudar-nos a compreender como as elites intelectuais na Grécia e Turquia actuais fazem uso de conceitos, canções e práticas relacionados com o “rebetiko” para exprimir e desenvolver identidades sociais específicas.
Leppert, Richard (Minneapolis – Minnesota) - “Música, Estética e a Dialéctica do Empenhamento Social”
Richard Leppert é Regents Professor e Morse Alumni Distinguished Professor do Departamento de Estudos Culturais e Literatura Comparada na Universidade de Minnesota. O seu doutoramento é em Musicologia, com História de Arte como campo correlacionado. Graduou-se em Música, Literatura Inglesa e Literatura Alemã. O seu trabalho concentra-se nas relações da música e imagens com a construção social e cultural, principalmente em torno de questões de género, classe e raça. A maior parte do seu trabalho diz respeito à alta cultura europeia desde o início da modernidade até ao presente, embora também tenha publicado sobre música e arte americanas e cultura popular. Interessa-se especialmente pelas teorias críticas das artes e da cultura desde a Escola de Frankfurt ao pós-modernismo, Adorno em particular. Entre os mais recentes doz dez livros que publicou, contam-se: “A Visão do Som: Música, Representação e a História do Corpo”; a edição de uma Selecção de Ensaios sobre Música de Theodor W. Adorno; “Para além da Trilha Sonora: Representando Música no Cinema” (co-editado com Lawrence Kramer e Daniel Goldmark) e um volume de ensaios, “Sound Judgment”, para a série da Ashgate Press, Contemporary Thinkers on Critical Musicology.
Resumo
Esta comunicação propõe uma reflexão sobre a música e a sociologia da música que podia partir das implicações de duas observações aforísticas de T. W. Adorno: “Os limites da arte proclamam os limites da política” (Quasi una fantasia) e “Que a arte permaneça como lembrança do que não existe, incita à raiva” (Teoria Estética). A importação distópica de ambas as observações, embora ironicamente, é profundamente informada pelo impulso utópico que Adorno atribuía à arte e às suas diversas práticas, ocupando a música um lugar proeminente entre elas, tal como ao pensamento sobre arte que, no caso de Adorno, é sobretudo centrado na música e sua sociologia. A comunicação partilha algumas ideias em torno tanto das potencialidades como dos perigos ou limitações dos perigos de formas de música, práticas musicais e estudos musicais académicos socialmente empenhados. Também considera se conceitos idealistas associados ao utopismo mantêm alguma relevância na pós-modernidade. A questão é menos a de recomendar qualquer forma específica de sociologia da música e mais a de explorar, embora sob uma forma exploratória, o que poderia utilmente emergir como fundamento para pensar – ou repensar – a nossa prática como estudiosos de música, à luz da obra de Adorno – partes do qual, para ser rigoroso, estão bem incorporadas no actual pensamento musical.
Lessa, Elisa (Braga) - “Vozes femininas, regras masculinas: poder patriarcal e praxis musical nos conventos portugueses (séc. XVIII)”
Elisa Lessa é Professora Associada da Universidade do Minho. Responsável pela área da Música, é actualmente Directora do Curso de Licenciatura em Música. Foi Directora do Curso de Estudos Superiores Especializados em Educação Musical (1999-2000); Directora do Departamento Expressões Artísticas e Educação Física (2000-2004); Directora do Curso de Mestrado em Estudos da Criança - Especialização de Educação Musical (2003 - 2008); e Coordenadora da Linha de Investigação em Estudos Artísticos do Centro de Investigação em Estudos da Criança - CESC-UM . Foi também presidente da Associação Portuguesa de Educação Musical - APEM (2004-2007). Elisa Lessa terminou o curso de Licenciatura em Ciências Musicais na Universidade Nova de Lisboa, em 1987. Obteve o grau de Mestre, na mesma área, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, em1992, com a tese “A Actividade Musical na Sé de Braga no Tempo do Arcebispo D. Frei Agostinho de Jesus (1588-1609).” É doutorada em Ciências Musicais pela Universidade Nova de Lisboa (1998) com a tese “ Os Mosteiros beneditinos Portugueses ( séculos XVII a XIX): Centros de Ensino e Prática Musical. Autora de diversas publicações nacionais e estrangeiras em revistas especializadas nos domínios da Musicologia e da Pedagogia Musical, orienta várias teses de mestrado e doutoramento nestas áreas. Tem editadas obras de música portuguesa (século XVIII) e de Música Portuguesa para a Infância dos séculos XIX e XX. É Directora Artística da Orquestra de Câmara do Minho desde 2006.
Resumo A música assumiu desde sempre um papel fundamental na vida das comunidades religiosas, A importância que as comunidades monásticas atribuíam à música ultrapassava, porém, o serviço religioso, A música era também um meio de desenvolvimento cultural e uma espécie de recreação espiritual. Os conventos femininos eram de direito diocesano, sendo da responsabilidade dos bispos e dos Visitadores por eles nomeados, o controlo disciplinar da vida comunitária. A oposição das religiosas era constante e nem sempre pacífica. Apesar das proibições, as fontes manuscritas encontradas revelam uma intensa actividade musical realizada pelas monjas com eloquentes Te Deum e Magnificat e a representação de Comédias e Entremezes.
Lopes, José Júlio (Lisboa) – “O compositor contemporâneo no seu labirinto. Arquivo. Memória. Reprodução. Recepção. Instituições. Mediação. Novas tecnologias. Música no mundo”
José Júlio Lopes (Lisboa, 1957) é compositor, investigador e professor. Licenciou-se em Ciências da Comunicação (1988) na Universidade Nova de Lisboa e obteve o grau de mestre em Ciências de Comunicação na mesma universidade em 1995, com uma dissertação sobre “Operamulti – a re-união contemporânea das artes”. Prepara a sua tese de doutoramento e é investigador do CESEM. Foi professos da Universidade Autónoma de Lisboa (1992-2003) e do Instituto Piaget - ISEIT. Os seus presentes tenas de pesquisa para doutoramento são: ópera após as tecnologias digitais (como “máquina discreta” machine”); os paradoxos da música contemporânea de “engenho criativo”; e a música (de novo) no centro da redefinição das artes. Foi confundador e é director da ORCHESTRUTOPICA. Como compositor, as suas obras têm sido tocadas em Portugal e no estrangeiro, e as suas obras incluem ópera (2), teatro-música (1), orquestra (1), ensemble (9), música de câmara (15), coro (2) e piano (12), além de música electroacústica e música para o teatro.
