Pelas últimas notícias que nos chegam a realização hoje do despejo de uma colectividade centenária da cidade de Lisboa, mais propriamente o Grémio Lisbonense, só foi possível com o recurso à violência bruta da PSP sobre os sócios e amigos do Grémio que rapidamente se solidarizaram com aquela agremiação que se tornou num importante centro de animação socio-cultural.
As bastonadas da força policial não pouparam um fotógrado da agência Lusa que ali se encontrava no exercício das suas funções.
Numa época em que tanto se fala de mediação e de mediadores, em que já existe legislação a promover a mediação extra-judicial, parece que no caso pendente a força bruta prevaleceu sobre o bom senso e os interesses públicos da cidade...
Solidariedade para com os agredidos
Relato dos acontecimentos retirado daqui:
De cabeça ainda a latejar de duas bastonadas da polícia, escrevo ainda sem acreditar muito na futilidade do que vi. Por volta das 18:00 reuni-me com mais alguns habituais do Grémio Lisbonense em frente ao prédio. Queríamos mostrar a nossa indignação pelo despejo da sociedade. Eramos 80 a 100 pessoas, que viam desde a cadeira do barbeiro até às paletes de garrafas de água a serem carregadas para fora do prédio. A informação que circulava era de que negociações ainda seriam feitas até quarta-feira, e “aí veremos”. Após uma curta reunião nas escadas do prédio (e devo dizer, a mais eficaz reunião em que alguma vez estive) todos concordaram em subir as escadas para o Grémio, para ocupar as instalações em forma de protesto. No topo das escadas, fomos recebidos por cinco polícias e respectivos bastões.
Aparentemente, a defesa da ordem pública e a salvaguarda do bem estar dos cidadãos é algo que deve ser dado para o final do curso, e ao qual a maior parte dos graduandos de polícia faltam. As bastonadas deram origem a protestos, e o que até ao momento tinha sido uma acção ordeira tornou-se numa altercação com os agentes (nota: mas sempre pacífico, o único acto mais físico que presenciei, por parte dos manifestantes, foi uma rapariga que abraçou literalmente o braço de um polícia para evitar nova bastonada). Palavras de ordem, frase para aqui, frase para ali, tudo sem confronto físico. Até chegar nova remessa de agentes (cerca de 10, chegariam mais tarde a 20). Subiram a escada (com a permissividade dos manifestantes, que não os impediram), reuniram número no topo, e desataram à bastonada, como se pode observar no vídeo da TVNET. Uma acção nojenta. Muitas pessoas no fundo das escadas foram colhidas pelas pessoas que fugiam das bastonadas de cima. As agressões policiais foram absolutamente gratuitas, sem em algum momento se colocar em causa a integridade física dos agentes (como se pode ver pelas imagens, os manifestantes apelam à calma, recebem bastonadas em troca). Os agentes não deram qualquer pré-aviso. Para além disso, nem sequer foi tentado retirar-nos das escadas sem recurso a este tipo de força. A táctica policial não levou em qualquer conta a segurança dos manifestantes ou a índole do protesto.
Foi-nos recusada a identificação da maior parte dos agentes agressores (já os que de início se encontravam à porta). Violência gratuita e irresponsável sem nome. Fui agredido numa altura em que dei espaço para alguns colegas sairem pela porta, empurrado por agentes. Alguns dos manifestantes encontravam-se encurralados de braços sobre as cabeças, com bastonadas a choverem. Nenhum dos agentes parecia preocupado em retirá-los do local, a preocupação parecia ser enfardar o mais possível antes que eles saíssem. De braços esticados para libertar espaço, não pude proteger a cabeça de dois agentes que por trás dos colegas distribuiam um pouco de lei e ordem no átrio.
Vou dormir, espero que a pessoa detida esteja de boa saúde. Se não estiver, sei a quem agradecer,...
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Outro relato retirado daqui :
O alarme soou a meio da tarde de sexta-feira (dia 8): «Estão a despejar o Grémio!».
Uma multidão de amigos do Grémio começou a concentrar-se junto à entrada. Pelas 19 horas seríamos pelo menos uma centena de pessoas que olhavam impotentes para os trabalhadores de uma companhia de mudanças que iam retirando os bens do Grémio para uma Carrinha.
