31.8.07

A lavagem ao cérebro em liberdade ( por N. Chomsky)

Transcrevemos este texto que fomos buscar a um dos mais interessantes blogues que conhecemos:


Trata-se de um excerto de um artigo de Noam Chomsky com o título «Ainda Mais Eficaz que as Ditaduras, a Lavagem dos Cérebros em Liberdade» publicado na número de Agosto do Monde Diplomatique, edição portuguesa, Agosto de 2007;




A lavagem ao cérebro em Liberdade - «AINDA MAIS EFICAZ QUE AS DITADURAS

[…] Quando certos jornalistas são postos em causa, de facto respondem imediatamente: "Ninguém me pressionou, eu escrevo o que quero". É verdade. Só que, se eles tomassem posições contrárias à norma dominante, deixariam de escrever os seus editoriais. Claro que esta regra não é absoluta; eu próprio publico às vezes artigos na imprensa americana, os Estados Unidos não são um país totalitário. Mas qualquer pessoa que não satisfaça determinadas exigências mínimas não tem nenhuma possibilidade de aceder à condição de comentador estabelecido.

É aliás umas das grandes diferenças entre o sistema de propaganda dum Estado totalitário e a forma de proceder em sociedades democráticas. Exagerando um pouco, nos países totalitários o Estado decide sobre a linha a seguir, devendo toda a gente conformar-se com essa linha. As sociedades democráticas operam de outra maneira. A "linha" nunca é enunciada como tal, é subentendida. De certa forma, procede-se assim a uma "lavagem ao cérebro em liberdade". Até mesmo os debates "empolgados" que há nos grandes media se situam no quadro dos parâmetros implícitos consentidos, os quais têm nas suas margens muitos pontos de vista contrários.

O sistema de controlo nas sociedades democráticas é muito eficaz; instila a linha directriz como o ar que se respira. Não nos apercebemos disso, chegando por vezes a imaginar que estamos perante um debate particularmente vigoroso. No fundo, este sistema é infinitamente mais eficaz do que os sistemas totalitários.

Vejamos, por exemplo, o caso da Alemanha no início da década de 1930. Houve quem esquecesse que a Alemanha era então o país mais avançado da Europa, na vanguarda no respeitante às artes, às ciências, às ciências, às técnicas, à literatura, à filosofia. Mas depois, em muito pouco tempo, deu-se um retrocesso completo, e a Alemanha tornou-se o Estado mais assassino e mais bárbaro da história humana.

Tudo isto se realizou instilando medo: medo dos bolcheviques, dos judeus, dos americanos, dos ciganos, em suma: de todos quantos, segundo os nazis, ameaçavam o âmago da civilização europeia, ou seja, "os herdeiros directos da civilização grega". Pelo menos, foi isso que o filósofo Martin Heidegger escreveu em 1935. Ora a maior parte dos media alemães que bombardearam a população com esse género de mensagens adoptou as técnicas de marketing criadas por… publicitários americanos.

Não esqueçamos como uma ideologia se impõe sempre. Para dominar, não basta a violência – impõe-se uma justificação de outra natureza. Quando uma pessoa exerce o poder sobre outra – quer seja um ditador, um colono, um burocrata, um marido ou um patrão –, precisa sempre duma ideologia justificadora, e é sempre a mesma: essa dominação é exercida "para bem" do dominado. Por outras palavras, o poder apresenta-se sempre altruísta, desinteressado, generoso.

Na década de 1930, as regras da propaganda nazi consistiam, por exemplo, em escolher palavras simples, repeti-las sem descanso, associando-as a emoções, sentimentos, temores. Quando Hitler invadiu os sudetas [em 1938], fê-lo invocando os mais nobres e caritativos propósitos: a necessidade duma "intervenção humanitária" para impedir a "limpeza étnica" dos germanófonos e para tornar possível que todos vivessem sob a "asa protectora" da Alemanha, isto é, com o apoio da potência mundial mais avançada nas artes e na cultura.

Em matéria de propaganda, se em certo sentido nada mudou desde os tempos da antiga Atenas, a verdade é que houve bastantes aperfeiçoamentos. Os instrumentos da propaganda foram-se tornando muito mais refinados, em particular e paradoxalmente nos países mais livres do mundo: o Reino Unido e os Estados Unidos. Foi nestes países, e não noutros, que surgiu na década de 1920 a indústria moderna das relações públicas, isto é: o fabrico da opinião, ou propaganda.

Com efeito, no respeitante aos direitos democráticos (voto das mulheres, liberdade de expressão, etc.) estes dois países tinham progredido tanto que a aspiração à liberdade já não podia continuar a ser contida apenas pela violência estatal. Por esse motivo, os seus dirigentes viraram-se para as técnicas da "fábrica do consentimento". A indústria das relações públicas produz, no sentido exacto da palavra, consentimento, aceitação, submissão. Controla as ideias, os pensamentos, as mentes. Por comparação com o totalitarismo, é um grande progresso: é muito mais agradável uma pessoa suportar um anúncio publicitário do que ver-se numa sala de torturas. […]»

[Noam Chomsky, Ainda Mais Eficaz que as Ditaduras, a Lavagem dos Cérebros em Liberdade: Lisboa, Monde Diplomatique, edição portuguesa, Agosto de 2007;

Festival de Teatro da Guarda durante o mês de Setembro





Programa completo do Festival:
www.tmg.com.pt/festival_de_teatro_da_guarda.htm


No Sábado, dia 1 de Setembro, tem início no Teatro Municipal da Guarda a terceira edição do Acto Seguinte – Festival de Teatro da Guarda.

“Minetti”, apresentada por Camaleón e Ernesto Calvo Producciones [Espanha] é a peça que dá início ao festival, sobe ao palco do Pequeno Auditório às 21.30 horas.

Uma peça baseada num autêntico e histórico actor alemão, Bernhard Minetti (1905-1998), que em 1976 inspirou o dramaturgo Thomas Bernhard para este quase monólogo de musicalidade infernal que tem como protagonista o actor uruguaio radicado em Espanha, Juan Carlos Moretti, aqui dirigido por Ernesto Calvo.

Tanto o actor, Juan Carlos Moretti, como o encenador, Ernesto Calvo, tiveram como objectivo aproximarem-se o mais possível ao texto original. Os ensaios começaram desenvolvendo hábitos e método, estudando o texto, à procura de ritmos e de sonoridades, tentando decifrar pequenos enigmas ou grandes conflitos com os quais conta sempre qualquer autor teatral, e que no caso de Bernhard são mais usuais que em outros autores. «Trabalhar um texto deste dramaturgo é sempre construír um edifício sobre um que já está edificado. A figura do protagonista foi-se degradando ao mesmo tempo que as personagens e cenografia desapareciam. Foram-se entranhando no trabalho, fundindo-se na leitura que o Actor e o Encenador têm habitualmente nos primeiros ensaios, e as personagens transformaram-se assim em fantasmas que deambulam pela geografia da mente de Minetti. A doença, a perda de memória, a morte, o cansaço, a demência, a velhice, a juventude, o amor, o nazismo, a intolerância, etc., etc., todos eram os fantasmas da sua vida. A estrutura da encenação tomou corpo. Não eram necessários actores que interpretassem as personagens, nem cenografia que ilustrasse os sonhos impossíveis. Só existem Actor e Encenador, que são o Protagonista e o Antagonista, os elementos imprescindíveis para o Teatro.» – refere Ernesto Calvo a propósito da encenação desta obra.

Iberfolk - festival de cultura tradicional ( Sortelha - 7,8,9 Setembro)


IBERFOLK
7,8,9 Setembro 2007
Sortelha, Sabugal

Programa


Sexta, 07 Setembro
19H00 - Observação solar *
22H00 - Pé Na Terra
23H30 - Projecção do documentário "Arritmia"
23H30 - Hora Do Conto I - Marco Luna
24H00 - Ventos Da Líria
A partir das 15H00 - Escalada no castelo
Após as 22H00 - Observação astronómica


Sábado, 08 Setembro
16H00 - Workshop de Danças Tradicionais I
16H00 - Caminhada "Á descoberta de moinhos de água"
17H00 - Workshop de Adufe
17H30 - Workshop de Danças Tradicionais II
18H00 - Teatro de Marionetas "Tobias e as lendas" - Macapi
19H00 - Workshop "Mergulhar no Corpo" - Sandra João
19H00 - Workshop "Corpo em movimento" -
A partir das 15H00 - Escalada no castelo
21H00 - Adufeiras de Paúl, com participantes de Workshop de Adufe
22H00 - No Mazurka Band + Workshop
23H30 - Projecção do documentário "11 burros caem num estomago vazio"
23H30 - Hora Do Conto III - Marco Luna
24H00 - Diabo a sete


Domingo, 09 Setembro
15H30 - Workshop de Danças Tradicionais III
15H00 - Caminhada "Serra de Malcata"
A partir das 15H00 - Escalada no castelo
18H30 - Mosca Tosca
21H30 - Hora Do Conto III - Marco Luna
22H00 - Tor

O cinema em Trás-Os-Montes ( ciclo de filmes em Vimioso de 30 de Agosto a 2 de Set.)

Consultar:


Que cinema se fez em Trás-os-Montes e que Trás-os-Montes se fez nesse cinema?

Estes são os dois termos de uma mesma questão e as duas faces de uma mesma imagem, sem frente nem avesso. Responder à pergunta é ler a imagem cinematográfica à transparência da sua construção e à contra-luz do seu devir histórico, à vista de um confronto entre duas representações: uma que se mostra, a outra que se vê. É nessa descoincidência radical, em que se formam e desenvolvem todas as imagens, que é possível perceber a realidade.
Sendo muitos os filmes que têm por objecto ou pano de fundo a região transmontana e acreditando que a restituição dessas imagens, na maioria das vezes tão próximas quanto desconhecidas, ao contexto onde foram realizadas pode contribuir para uma redefinição dos lugares e das representações, A Reposição é um seminário aberto que pretende dar a ver e a discutir, in loco, uma selecção dos diferentes olhares que o cinema português dirigiu a Trás-os-Montes.