Resumo
A reflexão que proponho tem que ver com a tarefa do compositor contemporâneo (na relação dialéctica entre esse sujeito e o mundo) na situação actual - tanto quanto é possível pensá-la - do ponto de vista da constituição do arquivo global da música, do poder da memória, dos modos de recepção, da relação com as instituições (nomeadamente as que encomendam e programam, mas também as que determinam o canone), os mecanismos de mediação (a crítica e o discurso dos compositores), as transformações impostas pelas novas tecnologias e a prospectiva que as incertezas instaladas no campo da música relevam do estado do mundo (e da função da música no mundo).
Um dos ângulos de “ataque” é uma crítica ao facto de as categorias dominantes na prática e no pensamento estético musical continuarem a ser as herdadas do século XIX (o génio, a obra, o dom, etc), bem como alguns paradoxos instituidos (e conservados) pela vanguarda: (tal como enunciado por Baudelaire e outros) a busca do novo - ainda será novo buscar o novo? - e a ideia de que a "tarefa do génio é a criação de um estereotipo; o génio vanguardista é herdeiro do artista romântico (que possui um dom e é um mediador “divinizado”).
Mackensen, Karsten (Berlim) - “Teoria sociológica universal e criação teórica empírica numa sociologia da música histórica: capacidade de intervenção, racionalização e a realidade de um cosmos musical no limiar da idade moderna”
Karsten Mackensen atualmente é Colaborador Científico no projecto de investigação “Johann Mattheson como Mediador e Iniciador” na Universidade de Halle-Wittenberg (Alemanha). Após os estudos em Musicologia, Filosofia e Literatura Alemã em Gießen (MA 1994), obteve o Ph D na Universidade Humboldt, em Berlim, em 1999. Em Wolfenbüttel levou a cabo um projecto de investigação sobre “Escritos Musicais no Contexto da Aufklärung”. Seguidamente leccionou na Universidade Humboldt, no Departamento de Sociologia da Música e História Social da Música. As suas publicações incluem “Simplicidade. Génese e Mudança de uma Categoria Estética do Século XVIII” (2000), “Horizontes Sociais. Uma Antologia comentada sobre Sociologia da Música” (2006, com Christian Kaden), e artigos sobre a criação teórica e métodos em sociologia da música. Para além de considerações gerais sobre a teoria e métodos nas ciências sociais, interessa-se por estruturas do conhecimento, no dealbar da Idade Moderna, pela história das ideias (“História dos Conceitos”) musicais, bem como no campo da música no contexto no Iluminismo.
Martin, Peter J . (Manchester) - “O negócio da gravação fonográfica e a internet: Dumbo encontra-se com o inimigo lá dentro?”
Peter J Martin estudou nas universidades de Edimburgo e Manchester, e ensinou sociologia na Universidade de Manchester durante largos anos até 2007. Foi Director de de Sociologia em Manchester por três anos, e entre 2000 e 2003 Reitor dos Estudos de Graduação da antiga Faculdade de Ciências Sociais e Direito. Entre as suas publicações contam-se dois livros sobre sociologia da música – “A Música e o Olhar Sociológico” (2006) e “Sons e Sociedade” (1995), ambos publicados pela Manchester University Press. Atualmente é um músico e escritor freelance.
Resumo
Durante a década de 1950 o negócio da gravação tornou-se o centro da indústria de entretenimento no mundo ocidental. No entanto, desde a década de 1990 as empresas fonográficas foram desafiadas pelo desenvolvimento de novas tecnologias – especialmente a Internet – que podem fornecer música directamente aos consumidores, isto é, sem a mediação dessas empresas. Nesta comunicação, o aparecimento de novas tecnologias de distribuição de música é tratada como um caso clássico daquilo a que Marx chamou o conflito entre “forças produtivas materiais” e as “relações de produção existentes”. A emergência destas novas forças será examinada, tal como o serão bem as respostas das empresas fonográficas e os académicos que têm analisado a nova situação. Em conclusão, serão levantadas questões de largo alcance para a sociologia da música será abordada, em especial as implicações destes desenvolvimentos para a nossa compreensão do lugar da música nas culturas juvenis.
Martingo, Angelo (Braga) - “Contextos de modernidade: identidade e construção de sentido na recente prática composicional em Portugal”
Ângelo Martingo é Doutor em Ciências Musicais (Doctor of Philosophy in Music – PhD) pela Universidade de Sheffield (Inglaterra). Foram-lhe ainda atribuídos na área de interpretação musical os graus Diplome Supérieur D’Enseignement (École Normale de Musique de Paris) e Master of Music in performance (Reading, Inglaterra), sendo actualmente Professor Auxiliar Convidado da Universidade do Minho. A sua investigação e publicações têm particular incidência na área da sociologia e estética musical (com enfoque na teoria e música do século XX) bem como no âmbito dos estudos de performance, de que se destaca recentemente a co-edição de Interpretação Musical (Lisboa: Colibri, 2006).
Resumo
Partindo de uma análise da produção musical internacional da segunda metade do século XX, e documentando-se ainda num questionário a 10 compositores portugueses, ou radicados em Portugal, com incidência em recursos composicionais (linguagem musical, texto, espaço, electrónica, instrumentos, timbre), técnica e processo composicional, posicionamento face à tradição e relevância cultural da prática artística, procura esta reflexão aferir da pertinência dos conceitos modernidade/pós-modernidade na compreensão da actividade musical recente, situando de um ponto de vista crítico a composição portuguesa no contexto internacional dessa discussão cultural.
Milstein, Denise (New York) - “Repressão, re-orientação e ciclos de vida dos movimentos de música popular na América Latina”
Denise Milstein é professora de Sociologia e Civilização Contemporânea na Universidade de Columbia, onde obteve seu doutoramento em Setembro de 2007. Em sentido amplo, o seu trabalho visa desenvolver uma perspectiva relacional, historicamente fundamentada, sobre a interacção da cultura e da política. Actualmente, a sua investigação em arte mergulha nos universos artísticos da América Latina durante as décadas de 1960 e 1970, construindo uma compreensão comparativa da dinâmica edos ciclos de vida dos movimentos artísticos traçando a evolução das relações entre produtores culturais. Tem publicado sobre o desenvolvimento do imaginário urbano através da música popular – “Cantando la ciudad: lenguajes, imaginarios y mediaciones en la canción montevideana popular” (1962-1999)”, Montevideo, Nordan Comunidad 2003, com Ernesto Donas – e está actualmente a concluir um trabalho sobre movimentos musicais politicamente engajados e de contra-cultura sob os regimes autoritários do Brasil e do Uruguai.