Nos últimos meses, o Grémio Lisbonense, associação com mais de 150 anos, situada em pleno Rossio, tornou-se um espaço querido para tod@s @s que o passaram a frequentar. Muit@s se fizeram sóci@s e outr@s mais amig@s do Grémio, que se transformou num centro de dinamismo cultural e num ponto de encontro nesta cidade abandonada aos caprichos da especulação capitalista.
Há já alguns meses que a ameaça de despejo pendia sobre esta associação. Algumas obras realizadas sem a autorização do proprietário foram o pretexto para uma acção de despejo. O espaço amplo com varandas e janelas sobre o Rossio é cobiçado pelo senhorio para a instalação de um hotel.
Enquanto nos concentrávamos em frente ao Grémio, muit@s queriam fazer algo. Houve uma assembleia na escadaria da entrada do Grémio. Um representante do vereador Sá Fernandes disse que iriam realizar uma reunião na quarta-feira para chegar a um acordo com o proprietário. A assembleia desmobilizou. Mas não as pessoas. Discute-se o que fazer.
Há uma nova assembleia. Pouco depois das 19.30 decidimos avançar com um protesto pacífico subindo tod@s - dezenas de pessoas - para ocupar a escadaria do Grémio como forma de protesto. A guardar a porta do Grémio estavam cinco mercenários de azul. Reparámos que tinham retirado as suas identificações do peito. Mal chegámos junto dos polícias, um deles perguntou “que fazem aqui?”. Uma companheira respondeu simplesmente “Estamos aqui” e os polícias começaram a empurrar e a agredir à bastonada as pessoas que ocupavam a escada, fazendo-os cair sobre os que estavam mais em baixo na escada.
Alguns apelam à calma. As agressões param. Aparece um membro da direcção do Grémio a dizer que haverá uma reunião na quarta-feira com um representante do proprietário para chegar a uma acordo que salve o Grémio com uma actualização da renda.
Os presentes, que foram agredidos, não desmobilizam, pedem os nomes dos polícias que os agrediram. Estes não respondem. Grita-se: “ O Grémio é nosso!” e “Repressão policial, terrorismo oficial”. Chegam reforços policiais que tentam abrir caminho pelas escadas para chegar aos colegas que estão em cima. Sentamo-nos no chão, tentando impedir a sua passagem.
Mal os reforços se juntaram aos polícias que já permaneciam na entrada do grémio, começaram a varrer à bastonada a escadaria do Grémio. Os manifestantes foram recuando firmemente a golpes de bastão, sem hipótese de se defenderem, até serem expulsos da entrada do edifício. Formou-se de seguida um cordão policial em frente à entrada do Grémio.
Temos conhecimento de que um manifestante foi detido. Foi apanhado no meio da razia da polícia, detido e só levado para a carrinha após os manifestantes desmobilizarem, de forma que não podessemos ver.
Diversas pessoas tiveram de receber tratamento hospitalar.
Aguardamos os resultados da anunciada reunião de quarta-feira… Não desmobilizaremos da luta pelo Grémio, um espaço de tod@s para tod@s. O Grémio é nosso!
Solidariedade para com os agredidos
Mais uma vez e de cada vez, de forma mais vergonhosa - embora nunca envergonhada - a polícia carregou sobre sócios e amigos do Grémio Lisbonense, quando estes tentavam impedir que o edifício fosse fechado.
Noticias como as que recebemos de estações de televisão e previsivelmente, tentam legitimar este tipo de intervenção policial, caso da SIC e Diário do Noticias. Deixemos, portanto, de pensar que algo de verdadeiro pode daí advir e começar a criar meios autónomos de divulgação da barbárie estatal e capitalista.
Desde já se faz o apelo para que os feridos peçam relatórios de médicos, guardem radiografias, etc, para que, se necessário, existirem provas das agressões.
Força Companheir@s!
Depois disto tudo é caso para dizer:
Noticias como as que recebemos de estações de televisão e previsivelmente, tentam legitimar este tipo de intervenção policial, caso da SIC e Diário do Noticias. Deixemos, portanto, de pensar que algo de verdadeiro pode daí advir e começar a criar meios autónomos de divulgação da barbárie estatal e capitalista.
Desde já se faz o apelo para que os feridos peçam relatórios de médicos, guardem radiografias, etc, para que, se necessário, existirem provas das agressões.
Força Companheir@s!
Depois disto tudo é caso para dizer:
A polícia protege-nos, mas quem nos protege da polícia ?