Em resposta a uma grande diversidade de propósitos (éticos, estéticos, políticos, sociológicos) e de pontos de vista (ficcionais, documentais ou combinado os dois registos), a multiplicidade de abordagens cinematográficas de Trás-os-Montes unifica-se em torno de uma gama pouco discrepante de temáticas e de concepções prévias. Reiteradas com frequência pelos cineastas, que encontraram na região e nos seus traços específicos elementos privilegiados para falar do país, ideias como o isolamento, o afastamento relativamente à capital e aos centros urbanos do litoral, associadas ao dramatismo da paisagem, à negação de todos os indícios da modernidade e à prevalência de modelos de organização social e de tradições ancestrais, contribuíram para forjar uma imagem pitoresca e pouco realista da região transmontana, convertida em lugar mítico, fora do espaço, do tempo e da história, pronto a acolher todo o tipo de projecções. Deste modo, enquanto alguns cineastas encontram em Trás-os-Montes o cenário ideal para, de modo fantasioso, filmar lendas e contos tradicionais (convertidos, na maioria das vezes, em comentário político), outros, desenvolvendo aproximações pretensamente mais objectivas, concordantes com os princípios teóricos da “antropologia visual”, vêem na prevalência de práticas comunitárias nalgumas aldeias, o molde e a justificação de um “comunismo natural”. Servindo as mais variadas perspectivas e discursos, identificada como território “virgem” e “original” – figura acabada de uma matriz cultural –, a região de Trás-os-Montes, torna-se, a um tempo, palco de algumas das mais radicais experiências cinematográficas do Novo Cinema Português e contraponto fundamental para repensar as assimetrias económicas entre o Norte e o Sul, a falência da reforma agrária e a crescente desertificação do interior do país.

Por isso, sendo certo que a paisagem natural e humana de Trás-os-Montes serve de pano de fundo a algumas das obras fundamentais da história do cinema português, A Reposição pretende proporcionar uma revisão crítica do cinema “transmontano” através do confronto de Trás-os-Montes com a sua imagem cinematográfica. Trata-se, pois, de reconduzir as imagens à sua origem e de levar o cinema onde este raramente chega.

A mostra terá lugar em plena região transmontana, na Casa da Cultura de Vimioso (Distrito de Bragança), de 30 de Agosto a 2 de Setembro.

Pela diversidade de abordagens cinematográficas de Trás-os-Montes, pelo confronto desses filmes com os locais onde foram realizados e contando com a presença de alguns dos realizadores, esperamos que A Reposição possa promover um espaço de abertura, de descoberta, de troca e de debate.

Por altura da mostra será ainda editado um livro com textos de reflexão sobre o tema e informação relativa aos filmes programados.

A entrada é gratuita.

O seminário está aberto a todas as participações.

Alojamento gratuito
A Câmara Municipal de Vimioso acolhe todos os participantes disponibilizando-lhes, para “acampar” gratuitamente, as instalações do recém-inaugurado Pavilhão Multiusos (espaço amplo com balneários e água quente).



Para outras informações:

António Preto
965775312
antónio.m.preto@gmail.com

30.8.07

Um bom texto de Boaventura Sousa Santos sobre a acção contra o milho transgénico em Silves

Um bom texto de Boaventura Sousa Santos sobre a acção anti-OGM e de denúncia do lobby das empresas de biotecnologia, onde se fala ainda do «caldo cultural conservador» em que Portugal vive e que explica a reacção histérica e despropositada contra os activistas anti-OGM


LEIAM, REFLICTAM E ACTUEM PARA AREJAR e ABRIR AS MENTALIDADES, MUDAR AS IDEIAS FEITAS E SUPERAR O CONFORMISMO SOCIAL DOMINANTE EM PORTUGAL



retirado de:
http://www.ces.uc.pt/opiniao/bss/190pt.php

Frequentemente, um pequeno acontecimento revela aspectos da vida colectiva que, apesar de importantes, permanecem submersos na consciência dos cidadãos e na opinião pública. A destruição de um campo de milho transgénico no Algarve é um desses acontecimentos. Através dele revelaram-se entre outras, as questões da legitimidade das lutas sociais, da propriedade privada, da influência dos interesses económicos nas legislações nacionais, do papel do Estado nos conflitos sociais, da construção social da perigosidade de certos grupos sociais e da possível nocividade dos organismos geneticamente modificados (OGMs) para a saúde pública.

As lutas sociais são frequentemente compostas de acções legais e ilegais. Os actos fundacionais das democracias modernas foram, quase sem excepção, ilegais: greves e manifestações proibidas, lutas clandestinas, insurreições militares (como o 25 de Abril), actos que hoje consideramos terroristas (como os do "terrorista" Nelson Mandela). Em certos contextos, os activistas podem escolher entre meios legais e ilegais (como no caso vertente), noutros, não têm outra opção que não a da ilegalidade.

A propriedade privada é um alvo difícil porque as concepções sociais a seu respeito são muito contraditórias e evoluem historicamente. Os primeiros impostos sobre o capital industrial não foram considerados pelos empresários como uma violação do direito de propriedade? Há violações da propriedade privada que não causam qualquer comoção social apesar de serem graves, por exemplo, os salários em atraso. No caso dos transgénicos, o tratamento do direito de propriedade apresenta contradições flagrantes. Enquanto, por um lado, a polinização cruzada faz com que culturas convencionais venham a ser contaminadas pelos OGMs, o que, sendo uma violação do direito de propriedade, não levanta nenhum clamor. Por outro lado, um agricultor canadiano, vítima de polinização cruzada, foi obrigado a pagar uma indemnização à Monsanto, empresa de sementes, por ter violado o direito de propriedade desta (a patente) ao usar sementes que tinham sido contaminadas contra a sua vontade.

Estas contradições decorrem do fortíssimo lobby das grandes empresas de sementes, cinco ou seis a nível mundial, na legislação e nas políticas nacionais. Só essa pressão explica: que Portugal - durante um tempo visto como refúgio da agricultura biológica e orgânica da Europa – seja hoje um dos seis países a aceitar os transgénicos; que a legislação portuguesa seja tão enviesada a favor dos OGMs que quase parece ter sido redigida pelos advogados das empresas; que o ministro da triste figura faça, de um campo de milho, um campo de batalha a exigir imediata ajuda humanitária; que os técnicos do Estado apaguem, como ciência, as press releases da Monsanto e escamoteiem a questão principal: se os OGMs fazem mal às borboletas e outros animais inferiores porque não accionar o princípio da precaução?

Este lobby encontra no caldo de cultura conservador da opinião pública o contexto ideal para estigmatizar a oposição aos seus interesses. E assim os activistas são transformados em "ecofascistas" ou "terroristas light".

Boaventura Sousa Santos

29.8.07

Manifesto contra os transgénicos

( Manifesto-declaração assinada por várias organizações ecologistas espanholas como Amigos da Terra, COAG, Greenpeace e Ecologistas en Acción)

Declaração das organizações e personalidades da sociedade civil sobre as aplicações da biotecnologia na modificação das plantas e a ameaça que tal representa para a agricultura e a sustentabilidade



Democracia, precaução e meio ambiente


Os organismos geneticamente modificados (OGM) são obtidos mediante a engenharia genética que permite criar animais e micro-organismos por via da manipulação dos seus genes. Nos últimos anos, esta técnica foi utilizada para introduzir novas características nas culturas e, desde pouco mais de uma década, começaram a serem semeados, em alguns países, variedades geneticamente modificadas (GM), principalmente soja, milho, algodão e colza. Apesar da ingentes propaganda sobre a multitude de funcionalidades, as variedades comerciais incorporam apenas duas características: a resistência à praga de insectos e/ou a tolerância a um determinado herbicida. Cerca de 81% da superfície de OGMs cultivados no mundo são plantas resistentes aos herbicidas.(1)

Esta tecnologia não é um simples prolongamento do aperfeiçoamento vegetal levada a cabo pela agricultura tradicional: ao saltar as barreiras entre as espécies, está-se a criar seres vivos que não se poderiam obter na natureza ou com as técnicas tradicionais de melhoria genética. Por outro lado, os conhecimentos científicos actuais não são suficientes para predizer com exactidão todas as consequências da manipulação do novo organismo no qual foram introduzidos genes estranhos (frequentemente desadaptados no seu novo meio), nem a sua evolução e interacção com outros seres vivos após a instalação de um OGM no meio ambiente.. Segundo a própria Comissão europeia, «o processo de criação de organismos geneticamente modificados está envolto de incertezas, que podem dar lugar a uma multitude de efeitos imprevisíveis»(2). Do que se trata é de uma tecnologia com um nível de imprecisão muito elevado e cujos efeitos são imprevisíveis tanto a curto como a longo prazo.

Após 11 anos de cultivos constata-se que as sementes geneticamente modificadas não trouxeram os benefícios prometidos pela indústria biotecnológica:
- por regra, não reduzem o emprego de produtos químicos no campo, antes pelo contrário. Por exemplo, nos Estados Unidos da América as três principais culturas OGM levaram desde 1996 a um aumento no uso de agrotóxicos de 55.000 toneladas(3), significando um enorme incremento no volume de herbicidas aplicados na soja, no algodão e ao milho tolerantes a herbicidas.

- O seu rendimento é menor, ou no melhor dos casos equivalente aos das variedades não-OGM, tal como reconheceu recentemente o Departamento de Agricultura dos EUA(4), pelo que os argumentos de eficiência no uso de recursos como solo, água ou combustíveis carecem de fundamento.

- o seu impacto no meio ambiente é cada vez melhor documentado: contaminação de espécies silvestres, redução da biodiversidade, contaminação química do solo e dos aquíferos são alguns dos problemos associados ao cultivos de OGMs.

- Também não trouxeram melhorias na qualidade dos alimentos, mas antes grandes incertezas sobre a inocuidade dos produtos que contém OGM, sobretudo a médio e longo prazo.

- Para os agricultores o aparecimento de ervas daninhas e de adventícias resistentes aos vários herbicidas, facto relacionado com as culturas OGM, começa a ser motivo de preocupação nos EUA e no Canadá. No caso dos cultivos insecticidas, reconhece-se que é inevitável a evolução e proliferação de pragas de insectos resistentes: trata-se apenas de uma questão de tempo. Isso obrigará aos agricultores convencionais a recorrer a plaguicidas cada vez mais agressivos e dispendiosos, ao mesmo tempo que a perda de eficácia de insecticida naturais, como o Bt, representará um grave prejuízo para a agricultura ecológica.

- Não contribui para aliviar a pobreza nem a fome no mundo. As aplicações comerciais da biotecnologia na agricultura estão a aumentar o fosso que separa entre ricos e pobres. Um dado significativo: a maior parte das colheitas OGM destinam-se à alimentação pecuária para satisfazer o consumo de carne – em muitos casos excessiva – dos países ricos.