Resumo
Uma abordagem sociológica à história dos movimentos musicais ilumina processos e respostas recorrentes a estímulos contextuais. A instabilidade tal como foi vivida no Uruguai e no Brasil na década de 1960, sob a forma de crise política e económica, produziu uma variedade de respostas, dependendo da própria compreensão dos músicos e dos seus papéis sociais como artistas. Os músicos populares na América Latina também se viram inseridos em contextos culturais inundadas de produtos norte-americanos, britânicos e europeus. Isto acrescentou uma camada de complexidade às suas trajectórias artísticas, re-moldando as suas abordagens no sentido da construção de uma identidade musical. Os músicos populares inovam em condições instáveis, onde o entrecruzamento de transformações nos domínios político, social e cultural produzem novos espaços para a exploração estética. O desenvolvimento da indústria da música e dos meios de comunicação de massas constitui uma terceira camada que estrutura as relações entre músicos e dá origem ao desenvolvimento de movimentos musicais. Nesta comunicação, identificarei os dois processos comuns mais recorrentes processos na música popular brasileira e do Uruguai durante a década de 1960. Em primeiro lugar, a busca de uma
forma de expressão autêntica, nacional ou regional, radicada em anteriores movimentos da música popular. Em segundo lugar, a transição para a imitação e incorporação as linguagens musicais populares do norte. Exploro ambos estes processos e os seus papéis interligados na determinação dos ciclos de vida dos movimentos musicais populares no Uruguai e no Brasil.
Muñoz-Hidalgo, Mariano (Talca - Chile) – “Psicossociologia da cultura popular: marginal versus subterrâneo na música popular”
Psicólogo, Universidad de Chile. Magister Artium em Comunicação Social, U. de Chile. Doutor em Pensamento e Cultura (Pensamiento y Cultura), Universidade de Santiago do Chile. Professor Director, Universidade de Talca, no Chile, Universidad de La Habana, Cuba; Doutorado em Economia e Globalização, Universidad de Lleida, Espanha. Livros publicados: 1) “El cuerpo en fuga: seducción y sentido en la comunicación de masas”, 1 ª y 2 ª Edición, Imagente, Viña del Mar, 1996. 2) “Tres Cuerpos de amor y una América reencantada: Neruda y el ser americano”, a Fundación Neruda-UDP, Santiago do Chile, 2000. 3) “Canción y cultura popular. Cuba y Chile”, Edit. USACH,Santiago de Chile, 2003. 4) “El bolero en Latinoamérica: estudo crítico”, Editorial Ayacucho, da Venezuela, 2008 (no prelo). 5) “Arqueología de la identidad latinoamericana”, Ed. Casa de las Américas, Cuba (no prelo). Prémios: - Prémio de Ensaio V Centenário, UNESCO e Governo de França (1993); - Finalista, Prémio de Ensaio de Musicologia, Casa de las Américas, La Habana, (1997); - Premio de Ensaio Fundación Neruda (2000). Resumo
A música popular, como expressão da cultura popular (e uma expressão muito representativa), é aqui considerada do ponto de vista da sua relação com a cultura oficial hegemónica tal como esta observada no médium da linguagem. Tal relação é vista como uma forma alternativa de discurso social, não hegemónico, e governada pelos seus próprios códigos, diferentes daqueles que são mantidos pela indústria cultural.
A construção da distância social, o desenvolvimento de uma atitude crítica e de conteúdos e discurso identitários são tomados em consideração, entre outros factores diferenciadores. Por último, dois fenómenos de construção social de distância são usados para comparação: a marginalidade de folclore (tradicional e conservador) e a performance underground ou subterrânea (inovadora e crítica). Da comparação entre marginalidade e o underground emergem algumas observações, tal como a necessidade cultural de enfatizar a criação e difusão de expressões culturais alternativas e de identidade como uma estratégia de resistência cultural à indústria cultural e à expansão global como um todo. O principal risco tido em conta é o perigo da uniformização cultural, e muito, apesar da aparente diversidade. Conclui-se que produções culturais populares alternativas são saudáveis manifestações do pensamento crítico, embora possam ser expressas através de meios convencionais. Por outras palavras, um fenómeno sociológico como música popular tem muito de atitude psicológica na sua reivindicação.
Neto, Diósnio Machado (S. Paulo) – “A viola e o véu: a modinha nos processos de redefinição da crítica social no Brasil setecentista”
Diósnio Machado Neto possui graduação em Bacharel em Música - Habilitação Instrumento - pela Pontificia Universidad Catolica de Chile (1992), mestrado e doutorado em Musicologia pela Universidade de São Paulo (2001; 2008). Ingressou no corpo docente do Departamento de Música da ECA/USP em 2002. Atualmente é professor no Campus de Ribeirão Preto e presidente da Comissão de Pesquisa do Departamento de Música da ECA/USP. Tem apresentado trabalhos em importantes congressos no Brasil e no exterior, destacando a organização do Encontro de Musicologia de Ribeirão Preto e participações em colóquios na Universidade Nova de Lisboa; na Fundação Calouste Gulbenkian, na Universidade de Coimbra e na Sociedade Chilena de Musicologia.
Resumo
Em meados do século XVIII, na transição entre o absolutismo joanino e o despotismo josefino, a visão de uma "humanidade impossível" da sociedade brasileira era inquestionável nos círculos administrativos. O fundamento dessa leitura sobre a colônia vinha em construção desde a Restauração e tinha como base a percepção da grande instabilidade social advinda por uma impossibilidade de estabelecer os paradigmas da sociedade estamental no modelo considerado “civilizado”. Durante todo o século XVIII, inúmeras políticas trataram de "corrigir" a situação partindo sempre da interpretação que a quebra do modelo social estava atrelado à suposta moral conspurcada da população. No consulado pombalino, a necessidade de um “pacto” com a elite da terra tornou o problema mais agudo e delicado. Entre muitas ações para transformar a sociedade colonial brasileira, podemos observar como um conceito de persuasão tornou-se preponderante: a dramatização do espaço público e privado pela valorização da arte profana. A música mediou, então, um trânsito entre as manifestações populares, de onde derivava a burguesia emergente, com os padrões conservadores da elite salvacionista, de forte sentido religioso. Assim, a nova classe teve que eliminar a sensualidade corporal típica de suas danças e cantos para que as vias de acesso aos círculos elevados da
sociedade colonial não maculassem as normas da moral cristã-aristocrática. O objetivo da comunicação é justamente observar as formas dessa mediação consubstanciada em pauta estética, observando a relação da modinha, gênero que melhor explicitou o fenômeno junto com a ópera, com aspectos ideológicos que inoculavam a organização social pela remodelação do espaço privado. Era uma estratégia para inocular uma nova sensibilidade através da valorização do ambiente doméstico, da mulher casta e virtuosa - revitalizando um surto mariológico – e do crescimento da própria crítica individual construído também no ambiente leigo e não só nas doutrinas religiosas. Enfim, alterando a sensibilidade e estrutura das relações pessoais, tratou-se de redimensionar os padrões dos espaços públicos. Assim surgiu uma poesia de erotismo retraído que reanimava alguns ideais da lírica quinhentista, em que o amor era mitigado pela distância corporal, velado e preso na intimidade do espírito onde o desejo era aplacado pelo juízo. Nessa senda, a modinha negou os gestos fortes dos ritmos afro-descendentes dissimulando a característica erótica pela languidez melódica, consubstanciada na incorporação dos modismos da ópera italiana. Em síntese, na alteração da sensibilidade social, o gênero foi fundamental para sedimentar novos espaços de sociabilização, além do espetáculo litúrgico.
