O homem que sonhava voar e ultrapassar a sua condição de homem, acaba por se aproximar demasiado do sol, que leva as asas a descolar e à sua queda, mas o seu desejo mostra qual a via para a liberdade.
A queda de Ícaro é a história dos riscos assumidos derivados da vontade de ultrapassar os limites. Ícaro prefere a ascensão vertiginosa à prudência do voo a baixa altitude. Transgride as regras, desrespeita as ordens do pai e acaba por queimar as asas pela proximidade do sol.
Para além da relação pai-filho, e da transgressão da lei, este mito representa antes de tudo uma advertência contra a ambição desmedida do homem, pois o seu lugar é na terra, e não no reino dos deuses. É também uma advertência pelos actos irreflectidos. Não nos deixarmos deslumbrar pelas acções arrojadas, nem agir com a cabeça a quente.
Ícaro não é, porém, apenas o jovem irreflectido. Ele representa também a figura do sonhador, o herói da liberdade.
Ele fascina e inspira-nos porque deu origem e nunca deixou de alimentar um dos nossos mais antigos sonhos: o de voar. A história da conquista do céu começa com ele. Os sonhos de Ícaro tiveram dignos continuadores com os desenhos de Da Vinci, as descobertas de Montgolfier e a conquista espacial.
No célebre quadro do pintor flamengo Brueghel ( «A queda de Ícaro»), Ícaro cai no mar enquanto os camponeses prosseguem a sua labuta diária. Significa isto que o espírito de aventura é frequentemente motivo de incompreensão e de grande solidão. Mesmo assim, sempre é necessário, alguém como Ícaro, para abrir o caminho …
Dédalo foi o arquitecto que realizou o projecto do Labirinto na ilha de Creta, às ordens do rei, para nele encerrar o Minotauro. Foi ele também que confidenciou a Ariadne um plano (um novelo de fio que ficou conhecido pelo fio da Ariadne) para que Teseu, que ia entrar no labirinto para matar o monstro, conseguisse escapar daquela construção.
Dédalo é o criador, o inventor, o arquitecto da liberdade que, desafiando as ordens do rei e dos deuses, inventa os meios para a liberdade, ao organizar os meios para nos sentirmos livres.
Face à figura heróica de Ícaro, Dédalo representa o princípio racional da vida criativa; ele é arquitecto e artista da liberdade.
Não é por acaso que no «Retrato do Artista enquanto Jovem» de James Joyce, o escritor tenha dado o sobrenome de Dedalus ao seu principal personagem, aquele que afronta o discurso dos outros, quais labirintos que tem de se libertar, mas para isso terá de inventar as palavras que nomeiam a própria experiência da liberdade.
A história do Mito
Ícaro ficou preso com o seu pai, Dédalo, no labirinto que este último construiu para encerrar o Minotauro.
Olhando para o céu, Dédalo teve a ideia de imitar aqueles que simbolizam a liberdade: os pássaros. Pai e filho põem-se então a construir asas com penas e cera. Depois de as colarem lançam-se a voar. Dédalo avisou Ícaro para não voar nem muito baixo nem muito alto para que a cera não derretesse sob o efeito dos raios solares. Inebriado, porém, pela imensidão do céu e do espaço, Ícaro lança-se pelas alturas cada vez mais perto do sol. A cera acaba por se derreter e as asas desconjuntam-se. Imprudente, Ícaro cai no mar e morre.