Ainda que a União Europeia seja uma das regiões do mundo com uma regulamentação mais restritiva sobre os OGM, não é fácil que os cidadão europeus possam confiar nas instituições responsáveis na aprovação e na fiscalização desses produtos. Em primeiro lugar, porque o procedimento de aprovação é claramente antidemocrático: a Comissão Europeia tem a última palavra e pode autorizar a entrada de um novo OGM no mercado europeu ainda que a maioria dos Estados Membros se tenha pronunciado contra. Todos os OGM aprovados para serem comercializados na EU, desde que terminou a moratória em 2004, foram aprovados pela Comissão Europeia utilizando esta prerrogativa. Por seu turno, a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar, que emite recomendações para as novas autorizações, foi alvo de duras censuras por partes dos Estados Membros devido à sua fala de transparência e por não ter em conta adequadamente as objecções dos Estados Membros no processo de avaliação. Por outro lado, os estudos científicos, na base dos quais é feita a avaliação prévia, são realizados pelas próprias empresas, sem que seja possível em muitos casos os dados e os resultados de uma forma independente. Mas o que mais desconfiança despertou foram os casos de OGM aprovados, pese embora a existência de enormes incertezas, ou pior ainda, apesar de provas sobre a sua perigosidade para a saúde e/ou meio ambiente.

Por exemplo, ainda não há muito tempo, um grupo de investigadores do Departamento de Engenharia Genética da Universidade de Caen, França, publicou na revista científica «Archives of Environmental Contamination and Toxicology» um estudo em que se demonstra que os rato de laboratório alimentados como milho MON 863 da Monsanto mostram sinais de toxicidade (5). Além disso, o estudo analisa os resultados apresentados pela Monsanto à Comissão Europeia para obter a autorização de comercialização na EU do MON 863, um milho que produz um novo insecticida chamado Cry3Bb1 modificado. Não obstante, a Comissão Europeia concedeu licenças para comercializar este milho tanto para consumo humano como para consumo animal. Foi feito então um apelo aos governos para que façam uma reavaliação urgente dos outros produtos transgénicos aprovados, assim como uma revisão estrita dos actuais métodos de análise.

Outro exemplo é o do milho Bt 176. O cultivo comercial da transgénicos chegou à agricultura espanhola em Março de 1998 (6) com este milho da Ciba Geigy, hoje Sygenta. Este milho contém uma modificação genética com três genes que permitem produzir uma toxina capaz de matar insectos como alguns lepidópteros, ser tolerante ao herbicida glufosinato de amónio e trazer resistência ao antibiótico ampicilina (7). A Agencia de Protecção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) retirou, em Outubro de 2001, as variedades Bt 176 da lista de produtos transgénicos registados, dado que apresentavam risco de aparição de resistência aos insectos. (8). O governo espanhol autorizou novas variedades Bt 176, quase um ano e meio após essas provas. Em Abril de 2004 a Agência Europeia de Segurança Alimentar (EFSA) publicou um relatório em que se recomendava a proibição, a partir de Janeiro de 2005, do cultivo de determinados transgénicos, entre eles o Bt 176 (9). Posteriormente a Agência Espanhola de Segurança Alimentar (AESA) anunciou que nessa data a sementeira de milho Bt 176 seria proibida em território espanhol. (10). No ano de 2005 o Governo continuou a reconhecer que se continua a cultivar um milho cuja comercialização está proibida segundo o Artigo 4 (2) da Directiva 20018, a partir de Dezembro de 2004. No entanto, ainda ninguém deu informações sobre os impactos gerados pelo cultivo ao longo de sete anos.

Na análise dos riscos do milho MON 810 ( o tipo de milho transgénico que se cultiva actualmente em Espanha), aprovada pela UE em 1998 ao abrigo da Directiva 90/200/CE, não se incui aspectos fundamentais como os efeitos a longo prazo sobre a saúde humana e animal ou os impactos indirectos ou diferidos sobre o meio ambiente, exigidos pela actual legislação(11). Torna-se imprescindível actualizar essas análises de riscos, sobretudo tendo em conta a falta de informação exacta sobre os genes contidos no ADN do MON 810 aquando do momento da sua aprovação e os resultados dos estudos de caracterização posteriores, que sugerem que o ADN do milho terá sofrido reordenações e supressões desde o momento da sua transformação.(12). De qualquer modo, são preocupantes as semelhanças da proteína Cry1Ab produzida pelo MON 810 com a proteína Cry9C do milho StarLink ( retirado em 2000) e que apresenta características potencialmente alergénicas.

A respeito dos impactos destes milhos MON 810 sobre a saúde e o meio ambiente é importante notar que o único Plano de Acompanhamento disponível a nível europeu é um documento entregue pela Monsanto em 1995 quando a empresa solicitou autorização para a comercialização, sem que tenha havido qualquer actualização desde então. Esse Plano não abrange nenhuma das matérias que se discute desde a aprovação do milho e que, segundo a Directiva 2001/18/CE, deveriam ser tidas em consideração, incluindo a estrutura do genoma depois da integração de um gene estranho, os riscos para organismos não-objectivo, as mudanças nas rotas metabólicas secundárias das plantas e a excreção e acumulação edáfica da toxina Bt.



Num recente relatório (13) demonstra-se a alta variabilidade do conteúdo da toxina insecticida Bt presente nos milhos MON 810. A investigação, realizada em 2006 a partir de mais de 600 mostras recolhidas em Espanha e Alemanha conclui que as concentrações de toxina Bt nas plantas são altamente imprevisíveis e variáveis, pelo que, por exemplo, as plantas do mesmo campo podem diferir entre si até 100 vezes. Além disso a concentração de toxina é completamente diferente dos níveis indicados pela Monsanto quando solicitou a autorização para comercializar este milho. Estes dados trazem novas incertezas e preocupações a respeito da segurança e da qualidade do milho transgénico, e põem em questão o sistema de autorizações da UE.



Tal como o conjunto dos europeu, uma maioria da população espanhola se opõe aos alimentos transgénicos. No Eurobarómetro de Maio de 2006 o dado mais significativo é que somente 34% dos espanhóis está de acordo para que se fomente a biotecnologia aplicada á produção de alimentos. Já um estudo de Março de 2004 do Centro de Investigaciones Sociológicas revelava que cerca de 70% dos espanhóis considerava a modificação genética de certos cultivos perigosa para o meio ambiente e o barómetro espanhol de Setembro de 2006 concluía que os alimentos transgénicos eram uma das duas questões relacionadas com os alimentos que mais preocupavam os espanhóis.

Demonstrou-se claramente que não é possível a coexistência entre cultivos de OGM e os convencionais e ecológicos. Os numerosos casos de contaminação ao longo de toda a cadeia alimentar, desde as sementes até ao produto final, são uma demonstração clara de que a contaminação transgénica é inevitável. A contaminação das sementes – que pode alcançar proporções nada desprezíveis em pouco tempo, como foi demonstrado nos EUA –reveste-e de especial gravidade pelo seu carácter irreversível, impossibilitandi um recuo no caso de vir ser necessário a retirada do mercado de certos OGM. Daí a exigência irrenunciável de que se aplique o princípio da precaução, caído no esquecimento como forma de facilitar a autorização das culturas de OGM nos nossos campos e a introdução de ingrdientes transgénicos nos nossos pratos.

A utilização da engenharia genética na agricultura não pode considerar-se como uma simples ferramenta de produção. O debate sobre as culturas de OGM vai muito para além da mera aplicação de uma nova tecnologia, colocando questões éticas que a sociedade não pode iludir:

- na actualidade os referidos cultivos beneficiam exclusivamente as poucas multinacionais que os desenvolvem e os comercializa, e que estão a tentar impor por todo o mundo. Os grandes interesses em jogo dão lugar a todo o tipo de pressões políticas por parte das empresas biotecnológicas e de alguns governos, com desprezo pelas considerações ambientais e sociais.

- Está em jogo nada menos que o controle da agricultura e da alimentação em poucas mãos, o que pode levar a uma perigosa situação para a independência e a sobrevivência dos povos, dos países e do conjunto da Humanidade.

- A utilização da engenharia genética na agricultura não faz mais que exacerbar os efeitos perniciosos de uma produção industrializada e insustentável, que não favorece os pequenos agricultores, nem respeita o meio ambiente bem permite a distribuição equitativa das riquezas.

O mundo e o planeta precisa de perspectivas sustentáveis e estamos na hora dos governos e dos especialistas dedicarem as suas energias e recursos para desenvolverem tecnologias e políticas compatíveis com a protecção do meio ambiente, uma produção segura e de qualidade e uma distribuição justa entre todos os seres humanos.


(1)James, C. 2006. Global Status of Commercialized Biotech/GM Crops: 2006.ISAAA Brief No35. ISAAA: Ithaca, NY
(2) European Communities – Measures Affecting the Approval and Marketing of Bioteh Products (DS291, DS292, DS293). First Written Submission by European Communities. Geneva 17 May 2004.
(3)Who benefitis from GM crops? An analysis of the global perfomance of GM crops (1996-2006)
www.foei.org/en/publications/pdfs/gmcrops2007full.pdf
(4) Fernandez-Cornejo, J. & Caswell. April 2006. Genetic Engineered Crops in the United States. USDA/ERS Eonomic Information Buletin n.11 www.ers.usda.gov/publications/eib11.pdf
(5) www.springerlink.com/content/1432-0703
(6)
(7) O emprego de genes marcadores de resistência aos antibióticos foi amplamente condenada por organismos como a FAO, a Royal Society e o Instituto Pasteur, para quem estes genes podiam criar resistências nos micro-organismos e gerar problemas sanitários quer em humanos quer em animais.
(8) Sloderbeck, P. Curente status of Bt Corn Hybrids.
(9)
www.efsa.eu.in/science/gmo/gmo_opinions/384_en.html
(10)
(11)
(12)
(13) ver aqui

26.8.07

A bio-escravatura ou as ameaças da apropriação monopolística da vida humana


Hoje um agricultor, dono de uma plantação de milho, pode decidir regar ou não as suas culturas simplesmente recorrendo ao seu correio electrónico, pois a mesma plantação, através de um sistema de sensores remotos e de telefone celular, pode enviar-lhe os sinais vitais do que lhe está a acontecer. Sentado no sofá da sua casa esse agricultor poderá activar i sistema de risco automático através do seu computador caso o sinal recebido no seu e-mail indicar a carência de água. O mesmo agricultor, caso queira proteger as suas plantações de uma possível contaminação genética procedente de qualquer outra cultura vizinha de milho, pode também usar sementes às quais tenha sido incorporado um «barreira genética» no seu ADN. Graças a isso a planta não poderá cruzar-se por polinização com outras variedades da sua espécie. Por outro lado, as empresas biotecnológicas podem saber, utilizando as tecnologias adequadas, o que o referido agricultor está a plantar, e em que medida…Com os avanços tecnológicos tudo fica sob controle e, principalmente, ao serviço, do mercado controlado pelos mais fortes, isto é, pelas grandes transnacionais. O que acontece, no fundo, é que os agricultores ficam dependentes de uma poucas empresas que oligarquicamente controlarão o mercado das sementes modificadas geneticamente, os produtos químicos que lhes estão associados, assim como grande parte dos processos de produção, já para não falar dos processos políticos e legislativos a eles respeitantes.