Nicolau, Michel (Berlim / Campinas) – “A Percepção da Idéia de Diversidade na Indústria da Música”
Michel Nicolau é formado em Direito pela PUC-SP, estudou Letras na USP e é mestre em Sociologia pela Unicamp. Com Fernando Lara, publicou em 2008 o livro de poesia Concerto para Duas Vozes. Atuou durante alguns anos em instituições culturais, tendo sido gerente da BM&A, onde foi responsável pelo projeto de exportação de música. Atualmente é doutorando em Sociologia pela Unicamp, desenvolvendo pesquisa na área de ciências da música na Humboldt Universität, em Berlim, pelo programa de bolsas DAAD/CNPQ. Publicou diversos artigos na área de sociologia e cultura. Em julho de 2009 publica o livro Música Brasileira e Identidade Nacional na Mundialização, resultado de seu trabalho de mestrado.
Resumo
O mundo é percebido e discursado de maneiras diferentes de acordo com as épocas históricas. Importante para mim neste momento é o registro relacionado com as idéias de universal e particular, segundo as quais ou o mundo seria um “todo” uniforme ou uma colcha de retalhos, que não formaria um “todo”. Alguns teóricos marcam que até a Segunda Guerra Mundial, especialmente durante os esclarecidos séculos XVII e XIX, o mundo era percebido como um “todo”. Teorias e idéias que eram desenvolvidas naquele tempo tentavam “captar” o mundo em uma explicação única. Daí vêm as idéias de progresso (de acordo com Nisbet), de humanidade (segundo Foucault), de movimentos sociais e revolução (conforme Marx), etc. A diversidade não era solução, mas um problema, já que todos deveriam ser parte da humanidade, assim como toda sociedade deveria se desenvolver na mesma direção (obviamente, a européia.). E esses movimentos ocorreriam de qualquer maneira, já que suas acuracidades eram comprovadas (e se preciso, corrigidas) por uma nova e incessante lei: a Razão, baseadas na recém nascida ciência moderna; algo que podia ser aplicado a todas as sociedades. Na segunda metade do século XX teóricos perceberam que este Ideal universal chegou a seu fim. A humanidade teria se tornado uma idéia sem utilidade (para Foucault, por
exemplo), o progresso não poderia ser alcançado universalmente, porque no capitalism o bem-estar das sociedades leva à pobreza de outras (para os teóricos da dependência) e, como na famosa formulação de Lyotard, as grandes narrativas estariam mortas, pois não haveria mais Teoria capaz de reunir todos o mundo. Ao mesmo tempo, os teóricos póscoloniais começaram a acusar todas as antigas idéias universais de eurocêntricas, o que significa que o que era universal se referia apenas à Europa.
Neste novo cenário, bendição e maldição trocam de lugar. Ao invés de sua até então positividade, o discurso universal está condenado e a diversidade assume o aspecto positivo. Diferentes culturas devem ser preservadas e nenhuma cultura deve ter o direito de julgar outra ou impor a outra seus próprios aspectos. Como apontado por Renato Ortiz, a avaliação do Mito de Babel se inverteu. Se na Bíblia a diversidade das línguas foi uma punição de Deus, hoje não apenas a celebramos, mas nos esforçamos em estimular a existência de tantas línguas quanto possível.
Isso é também o que vemos na indústria da música. A world music, primeiramente, eentão muitas outras categorias, abriram as portas da música ao “resto do mundo”, o que significa, aos espaços não-ocidentais. Entretanto, aqui chego ao meu problema principal, o discurso da diversidade é assumido pela indústria, o que é – ainda mais após os novos modos de negócio da internet – profundamente global. Portanto, o particular foi trazido para o universal. Isso torna esta indústria um grande caso de estudo, já que permite que entendamos mais profundamente como os discursos universal e particular estão relacionados na percepção do mundo. Proponho que ao invés de falarmos da morte do discurso universal e da predominância do particular, o que devemos ver é a interação entre estes, e suas consequências culturais, já que o commando destes discursos é extremamente controlado.
Nunes, Pedro (Lisboa) – “O Jornalismo e a Crítica Pop-Rock em Portugal: entre o gatekeeping do gosto e o grilo falante da indústria”
Pedro Nunes (Lisboa, 6/10/1970). Licenciado em Sociologia pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa. Doutoramento pela Stirling Media Research Institute da Universidade de Stirling, United Kingdom, com uma tese sobre “Popular Music and the Public Sphere: the Case of Portuguese Music Journalism”. Investigador de Pós-Doutoramento no INET-MD (Instituto de Etnomusicologia, Música e Dança). Professor na Universidade Aberta, Lisboa. Principais interesses: música popular, critica e jornalismo culturais, indústrias culturais.
Resumo
Desde o surgimento em finais dos anos 60 do periódico Mundo da Canção, o jornalismo e crítica pop-rock tem conquistado um espaço na imprensa Portuguesa, seja na imprensa generalista, seja em títulos especializados. Um espaço limitado e pouco autónomo mas de importância reconhecida na formação do gosto e na criação e articulação de um discurso sobre a música dita popular. Nesta comunicação irei falar do jornalismo e crítica poprock em Portugal enquanto espaço cultural e profissional no contexto do jornalismo cultural e da indústria discográfica. Começarei por traçar uma breve contextualização histórica do espaço do jornalismo e crítica pop-rock em Portugal para depois partir para um questionamento em torno do seu estatuto em função da sua relação profissional ambivalente com as editoras e promotores de espectáculos, e com o jornalismo cultural e de espectáculos em geral. Utilizarei as noções de gatekeeping, esfera pública e capital (cultural e social) para ilustrar o papel do jornalismo pop-rock ao longo da sua curta mas significativa história, primeiro no contexto Anglo-Saxónico, depois no caso Português.
