21.3.07

Extrema-direita ameaça Universidade de Lisboa (comunicado do SOS Racismo)


Skins tentam tornar Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa num palco para a difusão do racismo e da violência
Nos últimos dias, as mensagens de ódio racista proliferaram nas paredes da Faculdade de Letras. «Portugal aos portugueses» ou «Fascismo é solução» são algumas das frases escolhidas pela extrema-direita para a sua propaganda e ameaça. Também não faltaram as chamas do Partido Nacional Renovador (PNR). Pelo caminho, foram destruídos todos os murais ou outro tipo de comunicação (das mais diversas organizações) entendida como «comunista» (o facto era assinalado pelos próprios censores, ao lado das «emendas» efectuadas).
Ora, hoje alguns estudantes da faculdade, em conjunto com a União dos Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP), decidiram-se por uma acção pública: pintar um mural contra a ameaça do racismo e da violência. A verdade é que o mural não foi terminado, porque a polícia não o permitiu. Ainda mais preocupante é o facto de hoje se terem juntado, numa atitude claramente ameaçadora, com todo o à-vontade, várias dezenas de skins na faculdade de Letras. A mensagem era clara: ameaçar, condicionar, amordaçar; impôr a cultura do medo, à custa da impunidade: basta dizer que se deram ao luxo de tirar fotografias a todas as pessoas envolvidas na pintura do mural! E isto, nas barbas da polícia, que esteve sempre mais ocupada a impedir que o mural chegasse ao fim!
Tendo em conta estes preocupantes acontecimentos, o SOS Racismo gostaria de deixar claro que:
1 ) Este novo «palco» para os skins representa uma importante ameaça, que deve preocupar toda a comunidade escolar. Não é possível aceitar que esta realidade se torne normal ou aceitável.
2 ) Infelizmente, as respostas de quem tem responsabilidades deixam muito a desejar. Já no ano passado, quando o SOS Racismo alertou o Conselho Directivo, em reunião a nosso pedido, para o crescimento da extrema-direita dentro da faculdade e o perigo que isso representa, este órgão não revelou nenhum interesse pelo assunto. E hoje, o Conselho Directivo da Faculdade de Letras apenas se mobilizou para proibir a pintura do mural de hoje, mas nunca demonstrou preocupação com as mensagens de ódio dos skins. Esperamos não ter de ouvir este órgão, no futuro, lamentar a violência e o ódio na faculdade, quando podia e devia ter-se interessado a tempo!
3 ) A impunidade com que foi possível hoje, na presença da polícia, várias dezenas de skins fazerem a sua demonstração de força é um sinal muito inquietante. Não parece normal que a PSP tenha convidado a retirar-se quem pintava o mural, mas tenha deixado cerca de 50 skins no interior e nas imediações da faculdade, em pose ameaçadora, bebendo cerveja, fazendo uma espécie de guarda a um dos bares da faculdade, enquanto ia distribuindo panfletos.
4 ) Fica, mais uma vez, clara a ligação entre o movimento skinhead e o PNR!
5 ) O SOS Racismo vem há muito alertando para o perigo e a impunidade que caracterizam o crescimento da extrema-direita em Portugal. Para estas pessoas, a violência e o ódio são a dimensão essencial da política. Quantas mais vítimas serão necessárias para que se desenhe finalmente um combate a esta triste realidade?
6 ) Em pleno ?Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos, em que vão abundando os discursos de circunstância sobre igualdade e a necessidade de combater as discriminações, seria mais útil ver quem tem responsabilidades empenhar-se no desmantelamento desta rede criminosa, tráfico de armas, de droga, cobranças difíceis, violência frequente, etc., de ameaça, ódio e morte.
15/03/2007
Pelo SOS Racismo, José Falcão