Fantasia futurista?

Poderíamos dar muitos mais exemplos de tecnologias e biotecnologias de vanguarda que parecem estar ao serviço das melhorias agrárias, da produção dos alimentos primários, da redução dos custos e da eficiência de recursos; tecnologias que há uns anos atrás nos teriam fascinado por parecerem uma fantasia futurista, mas a verdade é que hoje tais tecnologias já se encontram no mercado.
O que parecia ser ficção científica é realmente a face oculta dos interesses que as empresas transnacionais como a Monsanto, Pioneer ou a Syngenta ao mostrarem tanto interesse nas invenções e no investimento biotecnológico. Durante as últimas décadas a indústria da biotecnologia consolidou-se graças ao sistema de Patentes de Propriedade Intelectual e que permitiu às empresas assenhorear-se das plantas, genes, traços e processos biológicos estratégicos. À medida que aumentavam as descobertas e as novas invenções, aumentava também p número de solicitações de patentes por parte das empresas mais poderosas que, desta forma, iam promovendo o monopólio sobre as distintas formas de vida. Só em relação à indústria de biotecnologia e farmacêutica, por exemplo, nos Estados Unidos entre 1995 e 1999, empresas como a Glaxo-Smith-Kline obteve 208 patentes, a Pharmacia obteve 332. E só no ano 2000 a Merck recebeu 265, enquanto a AstraZeneca registou 204 patentes.

Rejeição social

Perante as críticas sociais e políticas que começaram a cair sobre o sistema de Patentes ou de Propriedade Intelectual como meios de apropriação da biodiversidade, as grandes empresas já não confiam nesse sistema, pois tais críticas podem modificar a todo o momento a legislação. Alertadas, essas empresas reagiram rapidamente e começaram a desenvolver e incorporar novos mecanismos para garantir o completo controle monopolista das biotecnologias.
Em alusão ao fenómeno histórico das «enclosures» (confinamentos; construção de muros e delimitação das propriedades privadas), ocorrido na Europa nos séculos XVII e XVIII, de privatização e de construção de muros dos terrenos e recursos outrora comunitários, os actuais desenvolvimentos protagonizados pela industria biotecnológica para privatizar o material vivo tem vindo a qualificarem-se como os «novos enclosures».

A bio-escravatura


Sob a designação genérica de «novos enclosures» referimo-nos às tecnologias em constante evolução, utilizadas para identificar e controlar o território e o germoplasma ou plasma germinativo, células germinativas ou simplesmente a matéria viva. Ao mesmo tempo que promevem a bio-escravatura, tais tecnologias ajudam e facilitam a consolidação do poder das grandes corporações transnacionais e minam a soberania nacional.. Os novos confinamentos ( as novas enclosures) envolvem um conjunto diverso de tecnologias que vão da biotecnologia à micro-electrónica; dos sensores remotos à robótica, sem esquecer as tecnologias de informação geoespacial, e muito mais…
Os mecanismos dos «novos confinamentos» ( as novas enclosures) foram classificadas em 3 categorias: a) as biotecnologias usadas para obter o monopólio biológico da matéria viva ou germoplasma; b) os contratos legais para obter o controle absoluto sobre a mesma matéria, assim como sobre a tecnologia e a investigação a ela aplicada; c) as tecnologias de sensores remotos e biosensores que, com a primeira categoria, controlam o uso e/ou a presença do germoplasma, o terreno e o trabalho.

A) Como conseguir o monopólio biológico da vida?

Suponhamos que o agricultor do nosso exemplo compre sementes de milho a uma empresa e que essas sementes possuam tecnologia de Restrição ao Uso Genético, isto é, que no seu ADN tenha sido incorporados activadores genéticos que, por sua vez, activem químicos externos ( que a mesma empresa também vende) para controlar certas características genéticas da planta. Suponhamos que tais sementes, geneticamente manipuladas, foram feitas para desactivar a sua capacidade de fertilidade no ano seguinte, ou seja, no próximo ciclo, obrigando o agricultor a comprar novas sementes. A este processo, segundo o qual a empresa obriga os agricultores a comprarem-lhe as sementes e seus produtos derivados, dá-se o nome de bio-escravatura.


B) Contratos legais para condicionar o uso de tecnologias


Para além da dependência que as tecnologias de Restrição de uso Genético produzem, o agricultor assina, no momento de compra das sementes, um contrato com a empresa que envolve os Acordos de Uso da tecnologia adquirida. Um contrato destes pode ter cláusulas mediante as quais o comprador perde os direitos de privacidade, autorizando a empresa a rever a informação acerca das suas culturas, utilizar fotografias aéreas e controlar as facturas de compras de sementes e agroquímicos. Além de que o comprador poderá ter que se submeter à cláusula da «garantia limitada exclusiva» que diminuirá significativamente a responsabilidade legal da empresa vendedora sobre quaisquer prejuízos que se possam dar pelo uso e manipulação do produto adquirido. É justamente o caso dos agricultores que no ano de 2001 utilizaram as tecnologias da Monsanto para o ano de 2001 pois que tiveram de assinar contratos com cláusulas em que se estabelecia que em nenhuma circunstância de poderá processar a empresa Monsanto por danos, acidentes ou consequências derivadas do uso daquelas tecnologias (sementes).
Por outro lado é também muito preocupante os acordos que se estabelecem entre a indústria e as universidades. É certo que as relações entre as ambas não datam de ontem, mas não é menos verdade que nos últimos anos tais relações se intensificaram e, por vezes, com muita pouca transparência. Segundo William Lacey, vice-reitor da Universidade da Califórnia em Davis, alguns presentes legais e contratuais entre universidades e indústrias incluem grandes doações ou outorgas de contratos por parte das empresas privadas às universidades, em troca dos direitos de patente e licencias exclusivas para usar as descobertas; há ainda a criação ou organização de centros ou programas universitários com fundos industriais, em troca do acesso privilegiado das empresas privadas aos recursos universitários, bem como à possibilidade de assumir um papel influente no desenho dos programas de investigação; permite-se ainda o desempenho dos docente como consultores, assessores científicos ou gerentes nas empresas contratantes, ou a criação de organismo mistos com fins lucrativos para comercializar os resultados de determinada investigação. Através deste tipo de acordos a tecnologia e o conhecimento estão a ser apropriados e transferidos do sector público para as grandes empresas privadas.

C) Sensores remotos e biosensores: em direcção ao controle total


Todo este quadro de poder e controle sobre a matéria viva por parte das grandes empresas completa-se quando se verifica e se toma conhecimento que já existem, e estão em vias de desenvolvimento, certas tecnologias e biotecnologias que permitem monitorizar e controlar a presença e o uso dos produtos já patenteados e vendidos mediante um contrato legal aos agricultores. Estamos a referirmo-nos, por um lado, aos aparelhos sensores remotos que obtêm e medem os dados de um objecto por intermédio de instrumentos que não estão em contacto físico com ele, como é o caso dos satélites; e por outro lado, aos biosensores que são capazes de fazer uma leitura do ADN das sementes, plantas ou alimentos, identificando qualquer mudança que tenha sido efectuada no seu material genético.
No exemplo dado no início deste texto, o agricultor recebe no seu correio electrónico os sinais vitais da sua plantação de milho graças a instrumentos sem cabos, com termómetros infra-vermelhos do tamanho de um lápis e capazes de transmitir informações a partir de um telefone celular à Internet. O instrumento chama-se Biotic, pertence ao Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, e é um dos vários avanços tecnológicos de sensores remotos que, juntamente com a tecnologia de satélites e geoespacial, apareceram com o início do século XXI.
Se tais tecnologias de sensores remotos e informação geoespacial um grande potencial para beneficiar a agricultura, por outro lado, constituem uma real ameaça aos direitos dos agricultores e das comunidades agrícolas, pois tais tecnologias podem ser utilizadas pelas empresas e governos para controlar o cumprimentos dos contratos, identificar e monitorizar o germoplasma, o próprio território e trabalho.
Os biosensores, por seu lado, tiveram um importante papel na controvérsia sobre os alimentos geneticamente modificados e a propósito da crescente preocupação acerca do fluxo não desejado de genes não modificados. Esta controvérsia significou o aumento de pedidos de provas para detectar se um produto processado a partir de uma planta contém ou não um sequência de ADN artificialmente enxertada, e em que medida está ela presente. Acontece que esta tecnologia para detectar genes modificados não é usada só pelas organizações da sociedade civil, pelos inspectores governamentais e processadores de alimentos para determinar a presença e a quantidade de ingredientes transgénicos nos alimentos, como também pelas empresas gigantes como a Monsanto ( GM tet kids) a fim de verificar se os agricultores ou os concorrentes estão a usar as suas sementes, infringindo as patentes registadas em seu proveito. Caso isso se confirme o passo seguinte será a abertura de um processo judicial aos agricultores ( Monsanto já desencadeou mais de 475 por suposta violação de patentes).

Testes de Diagnóstico

GeneticID ( Iowa, Estados Unidos) produziu os primeiros testes para efeitos de diagnóstico comercial dos cultivos transgénicos em 1996. No ano seguinte DuPont formou a sua própria subsidiária, DuPont Quaulicon, para comercializar as provas biotecnológicas com os processadores de alimentos, a fim de «assegurar a autenticidade dos ingredientes na cadeia». Hoje, a geração de tecnologias de biocensores cresce ao mesmo tempo que as culturas transgénicas, oferecendo métodos capazes de detectar proteínas de ADN não só em sementes e grãos mas também no nariz e nos alimentos altamente processados.
Esta novas tecnologias e biotecnologias reforçam o poder sobre o sistema de Propriedade Intelectual permitindo estender a dominação das corporações sobre os produtos e processos. Seria tempo dos governos reagirem e examinarem e actuarem perante as novas configurações económicas, os mecanismos e os «novos confinamentos» que, em conjunto com as novas tecnologias, estão a construir as novas estratégias para o controle monopolístico das grandes empresas. Caso isso não aconteça o mais provável é que os termos e as condições de biosegurança alimentar sejam ditadas pelas indústria do sector. E não faltará muito para que sejam as grandes empresas a impor aos agricultores o que estes hão-de plantar e quando.