Um estudo de caso da cobertura de música Portuguesa será referido como exemplo das ambivalências no estatuto do jornalismo e crítica perante a indústria Olvera Gudiño, José
Juan (Monterrey, Mexico) – “O dia em que Kumbia Kings desceu à cidade. Negociações e confrontações na configuração das culturas musicais”
Juan José Olvera é sociólogo da cultura e professor universitário. Obteve na Universidade Autónoma de Nuevo León o seu Bacharelato em Sociologia e o grau de mestre em Metodologia das Ciências. Desde 1994, trabalha na Escola Comunicação da Universidade Regiomontana, em Monterrey, México. Olvera partilha o seu interesse em sociologia da cultura com a análise do discurso e da comunicação intercultural. Publicou “Colombianos de Monterrey, origen de un gusto musical y su papel en la construcción de una identidad social”, Monterrey, Conarte, 2005. Foi bolseiro MB, por CONACYT (2002-2004), e também obteve bolsas da Fundação Rockefeller e CONARTE. Actualmente está a trabalhar na sua tese de doutoramento: “Configuração de Culturas Musicais numa Cidade do Centro do México, no contexto de Férias e Festas”.
Resumo
El presente texto reconstruye un episodio musical dentro de una feria popular en el México central y analiza aquellas relaciones sociales y de poder que el entramado festivo-musical permite ver. Se utiliza para ello el concepto de frentes culturales (González, 1994) que nos remite a un específico momento y lugar en el que los cruces, enfrentamientos y negociaciones entre distintos estratos sociales pueden ser percibidos con mayor nitidez gracias a una coyuntura festiva, religiosa o de otro tipo. La metodología cualitativa utilizada es la del episodio, reconstruido a partir de narrativas individuales y otros textos, tales como fotografías, videos y grabaciones.
Los hallazgos apuntan a mostrar este evento como paradigmático en dos sentidos: se realiza una inflexión en la evolución histórica de esta particular feria popular; se destaca el papel de los medios y la migración en la configuración de los gustos musicales entre estratos sociales diferentes de un mismo municipio. Finalmente, en el texto se resalta que la localidad en estudio tiene un carácter de “frontera”, hablando semióticamente, para poder explicar el remolino de gustos musicales que se confrontan. Desde el punto de vista metodológico se comprueba la pertinencia del concepto frentes culturales para este tipo de celebraciones, tienen pues permiten elaborar un pequeño boceto de las relaciones sociales, vistas a través del lente de la sociología de la música.
Paddison, Max (Durham, RU) – “Aspectos Teóricos na Mediação Sociocultural da Música”
Max Paddison é professor de Estética Musical da Universidade de Durham. Tem publicado amplamente sobre filosofia e sociologia da música dos séculos XIX e XX décima nona e da música do século XX, da vanguarda e do rock, e sobre teorias da performance musical e da mediação. Bem conhecido pelo seu trabalho sobre a teoria crítica e Adorno, que escreveu dois livros nesta área: “A Estética Musical de Adorno” (Cambridge, 1993, 1997), e “Adorno, Modernismo e Cultura de Massas” (Londres, 1996, rev. ed. 2004) . É co-editor de um volume de ensaios com Irène Deliège, “Musique contemporaine: Perspectives théoriques et philosophiques” (Liège, 2001), que está prestes a aparecer numa versão expandida em inglês (Aldershot, 2009). Publicações recentes incluem um extenso ensaio sobre o conceito de mediação de Adorno, in: Becker & Vogel (eds.), “Musikalischer Sinn” (Frankfurt, 2007), e o trabalho sobre modernismo e globalização in: Despic & Milin (eds.), “Rethinking Musical Modernism” (Belgrado, 2008).
Abstract
Como parte de um projecto mais amplo sobre a mediação sociocultural da música, a presente comunicação centrar-se-á sobre o papel da mimesis na execução musical. Em primeiro lugar, considero a noção de mimesis num contexto filosófico e culturalantropológico mais amplo (juntamente com as ideias relacionadas de imitação, mímica, e representação), e discuto a função que ela sempre exerceu como um modo de mediação sociocultural. Em segundo lugar, analiso a posição ocupada pela mimesis na estética de Adorno e, especificamente, no âmbito do seu projecto inacabado “Acerca de uma Teoria da Interpretação Musical”. Tomando a arte musical ocidental como uma tradição baseada na relação entre intérprete e partitura, Adorno afirma que o papel da mimesis e do “impulso mimético” é fundamental para a música como uma arte performativa, mesmo quando nada externo à obra-como-partitura é aparentemente objeto de imitação. A fim de resolver a questão de saber o que é que é “imitado” neste contexto, eu também exploro os aspectos biológicos e antropológicos do conceito filosófico de mimesis de Adorno. Finalmente, defendo que, para o significado do conceito adorniano de mimesis na execução musical ser plenamente entendido, não o será simplesmente como mediação entre o executante e a partitura, ou mesmo como um mero caso em que poderia ser dito que a própria performance mediaria entre compositor e público, mas antes que a mimesis tem de ser entendida como um processo dinâmico (ou seja, como um impulso mimético), que é em si mesmo social e culturalmente mediado.
Pavia Calderón, Juan Manuel (Bogotá) – “Sociologia de la musica popular in Colombia”
Especialista em comunicação social, Universidad Externado de Colômbia. Investigação e Planeamento da Comunicação para o Desenvolvimento CIESPAL. Candidato a Professor em Sociologia, Universidad de Valle. Director do Grupo de Pesquisa em Comunicação e membro do corpo docente da Universidad Autónoma de Occidente. A sua investigação sociológica desde 2001 é centrada na música popular urbana. Resumo
El interés por las prácticas musicales, como espacios de interacción y representación social, se integra al interés por comprender e interpretar la construcción de diversas formaciones sociales, instituciones, “formas” de articulación de las estructuras de la sociedad caleña - en este caso - a sistemas de organización simbólica (política, económica, cultural) barrial y local, regional en Colombia.
El enfoque se inscribe en la perspectiva reciente del análisis de la cultura, que sostiene que la música como práctica social, saber y capital social, es fundamental para comprender la organización de la vida humana y en particular, por la ubicación históricotemporal que se le asigna a la música en los sucesos y acontecimientos de la vida humana. Se argumenta, la pertinencia del estudio de la música como sistema de representación y acción social (como lenguaje), como factor determinante de la construcción de identidades individuales y colectivas y por la importancia de la música en la comprensión de los procesos culturales en los que participan las grandes mayorías urbanas y particularmente, los efectos de estos procesos históricos de desarrollo del capitalismo en los individuos y grupos sociales que definen su lugar social, con base en las formas de vida que sugieren los usos de la música y las prácticas musicales populares.
La perspectiva sociológica del presente trabajo, sostiene que el análisis de los objetos del arte y la producción cultural de las sociedades actuales debe concebir al ser humano ante todo como un actor en el doble sentido de la expresión: un ser que hace (actos ejecutivos) y un ser que actúa (se expresa con su acción) dotándola de sentido y proporcionándole valor significante para relacionarse e interactuar con otros seres y el mundo.
