Assassinar crianças não é nenhum desporto!
Desde 1979 o Rali Paris-Dakar (redenominado, hoje em dia, Lisboa-Dakar) desafia a nossa consciência de cidadãos do mundo. Durante duas semanas (ou mais...) uma colossal caravana de veículos motorizados, desde motos a enormes camiões de assistênncia, passando por potentes bólides de alta cilindrada, atravessam paisagens lindíssimas e países que são dos mais pobres do mundo!
E fazem-no com a típica arrogância do ocidental que se permite fazer tudo sem o mínimo respeito pela cultura e tranquilidade dos outros povos e culturas. Mas não contentes com isso, um tal circo motorizado dá-se ao luxo de devastar a fauna e a flora autóctone como ainda em pôr em perigo a vida das populações locais, em especial as crianças.
Aliás contam-se às dezenas as mortes e os feridos deste sacrificial luxo ocidental de matiz claramente colonialista e que se permite passear-se em territórios duramente atingidos pela guerra e pelas doenças e, agora, pelas modificações climáticas que afectam ainda mais as populações desprotegidas desses países africanos. É todo este triste espectáculo de soberba e desperdício que deve ser denunciado em nome dos mais elementares direitos da pessoa. E não devemos hesitar no nosso objectivo quando sabemos que uma operação agressiva daquela envergadura recebe geralmente a caução dos regimes autoritários e corruptos instalados nesses territórios.
Será que devemos aceitar ingenuamente o tão proclamado – mas não respeitado – princípio da livre circulação, e em nome do qual se organiza o rali, quando todos sabemos que diariamente centenas de pessoas morrem e são impedidas de circularem em direcção à Europa?
E será que vamos aceitar que centenas de milhar de litros de combustível sejam gastos e desperdiçados só para satisfazer os caprichos de alguns construtores e marcas de automóveis e a cumplicidade dos idiotas de sempre?
A verdade é que o Rali Lisboa-dakar, outrora conhecido por Paris-Dakar, constitui um excelso monumento ao poder predatório do automóvel, à velocidade alucinante e ao domínio da máquina. E é por demais conhecido como esses símbolos estão ligados à violência rodoviária e à morte nas estradas, com inúmeras vítimas, mas com garantidos lucros colossais para as empresas construtoras de automóveis.
Desde a sua criação este Rali já provocou a morte de mais de cinco dezenas de pessoas. E por isso legitimamente perguntamos quantas mais terão de morrer para que este rali seja declarado ilegal e desumano?
Recorde-se que na edição do ano passado morreram dois rapazes de 12 e 13 anos da Guiné e do Senegal, respectivamente.
E também não é por acaso que um Rali deste género se tenha visto obrigado a mudar sucessivamente o seu local de partida, ao escolher Barcelona em vez de Paris há alguns anos atrás, e depois, acabar por optar por Lisboa, como local de partida, face ao desinteresse generalizado das outras cidades europeias.
Com efeito, ainda em Janeiro deste ano de 2006 o Conselho Municipal da cidade de Paris ( uma espécie de Assembleia Municipal da autarquia local) votou e aprovou um voto de condenação pela realização do rali e apelando aos órgãos executivos da autarquia a não mais se associarem com os responsáveis pela sua organização. Nessa mesma declaração invocavam-se as palavras do reputado cientista Albert Jacquard para quem este Rali era sobretudo «uma abominável e escandalosa corrida… símbolo da maior estupidez, e um claro desprezo pelos africanos como também pelo próprio deserto que deveria ser visto como uma verdadeira catedral»
E num momento em que se valoriza tanto a segurança rodoviária e em que os recursos petrolíferos estão rapidamente a exaurir-se é mais do que oportuno denunciar esta violenta operação motorizada em que se traduz um Rali com estas dimensões.
Um outro apelo deve ser dirigido ainda às cadeias públicas de televisão a fim de não publicitarem nem favorecerem um Rali que tão grosseiramente escamoteia os gravíssimos problemas económicos e sociais do mundo contemporâneo, como se nada se passasse, e como os problemas sociais e ambientais que afectam milhões de pessoas não tivessem nada a ver com esta agressiva e descabelada operação motorizada.
Consultar:
http://www.stop-rallyedakar.com
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Ler ainda outros textos publicados aqui mesmo, neste blogue:
- O Rali Lisboa-Dakar é um atentado ao nosso planeta e à nossa consciência