Pior ainda: como escapar a tudo isso se o sistema dispõe de tecnologias de controle sobre todos as fases e processos da vida?
Em nome da diversidade cultural e da liberdade dos agricultores e dos consumidores é preciso dizer, mais do que nunca, não! Não às modificações genéticas.


Texto de autoria de Annelore Hoffens Wenzem, publicado na edição castelhana de Abril-Maio e Junho de 2004 da revista The Ecologist.

25.8.07

A natureza também resiste. Não são só os ecologistas

Não são só os activistas anti-OGM a resistir à manipulação e poluição genética. Também a natureza resiste aos ataques que lhe são desferidos pelos «Frankenteins» ao serviço das tecnociências.
Na verdade, acontece aos OGM o mesmo que aos antibióticos, ou seja, a prazo estes começam a perder o efeito pretendido.
Senão vejamos: os organismos atacados (vegetais ou animais, que se pretende eliminar) pelas toxinas incorporadas geneticamente nas plantas, esses organismos tornam-se cada vez mais resistentes a essas toxinas. Por isso, com o passar do tempo, torna-se necessário cada vez maiores quantidades de plaguicidas nas culturas.

Além disso, é preciso notar que os vegetais modificados geneticamente para se tornarem resistentes àqueles organismos transferem, por polinização, essa resistência a estes mesmos organismos. Desta maneira, as plantas silvestres visadas com as culturas OGM podem-se tornar cada vez mais resistentes aos plaguicidas, pelo que, com o correr dos anos, torna-se necessário aumentar a quantidade de toxicidade a usar.


Notas:

Frankenstein's monster (or Frankenstein or Frankenstein's creature) is a fictional character that first appeared in Mary Shelley’s novel, Frankenstein, or The Modern Prometheus.

Frankenstein's creature - The creature has often been portrayed as a metaphor for various social, environmental, and psychological themes. Interpretations include "the danger of humans playing god" and "the dangers of toying with what one does not understand". The novel was written just at the beginning of the Industrial Revolution, the critics of which claimed that scientists and businessmen were using the natural world in perverse, destructive ways.


24.8.07

A morte das abelhas põe em perigo todo o planeta

Tradução de um texto de Paul Molga, com o título original «La mort des abeilles met la plànete en danger», publicado a 7 de Agosto no jornal económico francês Les echos. Ver o original:
http://www.lesechos.fr/info/energie...


Nota prévia:
Como é suposto que «Les echos», jornal económico e financeiro francês, algo equivalente ao Financial Times inglês, não pode ser acusado de ecologismo ou radicalismo, julgamos útil traduzir para português um artigo que acabou de ser publicado naquela tribuna de imprensa consultada diariamente pelos liberais e capitalistas franceses, constituindo ao mesmo tempo uma pequena contribuição para a desacreditação dos pseudo-ambientalistas (sejam os aprendizes de feiticeiro, sejam os afectados de senilidade mental) e os pseudo-cientistas que, sem escrúpulos, se colocam ao serviço das grandes empresas de biotecnologia e de um modelo de desenvolvimento suicida, em prejuízo de toda a Humanidade e da preservação da vida no planeta.

Que sirva também de pequena homenagem àqueles jovens, e menos jovens, que, com coragem e determinação, lutam pela defesa da natureza e da justiça ambiental no nosso mundo.




A morte das abelhas põe em perigo todo o planeta

As abelhas estão a desaparecer aos milhões em poucos meses. O seu desaparecimento pode ser um sinal de alarme para a sobrevivência da espécie humana

Trata-se de um epidemia inimaginável, de uma violência e amplitude jamais vista, aquela que está a desenrolar-se de colmeia em colmeia pelo planeta fora. Com origem na Florida ela propagou-se à maior parte dos Estados Unidos, depois ao Canada e à Europa, atingindo já em Abril passado Taiwan. Por todo o lado repete-se o mesmo cenário: milhões de abelhas abandonam de um momento para outro os cortiços das colmeias para nunca mais regressarem. Nenhum cadáver nas proximidades, nenhum predador ou potencial pretendente a ocupar o seu espaço foram encontrados e que podiam explicar o seu súbito procedimento.
Em poucos meses entre 60% a 90% das abelhas volatirizaram-se nos Estados Unidos, onde as últimas estimativas calculam que 1,5 milhões de colmeias num total de 2,4 de colónias de abelhas tenham desaparecido em 27 Estados. No Quebeque 40% das colmeias estão vazias.
Na Alemanha segundo a associação nacional dos apicultores um quarto das colónias foi dizimado com perdas que rondam os 80% em certas explorações. O mesmo se passa na Suíça, Itália, Portugal, Grécia, Áustria , Polónia e na Grã-Bretanha, país onde o síndroma foi baptizado com a designação de «fenómeno Maria Celeste», nome de um navio cuja tripulação se volatizou em 1872. Em França onde os aplicultores têm sofrido prejuízos elevados desde 1995 ( 300.000 a 400.000 abelhas por ano) e que levou à interdição do pesticida apontado como responsável nos campos de milho e de tornesol,a epidemia ganhou força com perdas entre 15% a 95%

«Síndroma de derrocada» (« Syndrome d’effondrement »)


Legitimamente inquietos os cientistas encontraram um nome à medida para estas deserções massivas: o «sindroma da derrocada» ou «colony collapse disorder». Não lhe faltam realmenete motivos de preocupação: é que 80% das espécies vegetais têm necessidade das abelhas para se fecundarem. Sem elas,não há polinização nem praticamente frutos e legumes. «Três quartos das culturas que alimentam a humanidade dependem delas», confessa Bernard Vaissière, especialista de polinização no INRA francês (Instituto Nacional de Pesquina Agronómica). Chegadas à Terra cerca de 60 mlhões de anos antes do homem, a Apis mellifera ( abelha de mel) é indispensável não só à sua economia como à sua sobrevivência. Nos Estados Unidos as 90 plantas alimentares que são polinizadas pelas abelhas significam colheitas avaliadas no valor de 14 mil milhões de dólares.
Serão os pesticidas os responsáveis? Um micróbio novo? As emissões electromagnéticas que perturbariam as nanopartículas de magntite existentes no abdómen das abelhas? «Ou será por causa da combinação de todos esses agentes» como diz o professor Joe Cummins da Universidade de Ontário. Num comunicado publicado este Verão pelo instituto Isis (Institute of Science in Society), uma ONG sedeada em Londres, e conhecida pelas suas posições críticas sobre a corrida desenfreada do progresso científico, afirma-se que «indíces sugerem que cogumelos parasitas utilizados na luta biológica e certos pesticidas do grupo das néonicotinóides, interagem entres si e em sinergia para provocae a destruição das abelhas». Para evitar a estrumação incontrolada as novas gerações de insecticidas envolvem as sementes para penetrarem de forma mais sistemática em toda a planta, transmitindo-se ao pólen que as abelhas levam às colmeias que acabam por ficarem envenenadas. Mesmo em concentrações fracas, diz aquele professor, o emprego deste tipo de pesticidas destrói as defensas imunitárias das abelhas. Por efeito de cascada, intoxicadas pelo principal principio activo utilisado – a «imidaclopride» ( admitida na Europa, mas fortemente contestada no outro lado do Atlântico, aquela substância é distribuída pela Bayer sob diferentes designações Gaucho, Merit, Admire, Confidore, Hachikusan, Premise, Advantage...) -, as abelhas tornam-se vulneráveis à actividades insecticida dos agentes patogéneos fungícedas pulverizados em complemento sobre as culturas.

Abelhas apáticas

Como prova, diz aquele investigador, temos os cogumelos parasitas da família dos Nosemas estarem presentes nos enxames de abelhas, apáticas, encontradas infectadas por meio-dúzia de vírus e micróbios.
Geralmente esses cogumelos são incorporados nos pesticidas químicos para combater os gafanhotos( Nosema Locustae), certas traças (Nosema bombycis) ou a pírale do milh (Nosema pyrausta). Mas eles viajam também ao longo das vias abertas pelas trocas mercantis, à imagem da Nosoma ceranae, um parasita transportado pelas abelhas da àsua que contaminou as suas congénres ocidentais que morreram em poucos dias.
É o que acaba de ser demonstrado por um estudo sobre o ADN de várias abelhas conduzido pela equipa de investigação de Mariano Higes em Guadalajara, província a leste de Madrid, conhecida por ser o centro espanhol da indústria de mel. «Esse parasita é o mais perigoso da família, explica. Pode resisitir tanto ao calor como ao frio e infecta um enxame ao fim de doius meses. Pensamos que 50% das nossas colmeias estão contaminadas». Ora a Espanha que conta com 2,3 milhões de colmeias representa um quarto das abelhas domésticas da União Europeia.
O efeito de cascada não pára aí. Ele continua igualmente entre os cogumelos parasitas e os biopesticidas produzidos pelas plantas geneticamente modificadas, assegura o professor Joe Cummins. Ele acaba de demonstrar que as larvas da pirale infectadas pela Nosema Pyrausta apresentam uma sensibilidade quarenta cinco vezes mais elevada que as toxinas das larvas saudáveis.
«As autoridades encarregadas pela regulamentação trataram do declínio das abelhas com uma visão estreita e limitada,ignorando as provas segundo as quais os pesticidas agem em sinergia com outros elementos devastadores», acusa de forma conclusiva. E não é só ele a tocar o sinal de alarme. Sem a interdição maciça dos pesticidas sistémicos, o planeta arrisca-se a assistir a um outro síndroma de derrocada, receiam os cientistas, o síndroma da derriçada da espécie humana.


Há 50 anos Einstein tinha insistido na relação de dependência entre as abelhas e o homem ao dizer: « No dia em que as abelhas desaparecerem do globo, o homem não terá mais que quatro anos de vida»


Tradução de um artigo publicado no jornal económico Les echos
http://www.lesechos.fr/info/energie...

23.8.07

Aos vociferadores inertes de Portugal que proclamam o seu estupor face aos acontecimentos em Silves de resistência ao milho transgénico

Aos vociferadores inertes de Portugal que proclamam o seu estupor face aos acontecimentos em Silves de resistência ao milho transgénico:


Por várias vezes pensei em escrever um naco de prosa à laia de réplica ao rosário de censuras que saíram a público nos últimos dias a propósito – ou a pretexto – da acção realizada em Silves contra o cultivo de milho geneticamente modificado, vulgo transgénico, por activistas anti-OGMs sob a bandeira do movimento Verde Eufémia.