La acción social adquiere en la práctica social un sentido productivo-funcional y simbólico que le permite a los sujetos sociales construirse transformando el medio ambiente. De esta manera, se puede afirmar que la música popular en tanto campo de mediación simbólica individual, intra subjetivo, grupal e inter subjetivo es un espacio de socialización de apropiación de capitales simbólicos; un campo de flujos perceptuales cognitivo-emotivos, expresivos, informativos, de significación, de interpretación e interpelación, de recreación de discursos y juegos rituales. En síntesis: un sistema de interacción entre redes de acción social.
Pinho Vargas, António ( Coimbra ) - “A música europeia após 1945 como um espaço restrito de enunciação”
António Pinho Vargas (1951) Compositor, músico, ensaísta. Licenciado em História, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Actualmente bolseiro da Fundação para a Ciência e Tecnologia, research fellow do Departamento de Música da Universidade de Durham e investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, onde prepara um doutoramento em Sociologia da Cultura. Publicou os livros Sobre Música: ensaios, textos e entrevistas (Porto, Afrontamento, 2002) e Cinco Conferências sobre a História da Música do Século XX (Lisboa, Culturgest, 2008) Gravou 8 discos de jazz como pianista/compositor e 4 discos monográficos. Compôs 4 óperas, 1 oratória, 9 peças para orquestra, 7 obras para ensemble, 16 obras de câmara, 7 obras para solistas. Podem destacar-se as óperas Édipo, Tragédia de Saber (1996), Os Dias Levantados (1998) e Outro Fim (2008) os quartetos de cordas Monodia, quasi un Requiem (1993) e Movimentos do subsolo (2008), as obras para orquestra Acting Out (1998, Graffiti [just forms] (2006), Six Portraits of Pain, para violoncelo solo e ensemble (2005) e Um Discurso de Thomas Bernhard, para narrador e orquestra (2007).
Resumo
Esta comunição propõe uma análise do facto de existir um lugar, um determinado espaço geográfico bem delimitado onde a música contemporânea composta desde 1945 até hoje existe, um espaço onde é produzida, divulgada e disseminada para outros lugares e paises da Europa e do mundo. O conjunto de agentes e instituições activo nesse campo particular da criação musical constituiu-se como um dispositivo de poder capaz de declarar inclusões e exclusões de uma forma muito próxima do conceito de poder teorizado por Michel Foucault, especialmente no que se refere ao facto de não ter sujeito: não há um responsável individual pelo exercício desse poder. Há um conjunto vasto de agentes, de instituições e sistemas de ensino importantes para a concretização das acções de poder mas igualmente um tipo de funcionamento interiorizado assente em discursos que moldam, produzem e reproduzem a realidade que descrevem.
Rocha, Luzia / Sousa, Luís (Lisboa) – “Viagens e mudanças de uma obra de arte: usos e apropriações da pintura de Malhôa ‘O Fado’ ”
Luzia Rocha e Luís Sousa são investigadores do CESEM (Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical) especializados na área da iconografia musical. Tâm apresentado os resultados sa sua investigação em diversos colóquios internacionais e em publicações científicas especializadas. São estudantes de doutoramento na Universidade Nova de Lisboa. As suas dissertações, incidindo em iconografia musical, têm por objecto, respectivamente fontes medievais (Luís de Sousa) e a cerâmica portuguesa do século XVIII (Luzia Rocha).
Resumo
Quando José Malhoa (1855-1933) pintou ‘O Fado’ estava a criar uma obra de arte com o seu tema favorito: costumes portugueses. Estava longe de imaginar que esta pintura se tornaria um símbolo nacional, imediatamente apropriado pelo novo regime politico – A República. Nos séculos XX e XXI a pintura de Malhoa tem sido retrabalhada de várias maneiras. A intenção dos autores desta comunicação é observar a recepção da obra através das suas diversas mutações.
Russo Moreira, Pedro (Lisboa) - “A Rádio e a Música para Trabalhadores: Política de Transmissão da Emissora Nacional nos Anos 40”
Pedro Russo Moreira é licenciado em Ciências Musicais pela Universidade Nova de Lisboa/ Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. É doutorando em Ciências Musicais e investigador no INET- MD. O seu trabalho centra-se sobretudo em torno de questões relacionadas com a radiodifusão e indústrias da música, política dos media e políticas culturais e processos de categorização das práticas musicais. Actualmente é docente de várias disciplinas no Instituto Piaget-ISEIT, Almada.
Resumo
A relação entre programas radiofónicos, música e público tem sido alvo de análise nas ciências sociais. No âmbito dos estudos acerca da rádio no contexto de regimes autoritários, as relações entre práticas musicais, politicas de radiodifusão, programas para trabalhadores e políticas culturais do estado não têm sido objecto de um estudo aprofundado. O debate em torno da “Alegria no Trabalho” e do lazer dos trabalhadores foi alvo de discussão durante a primeira metade do séc. XX, com a realização de diversos congressos internacionais que tiveram reflexo nas propostas nacionais adaptadas aos contextos dos diversos regimes políticos.
No âmbito dos regimes autoritários, foram criadas instituições com competências específicas para estruturar, de acordo com orientações ideológicas e de políticas culturais, a acção necessária para desenvolver ocupações consideradas “educativas” para os trabalhadores.
Com emergência da radiodifusão e a sua visibilidade durante os anos 30 e 40, vários países debateram acerca da utilização dos programas radiofónicos e da sua função para estes públicos. A construção de programas radiofónicos, em várias realidades nacionais, procurou sublinhar o carácter "cultural" ou de "entretenimento" procurando contrariar a luta de classes, e, em alguns casos, incentivando o aumento de produção nos contextos fabris, através de aparelhos radiofónicos ali colocados para o efeito. No caso dos programas para trabalhadores, os campos discursivos construídos pelas politicas radiofónicas interpretavam este médium como uma possibilidade de educar, entreter e afastar os trabalhadores do que consideravam hábitos sociais perigosos. Neste Paper, tomando o caso português como exemplo, abordarei a parceria estratégica entre a Emissora Nacional de Radiodifusão e a Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho enquadrada na política específica para este público, criando nos anos 40 os Serões para Trabalhadores. O enfoque será, portanto, um entendimento do modo como estas experiências culturais, enquanto modelos social e culturalmente “idealizados” foram
implementados e reproduzidos no seu contexto politico e institucional.
Este evento resultante da colaboração entre a ENR e FNAT, configurou-se como um campo discursivo rico na definição de questões ideológicas que articularam a vários níveis os objectivos de ambas as instituições. O evento foi idealizado e consolidado através de um modelo onde a rádio construiu, através de uma relação institucional fortemente marcada pelas políticas do Estado Novo, “experiências culturais” específicas para operários.
Por outro lado, uma análise detalhada ao evento questionará qual o papel das práticas, categorias e géneros musicais que enformaram a divisão entre “cultural” e “entretenimento”, reflectindo um campo discursivo ideologicamente construído.
