16.6.08

ABBADON monólogo para uma actriz - teatro/perfomance na Casa-Viva (de 18 a 28 de Junho às 22h30)


ABBADON monólogo para uma actriz

teatro performance

uma criação NuIsIs ZoBoP

de 18 a 28 junho, de 4ª a sábado, 22h30
(excepto sábado, 21)


entrada sujeita a marcação, através do nº 96 5843240
(diariamente, até às 19h00)

Local:
CasaViva
praça marquês de pombal 167 porto





"ABBADON", um monólogo para uma actriz, é um trabalho construído no liminar da recusa pelas convenções usuais no espaço teatral e performativo, caracterizando-se por uma total imersão
do espectador no universo sensorial e emocional proposto no espectáculo, por uma intensidade psicofísica da actriz que exige do público uma disponibilidade não usual para o desafio, e por uma extrema generosidade e intimidade em termos performativos, apelando a expressões de metamorfose e de magia. A plasticidade do espaço é determinada pelo sonho consciente e lúcido que marcou todo o processo de trabalho e construção do espectáculo.


Ficha Técnica:
Criação e Direcção : Hugo Calhim Cristovão
Criação e Interpretação: Paula Cepeda Rodrigues
Texto original de: Hugo Calhim Cristovão
Assistência e Colaboração: Joana von Mayer Trindade
Uma criação NuIsIs ZoBoP

CasaViva
praça marquês de pombal 167 porto
(bate o batente)

www.nuisiszobop.blogspot.com

www.myspace.com/issnuisiszobop

www.casa-viva.blogspot.com

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Sobre "ABBADON", critica por Nuno Meireles

Estamos em guerra. A verdade é que estamos em guerra.
Estamos em guerra com o simples facto de serem não os vencedores mas sim os burgueses que escrevem a história do nosso tempo. Ou antes, que se inscrevem na história, como se fosse por pacotes ou acções ou comparticipações. Estamos em guerra com a burguesia. Estamos em guerra com a falta de mérito, estamos em guerra com a falácia, com o embuste, com a ignorância encapotada de cultura. Estamos em guerra com o grande choque entre o que se diz e o que se faz; estamos em guerra com quem tem dinheiro, e estamos em guerra com quem se lamuria de não o ter; estamos em guerra com todo o baby boom de criadores auto-fecundados em geração espontânea, para quem a arte começou agora e com eles; estamos em guerra com o meu estilo, os este vai ser um projecto transversal, os pluris isto e pluris aquilo; estamos em guerra com carradas de gente que até mete impressão.
Estamos em guerra e isto não é brincadeira. Estamos em guerra e, como estamos em guerra, a única coisa que podemos fazer é servir-nos ou de uma grande raiva ou de um grande amor. Ou de um ou de outro. Às vezes dos dois. Muito raramente dos dois.
Estamos em guerra e Abbadon é uma peça que está num dos lados das trincheiras. Está no lado em que ninguém quer estar. Não está nas folhas de serviço ou de pagamento de lado nenhum, não está senão na trincheira onde mora a tenacidade. Está com a guerrilha. Isto se Abbadon não for, afinal, a própria guerrilha. Algures, escondidos dos olhares das gentes, sem desistir nunca.
Conta-se que os guerrilheiros vietnamitas, nos ataques a alvos americanos, para passar por arame farpado não usavam camisa pois isso os prenderia, atrasaria. Preferiam ferir a carne. Abbadon está neste plano. Prefere ferir a própria carne para chegar aonde quer.
Esta peça, por ser tudo o que não se vê hoje em dia, é tudo o que faz a diferença, é uma ponta de lança no terreno pantanoso de ignorância - e às vezes ignomínia - em que estamos. Não há esperança nenhuma que isto melhore, pelo contrário. Mas pode haver fé. E Abbadon é um renovar da fé no teatro. Um sólido, forte, rigoroso manifesto de fé, de raiva, de humor, de técnica, de sobrevivência.
Abbadon é uma peça feita por uma actriz só. Mas Abbadon não é apenas uma peça feita por uma actriz só, é outra coisa. Porque tem construção em cada momento; porque tem, ao contrário de desleixo, rigor físico; ao contrário de auto complacência, determinação; ao contrário de vamos experimentar uma ideia que tou a ter, exercício pleno das possibilidades do corpo, da voz, da emoção e da imaginação de uma actriz.
Não é uma peça fácil mas há alguma outra peça que seja tão exigente para com o público por o ser consigo mesma?
Enfim, uma peça a sério. Uma peça em que a iconoclastia e a escatologia ombreiam com a auto exigência; em que o esforço não compactua com o masoquismo; em que há justeza de proporções em todos os momentos, tão cruamente apresentados, próximos, chocantes, mas nunca gratuitos. Porque Abbadon vende-se muito caro.
Enfim uma peça em que o humor e o sarcasmo estão lado a lado de uma construção, de uma verdadeira resposta ao mundo. Finalmente uma franqueza de emoções, ao lado de um enorme mosaico de recordações, invocações e situações fragmentadas de que o texto fala. Enfim uma peça que não fala senão numa torrente de palavras, que é o tema e ao mesmo tempo parte do discurso contínuo que vai acontecendo. Discurso de corpo, discurso de voz, discurso do texto, discurso da emoção, tudo às vezes junto e às vezes separado, paralelo, como numa polifonia, como numa auto-estrada com as suas várias vias, tudo a andar muito depressa, muito forte, muito urgente, muito a saber precisamente para onde vai. Por baixo por cima e por todos os lados de qualquer arame farpado, dentro e fora da actriz.