Verifiquei, no entanto, desde muito cedo, que, com poucas e honrosas excepções, o destempero leviano, o desaforo primário e a retórica adiposa dos néscios faziam lei nos comentários e artigos produzidos que bem mereciam um lugar cativo em qualquer antologia do inconsciente português médio. Os comentadores e editorialistas encartados não deixaram os seus créditos em mãos alheias e ajudaram à missa.
Tudo serviu para lançar sobre os jovens activistas os qualificativos mais estapafúrdios numa purga palavrosa que só tem comparação com uma diarreia mental aguda de Verão. Pouco faltou para se ouvir gritar «aqui d’el-rei». E tudo isto – imagine-se – porque foram destruídas umas tantas maçarocas de milho tóxico! Obviamente que a reacção deste género, de completo desnorte, desproporcionada na forma e no conteúdo, retrata bem o acéfalo conformismo vegetativo em que vivemos e o país «futebolizado» que as elites lusas fabricaram. Um país que não compreende nem admite que haja jovens que não vão ao futebol nem passem o tempo a ver televisão e prefiram mostrarem-se activos na recusa ao modelo agro-alimentar transgénico que nos querem vender.

Por isso e porque a vida é feita de êxitos e incompreensões, de silêncios e desabafos, de razão e emoção, o que me apetece dizer alto e em bom som a todos os vociferadores deste meu Portugal pasmado é que os cretinos não ofendem.


O autor deste blogue

As mais estranhas, ridículas e anacrónicas leis do mundo

Especialmente dedicado aos legalistas, àqueles para quem tudo no mundo se limita ao respeitinho da lei, e que não conseguem ver o que se esconde por trás das normas e regulamentos ditados por interesses inconfessados que são veículados pelo poder legislativo do Estado, a esses ilusionistas da realidade, deixo aqui um saboroso post sobre as mais estranhas leis do mundo, graças à preciosa ajuda do The Times, jornal londrino que nos facultou as informação, mas sobretudo a Dan Kieran, autor de um recente livro editado na Grã-Bretanha sob o insinuante título «I fought the law», de onde foram retirados estes dados.
Para que, ao menos, dos silogismos jurídico-legais e da douta jurisprudência saia um sorriso fino de inteligência, prudência e bom senso
.


Sabia que na França é proibido chamar Napoleão a um porco?

Sabia que no Estado de Vermont, nos Estados Unidos, uma mulher casada precisa de autorização do marido para colocar uma dentadura postiça?

Sabia que no Ohio, nesses mesmos Estados Unidos da América, não é permitido comer peixe com bebida alcoólica?

Sabia que na Florida (Estados Unidos) uma mulher solteira que faça para-quedismo pode ser presa?

Sabia que na Indonésia a decapitação é pena prevista para quem se masturbar?

LEIA MAIS...
...para ler, sorrir e reflectir sobre o que é uma lei:



The world's strangest laws

25. It is illegal for a cab in the City of London to carry rabid dogs or corpses.

24. It is illegal to die in the Houses of Parliament.

23. It is an act of treason to place a postage stamp bearing the British monarch upside down.

22. In France, it is forbidden to call a pig Napoleon.

21. Under the UK’s Tax Avoidance Schemes Regulations 2006, it is illegal not to tell the taxman anything you don’t want him to know, though you don’t have to tell him anything you don’t mind him knowing.

20. In Alabama, it is illegal for a driver to be blindfolded while driving a vehicle.

19. In Ohio, it is against state law to get a fish drunk.

18. Royal Navy ships that enter the Port of London must provide a barrel of rum to the Constable of the Tower of London.

17. In the UK, a pregnant woman can legally relieve herself anywhere she wants – even, if she so requests, in a policeman’s helmet.

16. In Lancashire, no person is permitted after being asked to stop by a constable on the seashore to incite a dog to bark.

15. In Miami, Florida, it is illegal to skateboard in a police station.

14. In Indonesia, the penalty for masturbation is decapitation.

13. In England, all men over the age of 14 must carry out two hours of longbow practice a day.

12. In London, Freemen are allowed to take a flock of sheep across London Bridge without being charged a toll; they are also allowed to drive geese down Cheapside.

11. In San Salvador, drunk drivers can be punished by death before a firing squad.

10. In the UK, a man who feels compelled to urinate in public can do so only if he aims for his rear wheel and keeps his right hand on his vehicle.

9. In Florida, unmarried women who parachute on Sundays can be jailed.

8. In Kentucky, it is illegal to carry a concealed weapon more than six-feet long.

7. In Chester, Welshmen are banned from entering the city before sunrise and from staying after sunset.

6. In the city of York, it is legal to murder a Scotsman within the ancient city walls, but only if he is carrying a bow and arrow.

5. In Boulder, Colorado, it is illegal to kill a bird within the city limits and also to “own” a pet – the town’s citizens, legally speaking, are merely “pet minders”.

4. In Vermont, women must obtain written permission from their husbands to wear false teeth.

3. In London, it is illegal to flag down a taxi if you have the plague.

2. In Bahrain, a male doctor may legally examine a woman’s genitals but is forbidden from looking directly at them during the examination; he may only see their reflection in a mirror.

1. The head of any dead whale found on the British coast is legally the property of the King; the tail, on the other hand, belongs to the Queen - in case she needs the bones for her corset.


Fonte:
http://business.timesonline.co.uk/tol/business/law/article2251280.ece


Acerca do livro «I fought the law», consultar:
http://p10.hostingprod.com/@spyblog.org.uk/parliamentprotest/
http://dankieran.com/dankieran.com/Books.html
http://dankieran.com/dankieran.com/home.html

Milho Verde ( por José Afonso)

Ah, grande Zeca, o que dirias tu nestes tempos de manipulações genéticas ?
Cantarias certamente ainda com mais força o Milho Verde.



22.8.07

Excelente texto de Paulo Varela Gomes sobre a acção contra os transgénicos em Silves

Excelente texto redigido por Paulo Varela Gomes ( historiador e professor de arquitectura) sobre a acção contra os transgénicos levada a cabo por activistas anti-OGM. Um texto que merece o nosso aplauso.

A reacção - histérica - ao caso de Silves e ao post do Miguel Portas é um caso dos mais interessantes acontecidos em Portugal de há muito tempo para cá. Neste país de cobardolas, qualquer gesto decidido assume de imediato foros de escândalo. Neste país que enterrou uma revolução debaixo de um manto de mentiras, silêncios e cumplicidades traidoras, qualquer recordação - por mais ténue - daquilo que se passou em 1974-75 cheira a ameaça insuportável. Neste país onde os poderosos violam a lei todos os dias, onde a polícia e os tribunais servem sobretudo para ajudar os poderosos a não cumprir a lei, onde a lentidão e ineficácia dos tribunais criam um estado de não-direito, ninguém se lembra de exigir que seja aplicada toda a força da lei (de imediato! rigorosamente!) quando os salários não são pagos, os patrões fogem aos impostos, as empresas e os bancos defraudam os cidadãos. Mas ai de quem puser o pé num centímetro quadrado da sacrossanta propriedade privada agrária, esse símbolo por excelência da Ordem multi-secular.Que extraordinário país! Um povo todos os dias enganado, roubado, o mais pobre da Europa, o mais ridículo. E nem um carro incendiado, nem uma montra partida, nem um protesto violento. Dóceis como carneiros, que é naquilo que foram treinados, é aquilo que são - envergonham-me vocês, oh ordeiros de dedinho sentencioso no ar e voz tremeluzende de indignação só porque meia dúzia de miúdos resolveram violar a lei. Pode não ter sido correcto o que os miúdos fizeram, mas mostraram mais coragem que vocês todos juntos. Respeitem ao menos isso: que ainda haja portugueses capazes de arriscar alguma coisa por aquilo em que acreditam. Respeitem ao menos quem é capaz de um gesto.
Retirado daqui

Para que servem as ceifas dos OGMs? Para quê descontaminar os campos de milho transgénico?

Para que serviram e servem as ceifas das culturas de transgénicos por parte dos activistas anti-OGM?

Para alertar as pessoas

Para impedir que os OGMs sejam um facto consumado na nossa agricultura e alimentação e tenha
efeitos irreparáveis na saúde pública.


Para defender a soberania alimentar da cada país e de cada região agrícola face à ameaça das monoculturas que as transnacionais agroalimentares nos querem impor.

Para lutar contra a expropriação dos conhecimentos e saberes locais em favor de laboratórios especializados de biotech que produzem artificialmente sementes que, depois de serem patenteadas e monopolizadas, são muito rentáveis

Para romper o manto de silêncio e cumplicidade à volta dos danos, riscos e ameaças à saúde pública que representam os transgénicos.

Para modificar a injusta legislação pela qual quem destrói uma plantação de transgénicos é passível de processo judicial, ao passo que os autores de contaminações genéticas beneficiam de impunidade.

Para contestar, enfim, o crescente poder das tecnociências e o modelo de crescimento insustentável a que leva a industrialização da agricultura e a artificialização das sementes.


Para lutar contra a poluição genética




Mas o melhor é ler a resposta de Sébastien Denys, um activista belga que participou em várias ceifas na Bélgica, num artigo publicado na revista francesa L'écologiste


No dia 7 de Maio de 2000, perto de Namur na Bélgica, 200 pessoas participaram na primeira destruição de ensaios com OGMs na Bélgica dentro de um centro de experiência da Monsanto. A 26 de Janeiro de 2004, 13 pessoas foram condenadas – sem penas efectivas – pela destruição de dois hectares de cultivos. O texto que se segue foi lido na última audiência do processo judicial que me foi movido e mostra como pelas disseminação no meio ambiente, as OGMs estavam em vias de se imporem como um facto consumado.


No Verão de 2003 José Bové foi parar à prisão como um bandido pela contributo pessoal que deu ao combate contra os organismos geneticamente modificados (OGMs). René Riesel condenado pelos mesmos factos segui-lo-ia no dia 1º de Dezembro. Corremos riscos, sem dúvida, por participar na descontaminação de um campo de OGMs, Contudo as nossas acções inscrevem-se «num movimento social profundo (…) que deu consistência ao debate» nas palavras de Patrick Legrand ( director da Mission Environnement-Société do Institut National de la Recherche Agronomique). É meu propósito com este texto mostrar-vos como as práticas de «responsabilidade civil não-violenta» contribuíram para a definição do que é um OGM.


