"Já lá vai o tempo em que a esquerda pensava estar a bordo do comboio da História, e que a questão era saber qual a melhor direcção que ele deveria tomar", disse o filósofo esloveno Slavoj Zizek. "Hoje sabemos que o comboio está a ir a caminho da catástrofe, e a nossa única opção é detê-lo", defendeu, acrescentando que o que o mundo precisa é de uma revolução cultural, não no sentido maoísta da expressão, mas no de uma mudança cultural radical. Slavoj Zizek foi o principal orador do primeiro dia do "1001 Culturas", organizado pelo Grupo da Esquerda Unitária do Parlamento Europeu na Fábrica de Braço de Prata, em Lisboa
Para Zizek, há 30 anos debatia-se qual seria a forma social do futuro, se capitalista, se socialista, e que tipo de socialismo, mas aceitava-se que a vida do planeta iria continuar. Hoje debatem-se as catástrofes que ameaçam o mundo num futuro não muito distante, mas já ninguém fala do fim radical do capitalismo. Num estilo acutilante e provocador, Zizek disse que enquanto a esquerda dos países desenvolvidos parece erigir como tópico principal a cultura e não o capitalismo, este desenvolve-se cada vez mais na direcção do capitalismo cultural.
"O capitalismo cultural não é só o facto de se assistir ao fenómeno de 'marketização' da cultura", defendeu, apontando que há o outro lado do mesmo fenómeno: "a culturalização dos próprios bens de consumo, não só no sentido de produtos culturais, como o cinema e a cultura popular, mas num sentido mais lato, de coisas que associamos à cultura, como o sentido da vida, a filosofia... tudo isto está a tornar-se uma mercadoria para vender".
Para ele, "mesmo os próprios bens de consumo são cada vez mais vendidos não apenas como bens de consumo ou símbolos de 'status' mas como coisas para nos fazerem sentir bem culturalmente".
Um exemplo é a rede de cafés da cadeia norte-americana Starbucks, que anuncia que os seus copos de café são recicláveis, revelando preocupações ambientais, e promove campanhas segundo as quais 5% do valor pago pelo café será canalizado para educar os pobres da Guatemala".
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