Sánchez, Iñigo (Barcelona) – “Del salón a la cocina: haciendo etnomusicología en casa”
Iñigo Sánchez se doctoró recientemente en el Departamento de Antropología de la Universidad de Barcelona (España) con una tesis sobre las prácticas musicales de la diáspora cubana de Barcelona. Estudió Musicología en la Universidad de Salamanca, completando su formación con estancias en la Royal Holloway (Universidad de Londres) y la Universidad de Texas (Austin). Actualmente es investigador principal del proyecto de investigación “Acústicas del crecimiento urbano: La expresión sonora de las transformaciones urbanas en Barcelona”, financiado por el Departamento de Cultura de la Generalitat de Catalunya. Asimismo forma parte de la junta directiva de la SIBESociedad de Etnomusicología y del Consejo Editorial de TRANS-Revistra Transcultural de Música. Entre sus ámbitos de investigación cabe mencionar las prácticas musicales de las comunidades diaspóricas, la etnomusicología urbana y la antropología sonora.
Abstract
Esta presentación toma como punto de partida mi propia experiencia de trabajo de campo etnográfico para reflexionar sobre las implicaciones de hacer investigación etnomusicológica "en casa". Mi contribución al seminario abordará cuestiones relativas a la distancia entre el investigador y los sujetos investigados, el investigador como "observador vulnerable", o acerca de cómo producimos conocimiento desde la experiencia, incorporando los sentidos y los afectos en la práctica etnográfica. Discutiré éstas y otras cuestiones a la luz de materiales procedentes de mi investigación sobre las prácticas musicas de la diáspora cubana en Barcelona.
Sandroni, Carlos (Brasil) – “Mudanças recentes na música tradicional do Nordeste brasileiro: o caso de Pernambuco”
Carlos Sandroni nasceu no Rio de Janeiro em 1958. Estudou Ciências Sociais na sua cidade natal e musicologia e etnomusicologia em Paris. Desde 2000, ensina etnomusicologia na Universidade Federal de Pernambuco (Recife, nordeste do Brasil). Foi “Tinker Visiting Professor” na Universidade do Texas em Austin (2007) e Investigador Associado do Centre de Recherches en Ethnomusicologie, Paris (2008). Escreveu “Mário Contra Macunaíma - cultura e política em Mário de Andrade” (São Paulo, 1988), “Feitiço Decente - transformações do samba no Rio de Janeiro” (Rio de Janeiro, 2001), e (com Márcia Sant’Anna) “Samba de Roda no Recôncavo Baiano (Brasília, 2007). Alguns de seus artigos sobre música popular brasileira têm sido traduzido em Inglês, Francês e Espanhol.
Resumo
A cidade do Recife, capital do estado de Pernambuco, no Nordeste do Brasil, foi na década de 1990 o local de nascimento de um movimento musical conhecido como manguebeat. Os músicos e bandas relacionados com este movimento são muito variados, mas compartilham a busca comum de misturar géneros como rock, punk e hip-hop e expressões locais como maracatu e coco. Nesta comunicação, o meu objectivo é discutir as escolhas feitas por alguns músicos mangue para criar música nova a partir de tais influências locais e globais, e como essas escolhas se relacionam (ainda?) com os pontos de vista prevalecentes sobre uma “música popular brasileira” . Os dois casos escolhidos são: Chico Science, o principal líder do manguebeat até a sua trágica morte em 1997, e sua banda “Chico Science e Nação Zumbi”, e Sérgio “Siba” Velloso, o líder da banda “Mestre Ambrósio” (1995 -2001) e “Fuloresta do Samba” (a partir de 2002).
Silva, Manuel Deniz (Lisboa) - “O som e a música de filme como objectos sociológicos”
Manuel Deniz Silva é investigador do Instituto de Etnomusicologia - Centro de Estudos de Música e Dança (INET-MD), da Universidade Nova de Lisboa. Obteve o seu doutoramento em musicologia em 2005, na Universidade de Paris 8, com a tese «La musique a besoin d’une dictature»: musique et politique dans les premières années de l’État Nouveau Portugais (1926-1945). Actualmente desenvolve um projecto de investigação sobre a música no cinema português, da introdução do sonoro até ao final do Estado Novo (1931-1974).
Resumo
Desde o inovador Composing for films (1947), de Hanns Eisler e Theodor Adorno, que os estudos sobre música e som no cinema se revelaram como um dos campos mais prometedores da sociologia da música. Recentemente, e em paralelo com a análise das implicações formais da justaposição da música com as imagens em movimento, tem surgido um novo interesse pela forma como os filmes de ficção e os documentários descrevem as práticas musicais, mostrando a sua importância na definição das concepções de performance musical e dos hábitos de escuta, nomeadamente no contexto da música popular.
Nesta comunicação procuraremos defender a ideia de que música e o som no cinema são objectos particularmente pertinentes para a compreensão dos contextos de produção e recepção da música. Constituem mesmo um ponto de observação privilegiado para acompanhar a evolução das regras que definem, em cada momento, quem faz música, onde e como. A questão será abordada a partir dos primeiros resultados de uma investigação em curso sobre o cinema português dos anos 30.
Stascheit, Andreas (Dortmund) – “A Música na História do Pensamento Social”
Andreas Georg Stascheit graduado em Sociologia (MA), em Estudos Educacionais (major) e Psicologia (MA), Universidade de Bielefeld; em Performance de Violino (major) e Pedagogia de Violino (M. Mus.), Universidade de Música de Detmold, divisão de Münster. Obtido o Doutoramento em Sociologia na Universidade de Bielefeld (1989) foi postdoc no Grupo de Investigação de Sociologia da Cultura, da Universidade de Bielefeld, e investigador da Escola de Graduação DFG “Fenomenologia e Hermenêutica” na Universidade do Ruhr, Bochum, Departamento de Filosofia. Actualmente, é professor de Estudos dos Media, Estética e Comunicação em Dortmund, Universidade de Ciências Aplicadas e Artes Emil Berliner, e presidente do Instituto. Ensina no curso de graduação do Instituto de Música e Musicologia, da Universidade Técnica de Dortmund, e no curso de graduação da Faculdade de Estudos Sociais
Aplicados, na Universidade de Ciências Aplicadas e Artes, Dortmund. Em 1996, recebeu o Prémio de Distinção no Ensino. Os seus interesses de investigação incluem estética, metodologia das ciências humanas, história do pensamento social.
Resumo
Em 1956 Alfred Schutz foi convidado a apresentar “Mozart e os filósofos”, no bem conhecido Conservatório Peabody, Baltimore. Durante o período de preparação para esta palestra, um jornal de Baltimore publicou um pequeno artigo que contém talvez o mais conciso resumo da autodefinição de intenções de Alfred Schutz: “As suas principais áreas de actividade filosófica são interpretações do mundo social através da linguagem e das artes , especialmente música.”