A história começa numa noite de 1987 quando dois mil morangueiros são arrancados nos terrenos da Universidade da Califórnia. Esse era o primeiro ensaio que se desenrolava publicamente e que estava a ser avaliado por um instância oficial de controle. Tinha sido apresentado como uma «descoberta» mundial. Mas na realidade outros ensaios tinham-se realizado às escondidas e sem avaliação prévia. A primeira disseminação no ar livre de OGMs ficará sobretudo na história por causa da primeira manifestação prática de oposição a esta tecnologia. Quando adoptam o mundo como laboratório os cientistas acabam por promover a irrupção do mundo dentro do seu meio.

Um problema de soberania

Segundo Bruno Latour «o caso dos OGMs é (…) interessante porque não implica uma perspectiva de catástrofe, mas antes um problema maior que é o de soberania: dos consumidores sobre aquilo que comem, dos agricultores sobre aquilo semeiam, dos Estados sobre aquilo que controlam – e os cidadãos em relação à pesquisa científica».
No fim de 1996 quase uma década depois a Greenpeace inspecciona os primeiros carregamentos de sementes modificadas provenientes dos Estados Unidos e mostra aos olhos de todos a sua existência. Esse acto de «pirataria» tem como objectivo chamar a atenção dos consumidores a fim de que estes retomem o poder sobre aquilo que comem. O bem fundado da reivindicação da Greenpeace é pois o da inspecção sanitária sem o qual não haveria o principio da rotulagem, que por causa daquela acção foi adoptado a partir daí. ( consultar o Regulamento nº 258/97 publicado no J.O. nº L 43 de 14/02/97 relativo à utilização de OGMs na alimentação humana e a rotulagem dos dados nos bens alimentares produzidos a partir das OGMs).
Em 1998 militantes da Conféderation paysanne, entre oos quais José Bové e René Riesel destroem um stock de milho Novertis em Nérac. Impediram assim a comercialização dessas sementes. Estes actos de «vandalismo» têm como finalidade principal que os agricultores possam ter poder sobre aquilo que semeiam. Em Junho de 1999, quando os ministros do Ambiente da União Europeia adoptaram a moratória sobre a comercialização das OGMs eles estão a ratificar o bom fundado daquele acto.
Pela mesma altura a destruição do milho transgénico no Centre de coopération internationale en recherche agronomique pour le développement (CIRAD) de Montpellier provocou «um debate sobre os ensaios em campo, e o papel da investigação pública» e a pesquisa agronómica com destino aos países do Sul. Esta acção foi protagonizada por indianos da Caravana Intercontinental e nela participaram José Bové, René Riesel e muitos outros. Os indianos presentes reactualizaram o Quit Índia Mouvement da guerra de independência ao destruírem também a sede local da multinacional sementeira Cargill e os campos de OGM. São deles as declarações: «Depois de terem expulsado os ingleses, nós devemos expulsar as multinacionais». Alguns meses mais tarde, a 26 de Setembro de 2000, aquando do acto de encerramento do Tribunal Popular das sementes de Bangalore eles lançam um apelo «à destruição de todo o ensaio transgénico. Aqui e em qualquer lado do planeta».

A prática de destruição dos campos de ensaios dissemina-se rapidamente. Na Inglaterra, no decurso do ano de 1999, deram-se 70 destruições de campos num total de 150 locais de experimentação inventariados. Numa vez foram 600 pessoas que invadiram o campo. Dois anos mais tarde, em 2001, para além da trintena de locais ingleses que foram «danificados, destruídos ou inutilizados em razão da oposição pública», registaram-se umas vinte «descontaminações» em França, quatro na Itália, outras tantas na Bélgica. O legislador segue o movimento impondo regras cada vez mais restritivas para a avaliação dos riscos nas actividades de disseminação, «mostrando assim a inadequação das regras em vigor»: trata-se da directiva 2001/18/CE publicada no J.O. de 12/03/01 relativa à disseminação voluntária dos organismos geneticamente modificados no ambiente e revogando a directiva 90/220/CEE

Modificar os termos do debate


É por isso que Martin Hirsch (director geral da Agence Française de segurança sanitária dos alimentos, Affsa, e presidente da Emmaus France), participante eleito do Conselho de Estado diga a título pessoal que «os actos de destruição» são «motivados por interrogações e dúvidas que, apesar de inicialmente negadas, acabaram por ser posteriormente confirmadas pelo menos parcialmente». A formulação é prudente mas a sua mensagem é clara: sem aqueles que se arriscaram com essas acções, ninguém pensaria que valesse a pena encarar as «interrogações confirmadas posteriormente»: referimo-nos ao caso das alergias ou ao aparecimento de plantas e de insectos tolerantes às modificações provocadas obrigando ao aumento da quantidade de herbicida utilizado ou ainda a disseminação das OGMs.

Sobre este último ponto, acrescenta Hirsch, «detectou-se OGMs em locais que não se pensava existir». Encontramo-los na cadeia alimentar, nas forragens, em sacos de sementes, nas colmeias, nos campos. Até os próprios ensaios se «auto-contaminam». No dia 21 de Junho de 2002 na Inglaterra um controle feito pelo Scottish Agricultural College (SAC) revela a contaminação de local de ensaios de colza da Aventis. Uma análise complementar confirma a presença, para além dos elementos de transformação MS8 & RF3 que são objecto de ensaio, de três outros elementos de transformação designados por MS1, RF1 & RF2 não autorizados a serem comercializados e que contêm genes tolerantes aos antibióticos. 2,8% das sementes estavam contaminadas. Aventis demorou mais de um mês a informar oficialmente o Department for Environment, Food and Rural Affairs (DEFRA). Entre 1999 e 2002 na Inglaterra quatro lotes de sementes foram enviados para ensaiios (25 campos foram cultivados com sementes misturadas). No seu boletim interno a Aventis afirma não poder determinar se essa mistura se deu antes ou depois da sementeira. O mesmo boletim da Aventis não justifica o não-respeito pela autorização, nem a incapacidade de garantir um padrão de pureza das sementes num estudo científico. O paradoxo é consumado quando se sabe que estas sementes «mães» são especificamente seleccionadas pela sua pureza, condição sin qua non para o êxito da hibridação. ( para acompanhar a questão consultar o The Guardian de 16 de Agosto de 2002 e o The Independent de 16 de Agosto de 2002).


Gerir as OGMs

Sobre isto dois relatórios modificam profundamente os termos do debate. A Agência francesa de segurança sanitária dos alimentos (Affsa) revela em pleno Verão de 2002 a contaminação de 41% das sementes de milho. «A partir daqui a questão não está em saber qual o perímetro em que as OGMs podem ficar circunscritas, mas antes qual o preço para a sua existência»
Um ano mais tarde a Greenpeace dá uma grande publicidade às conclusões de um estudo encomendado pela Comissão Europeia onde se mostra que as mudanças nas práticas culturais para a organização da «co-existência» das culturas terá um custo considerável. A «disseminação» passa do estatuto de hipótese a verificar ao de premissa adquirida, a partir da qual se colocam outras questões. Greenpeace revelava ainda num comunicado de imprensa datado de 16 de Maio de 2002 que numa carta à Comissão e que acompanhava o estudo, o director geral da EU Joint Research Centre, Barry McSweeney sugeria que «(…) dada a sensibilidade de uma tal questão o relatório fosse reservado para uso interno à Comissão».

Note-se que de um golpe passa-se da consideração de um risco possível à gestão de uma consequência, ou seja, da «precaução» à «prevenção». Na linguagem dos especialistas «só recentemente o carácter inevitável de uma taxa, mesmo muito fraca, de disseminação foi reconhecido»

Até os próprios cientistas de Montpellier interpelados numa intervenção dos agricultores indianos no CIRAD acabaram por concordar com os seus detractores de que «não é aceitável a disseminação dos OGMs nos meios que vão indiscutivelmente contaminar». Estes agrónomos e geneticistas reconhecem a «função de alerta» que estas acções têm e concluem «que a reflexão sobre a gravidade do problema do uso dos OGMs, assim como para a descoberta científica, beneficiaram largamente» com elas. Ou seja, foi uma «sabotagem» que permitiu aos especialistas de encontrar aquilo que sabem, e de tomar em devida conta aquilo que propõem.

Um laboratório cívico

Os cidadãos que invadem um laboratório estão ao mesmo tempo a envolverem-se num laboratório cívico, uma vez que «podem, pela globalidade da sua abordagem e pelos questionamentos por vezes ilegítimos, trazer elementos determinantes e inovadores» ( palavras de Patrick Legrand). E que laboratório é esse? Pensemos qual é agricultura que os geneticistas nos querem vender: uma terrível e perigosa monotonia agrícola, monoculturas intrinsecamente vulneráveis às epidemias, um projecto que expropria os saberes dos agricultores e os coloca na total dependência de algumas empresas transnacionais incapazes de compensar os danos que irão provocar. E, por outro lado, pensamos no florescimento de iniciativas que procuram colocar um ponto final nesse processo, e facilmente observamos o valor daquele laboratório cívico.

O número daqueles que estão convencidos da necessidade de destruir os campos com OGMs não pára de crescer. Os primeiros que tiveram de se submeter às suas obrigações judiciárias foram os participantes no GenetiXsnowball na Inglaterra. Seguiu-se-lhe pouco depois o processo de Agen em França. Houve depois o caso dos 18 da Greenpeace na Inglaterra. A lista continuou com o de Foix, o dos 10 de Valence, Montpellier, etc, etc. Na Primavera de 2002 haviam sido condenadas 19 pessoas na Inglaterra e haviam outras 39 com processos às costas. Lançadores de alertas foram condenados ou presos mas milhares de «ceifeiros voluntários» tomaram o seu lugar. «Hoje destruir uma plantação de transgénicos é passível de processo judicial, mas em contrapartida os autores de contaminações genéticas beneficiam de uma completa impunidade». Perante este hiato cabe ao legislador assumir as suas responsabilidades. Justiça será amnistiar aqueles que pela sua acção ajudaram ao reconhecimento dos riscos e perigos e sem os quais estaríamos num processo cujo futuro ficaria definido pelos interesses de algumas multinacionais.

Acerca da manifestação contra os OGMs e a Monsanto na Bélgica foi necessário agir primeiro para revelar a existência desses ensaios, segundo porque não eram tidos em conta elementos essenciais, terceiro para nos opormos aos «factos consumados» da difusão dos OGMs.