A reconstrução da via de Alfred Schutz para a sociologia através da música pressupõe duas direcções analíticas: a exploração das correlações entre a próprio prática musical de Schutz e as suas posições teóricas, complementadas pela detecção das influências que a controvérsia entre Nietzsche e Wagner e o debate entre Bergson e Einstein deixaram no pensamento de Schutz. Assim, a análise revela fontes e origens daquilo que pode ser chamado de ‘Cantus firmus’ presente em toda a obra de Alfred Schutz: o nexo de tempo, acção e a pluralidade da racionalidade. O ensaio de Schutz sobre Mozart, dedicado à amálgama de música e drama, centra-se num problema hermenêutico bastante difícil: Dada a evidente falta (ou melhor inibição) de um nível semântico na música, a reflexão sobre a experiência musical é sinónimo de reflexão sobre as dimensões da experiência pré-predicativas. Embora represente uma forma expressiva não-predicativa, a música é, no entanto – como Schutz afirma concisamente – um “contexto de significação”, colocando assim o problema de uma hermenêutica da música, que em diferentes variantes preocupa músicos, compositores, críticos e ouvintes, e, ainda mais radicalmente, o problema de uma hermenêutica da esfera pré-predicativa. “Mozart e os Filósofos” destina-se a dar voz à profundidade deste complexo cenário e retoma tópicos que Schutz tinha abordado desde o início dos seus escritos: a atitude crítica de Bergson perante a linguagem, o questionamento de Nietzsche quanto ao primado da palavra e a controvérsia entre Wagner e Nietzsche podem ser acompanhados ao longo de toda a discussão. Assim, o ensaio sobre Mozart desvela a sua importância, não como um ensaio em musicologia ou filosofia da música, mas sim como um estudo em “interpretações filosóficas do mundo social” através da música.
Vieira de Carvalho, Mário (Lisboa) - “ ‘Esperança para a verdade’: Uma indagação das concepções de Arte e Teoria Social em Adorno”
Mário Vieira de Carvalho. Professor de Sociologia da Música na Universidade Nova de Lisboa (Departamento de Ciências Musicais), fundador e presidente do CESEM. Membro do RC 51 (Sociocibernética) da Associação Internacional de Sociologia (ISA), da Direcção da Europäische Musiktheater-Akademie (desde 2002), e da Academia das Ciências de Lisboa (desde 2008). Leccionou como professor convidado nas universidades de Humboldt de Berlim (2000), Innsbruck (2001), São Paulo (2002), Minho (2004). Entre 1997 e 2004 exerceu funções académicas (Presidente do Conselho Científico da FCSH, Vice-Reitor da Universidade), entre 2005 e 2008 funções políticas como Secretário de Estado da Cultura do XVII Governo Constitucional (Socialista). As suas principais publicações incluem vários livros, entre outros, “Expression. Truth, Authenticity: On Adorno’s Theory of Music and Musical Performance” (ed.) (2009), “A Tragédia da Escuta - Luigi Nono e a Música do Século XX” (2007), Lopes-Graça (2006), A Ópera como Teatro (2005), Schumman e Eichendorff (co-autor com Fernando Gil,
2005), Eça de Queirós e Offenbach (1999), “Razão e Sentimento na Comunicação Musical” (1999). Na série de “Musiksoziologie” publicada pela Bärenreiter apareceu a sua “Sozialgeschichte des Opernhauses Lissabon” (1999), e, mais recentemente, um capítulo no livro “Soziale Horizonte von Musik – Ein kommentiertes Lesebuch zur Musiksoziologie” (eds. Christian Kaden / Karsten Mackensen) (2006). Resumo
A constelação em que surge a unidade de pensamento de Adorno – a crítica da ciência como ideologia, a superação da distinção entre filosofia e sociologia, o conceito de arte como princípio e fim da filosofia, conhecimento (Erkenntnis) como constituinte de ambas (arte e filosofia) – pressupõe uma estreita relação entre a sua teoria da arte e a sua teoria social. Por outras palavras, da teria estética de Adorno – e especialmente dos seus escritos sobre música– emerge um conceito de arte que coincide essencialmente com o seu conceito de teoria social. O propósito desta comunicação é discutir esta relação especular entre arte e teoria social, baseada, nomeadamente, em postulados tais como a interacção entre objecto e método a superação do método dedutivo e do conhecimento descritivo, a dialéctica sujeito-objecto, a prefiguração do não-idêntico a partir de uma tendência, a resistência do singular ou individual aos sistemas totalizantes e a crítica da ideologia como crítica da linguagem.
Tais postulados, entre outros que serão também examinados, são inerentes aos conceitos adornianos de arte e de teoria social, os quais têm ambos em comum – como poderia ser inferido do pensamento de Adorno – a “esperança para a verdade” (‘Hoffnung auf die Wahrheit’).
Ziemer, Hansjakob (Berlim) - “Escutar as Diferenças: O Debate Stravinsky- Shoenberg nos anos 20 na perspectiva de uma Antropologia Histórica da Música”
Hansjakob Ziemer estudou história cultural e sociologia em Berlim, Oxford e Stanford. Obteve o Dr. phil. em História Moderna na Universidade Humboldt de Berlim, em 2007, tendo sido distinguido com o Bethmann-Studienpreis. O seu livro, publicado recentemente, “A Escuta Moderna. O Concerto como Fórum urbano, 1890-1940 (Campus Verlag 2008), estuda a história cultural da actividade de concertos e a sua relação com o surto da modernidade em Frankfurt am Main. Actualmente, é bolseiro de investigação no Instituto Max-Planck para a História da Ciência em Berlim. Resumo
A famosa diferenciação de Adorno entre Stravinsky, como reaccionário musical, e Schoenberg, como progressista musical, foi das mais influentes (e bem sucedidas) categorizações musicais do século 20. Embora os musicólogos tenham começado a rever esta imagem, as origens sociais de tal dicotomia têm sido largamente negligenciadas. Porque é que a dicotomia de Adorno emerge nos anos 20, e por se situou geograficamente em Frankfurt am Main? Ao procurar as raízes da distinção de Adorno no contexto político e cultural da sua cidade natal, Frankfurt, mostro como a música de Stravinsky e Schoenberg oferecia tropos culturais através dos quais os contemporâneos podiam ordenar e gerir mais amplos dilemas sociais relativos à cidadania e à identidade cultural. A análise da auto-apresentação dos compositores, das suas conexões institucionais com a vida dos concertos, e das experiências audição dos seus frequentadores lança luz sobre a forma como ideais sociais e políticos eram projectados no mundo musical, e como a música estava intimamente ligada à paisagem urbana na década de 1920