Alguns dias antes da nossa acção as autoridades tinham autorizado a disseminação voluntária no ambiente de 72 parcelas de ensaios. Ninguém mediu a amplitude da invasão transgénica. A primeira lista dos campos foi publicada por causa da nossa acção. Tomo pois a responsabilidade, juntamente com outros, de ter ajudado a tornar tangível a realidade e a invasão dos OGMs no nosso país.
Foi necessário um ano mais para dispor de dados que permitissem estabelecer uma carta onde fosse possível anotar com um círculo a zona de influência de cada parcela de ensaio com OGMs.. Neste momento os ecologistas calculam a distância de disseminação em cerca de 2,5 km, enquanto a distância fixada oficialmente é de 400 metros. Aquela zona de disseminação baseia-se nos dados fornecidos por um estudo inglês do Department for Environment Food and Rural Affairs (DEFRA) e segundo o qual fluxos de genes foram observados numa distância de 26 km. A primeira carta representava uma estimativa estabelecida em 2001 pelos ecologistas que calcularam uma taxa de 0,1% de contaminação ( limiar de detecção). A segunda carta baseia-se num estudo de maior amplitude conduzido por um organismo oficial com o objectivo de manter a taxa de contaminação abaixo de 0,9% aceites pelas instâncias europeias. A segunda carta é pois muito mais fiável. Sublinhemos porém que adoptar como base de trabalho uma contaminação de 0,9% significa encarar essa taxa como taxa média e não como taxa máxima de contaminação
Só o sul da província do Luxemburgo e o norte do Limbourg foram poupados. Aquelas cartas ilustram a amplitude das consequências do cultivo num só ano, quando já estamos no 14º ano de disseminação e 522 campos já foram cultivados com OGMs no território belga. Esta documentação permitirá medir o caminho que foi preciso percorrer entre, por uma lado, as provas tornadas incontornáveis graças às nossas acções de inutilização dos OGMs – o pólen é especificamente concebido para se disseminar, os herbicidas são nocivos para o ambiente…- e por outro lado, as confirmações científicas resultantes de estudos depositários dessas evidências. A nossa acção, entre outras, assim como este processo, contribuíram já para a «manifestação da verdade».

Uma existência contestável

Quando se deu a manifestação na Monsanto as biotecnologias perderam a sua glória. A nossa manifestação não fez mais que dar uma existência a esses terrenos de ensaio, revelando ainda que a sua existência é objecto de viva contestação. Entre Maio de 2001 e Agosto de 2002, 13 terrenos foram destruídos anonimamente. Em Janeiro de 2002, a associação Nature et Progrès iniciou uma campanha «concelho livre de OGM», à qual se associaram 81 concelhos, o que representa um terço do território da Walónia belga. Simultaneamente outras iniciativas de sensibilização se realizaram ( manifestações, conferências, debates, etc) enquanto não parou de aumentar a pressão sobre os processos biosecuritários de peritagem.
Cada implantação será objecto de uma atenção pública redobrada. Foi o que quis mostrar o jornalista que anunciou em 2001 a queda vertiginosa da superfície cultivada após a manifestação contra a Monsanto. A nossa acção contribuiu concreta e simbolicamente para travar a multiplicação das biotecnologias agrícolas. No ano seguinte, a campanha estival dos ensaios de OGM aqueceram, pois sobre 31 campos previstos, treze fracassaram ( 5 foram rejeitados pelas autoridades, 4 foram abandonados dois destruídos e um interrompido por ordem governamental). Alguns meses mais tarde a Bélgica deixa oficialmente de ser um laboratório. Em Dezembro de 2002 BelgoBiotech, o lobby das indústrias do sector decide uma moratória sobre o programa dos testes. Em 2003 foi entregue um pedido de autorização pelo Katolieke Univeriteit Lewen para um projecto de macieiras transgénicas. Graças a alguns protestos dirigidos ao Comité de especialistas ad hoc e ao local previsto de implantação ajudaram a mostrar a falta de coerência e o amadorismo do projecto. As macieiras foram recusadas e não mais houve disseminação na Bélgica.

O mais importante que resulta de toda esta história é que de ora avante não se pode fazer como se a população e os cidadãos não tivessem outra atitude possível que não seja a passividade e a inactividade. A melhor descoberta é, sem dúvida, que «nenhum gene predispõe ao fatalismo e à passividade»


(tradução do texto publicado na edição francesa do nº 14 de Oct/Nov/Dec. da revista L'Ecologiste sob o titulo «OGM: a quoi servent les fauchages?» da autoria de Sébastien Denyz )

Ainda sobre a acção contra os transgénicos realizada em Silves



Já não se podem deixar os miúdos sozinhos...

No minuto em que cheguei a casa, ainda de havaianas e cheia de sal no cabelo, recebi um telefonema da minha mãe a dizer "Liga rapidamente a TV, na SIC". Estava a dar a 1ª reportagem sobre o movimento de cidadãos que destruiu cerca de um hectare de uma plantação de (50 hectares de) milho OGM no Algarve.

O meu primeiro pensamento foi "lá vai o meu trabalho andar para trás". Como bióloga que trabalha no sentido de integrar a espécie humana na natureza sem que existam desequilíbrios prejudiciais às 2 partes, geralmente as manifestações dos "ambientalistas" só vêm d
escredibilizar a imagem do meu trabalho. Quem é que liga aos maluquinhos que andam a salvar baleias?

Na verdade, no dia seguinte já tinha mudado de opinião. Passo a explicar porquê:

- Sou totalmente contra a violência, mas não acho que o grupo de cidadãos tenha usado violência nenhuma. Destruíram para aí 1% do milho, levaram sacas de milho biológico para oferecer ao produtor e ofereceram-se como mão de obra para o cultivar. Se quisessem mesmo destruir a plantação tinham-lhe pegado fogo como fazem sistematicamente os activistas da Greenpeace em França. A acção foi pacífica e simbólica, e usaram máscaras porque em 2003 houve um caso grave de intoxicação de populações nas Filipinas que viviam perto de plantações deste milho, sendo detectados anticorpos no seu sangue, conforme comunicação do Dr. Traavik (Norwegian Institute of Gene Ecology) numa conferência dada em Kuala Lumpur a 22 de Fevereiro de 2004.

- Não percebo onde é que foram buscar a ideia de que a manifestação era composta por um bando de miúdos que nunca trabalharam. Eu pela TV não percebi se eram miúdos; se nunca trabalharam então pelo menos os estrangeiros não arranjavam dinheiro para cá chegar de avião, e se são assim tão amigos de charros e da preguiça não se explica que tenham
posto de pé um evento para 500 pessoas num campo alentejano, com alimentação garantida, fornos solares, casas de banho secas, duches quentes, construções de taipa e uma data de workshops, como estava no programa. A mim soa-me a pessoas bem mais desenrascadas que o cidadão comum, que acha que o frango nasce no supermercado.

- Sinceramente, estou farta do monopólio de informação sobre os transgénicos e de nos quererem inpingi-los à força. Quase todos os comentários que li no Público, no DN e as demagogias no Abrupto e no Ambio são nem mais nem menos do que rezinguices de macho omega. Porque morder ao macho alfa está fora de questão. Para estes senhores é mais fácil cair em cima de um bando de pessoas ("miúdos") que teve coragem de trazer as suas convicções para a rua do que virar-se para quem devia apresentar explicações. Esquecem-se de quando eles eram miúdos que trouxeram as convicções para a rua e fizeram o 25 de Abril, agora que estão confortavelmente empoleirados? Talvez. Mas passo a esclarecer a minha alergia aos transgénicos:

- Os OGM não foram aprovados por nenhum sistema de votação democrática em que eu me lembre de participar, apesar de ter respondido a todas as (muito pouco divulgadas) consultas públicas que decorreram antes da aprovação destes. Alguém se lembra delas? Dificilmente, são realizadas porque a lei europeia o exige mas são escondidas nos sites da UE que nem barras de ouro.

- A Agencia Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) não realiza os seus próprios estudos antes de aprovar uma planta para circulação na UE, aceita como credíveis os estudos apresentados pelas próprias empresas que querem comercializar essa planta (estamos a ficar tão espertos como os americanos). Isto passou-se com o milho transgénico em causa;

- O Dr. Séralini, da Universidade de Caen (França) pegou nos dados fornecidos pelos estudos da Monsanto e tratou-os com um tipo de formula estatística diferente, vindo a revelar que os ratos alimentados com milho transgénico (desse que anda por aí a circular) sofrem perturbações a nivel de fígado e rins.

- Releiam o ponto anterior. As experiências foram feitas em RATOS. Nunca houve uma experiência feita com um grupo de humanos que se dispusessem a comer transgénicos para se verem as consequências. Os primeiros cobaias somos NÓS.

- O principal argumento da UE para levantar a moratória ao cultivo e consumo de OGM é o facto de "estarem a perder a corrida económica com os EUA e a China". Se te mandares ao poço eu vou atrás...

- O aparecimento de ervas daninhas super resistentes, insectos que querem lá saber de folhas geneticamente modificadas e espécies agressivas afins que evoluíram por causa da pressão evolutiva causada pela presença dos OGM é incontável. Leiam http://www.stopogm.net


- O Ministério da Agricultura teve este ano uma atitude vergonhosa de desrespeito para com a população portuguesa, divulgando a localização dos campos de milho GM apenas no fim de Julho quando o milho já ia alto, ao contrário do que está estabelecido na lei europeia transposta para a portuguesa. Além disso divulgou a coisa do género "propriedade sem nome, no concelho X, 30 hectares", o que é igual ao litro. Se temos um campo de OGM ao pé de casa, ficámos a saber agora. Além disso era também obrigado a comunicar esta informação ao Ministério do Ambiente, e não o fez. Vide site do MADRP.

Posto isto, face à indiferença dos cientistas portugueses e europeus no geral em relação a um problema de saúde pública que está a ser causado apenas porque empresas multinacionais querem fazer fortunas à custa de sementes patenteadas (o que é uma estupidez porque elas não desenharam os transgenes incluídos nas plantas GM, apenas os foram buscar a outros organismosI), percebo que haja gente que está farta. O Ministro da Agricultura dizia ontem na TV: se isto faz mal, provem-no cientificamente. Mas onde? E oportunidade para isso? E gente para o ouvir? Quem o queira saber, quem não esteja resignado a comer frangos com nitrofuranos e milho com toxinas de bactérias, onde estão as pessoas que acham que o seu voto ou o seu protesto ainda vai fazer alguma diferença?

100 delas estavam em Silves na 6ª feira.